A Modernidade Sem Teoria
Causadores nocivos de reformas sócio-econômicas de caráter mundial têm sido descritos exaustivamente por toda a sociedade. E o que se percebe são instrumentos políticos legais de mercado que impõem suas determinações sobre a vida humana. Com o alcance de seus objetivos unilaterais a partir dessas causas, ocasionam efeitos desastrosos pelos vários setores, inclusive a educação.
A partir de observações percebemos que a "competitividade mercadológica" está aliançada com a educação. E para o acompanhamento desse sincronismo entre a competitividade e a educação propõem-se mudanças pedagógicas onde envolvam outros paradigmas desvinculados dos tradicionais, conhecido como o desenvolvimento de competências.
Contudo, dentro deste novo paradigma esboça-se uma hierarquia de domínio do conhecimento, ou seja, quem apresenta mais competências especializadas desfruta de melhores condições sociais e as pessoas que se integram com competências genéricas sobrevivem à margem da sociedade causando um desequilíbrio exacerbado de pessoas excluídas.
Conforme documentos nacionais e internacionais pautados em questões econômicas e políticas a educação básica tornou-se dominada pelos agentes financeiros com a seguinte argumentação: a educação se tornou uma mercadoria mediante a autoridade de quem a mantém. Mais ainda, tem a função de formar uma mão de obra com as devidas competências para atender as necessidades de mercado.
Com isso o destino da educação articula-se entre a demanda de mercado e a sociedade do conhecimento que busca garantir seus "status". As
instituições educativas são forçadas a criar formas de melhorar seus desempenhos em função de quem a administra financeiramente, ou seja, preparar as novas gerações para um sistema econômico flutuante.
Neste caso surge uma tendência no cenário educacional, a educação para toda vida, pautada na possibilidade de aprendermos em diversos lugares, não apenas na escola. Porém, com a ressalva de que mesmo com as formas diferentes de aprendizagens estarão sendo influenciados pelo paradigma do mercado financeiro.
Deste modo, as discussões sobre as questões teóricas mediante a experiências vividas são muitas vezes descartadas pela fantasia da praticidade. Deixando de lado as competências teóricas importantes para o ser humano e prevalecendo somente as empíricas, as experiências do cotidiano.
Levando a pensar sobre o fim da teoria ou pelo menos um recuo impactante sobre as produções científicas e as discussões filosóficas, causando preocupantes inquietações nas descobertas para os problemas sociais.
Com isso, segundo especialistas são apontadas algumas idéias sobre a marginalização da teoria e a ascensão do pragmatismo com as argumentações a respeito da degradação da teoria no campo educacional e um possível recuo da teoria sob um olhar ético.
Pelo contexto histórico, a degradação da teoria é uma das causas que se caracteriza na elaboração das políticas educacionais nacionais e internacionais ao encontro do pragmatismo. Por exemplo, no Brasil nos cursos de pós-graduação houve uma redução do tempo de formação correlação a aquisição dos títulos de mestres e doutores no ensino superior.
Outros fatores para deterioração se manifestaram na aceleração das privatizações do ensino, no descompromisso do Estado e nos achatamentos salariais dos docentes. Provocando uma descaracterização dos profissionais de ensino. Agentes transformadores passaram a ser tratados como ofertas de serviços, relacionados por preços de mercado numa perspectiva de produzir pesquisas científicas para determinados fins específicos.
Deste modo, a prática reflexiva pautada no pragmatismo sobrepôs o lugar da teoria, provocando a busca de um entendimento sob novo paradigma que não é mais apenas racionalista de um lado e empirista de outro.
O recuo da teoria no campo social e educacional acarretou na pacificação da sociedade e no esgotamento das diferenças culturais, reduzindo-as em diversidade cultural. Não há uma construção de uma nova cultura, mas, na compactação de diversas culturas ao mesmo tempo.
Assim, levando-nos ao silêncio ou esquecimento sobre a crítica do capital. A alienação agregada ao desperdício de energia humana gera a violência econômica promovendo uma destruição cultural e social.
Portanto, ao pensar em "teoria" podemos analisar a partir de diversos aspectos conceituais. Contudo, apontamos pelo menos dois sentidos: de um lado a teoria pode permitir pensar e criticar sobre o consenso deliberado no qual o poder político domina a sociedade. Por outro lado, a teoria pode direcionar para o ceticismo generalizado sobre os valores humanos de maneira distorcida e sem sentido desencadeando uma paralisia ou até mesmo irracionalismo sobre os aspectos necessários para evolução da sociedade.
O momento é de intensa preocupação. A sociedade se constrói com valores éticos e morais dilacerados. As pessoas demonstram um comportamento vivido num mundo reduzido em que sofrem com uma leitura fragmentada do real permitindo uma descaracterização do sujeito enquanto ser social.
Isso demonstra um esquecimento de um conhecimento antigo, em que "ethos" ainda é aquilo que os seres humanos realizam na polis (cidade). Viver em sociedade é muitas vezes resgatar a teoria para interceder nas experiências coletivas em busca de resoluções de problemas.
Bibliografia:
MORAES, Maria Cecília M. Recuo da Teoria: Dilemas na Pesquisa em Educação. Revista portuguesa de educação. Braga, v. 14, n.1, p. 7-25. 2001.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2000.
Autor: Kleber Marin
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