Investir na Criança e no Adolescente é Investir em Segurança Pública.



Investir na Criança e no Adolescente é Investir em Segurança Pública.
Por: João Silva*
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Objetiva em Foco, ed. 15 (dezenbro de 2009).
Abandono e invisibilidade, seria a receita para se construir um "monstro"?
Sandro Rosa do Nascimento, nascido em, 7 de julho de 1978. "O monstro do Ônibus 174".
Ingredientes principais para a construção do "Monstro do Ônibus 174", surgido dos valões da desigualdade social cuja função foi a de expor toda a fragilidade de uma sociedade excludente, invisibilizante e um Estado ineficiente/ausente, na condução da sua sociedade.
Como se "forma" um "monstro" assim?
Pega-se um casal que nunca conheceu outra realidade que não a pobreza, produz-se uma relação casual onde há uma fecundação, fruto da cópula entre estes atores e onde o genitor abandona a genitora que sozinha espera uma criança sem planejamento. Pega-se esta criança e a faz crescer numa comunidade acostumada a ver a presença do Estado apenas na sua mão punitiva/repressora/estigmatizante; a mantenha em constante contato com a violência e a miséria fruto do descaso; o separe de sua mãe ? e futuro irmão ? de forma brutal, num latrocínio; deixe-o à sua própria sorte para que sobreviva nas ruas desta selva social, ? como dito anteriormente ? excludente e estigmatizante; dê a ele apenas as drogas como companhia e "alívio" às suas necessidades; finja que ele não existe quando passa por ele; mostre-lhe novamente o Estado na forma da mão repressora e humilhante da nossa segurança pública; faça-o passar por uma chacina (Chacina da Candelária), onde seus companheiros são mortos de forma covarde; "enjaule-o" em instituições ressocializadoras falidas no que tange ao seu propósito, e se estará formada a base para o "monstro" que assustará a sociedade.
Ao assistir ao documentário "Ônibus 174", não consegui contar o montante de vezes em que o Sandro foi invisibilizado e desamparado pelo Estado e pela sociedade, mas relacionei algumas onde encontrei o que intitulo de receita para construção de um "monstro".
No que tange à atuação do Estado, percebe-se que esta não aconteceu, nem mesmo quando Sandro passou pelas "entrevistas" que foram realizadas nos centros ressocializadores - e me pergunto se realmente foram feitas tais entrevistas, por tão grande e medíocre forma que encontram-se escritas nos registros de atendimento.
Investir na qualidade de vida de nossas crianças é se investir em Segurança Pública.
Não houve uma atuação estatal no momento em que a mãe ainda não o tinha, não houve atuação quando esta mãe se viu abandonada e tendo de criar seu filho em condições precárias, não aparece esta atuação quando esta criança fica sozinha após a morte da sua mantenedora; quando esteve nas ruas; quando foi vítima da Chacina na Candelária; quando passou pelas instituições; até que culminou na aparição do "Monstro do 174".
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece estes atores como possuidores de prioridade absoluta na atenção do Estado e da sociedade. Então por que não estamos dando esta prioridade às nossas crianças? Você já visitou de perto uma cracolândia? Já parou para ver o futuro de nossa nação deitado em calçadas ? torpes de drogas ? muitas vezes para espantar a fome de comida e de reconhecimento? Faça isso um dia! Visite uma cracolândia! Tente sair do seu mundinho e olhe ao redor de sua "redoma de segurança" a sociedade que você tem ajudado a construir.
Não sei dizer como eu atuaria, mas entendo que se esta e a receita para se criar um monstro, há muitos outros "monstros" sendo formados pela mesma sociedade individualista e pelo Estado Ausente na condução de suas responsabilidades sociais.
Será que seriam mesmo eles os monstros, ou seriamos nós? Há que se fazer alguma coisa. A medida mais eficaz seria se mudar a forma de relação social que vive uma crise de "individualidade exarcerbada". Notamos que a sociedade se diz vítima de tais "monstros" e não se dá conta que ela é uma das fomentadoras do surgimento dos mesmos. Não abre os olhos para entender que em cada esquina, se encontram muitos frutos da invisibilidade, do silêncio cúmplice, do individualismo exacerbado e da ausência de políticas de promoção da igualdade e equidade social.
Confesso que o sentimento de impotência diante de tamanho desafio é muito grande, mas temos que fazer algo. Ainda que seja por ações pequenas, que unidas, venham se tornar grandes, no sentido de se promover a equidade e a dignidade da pessoa humana e construção da tão falada cidadania, como preconizado no Artigo VI da nossa Constituição Federal.
Cuidar de nossas crianças é responsabilidade nossa! Está previsto em lei! Somos todos violadores de direitos ao negarmos a elas a aplicação da lei que lhes garante proteção.
Termino sem conclusão, sem resposta pronta, mas instigado a me mover no sentido de construir algo que, unido a outros "algos", possa começar a fazer/promover a diferença necessária e convido você, leitor (a), a participar desta empreitada.

*Bacharel em Serviço Social
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Blog: http://www.joaosilvaonline.blogspot.com/

Autor: João Batista Pereira Da Silva


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