''O Narrador'': A Experiência da Narrativa em Walter Benjamim



Universidade Estadual do Ceará-Uece.Centro de Humanidades
CMAF. Curso de Mestrado Acadêmico em Filosofia.
Disciplina: Tópicos de antropologia em Walter Benjamim.
Profª Drª. Tereza de Castro Callado.
Aluno(especial) José Gilardo Carvalho.

Síntese do ensaio de Walter Benjamim

¨ O Narrador ¨

Fortaleza
Abril-2010
Síntese

Benjamim no inicio do ensaio nos apresenta as características do narrador.Cita o distanciamento como premissa para se tentar entender a essência do narrador.Aponta a carência quase total de alguém que saiba narrar nos dias de hoje.Vê a faculdade de intercambiar experiências em vias de extinção.
Benjamim comenta sobre as causas da ausência de transmissores de experiências .Descreve um cenário de desolação, quer no mundo exterior com as experiências efêmeras , carentes de sentido. Da economia pela inflação, a experiência da falta de ética pelos governantes. Todas elas são pobres em transmissibilidade, em comunicação. Tudo já estava exposto sem mistério. E uma geração que ainda conhecia a experiência da tranmissão, se sentia estarrecida, perplexa e frágil.
Para o autor, as melhores narrativas são as semelhantes as histórias orais, contadas pelos narradores anônimos. O narrador é perceptível em dois grupos: Quem viaja muito e o sedentário conhecedor das tradições e historias de seu país. Duas situações favorecem a arte de narrar: O cotidiano do trabalho na oficina e as historias ouvidas, trazidas pelos viajantes.
Segundo Benjamim, Leskov tem como ideal o homem que não se apega demasiadamente ao mundo, essa é uma das características do narrador.
Benjamim lembra que a arte de dar conselhos está em extinção. Isso ocorre porque a sabedoria ?o lado épico da verdade- está em extinção, juntamente com a transmissibilidade das experiências, devido a evolução das forças produtivas.
O surgimento do romance vai culminar com a morte da narrativa. O narrador retira da experiência o que ele sabe. Enquanto que o romance não essa característica. Não recebe nem dá conselhos.O romancista descreve o incomensurável numa vida humana. Nos seus últimos limites.
Para Benjamim, as transformações das forças épicas, das quais a narrativa se alimenta, passaram por transformações milenares semelhantes as da crosta terrestre.O romance, encontra na burguesia, no capitalismo nascente, terreno propicio ao seu desenvolvimento.Com a imprensa, um dos instrumentos do capitalismo, surge uma nova forma de comunicação, aversa a narrativa. A informação. Ela é plausível, incompatível com a narrativa. A narrativa prima em evitar explicações. Na narrativa diferentemente da informação, o leitor é livre para interpretar.
A narrativa ao contrario da informação, conserva suas forças, seu desenvolvimento. A informação perde o valor ao se ter conhecimento dela.O narrador renunciando as sutilezas psicológicas, faz do tédio o tecido da experiência, que o capacita a contar e recontar historias, tecidas na experiência do ritmo do trabalho e do esquecimento de si mesmo. O trabalho manual é assim propicio ao desenvolvimento da arte de narrar.
A narração não está preocupada com a pureza do que esta sendo narrado. Os narradores geralmente começam a narrativa, descrevendo as circunstancias em que apreenderam os fatos. As camadas finas do tempo e do labor que entalhavam as narrativas, já não existem mais.O homem de hoje adepto da ¨shor history.¨ Do que pode ser abreviado.
A idéia de eternidade, da morte, antes ligadas ao trabalho prolongado estão em extinção, junto com a comunicabilidade da experiência da arte de narrar. A morte foi depurada dos espaços burgueses. A autoridade do leito de morte, foi perdendo a significação, enquanto exemplo aos vivos. A narrativa tinha sua origem aí.
As historias do narrador remetem a historia natural. Daí a autoridade da morte. Do leito de morte.
Benjamim, cita uma narrativa de Hebel, onde esse autor ao narrar uma cronologia de uma historia de amor de uma noiva de um dos mineiros de falum. Onde usa a morte de forma tão regular, que exemplifica bem sua importância na arte de narrar.
Benjamim, comenta a idéia da historiografia como zona de indiferenciação criadora, com relação as formas épicas.
O cronista é o narrador da historia. Ele está livre da obrigação do ônus verificável. É substituída pela exegese, que não se preocupa com encadeamento de fatos determinados. Apenas com a inserção deles no fluxo insodável das coisas.
Tanto o cronista, vinculado a historia sagrada, como o narrador vinculado a historia profana, participam igualmente da natureza dessa obra.A ponto de não se descartar em suas narrativas os aspectos de uma e de outra.
Nos dias de hoje, segundo Benjamim, não há mais mistérios nem nos novos planetasa descobertos, nem no horóscopo na vida dos homens e sua ações.
O narrador mantén sua fidelidade, no entanto a essa época . Seu olhar não desvia do relógio do tempo e do papel da morte.
Segundo Benjamim, a relação entre o ouvinte o narrador é ingênua e visa assegurar a possibilidade da transmissão. A reminiscência , a musa épica, entre elas a mais significativa é a narrativa. Em outras palavras, a rememoração, musa do romance, surge ao lado da memória, musa da narrativa, depois que a desagregação da poesia épica apagou a unidade de sua origem comum, na reminiscência.
Benjamim comenta sobre George Lukcás, que ele viu com grande lucidez a sucessão romanesca como um desenraizamento trascendental. Somente no romance ...ocorre uma reminiscência criadora, que atinge seu objeto e transforma. O sujeito só pode ultrapassar o dualismo da interioridade e da exterioridade quando percebe a unidade de toda a sua vida.
Benjamim diferencia assim romance e narrativa. No romance: ¨ o sentido da vida ¨ , na narrativa: ¨ a moral da historia. ¨ - essas duas palavras de ordem distinguem entre si, o romance da narrativa. Permitindo nos compreender o estatuto histórico completamente diferente de uma e de outra forma. Com efeito numa narrativa a pergunta: O que aconteceu depois? É plenamente justificada. O romance ao contrário, não pode dar um passo além daquele limite em que escrevendo na inferior da página, a palavra fim, convida o leitor a refletir o sentido da vida.
Benjamim comenta o a diferenciação entre o leitor e ouvinte.O primeiro está em companhia do autor. Nos dois casos, o segundo é um solitário. O romance é significativo por descrever pedagogicamente um destino alheio, mas porque um destino esse destino alheio, graças a chama que o consome, pode dar-nos o calor que não encontramos em nosso destino.
Benjamim afirma que o grande narrador tem sua raízes no povo. Principalmente nas camadas artesanais. Suas narrativas se estratificam de acordo com os estratos de desenvolvimento técnico e urbano.Os grandes narradores tem facilidade de moverem-se quer para cima ou para baixo. O primeiro narrador é o de conto de fadas, esse conto sabia dar bons conselhos, quando era difícil de obter e oferecer uma ajuda em caso de emergência.
Segundo Benjamim, Leskov, tinha uma grande afinidade com os contos de fadas. Interpretou a ressureição menos como uma transfiguração que como um desenvolvimento. Num sentido semelhante ao conto de fadas. Essa interpretação de Orígenes é o fundamento da narrativa. O peregrino encantado.
¨ Salvos como nos contos de fadas ¨, são os seres a frente do cortejo humano de Leskov: Os justos. Pavlin, figura de ursos, a sentinela prestimosa- todos eles, encarnando a sabedoria, a bondade e o consolo do mundo, circundam o narrador.
Benjamim, comenta que para Leskov, esse mundo das criaturas se exprime menos através da voz humana que através do que ele chama: ¨a voz da natureza¨. Seu personagem central é um pequeno funcionário, Filip Filipovich, que usa de todos os meios para hospedar em sua casa um marechal de campo que passa por sua cidade.
Nessa história ¨ a voz da natureza ¨, é a voz da experiência da narração, onde um fato ocorrido no passado é lembrado naturalmente.
Benjamim fala sobre Leskov, que desce na hierarquia das criaturas mas sua concepção das coisas se aproxima do misterioso. Aliás, há de que essas características são próprias da natureza do narrador.
¨ A observação do artista , pode atingir uma profundidade quase mística. Os objetos iluminados perdem os sues nomes, sombras e claridades formam sistemas e problemas particulares que não dependem de nenhuma ciência, que não aludem a nenhuma prática.Mas que recebem toda a sua existência e todo seu valor de certas afinidades singulares entre a alma, o olho e a mão de uma pessoa nascida para surpreender. Tais afinidades em si mesmo para as produzir.¨
Na verdadeira, a mão intervém decisivamente com seus gestos apreendidos na experiência do trabalho, que sustentam de cem maneiras o fluxo do que é dito.
O narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos, não para alguns casos, como provérbios, mas para muitos casos, como o sábio. Pois pode recarregar os arquivos de uma vida.
Seu dom é poder contar sua vida. Sua dignidade é contá-la inteira. O narrador é o homem que não deixar a luz tênue de sua narração consumir completamen te a mecha de sua vida. Daí a atmosfera incomparável que circunda o narrador em Leskov, com em Hauff, em Poe com Stenvenson. O narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo.

Introdução

Esse trabalho é uma tentativa de síntese do ensaio de Walter Benjamim. O Narrador. Onde o autor trata da experiência da narrativa e da perspectiva do fim da narrativa. Diferencia narrativa do romance e nos leva a uma reflexão a respeito da arte de narrar, da transmissão das experiências. Comenta sobre autores que tem o dom de narrar. Das características da narrativa.

Palavras chaves: Narração, narrador, experiência, transmissão, romance, místico, conto de fadas, existência, atmosfera, profundidade, tradição, sombras, mundo, voz da natureza, artesanais, destino, estágios de vida, morte, possibilidade, estratos.
Autor: José Carvalho


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