O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO MÉDIO: INTERFACES PEDAGÓGICAS E LINGUÍSTICAS
O seguinte capítulo tenciona abordar as interfaces pedagógicas e linguísticas da Língua Inglesa, junto ao ensino médio. Apoiando-se nos PCN-LE e agregando fatores que influenciam na formação sociocultural dos indivíduos engajados no processo de ensino-aprendizagem, abordaremos as exigências da Língua Estrangeira no ato educativo, assim como também o papel do professor, a aplicabilidade e a profissionalidade ocasionada pelo estudo de uma LE.
Exigências dos PCN em Face da Língua Estrangeira
Sabemos que a educação de uma Língua Estrangeira é um processo que requer tempo e dedicação. Para isso o sistema educacional deve estar apto a cumprir tal função, impulsionando a construção de uma consciência crítica-reflexiva perante o discente, vinculando esse aprendizado com a aquisição de conhecimentos culturais, onde serão uteis para formar competências e habilidades durante toda vida escolar e profissional do indivíduo engajado no meio social.
A aprendizagem de uma LE também é um fator complexado em estruturas que visam a aquisição de conteúdo afim da obtenção de significados de palavras, ou seja, o discente envolvido em tal complexo terá por meio de uma LE a possibilidade de compreender e dar significados coerentes junto a outro idioma.
Podemos também dizer que o estudo de uma Língua Estrangeira possibilitará no discente a capacidade de desenvolver competências e habilidades nos níveis de ordem textual, gramatical e interativa.
A competência interativa, segundo os PCN ? LE (2002, p. 96) "se desenvolve por meio do uso da linguagem em situações de diálogos entre falantes que partilham o mesmo idioma, pautado por regras comuns e reciprocamente convencionadas."
A leitura e interpretação de textos de uma Língua Estrangeira moderna são apoiadas por técnicas de leitura, condicionadas no meio do sistema de educação de LE, como facilitador da aprendizagem e compreensão de diferentes textos de enfoque informativo.
Ao observar esse aspecto, podemos dizer que:
A competência primordial do ensino de línguas estrangeiras modernas no ensino médio deve ser a da leitura e, por decorrência, a da interpretação. O substrato no qual se apóia a aquisição dessas competências constitui-se no domínio de técnicas de leitura [...]bem como na percepção e na identificação de índices de interpretação textual [...] (PCN ? LE, p.97, 2002)
Em face das exigências dos PCN perante uma Língua Estrangeira, notadamente o Inglês, é importante salientar que o objetivo de ensinar uma LE ultrapassa a barreira de aquisição das competências textual, gramatical e interativa.
Para se valer do significado do ensino-aprendizagem de uma LE o discente envolvido nesse contexto terá como função aprimorar e aprofundar seu conhecimento nos valores culturais de outros países.
Tendo a visão da cultura estrangeira esse indivíduo será capaz de compreender de maneira mais precisa sua própria cultura, desenvolvendo uma relação harmoniosa entre a parte tradicional de aprender uma LE com a função sociocultural de formar cidadãos cientes de seus deveres e direitos.
Assim, percebemos que:
O papel educacional da Língua Estrangeira é importante, [...] para o desenvolvimento integral do indivíduo, devendo seu ensino proporcionar ao aluno essa nova experiência de vida. Experiência que deveria significar uma abertura para o mundo, tanto o mundo próximo, fora de si mesmo, quanto o mundo distante, em outras culturas. Assim, contribui-se para a construção, e para o cultivo pelo aluno, de uma competência não só no uso de línguas estrangeiras, mas também na compreensão de outras culturas. (PCN ? LE, p. 37, 1998)
Cabe também frisar que a educação de uma LE não é apenas formatada através da criação de documentos. A criação do PCN impulsionou o desenvolvimento de habilidades e competências do idioma estrangeiro, mas não fundamentou de maneira explícita seu papel perante a sociedade.
Uma frase bem conhecida de todos nos transmite a ideia de que a "educação é dever do estado e da família". O art. 205 da Constituição Federal deixa bem claro que para ter educação é necessária a participação em massa da sociedade. Não basta o Estado prover verbas e tão menos o docente transmitir e ter domínio do conteúdo. É necessária a inserção da família na educação, apoiando de todas as maneiras o desenvolvimento intelectual e social do discente em processo de aprendizado.
Contudo, não devemos nos apoiar nesse artigo para justificar a condição, muitas vezes, precária do sistema educacional brasileiro. É mais do que evidente que para se ter educação de qualidade o governo deveria valorizar mais os profissionais da educação.
Não é de hoje que observamos que na educação brasileira, principalmente, nas escolas de ensino público, o docente é tido como "mercadoria" desvalorizada, não bastando apenas ter um certificado de diploma superior e ser habilitado numa disciplina especifica. Ele tem de ser polivalente, dominar toda disciplina do currículo escolar e no fim de tudo esperar sua valorização por meio de um piso salarial incompatível com a realidade onde se encontra.
Tudo isso é relatado no princípio expresso no inciso V do art. 206 da Constituição V Federal/88:
Valorização dos profissionais de ensino, garantindo, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso publico de provas e títulos, assegurado o regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União (SAVIANI, 2006, p. 203)
No obstante e em contrapartida à realidade da educação brasileira, o ensino de uma LE deve e tem de ser apoiado na construção e desenvolvimento de habilidades que prezam a compreensão de enunciados em Língua Estrangeira, a fim de proporcionar nos discentes competências e habilidades que facilitam a interação no mundo globalizado.
Com isso devemos salientar que:
Aprender a ler de modo amplo é aprender a comunicar-se, é valer-se do texto em língua estrangeira para conhecer a realidade e também para aprender a língua que, em ultima instância, estrutura simbolicamente essa realidade, conformando visões de mundo. (PCN-LE, 2002, p.107)
Gradativamente os objetivos em face da Língua Estrangeira poderão ser alcançados. Condicionar os PCN a realidade pedagógica não é tarefa fácil. Todo regimento em face desse documento tem de ser apoiado por políticas públicas que incentivem o aprimoramento da aprendizagem da Língua Estrangeira em nosso país.
O Papel do Professor no Ensino de Língua Inglesa
Com o avanço da tecnologia e a constante necessidade do homem em se comunicar no mundo globalizado, observamos que o Ensino da Língua Inglesa vem sofrendo modificações constantes.
Todo aprendizado de uma LE gira em torno da comunicação e o docente dessa área não deve restringir sua metodologia a atividade cognitiva. Ao contrário, ele deverá abranger seu conhecimento a outros campos teóricos, com a finalidade de desenvolver habilidades que viabilizem o saber social e a produção cultural.
Compreendendo isso podemos argumentar que o docente no Ensino da Língua Inglesa será definido pela sua flexibilidade de adaptação ao meio no qual ele se encontra. Todo conteúdo transmitido voltará como oportunidade de aprendizado, tanto por parte do aluno como do professor.
Há, portanto, nessa situação valores recíprocos de aprendizado, onde docente e discente serão confidentes no desenvolvimento de competências de cunho social.
Assim podemos dizer que:
[...] o saber não é uma substância ou um conteúdo fechado em si mesmo; ele se manifesta através de relações complexas entre professor e seus alunos. Por conseguinte, é preciso inscrever no próprio cerne do saber dos professores a relação com o outro, e, principalmente, com esse outro coletivo representado por uma turma de alunos. (Tardif, 2002, p.13 apud PCN-LE, 2002, p. 129)
Percebe-se assim que o docente em Língua Inglesa precisará aprender a recontextualizar sua maneira de agir em virtude das transformações que vem acontecendo no mundo globalizado, prendendo-se e adaptando sua metodologia de ensino, afim de ampliar o conhecimento no magistério, pois o docente:
[...] nunca define sozinho seu saber profissional, já que, no âmbito da organização do trabalho escolar, o que o professor sabe depende também daquilo que ele não sabe, daquilo que se supõe que ele não sabia, daquilo que outros sabem em seu lugar e em seu nome, dos saberes que os outros lhe opõem ou lhe atribuem. Em resumo: "nos ofícios e profissões não existe conhecimento sem reconhecimento social". (Tardif, 2002, p.13 apud PCN-LE, 2002, p. 129)
Diante dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o docente de Língua Inglesa terá de desenvolver seu papel diante das transformações culminantes de elementos externos, como por exemplo, a necessidade do homem em se comunicar de maneira prática e eficiente através da Internet e o entretenimento dos discentes proporcionado por meio de tecnologias digitais.
Em decorrência a essa realidade o docente de uma LE terá de viver em constante atualização, fazendo uso de subsídios inerentes a uma melhor qualidade de educação, sendo estes facilitadores na aprendizagem de um idioma estrangeiro, dando "alma" a uma disciplina que a muito tempo tem sido vista como um fator completar, sem grau de importância em frente de disciplinas como o Português e a matemática.
É obvio que o ensino brasileiro não é baseado apenas no uso de tecnologia para o desenvolvimento de uma LE. A realidade, infelizmente, não viabiliza o trabalho do docente. Em se tratando de ensino de uma LE, a Língua Inglesa, ainda é sinônimo de poder aquisitivo. Ter acesso a esse idioma significa gastos altíssimos com material de estudo e pagamentos excessivos a instituições de ensino de idiomas.
A presença de uma Língua Estrangeira nas escolas públicas é fato verdadeiro, mas ainda falta muito para ser significativa. Muitas vezes a disciplina de LE está em face da precariedade de materiais e na desmotivação dos discentes em frente à Língua Estrangeira.
O docente terá seu papel ampliado como perpetuador do saber e incentivador de uma abordagem socioconstrutivista, onde cada indivíduo será encarregado de construir seu modo de pensar, e a partir da interação social, compartilhada coletivamente, poderá viver em constante aprendizado e aperfeiçoamento.
Tendo por base essas informações é de grande valor salientar que o perfil do profissional de Língua Inglesa tem de ser impulsionada pela reflexão, flexibilidade e por fim a inovação.
A "Aplicabilidade" da Língua Inglesa e a Profissionalidade do Aluno
É de nosso conhecimento que a Língua Inglesa é o idioma do mundo globalizado. Como ferramenta de comunicação ela abrange todos os países do globo, trazendo para sociedade uma necessidade urgente de aprendizagem.
Tal pressuposto está em contrapartida à realidade do discente. O ensino de uma LE é fator de importância para a formação social, porém encontra barreiras no sistema educacional brasileiro que tornam essa atividade inviável para formação do aluno.
Embora que o homem disponha de tecnologias, que com seu uso poderiam facilitar o trabalho da aprendizagem da Língua Inglesa, observamos que:
[...] o contraste jamais foi tão grande entre a miséria do mundo e o que poderia ser feito com as tecnologias, os conhecimentos, os meios intelectuais e materiais de que dispomos. [...] Miséria e opulência, privações e desperdício convivem tão insolentemente quanto na idade Média, tanto em escala planetária como em cada sociedade.
(Bourdieu, 1983, s.p, apud PCN-LE, 2002, p. 133)
Isso é caracterizado a nossa realidade quando percebemos a dicotomia existente entre o ensino de inglês nas escolas públicas e o ensino de redes particulares, como por exemplo, cursos de idiomas.
Enquanto na primeira o ensino de uma LE é visto como atividade complementar que não proporciona ao discente capacidade fluente de comunicação, em cursos de idiomas a realidade é bem diferente, na maioria das vezes o discente sai preparado para o mercado de trabalho, apto a comunicar-se fluentemente em outro idioma.
Convém reforçar a ideia que o ensino de inglês traz na sua metodologia a oportunidade de crescimento pessoal e profissional do discente. Ter acesso a outro idioma não se resume somente a sala de aula. O indivíduo interessado em aprender outro idioma deve buscar ao seu redor subsídios que o prepare para assimilar o conhecimento da Língua Estrangeira.
O meio proporciona essa aprendizagem. No mundo globalizado a aplicabilidade do inglês vai além da resolução de exercícios escolares. O homem da atualidade vive cercado de tecnologias, que são utilizadas como meio de interação e comunicação social.
Essa ideia é reforçada com a afirmação abaixo:
Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação. [...] (PCN-LE, p. 132, 2002)
A acessibilidade às tecnologias de todos os tipos, como computadores, que estão 24 horas ligadas a Internet, resulta numa motivação e necessidade de uma camada da sociedade de adquirir conhecimento do idioma inglês.
Essa ferramenta de comunicação deixou de ser um utilitário de luxo para torna-se uma mecanismo popular, transformando a sociedade vigente no elo de aprendizado e aperfeiçoamento de suas culturas e, por conseguinte, a descoberta de novos ideais.
Para que isso se torne realidade o homem deve buscar no seu meio a compreensão lingüística, ou seja, o indivíduo além de ter acesso as tecnologias do mundo globalizado, deve compreender e ser compreendido.
Irremediavelmente a Língua Inglesa ocupa um espaço importante na assimilação na comunicação mundial. Esses fatores estão entrelaçados no nosso dia-a-dia por meio de atividades que envolvem ações simples ou até complexas.
Toda atividade, seja ela a mais simples ou mais complexa requer um grau de domínio e conhecimento. Como já foi dito, não basta apenas ter acesso, é fundamental introduzir elementos que facilitam a interação comunicativa de ser entendido.
Na Língua Inglesa isso não é diferente para que o discente tenha um maior aproveitamento da aprendizagem do inglês, ele deve ter em vista a possibilidade de crescimento pessoal e profissional através do estudo da Língua Inglesa. Conhecer e ter domínio básico de outro idioma é um subsídio a mais no mercado de trabalho, pois sabemos que:
[...] oportunidades de trabalho que se abrem para os concludentes do ensino médio (com turismos, em algumas regiões brasileiras; como recepcionista, por exemplo), o conhecimento básico de comunicação oral em Línguas estrangeiras consta entre os requisitos para a seleção ao trabalho. [...] é um indicador de disponibilidade para o aprendizado, de mente aberta para conhecimentos que se façam necessários para o desempenho de determinadas tarefas em determinados contextos. (Secretaria de Educação Básica, 2008, p.119)
No obstante devemos nos atentar que o ensino da Língua Inglesa não deve restringir-se ao mercado de trabalho. A Língua Inglesa também tem a função educadora de formar indivíduos capazes de desempenhar seu papel de cidadãos conscientes de suas obrigações perante a sociedade.
Agregando esses valores e não negligenciando o mercado de trabalho os discentes concluem a Educação Básica aptos a buscar melhores oportunidades, que culminam no aprofundamento dos estudos adquiridos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CATINO, Georgina. Espanhol para o Ensino Médio: volume único. 1ª ed. São Paulo: Scipicione, 2004.
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Linguagens, códigos e suas tecnologias / secretaria de Educação Básica. ? Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.
LIMA, Diógenes. Ensino Aprendizagem de língua inglesa: conversa com especialistas. 1ª ed.São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. 1ªed São Paulo: EPU, 1986.
PILETTI, Nelson. Psicologia educacional 17ª ed. São Paulo: Ática, 2004.
Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua estrangeira / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.120 p.
PCN + Ensino Médio:Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Linguagens, códigos e suas tecnologias/Secretaria da Educação Média e Tecnológica ? Brasília: MEC; SEMTEC, 2002.
SAVIANI, Dermeval, A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas 10ª ed. Capinas SP. 2006.
Autor: Jonathã Marques
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