DE ROBERTO CALMON A GUERINO ZANON: A IMPORTÂNCIA DO VOTO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE POLÍTICA EM LINHARES-ES



FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS "SAGRADO CORAÇÃO" - UNILINHARES
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO "SAGRADO CORAÇÃO" ? ISESC
DIRETORIA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
COLEGIADO DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

ROSA CHARILLI BERGER
THAIS DA SILVA

DE ROBERTO CALMON A GUERINO ZANON: A IMPORTÂNCIA DO VOTO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE POLÍTICA EM LINHARES-ESLINHARES
2005
ROSA CHARILLI BERGER
THAIS DA SILVA

DE ROBERTO CALMON A GUERINO ZANON: A IMPORTÂNCIA DO
VOTO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE POLÍTICA EM LINHARES-ES

Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Aplicadas "Sagrado Coração" ? UNILINHARES, como exigência final para obtenção da Licenciatura Plena em História.
Orientadora: Profª. MsC. Ana Maria Paraíso Dalvi

LINHARES
2005
ROSA CHARILLI BERGER
THAIS DA SILVA


DE ROBERTO CALMON A GUERINO ZANON: A IMPORTÂNCIA DO
VOTO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE POLÍTICA EM LINHARES-ES

Monografia apresentada ao curso de graduação em História da Faculdade de Ciências Aplicadas "Sagrado Coração" ? UNILINHARES ? como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em História.


COMISSÃO EXAMINADORA


_____________________________________________
Profª. MsC. Ana Maria Paraíso Dalvi
Faculdade de Ciências Aplicadas "Sagrado Coração" - UNILINHARES
Orientadora

_____________________________________________
Profª. MsC. Maria Benedita Leite Alves
Faculdade de Ciências Aplicadas "Sagrado Coração" ? UNILINHARES
Avaliadora
_____________________________________________
Profª. Especialista Ilvânia Maria da Silva Dalbém
Faculdade de Ciências Aplicadas "Sagrado Coração" - UNILINHARES
Avaliadora

A Maria Benedita Leite Alves, por ser um anjo protetor na minha vida durante esse período de intensa convivência.

A Elias, irmão que é uma bênção que cabe cultivar em clima de gratidão.

A minha filha Marcela por compreender a minha ausência e pela pura alegria de viver.

À minha amiga e companheira Thaís que faz com que eu me lembre sempre que toda criatura humana é um ser inteligente em transformação incessante, e, por vezes, a mudança das pessoas que amamos não se verifica na direção de nossas próprias escolhas.

A José Archângelo Depizzol que com imenso amor ensinou que nos compete amar aqueles que nos oferecem o coração.

Rosa


À minha avó Ermelinda Spairaine de Abreu e Silva que me incentivou e colaborou para que eu concluísse esse curso.

À minha mãe Maria Eléia da Silva que me deu força para prosseguir diante dos obstáculos.

Ao meu tio Luiz Paulo Abreu da Silva que sempre esteve presente nos momentos mais difíceis.

Em especial à minha colega, "mãe", fiel amiga e conselheira, Rosa Charilli Berger pelo apoio, incentivo e amizade.

Ao meu professor José Archângelo Depizzol e demais docentes por terem contribuído com meu crescimento pessoal e intelectual ao longo desse curso.

Thaís


À Maria Benedita Leite Alves que conseguiu mostrar que com esforço nada nunca se perde somente dignifica as pessoas.

À Ana Maria Paraíso Dalvi que com sua dedicação soube acalmar o nosso interior, para encontrarmos as respostas para nossas dúvidas.

Aos amigos conquistados no decorrer do curso que souberam demonstrar que a felicidade está tão perto que nem nos damos conta.

Ao ex-prefeitos, familiares e moradores de Linhares que por meio de suas palavras revelaram que devemos dar mais importância, além do que foi conquistado, também ao que ainda existe por conquistar.

À UGBP ? Produção e Exportação Ltda. em especial Solange Rangel, pela compreensão e apoio.

A todos que, direta ou indiretamente, puderam contribuir com esse estudo, evidenciando que somente se poderá alcançar a completa liberdade e satisfação com muita perseverança.

"Nas Democracias diretas, onde o cidadão decide sobre as questões de governo, o sufrágio significa à aprovação ou a reprovação à determinada medida, é a forma pela qual se manifesta a opinião do indivíduo sobre assuntos que pendem de sua resolução".

Darcy Azambuja
RESUMO


As cidades em diferentes lugares sempre têm uma identidade própria, quer seja social, econômica e/ou política. Linhares, localizada no norte do Estado do Espírito Santo não foge a essa regra, pois desde a sua origem tem mostrado um perfil de desenvolvimento contínuo, ora impulsionada pela agricultura, tendo o cacau como principal produto agrícola e outras vezes, influenciado pelo asfaltamento da Br-101 e pela inauguração da Ponte "Presidente Getúlio Vargas" que a ligou definitivamente ao nordeste e aos outros Estados do Sudeste do País. No bojo dessas mudanças, o município apresentou uma identidade política própria caracterizada principalmente por políticos da direita ou da "situação". Em decorrência desse aspecto, esse estudo teve por objetivo analisar a importância histórica dos processos eleitorais para a escolha dos prefeitos municipais da década de 50 até os dias atuais. A metodologia utilizada privilegiou o método teórico e o empírico, sendo que nesse último a oralidade foi elemento primordial na busca de informações junto aos ex-prefeitos e moradores antigos. A partir dessas ações pode-se compreender que uma cidade não pode deixar de ser analisada também em função de suas personagens políticas, pois elas representam o perfil do povo em suas preferências, ideologias, necessidades e exigências. A identidade política é, sobretudo o pensamento da sociedade, que busca por meio da eleição demonstrar o que pensam e no que acreditam.

Palavras-chave: Eleição ? Política ? Prefeitos ? Identidade ? Linhares.

















LISTA DE FIGURAS


Figura 1 ? Casa da Câmara em 1961, bastante modificada em relação à planta original, quando funcionava como Prefeitura Municipal no governo de Armando Barbosa Quitiba......................................................

39
Figura 2 ? Prefeito Roberto Calmon (1944-1946)..................................... 42
Figura 3 ? Humberto Calmon Neves Fernandes e sua segunda esposa, Aurora Belcavello Fernandes....................................................................
45
Figura 4 ? Miguel Gusman Júnior em foto cedida por sua filha, Maria da Penha........................................................................................................
48
Figura 5 ? Miguel Gusman Júnior junto a um time de basquete do qual era padrinho..............................................................................................
49
Figura 6 ? Anário Marreiro com a filha Lúcia Maria.................................. 50
Figura 7 ? Posse do prefeito Joaquim Calmon, de braço dado com sua esposa D. Holinda Carvalho Calmon em 1951.........................................
53
Figura 8 ? Início das obras da praça "Régis Bittencourt".......................... 54
Figura 9 ? Ponte "Getúlio Vargas", inaugurada em 22 de junho de 1954 (Acervo SERLIHGES)..............................................................................
55
Figura 10 ? Colação de grau de José de Caldas Brito em Belo Horizonte-MG............................................................................................
57
Figura 11 ? José de Caldas quando prefeito de Linhares-ES.................. 58
Figura 12 ? O prefeito Emir de Macedo Gomes....................................... 59
Figura 13 ? O ex-prefeito Armando Quitiba e sua esposa Inez Francischetto Quitiba................................................................................
62
Figura 14 ? Jipe Willys adquirido no governo de Armando Quitiba como carro oficial sendo usado em desfiles e paradas comemorativas............
63
Figura 15 ? Praça "Régis Bittencourt" remodelada no governo de Armando Quitiba.......................................................................................
64
Figura 16 ? Banco de Crédito Real de Minas Gerais............................... 65
Figura 17 ? Ato da assinatura do contrato relativo ao empréstimo da CVRD à prefeitura de Linhares para ampliação da rede elétrica. Da esquerda para a direita, os srs. Armando Quitiba, Ewaldo Gomes e João Calmon.............................................................................................


66
Figura 18 ? Vista aérea de Linhares em 1961.......................................... 68
Figura 19 ? Antônio Edson Azevedo Lima............................................... 70
Figura 20 ? O ex-prefeito Antenor Elias despachando com sua secretária Jacira Martinelli........................................................................
71
Figura 21 ? Praça "22 de Agosto" remodelada no governo do ex-prefeito Antenor Elias................................................................................
72
Figura 22 ? O ex-prefeito Antenor Elias.................................................... 74
Figura 23 ? O ex-prefeito Senatilho Perin................................................. 78
Figura 24 ? Brasão de armas do município de Linhares. Criação de Alberto Lima (heraldista e desenhista)....................................................
80
Figura 25 ? Logomarca da prefeitura. Criação do arquiteto Rubens Santana.....................................................................................................
81
Figura 26 ? Ex-prefeito José Rodrigues Maciel (1971-1972)................... 84
Figura 27 ? Ex-prefeito Samuel Batista Cruz discursando ma tribuna da Câmara.....................................................................................................
87
Figura 28 ? Ex-prefeito Antônio Muniz dos Reis (1977-1979).................. 91
Figura 29 ? O interventor Hélio Leal......................................................... 93
Figura 30 ? o ex-prefeito Luis Cândido Durão, a esposa, Sônia e, filhos..........................................................................................................
94
Figura 31 ? o ex-prefeito Luis Cândido Durão na tribuna da Câmara Municipal de Linhares...............................................................................
97
Figura 32 ? José Carlos Elias discursando na Tribuna da Câmara Municipal de Linhares...............................................................................
102
Figura 33 ? O ex-prefeito Guerino Luiz Zanon ao lado de sua esposa recebendo o carinho de seus eleitores.....................................................
104
Figura 34 ? O ex-prefeito Guerino Luiz Zanon discursando na Tribuna da Câmara Municipal de Linhares............................................................
108
Figura 35 ? O ex-prefeito Guerino Luiz Zanon recebendo uma homenagem..............................................................................................
109




SUMÁRIO


1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 11
2 O VOTO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS............................... 15
2.1 VOTO E IDENTIDADE: ASPECTOS SOCIAIS E POLÍTICOS........... 15
3 LINHARES: DE ROBERTO CALMON A GUERINO ZANON.............. 33
3.1 INÍCIO DA VIDA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DE LINHARES....... 38
3.2 PREFEITOS DE LINHARES.............................................................. 40
3.2.1 Roberto Calmon (1944-1946)........................................................ 42
3.2.2 Humberto Calmon Neves Fernandes (setembro, 1946)............. 45
3.2.3 Miguel Gusman Júnior (Janeiro a março de 1947)..................... 47
3.2.4 Anário Marreiro de Araújo (Abril a dezembro de 1947).............. 50
3.2.5 Manoel Salustiano de Souza (1948-1950).................................... 51
3.2.6 Joaquim Calmon (1951-1954)...................................................... 53
3.2.7 José de Caldas Brito (Janeiro a abril de 1955)........................... 56
3.2.8 Emir de Macedo Gomes (1955-1958)............................................ 59
3.2.9 Armando Barbosa Quitiba (1959-1962)........................................ 62
3.2.10 Antônio Edson Azevedo Lima (Agosto de 1962 a janeiro de 1963).........................................................................................................
69
3.2.11 Antenor Elias (1963-1966)........................................................... 70
3.2.12 Senatilho Perin (1967-1970)........................................................ 77
3.2.13 José Rodrigues Maciel (1971-1972)........................................... 83
3.2.14 Samuel Batista Cruz (1973-1976/ 1983-1988)............................ 86
3.2.15 Antônio Muniz dos Reis (1977-1979).......................................... 90
3.2.16 Luis Cândido Durão (1979-1982/ 1989-1992)............................. 93
3.2.17 Waldemar Zardo (maio de 1982 a janeiro de 1983)................... 100
3.2.18 José Carlos Elias (1993-1996)..................................................... 101
3.2.19 Guerino Luis Zanon (1997-2000/ 2001-2004)............................. 104
CONCLUSÃO........................................................................................... 112
REFERÊNCIAS........................................................................................ 115
APÊNDICE A............................................................................................ 117
ANEXO A.................................................................................................. 118

1 INTRODUÇÃO


No Brasil, viveu-se uma época em que os governantes eram escolhidos de maneira indireta, ou seja, não existia a possibilidade de o povo escolher quem ele acreditava poder governar em favor do bem comum. Este fato aconteceu tanto em nível federal, estadual, como municipal. Com isso, a eleição como processo democrático não pode se efetivar confiscando os direitos dos cidadãos de escolher seus governantes.

Em nível federal, a escolha dos governantes ficou comprometida, na época do regime militar, quando os presidentes eram designados por uma junta militar. Este tipo de ação acabou por comprometer o processo eleitoral em nível estadual e municipal, pois como os militares não queriam perder o domínio, mantinham a todos sobre o seu comando.

Este tipo de prática perdurou por longo tempo, até que com o processo de abertura e com o movimento pelas eleições diretas na década de 80, as eleições, principalmente federais, puderam ser realizadas novamente com o voto do povo.

No contexto de Linhares, muito embora, as eleições diretas tenham sido uma constante, com exceção de alguns poucos prefeitos indicados, verifica-se que foram muitas as influências e os desmandos que acabaram por comprometer a democracia fazendo com que proliferassem práticas pouco democráticas como o voto de cabresto, coronelismo, currais eleitorais, dentre outras.

Considera-se que eleger seus governantes seja um dos direitos mais fundamentais dos cidadãos, por isso, não se pode ficar subjugado ao autoritarismo de alguns poucos que querem o poder sem respeitar o bem comum.

Linhares, município do norte do Estado do Espírito Santo, ao longo de sua história, de 1800 até 2005, teve 20 prefeitos, sendo que alguns deles exerceram mandato por mais de uma vez, culminando em 23 processos eleitorais.

A maioria desses prefeitos foi eleita por voto direto, mas em razão do contexto que permeou os pleitos, observa-se um elevado acirramento dos ânimos em razão das opções partidárias.

Acredita-se que o poder executivo seja de grande importância para a vida do município, pois cabe a ele administrar suas riquezas trazendo o crescimento e atendendo aos cidadãos em suas necessidades.

Em Linhares, também se faz esta constatação e é grande o envolvimento da população nos processos eleitorais. Contudo, objetiva-se nesse estudo analisar a importância histórica dos processos eleitorais para a escolha dos prefeitos municipais da década de 50 até os dias atuais.

Como objetivos específicos foram traçados os seguintes:

- Relatar a importância do processo eleitoral para a consolidação da democracia;

- Caracterizar o processo eleitoral para a escolha do chefe do poder executivo;

- Coletar informações sobre os pleitos eleitorais da década de 50 até os dias atuais;

- Apresentar dados sobre os prefeitos de Linhares.

O estudo em questão justifica-se pela necessidade de se resgatar a história política do município de Linhares-ES, pois em se tratando de eleições, normalmente as pessoas logo após votarem não mais procuram saber de seus candidatos. Tão logo o processo é concluído, as pessoas já não mais dedicam o seu tempo para analisar o governo eleito.

Afora o aspecto ideológico e passional que envolve o processo da eleição, as pessoas têm de estar cientes que o que está em jogo é o futuro do lugar onde moram. Assim, as pessoas, independente do partido ou da simpatia têm de escolher aqueles políticos que melhor as representará.

Linhares é uma importante referência para todo o Estado do Espírito Santo, pois dela saíram nomes importantes para a política estadual. Políticos que buscaram fazer com que a confiança que lhes foi depositada fossem retribuída. Porém, ser político não é somente estar filiado a um partido ou disputar uma eleição. Cada indivíduo ao escolher a vida pública deve saber que existem inúmeras responsabilidades e dentre estas está o compromisso com o bem comum.

Política não deve ser pensada apenas em uma instância política-partidária. Política é uma ação que se faz todos os dias em todas as ações do ser humano. No entanto, as pessoas na maioria das vezes se esquecem de dimensão intrínseca ao conceito de política, preferindo adotar uma atitude unilateral ou simplesmente se posicionar neutras mediante as decisões políticas.

Nessa situação, como fazer para que as pessoas compreendam a importância de um pleito eleitoral? De que maneira a população poderá mostrar mais compromissada com as escolhas políticas feitas? Como manter viva na memória das pessoas as realizações de antigos prefeitos? Como obter a compreensão das pessoas sobre a importância desses políticos para a construção da identidade política do município de Linhares-ES?

Dessa maneira, considera-se que conhecer os diferentes políticos que ocuparam o cargo de prefeito em Linhares-ES e as questões intrínsecas a cada processo eleitoral, seja de grande relevância, uma vez que muitos acontecimentos de administrações anteriores acabaram se perdendo no tempo.

Se os moradores tiverem acesso a informações importantes sobre os prefeitos de Linhares-ES em que o destaque seja para as realizações de cada mandato, então se acredita que as pessoas passarão a perceber os titulares dos cargos executivos além das siglas políticas-partidárias que representam. Sendo assim, desenvolverão uma consciência de maior responsabilidade no momento de escolher seus representantes.

O estudo se compõe de cinco partes: introdução, desenvolvimento, conclusão, referências e anexos.
A introdução compõe-se dos seguintes itens: contextualização, objetivos, justificativa, formulação do problema, questões de pesquisa, hipótese, definição de termos e organização do estudo.

O desenvolvimento compõe-se de: revisão da literatura, metodologia, apresentação e análise dos resultados da pesquisa de campo O primeiro capítulo apresenta o processo eleitoral no Brasil desde o estabelecimento da República e a cassação dos direitos do povo de eleger seus representantes. No segundo capítulo o enfoque é sobre os sistemas de governo democráticos como princípio primordial à cidadania. O terceiro capítulo aborda os processos eleitorais no município de Linhares a partir da década de 50 a partir da fala de alguns moradores e antigos prefeitos.























2 O VOTO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS


Considera-se nesse estudo, o voto como instrumento máximo de representação da vontade popular em qualquer instância. E, embora no Brasil, o voto seja obrigatório, não se acredita que essa característica venha macular o propósito de popular que encerra os processos eleitorais.

O voto, no entanto não é uma ação isolada. Ele é a culminância de um longo processo de luta pela participação popular em diferentes épocas e civilizações.



2.1 VOTO E IDENTIDADE: ASPECTOS SOCIAIS E POLÍTICOS


A palavra voto remete a um conceito e uma ação que remonta à Grécia Antiga. Surgido a partir do momento em que o Estado se organiza e se estrutura, foi, contudo, adquirindo diferentes aplicações conforme os interesses de cada época e sociedades.

Por outro lado, identidade, na concepção sociológica "[...] preenche o espaço entre o interior e o exterior ? entre o mundo pessoal e o mundo público" (HALL, 1998, p. 11).

Portanto, em se tratando de conceitos que remetem ao público, o fato é que cada indivíduo projeta a si próprio dentro da identidade cultural e ao mesmo tempo internaliza seus significados e valores, tornando-se parte do todo, contribuindo para alinhar nos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupa no mundo social e cultural. A identidade é, para Hall (1998, p. 11): "A identidade, então, costura (ou, para usar uma metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto aos mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíeis".

O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas (HALL, 1998).

Assim, voto é identidade, embora não sejam a mesma coisa, acabam por constituir e/ou construir um só contexto. Dessa maneira, percebe-se que a identidade é algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento.

No Brasil, a identidade política foi um processo que iniciou ainda em seus primórdios e foi sendo construída ao longo dos tempos. As eleições vêm sendo realizadas desde a sua Colonização e desde àquela época vêm sofrendo mudanças em alguns aspectos históricos de suas representações eleitorais.

Tal fato pode ser verificado traçando-se um paralelo entre elas, começando pelas Ordenações do Reino, onde o Brasil dividiu a sua representação entre os Poderes Executivos (Imperador, Regente, Presidente, Governadores) o Poder Legislativo (Senadores, Deputados e Vereadores) e o Poder Judiciário (Juizes, Procuradores, Escrivães).

A forma de legitimação concedida pelo sufrágio popular em outras épocas não se fazia através dos votos dos cidadãos como se conhece hoje. Inicialmente, era de forma indireta e em certas épocas em vários turnos. Depois passou a ser de forma direta e em turno único através de um colégio eleitoral.

Demonstrando assim, essas modificações nas Leis Eleitorais são reflexo dos Costumes, da Cultura e da Soberania Nacional, verificadas em um determinado momento histórico, social e cultural do País.

Assim, verifica-se que as condições políticas do País possuem relação intrínseca com o Processo Eleitoral e a escolha dos Representantes através do voto, da eleição e da representação. Tal afirmação se funda em constatação simples, na qual se verifica que grande parte dos eleitores vai às urnas não no cumprimento de um dever cívico, mas em troca de alguma vantagem (AMADO, 1999).
A lei confere aos cidadãos a capacidade natural do voto, mas como a lei não confere inteligência, cultura e discernimento a quem não os possui de fato, tal capacidade torna-se artificial, e, como conseqüência imediata, tem-se que a política se transforma em monopólio dos políticos, isto é, dos que fazem da política profissão e meio de vida.

As cidades e vilas do Brasil, no início da colonização, possuíam desde então uma divisão político-administrativa, pois já naquela época era necessário a divisão de riquezas e distribuição de justiça. Contudo faz-se necessário ressaltar que até à realização da Proclamação da Independência do Brasil o povo elegia apenas os governos locais, isto é, os conselhos municipais, os quais possuíam apenas atribuições político-administrativa, cabendo a estas câmaras, legislar de forma ampla sobre todos os assuntos inerentes às vilas ou às cidades.

Essa divisão político-administrativa denominava-se Câmaras Municipais e eram compostas por juizes, vereadores, procuradores, tesoureiros, almotacéis e escrivães; que geralmente eram chamados de oficiais. Quando as Câmaras reuniam-se formavam o Conselho e quando as reuniões eram de apenas juízes e vereadores denominavam-se Vereação (AMADO, 1999).

O povo em votação secreta e de forma indireta elegia os seus representantes que depois, de forma direta, iriam eleger os oficiais das câmaras. As eleições dos oficiais aconteciam segundo a forma prescrita pelas Ordenações do Reino estabelecidas no Titulo 67 do Livro Primeiro das Ordenações constituindo, assim, um código eleitoral que vigorou no Brasil até 1828, portanto, quatro anos após a outorga da primeira constituição brasileira feita por Dom Pedro I em 1824 (FERREIRA, 2001)

Essas eleições eram indiretas e em dois turnos e ocorriam a cada três anos, porém, como o mandato dos oficiais era de um ano, em cada eleição elegiam-se três conselhos (FERREIRA, 2001).

Todos votavam, o sufrágio era universal, não havia pré-requisitos nem distinção entre os eleitores, apenas os elegíveis deveriam ser homens bons, pessoas honestas, experientes e conceituados moralmente na sociedade.
As eleições nas vilas e cidades na época do Brasil - Reino era de forma indireta e em dois turnos. No mês de dezembro, quando se aproximava o fim do mandato do último conselho, toda a população era convocada para as eleições na quais seriam eleitos os representantes que iriam escolher os novos oficiais das Câmaras.

Em 12 de novembro de 1611, portanto oito anos após o código eleitoral das Ordenações do Reino de 1603, o rei de Portugal fez editar um alvará aperfeiçoando e introduzindo novas disposições ao código eleitoral no qual dizia:

[...] os corregedores ou ouvidores ao entrarem nas terras aonde hão de fazer a eleição, escolherão duas, ou três pessoas que lhes parecer das mais antigas e honradas, e de que tenham informação que são zelosas do bem público, [...], dando-lhes juramento dos Santos Evangelhos. [...] e estando o povo junto, o dito corregedor, ouvidor, ou juiz lhe dirão da minha parte que das pessoas mais nobres da governança da terra votem em seis eleitores dos mais velhos, e que não sejam parciais, se na dita vila houver bandos [...] (FERREIRA, 2001, p. 54).

Como se pode verificar do próprio texto, as fraudes, é claro, existiam, pois muitas vezes as Instruções Eleitorais esculpidas nas Ordenações do Reino não eram seguida a risca, eis que as mesmas eram constituídas de cinco livros e nem todas as cidades e vilas do Brasil as possuíam. Porém, tais fraudes, eram punidas severamente com sentenças de degredo de dois anos para as terras da África e pagamento de multas pesadíssimas.

Durante mais de trezentos anos, desde a colonização do Brasil até o ano de 1828, portanto, quatro anos após a outorga da primeira Constituição Política do Império do Brasil por Dom Pedro I, esse foi o processo eleitoral pelo qual se pautavam as eleições para as Câmaras Municipais no Brasil. E nesses mais de três séculos de história vemos surgir instituições que até hoje se sustentam, tais como a autonomia dos poderes constituídos e a imunidade parlamentar.

Em 7 de março de 1821, D. João VI, assinou decreto convocando o povo brasileiro a escolher os seus representantes, em eleições gerais, para comporem as "Cortes Gerais de Lisboa", com a finalidade de ser redigida e aprovada a primeira Carta Constitucional da monarquia portuguesa. Juntamente com o decreto anteriormente citado, foram expedidas as "Instruções para as eleições dos deputados das Cortes do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve" (FERREIRA, 2001).

Como no Brasil, até então, as eleições eram realizadas apenas para se eleger os governos locais e as câmaras, estas eleições abrangeriam todo o território brasileiro e teriam como finalidade eleger representantes do povo para um parlamento: as Cortes de Lisboa (AMADO, 1999).

As juntas eleitorais eram reunidas no dia da eleição e deveriam ser compostas de acordo com as eleições a ser realizadas. Cada eleitor ditava o nome das pessoas que deveriam ser os compromissários, não podendo, no entanto, votar em si mesmo. Após a eleição passava-se a apuração, sendo considerado eleito aqueles que alcançassem a metade dos votos. Os compromissários, que deveriam ter mais de 25 anos de idade, passavam, então, a escolher os Eleitores de Paróquia. A ata da eleição serviria como diploma de posse, ficando cada Eleitor de Paróquia com uma cópia a título de diploma (FERREIRA, 2001).

Posteriormente mais duas eleições gerais foram realizadas em solo brasileiro antes de sua independência política de Portugal, sendo que a segunda foi realizada após a reforma da administração política e militar decretada por D. João VI que, em decreto datado de 1º de outubro de 1821, conclamava o povo brasileiro a escolher os governantes das juntas provisórias no prazo de dois meses, contados desde o dia em que as autoridades das capitais tomassem conhecimento do decreto e a terceira foi convocada por D. Pedro, através do decreto de 16 de fevereiro de 1822, para a eleição dos Procuradores-Gerais das Províncias do Brasil (FERREIRA, 2001).

Dois fatos importantes protagonizados por D. Pedro I merecem ser mencionados. O primeiro é a Proclamação da Independência do Brasil do Império Português, no dia 7 de setembro de 1822. O Segundo, foi a outorga ao povo brasileiro da primeira Constituição Política do Brasil jurada em 25 de março de 1824 (SILVA, 1999).

Ainda com relação a este segundo fato, deve-se destacar a divisão dos poderes políticos nela reconhecida como o Poder Moderador, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judicial (BONAVIDES, 1998).
O Poder Moderador era função exclusiva do imperador, o qual deveria zelar pela manutenção da Independência, e o equilíbrio e harmonia entre os demais poderes políticos. Já o poder Legislativo era composto por duas Câmaras (a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Senadores) onde cada legislatura durava quatro anos.

Em relação a Constituição de 1824, deve-se ressaltar que a mesma representou um grande avanço sobre o conceito das Câmaras Municipais do período colonial, pois segundo a nova constituição todas as cidades e vilas já existentes, bem como, nas que fossem criadas futuramente, deveriam possuir uma Câmara, as quais seriam compostas por vereadores regularmente eleitos, competindo-lhes, sobretudo, a captação manutenção e aplicação de suas rendas e do governo municipal.

O Sistema Político no tempo do Império era bicameral, sendo composta por duas Casas: a Câmara dos Deputados e a Câmara do Senado. No que tange a escolha dos deputados e dos senadores, a mesma era feita por meio de sufrágio censitário e em dois graus, com a população escolhendo os eleitores de paróquia, estes então escolhiam os eleitores de província, os quais deveriam escolher os deputados e os senadores (BONAVIDES, 1998).

Entretanto, existia uma diferença na escolha dos deputados e senadores; enquanto os deputados eram escolhidos para uma legislatura de quatro anos e de forma direta pelos eleitores de província, os quais foram eleitos de forma indireta pelos cidadãos ativos em Assembléias Paroquiais, os senadores tinham a vitaliciedade do cargo e o Imperador escolhia o terço da totalidade dos senadores a partir de lista tríplice formulada pelos eleitores de província (BONAVIDES, 1998).

O sistema político ora apresentado funcionou de forma eficaz e razoável durante todo o império como pode ser verificado no seguinte texto:

Na verdade, o País praticou entre 1821 (antes da outorga da Carta de 1824, portanto) e 1881, data da Lei Saraiva que instituiu o voto direto, o processo de escolha de Deputados e Senadores em dois turnos, o que representava relativamente ao que se praticou na época em Portugal e Espanha, com eleições em quatro turnos, um razoável avanço (NOGUEIRA, 1999, p. 23)






Levantavam-se contra este sistema, no entanto, duas questões relativas à representação: a autenticidade dos votos, tendo em vista que em 1881 o Brasil possuía 12 milhões de habitantes, e, portanto, apenas 150 mil eleitores, (IBGE, 2002), um número insignificante, vez que o voto universalizou-se apenas no século XX e as mulheres só passariam a ter direito a voto, no Brasil, a partir de 1934; e a falsificação da vontade do eleitor por meio da excessiva intervenção do Poder Moderador e do Poder Executivo que levados pela necessidade que tinham de assegurar a unanimidade nas câmaras intervêm nos pleitos eleitorais para lhes assegurar a preponderância na política do País.

Foram várias as Leis Eleitorais no período do Brasil Império, também chamadas de Instruções. Essas Instruções eram feitas através de Decreto do Imperador e várias delas ditadas com o intuito de regulamentar a anterior.

A primeira Lei Eleitoral do Império foi datada de 26 de março de 1824, onde todo o povo foi convocado a comparecer as juntas eleitorais para escolherem os Senadores, Deputados e Membros das Assembléias Legislativas Provinciais.

A Segunda Lei Eleitoral do Império data de 01 de outubro de 1828. Esta Lei determinava a obrigatoriedade de se convocar eleições municipais para eleger os vereadores que substituiriam as legislaturas anteriores e mantinha o mesmo espírito da lei anterior, modificando apenas atos procedimentais (BONAVIDES, 1998).

Então, em 19 de agosto de 1846, D. Pedro I, tendo por base a Constituição do Império do Brasil decreta e sanciona a Lei N.º 7, a primeira lei eleitoral realmente brasileira, que regulava a maneira de proceder às eleições de Senadores, Deputados, membros das Assembléias Provinciais, Juizes de Paz e Câmaras Municipais.

Esta Lei foi o marco final da aplicação das Ordenações do Reino em todo o Império do Brasil, constituindo-se em um marco importante na história da evolução das leis eleitorais brasileiras, pois ela é considerada a primeira lei eleitoral brasileira, elaborada por determinação da Constituição Brasileira e dispunha de um capítulo especial sobre o alistamento dos eleitores. Ela teve o mérito de procurar moralizar as eleições, posto que uma junta deveria listar todos os eleitores ativos da paróquia (BONAVIDES, 1998).

Em 19 de setembro de 1855, o Imperador assinou Decreto de nova Lei Eleitoral. Esta lei possuía apenas 20 artigos, mas fazia modificações profundas na lei eleitoral vigente, dentre elas destacava-se o seu parágrafo terceiro, o qual determinava que as províncias seriam divididas em tantos distritos eleitorais quantos fossem os seus deputados, de modo que houvesse apenas um deputado por distrito. Essa Lei ficou conhecida como Lei dos Círculos (AMADO, 1999).

No dia 9 de janeiro de 1881, foi sancionado pelo Imperador a mais importante legislação eleitoral do Brasil, através do Decreto n.º 3.029, sendo regulamentada após sete meses através do Decreto n.º 8213 de 13 de agosto de 1881.

As informações referentes a esta Lei revelam que ela era muito avançada para o seu tempo, e em se tratando da matéria, essa legislação foi a da mais alta importância na vida política do país, podendo-se dizer sem sombra de dúvida que a sua forma e espírito perdura até hoje, passados mais de um século (SILVA, 1999).

A presente lei recebeu o nome de Lei Saraiva ou Lei do Censo, e determinava o voto direto nas eleições em todo o Reino e em seu preâmbulo determinava a realização de um censo em todo o Reino com vista a ser efetuado o alistamento dos eleitores.

As reformas introduzidas por esta lei foram profundas, podendo ser verificada tal mudança através da análise de seu artigo primeiro o qual dizia que as nomeações dos senadores e deputados seriam feitas através de eleições diretas, onde tomariam parte da mesma todos os cidadãos alistados, ficando assim abolido o sistema de eleições indiretas que vinham sendo adotado no Brasil desde 1821, instituindo, pela primeira vez no Brasil, o sistema de eleições diretas, através do voto secreto (BONAVIDES, 1998).

Essa lei não tratava só das eleições dos senadores e dos deputados, ela determinava também, que os cargos para juízes de paz, vereadores e procuradores gerais também seriam objeto de eleição, bem como, permitia que os candidatos ao cargo eletivo poderiam indicar fiscais junto às assembléias eleitorais.

Complementando as informações sobre a lei, observa-se que a mesma não se esqueceu dos analfabetos, pois os mesmos poderiam obter o requerimento de alistamento desde que o pedido fosse feito por algum eleitor por ele indicado.

Com relação ao decreto que regulamentou a Lei do Censo ou Lei Saraiva, a mesma estabeleceu que as eleições seriam feitas de quatro em quatro anos, no primeiro dia útil do mês de dezembro da última legislatura. O Decreto estabelecia também, que, como o sistema de governo era parlamentar, no caso de dissolução da Câmara dos Deputados deveria ser marcado dentro do prazo de quatro meses, contados da data do decreto de dissolução da Câmara, um dia útil para a nova eleição (FERREIRA, 2001).

Por outro lado, a regulamentação da lei do Censo ou Lei Saraiva, proibia expressamente que os senadores, deputados e membros das assembléias provinciais, durante o mandato e até seis meses após o seu encerramento, não poderiam aceitar comissões ou empregos remunerados do governo geral ou das províncias, bem como, efetuar qualquer tipo de transação com o Estado (AMADO, 1999).

Ainda de acordo com a Lei, o eleitor colocava seu voto dentro de um envelope, fornecido pelos componentes da mesa e em seguida o depositava na urna que era fechada a chave. Em seguida, o eleitor assinava o nome no livro de votação, e no caso de o mesmo ser analfabeto, deveria indicar alguém para assinar em seu lugar, e no caso de restar alguma dúvida quanto a identidade do eleitor, o voto seria tomado em separado para posterior análise do juiz de direito (SILVA, 1999).

Findo este processo, a apuração da eleição seria no mesmo dia, e os mesários tomavam parte da apuração como escrutinadores. Após a apuração da eleição era organizada uma relação com o nome dos candidatos e a quantidade de votos recebidos por cada um deles, a partir dos nomes do candidato mais votados, e afixava-se no local da eleição/apuração uma cópia. Terminado o processo de apuração era lavrada a ata de eleição, devendo constar da mesma o resultado da apuração, da forma acima explicada.

As eleições para senadores eram feitas somente em caso de morte ou aumento do número de senadores, pois os cargos eram vitalícios, ressalvando-se que, o eleito não seria o mais votado, mas sim o candidato escolhido pelo imperador através de uma lista tríplice com o nome dos três candidatos mais votados.

Com a proclamação da República e a conseqüente queda do regime monárquico, iniciou-se uma nova era na legislação eleitoral brasileira. A partir deste momento, passaram a ser considerados eleitores todos os cidadãos brasileiros no gozo dos seus direitos civis e políticos que soubessem ler e escrever. Neste ponto cabe destacar que foram extintos todos os privilégios eleitorais do período do Império (FERREIRA, 2001).

Cabe ressaltar, que a República foi um regime outorgado ao povo brasileiro, bem como, a Constituição, sendo certo que todas as outras Constituições Republicanas até a promulgação da Constituição de 1988, nenhuma outra foi submetida à apreciação popular sobre a forma e o sistema de governo pelo qual deveria ser regido. Nesta linha de raciocínio, verifica-se que aos habitantes do País era dado apenas o direito de escolher os dirigentes dos regimes recém instalados (SILVA, 1999).

Outro fato que merece ser mencionado, é que no dia 23 de junho de 1890, foi publicado a primeira Lei Eleitoral da República, através do Decreto n.º 511, a qual foi elaborada pelo então Ministro do Interior, José Cesário de Faria Alvim. Tal Lei ficou conhecida como Regulamento Alvim.

Este Regulamento, quase todo baseado na Lei Saraiva quanto ao processo de eleição, nortearia os brasileiros em sua primeira eleição Republicana, na qual seriam eleitos os deputados constituintes.

Segundo o Regulamento Alvim, a nomeação dos deputados e dos senadores eram feitas pelos Estados através de eleição popular e direta, onde cada Estado teria direito a três senadores e quantos deputados fossem necessários para cobrir a proporcionalidade de sua população

É importante ressaltar, que a primeira constituição da República do Brasil foi decretada e promulgada no dia 24 de fevereiro de 1891, contudo, o Congresso convocado com as prerrogativas de constituinte foi instalado em 15 de novembro de 1890, recebendo do governo provisório o anteprojeto da nova Constituição pronto. Aos Constituintes caberia apenas revisá-lo e adequá-lo às necessidades da população, todavia a estrutura do anteprojeto foi preservada em sua essência e até em grande parte de sua redação.

O Título I tratava da "Organização Federal", era estruturada sob a forma de governo representativo e presidencialista em uma República Federativa. Neste título regulavam-se os Três Poderes Nacionais, segundo a clássica divisão de Montesquieu (SILVA, 1999).

Finalmente a Constituição de 1891 dispunha que o Poder Legislativo seria exercido pelo Congresso Nacional, na forma bicameral, dividindo-se em Câmara dos Deputados e Senado Federal (SILVA, 1999).

Neste ponto, cabe mencionar, que as eleições para deputados e senadores, seriam simultâneas em todo o território nacional e cada legislatura duraria três anos. Com relação à Câmara dos Deputados a mesma seria composta por representantes eleitos nos Estados e no Distrito Federal, mediante sufrágio direto para um mandato de três anos.

As condições para a eleição do Presidente ou Vice-Presidente da República, não eram tão diferentes das hoje existentes, pois os candidatos aos cargos deveriam ser brasileiro nato; estar no gozo dos seus direitos civis e políticos e ter mais de trinta e cinco anos de idade, sendo considerados eleitos os candidatos que obtivessem a maioria absoluta dos votos através do sufrágio direto, caso tal não ocorresse, o Congresso Nacional, em sessão conjunta, elegeria em segundo turno, por maioria dos votos dos presentes (maioria simples) e em sessão única um dos dois candidatos que tivesse alcançado a maioria dos votos na eleição direta (BONAVIDES, 1998).

Competia ainda, privativamente ao Congresso Nacional regular o processo eleitoral para os cargos federais em todo o país. Quanto aos eleitores, estavam aptos a votar todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos já alistados (Lei Saraiva ou Lei do Censo, 1881), e os que se alistarem na forma da lei vigente (BONAVIDES, 1998).

A estrutura do Direito Eleitoral Brasileiro baseou-se no Código Eleitoral de 1932 e na Lei Saraiva de 1881, pois estas leis foram um marco revolucionário pela sua importância, alcance e influência, devido a instituição da representação proporcional e do voto secreto (BONAVIDES, 1998).

Dentre os vários princípios do Código Eleitoral de 1932 está o da universalidade do sufrágio, considerando o voto como um direito e um dever cívico derrubando de vez a base censitária e estendendo o direito ao voto às mulheres (BONAVIDES, 1998).

O código eleitoral de 1932 possibilitou aos habitantes do país, conhecer as várias linhas do pensamento político praticado no mundo, marcando de forma indelével o direito público brasileiro, possibilitando assim, o estabelecimento de uma democracia moderna, com a criação dos princípios de uma democracia de partidos políticos.

O partido político é uma organização de pessoas que inspiradas por idéias ou movidas por interesse, buscam tomar o poder, normalmente pelo emprego de meios legais, e nele conservar-se para a realização dos fins propostos. Seria, portanto, uma ilusão ou hipocrisia sustentar a possibilidade de uma democracia sem partidos políticos (BONAVIDES, 1998).

Cabe Ressaltar, entretanto, que era de responsabilidade da recém criada Justiça Eleitoral, além de alistar ao eleitor e proclamar os vencedores, organizar as mesas e nomear os mesários, determinar os locais para as seções eleitorais e distribuir o material necessário à eleição.

Finalmente, deslocava-se do Poder Legislativo a competência para o reconhecimento dos poderes que tradicionalmente era um privilégio pertencente às assembléias políticas para que se fosse estabelecida sua condição de independência.

Com relação a constituição promulgada em 16 de julho de 1934, a mesma continha 187 artigos distribuídos em oito títulos subdivididos em capítulos e seções. Quanto a Câmara dos Deputados, esta seria composta mediante o sistema proporcional dos votos universal, direto e igualitário, além dos representantes eleitos pelas organizações profissionais (FERREIRA, 2001).

Os deputados seriam eleitos proporcionalmente ao número de habitantes de cada Estado e do Distrito Federal. Ainda com relação aos representantes das organizações populares cabe mencionar, que eles eram eleitos por sufrágio indireto nas associações profissionais. O Senado era composto por dois representantes de cada Estado, eleitos dentre os brasileiros natos, maiores de trinta e cinco anos para um mandato de oito anos (FERREIRA, 2001).

Destaca-se ai, que pela primeira vez a Constituição do país, recepcionou à Justiça Eleitoral como instituição, a qual seria composta por um Tribunal Superior de Justiça Eleitoral na Capital da República e um Tribunal Regional na capital de cada Estado. Cabe ressaltar, que o art. 83 da referida Constituição estabelecia que competia privativamente à Justiça Eleitoral a elaboração do processo eleitoral federal, estadual e municipal (AMADO, 1999).

Os artigos elencados no Título III, Capítulo I, da Constituição de 1934, foram de grande avanço na sistemática eleitoral brasileira, pois tratavam dos direitos políticos dos brasileiros. Esse fato pode ser verificado, especialmente no art. 108 o qual assegurava às mulheres o direito constitucional ao voto, declarando serem eleitores os brasileiros de um ou de outro sexo e os maiores de dezoito anos, desde que devidamente alistados (POLETTI, 1999).

A questão eleitoral, no entanto, ficou prejudicada, pois a eleição para presidente, bem como para os demais cargos eletivos no País não se realizaram, com exceção da eleição indireta para a Assembléia Constituinte.

Em 10 de novembro de 1937 foi outorgada ao povo brasileiro a sua quarta Constituição. Porém, diferentemente da Constituição de 1824, a forma de governo não era uma monarquia, mas sim, um regime ditatorial. Sobre este regime, dizia-se que a sua principal finalidade era a de preservar a ordem política e social do país, além de realizar uma grande obra administrativa (POLETTI, 1999).

Entretanto, a Constituição de 1937, considerada por muitos como uma constituição fascista, serviu apenas com a finalidade de manter no poder o presidente Getúlio Vargas.

Entende-se por ditador ou regime ditatorial, a pessoa ou corpo de pessoas a quem, politicamente, nada existe superior em um Estado determinado. Foi, portanto, pelo fato de ter emanado de uma pessoa no exercício do poder constituinte e não em virtude de qualquer característica formal ou material que a lei tenha lhe conferido, que a Constituição de 1937 foi adotada como lei fundamental do País (POLETTI, 1999).

Em 1945, com o final da 2ª Grande Guerra Mundial, o Brasil se viu na contramão da história, pois lutando ao lado do 5º Exército Americano na Itália, os Oficiais do Exército Brasileiro se deram conta da anomalia de lutar pela democracia no exterior enquanto persistia uma ditadura em seu próprio país, colocando-se do ponto de vista ideológico, ao lado dos vencidos (BONAVIDES, 1998).

Com a força da mudança da mentalidade dos que lutaram durante a 2ª Grande Guerra Mundial, em fevereiro de 1946 instalou-se no país a Assembléia Constituinte, culminando com o decreto que promulgou a 5ª Constituição do Brasil no dia 18 de setembro de 1946, restaurando o regime destruído pelo golpe de 1937 (POLETTI, 1999).

Em linhas gerais a Constituição assemelhava-se a Carta Magna de 1891, porém sem a rigidez presidencialista, sendo conservado os dispositivos que permitiam o comparecimento espontâneo dos Ministros a Plenário, as Comissões de Inquérito Parlamentar por iniciativa de 1/5 dos membros de cada Câmara e a possibilidade de o congressista ser Ministério de Estado sem perder o mandato, contudo, em contrapartida a Constituição de 1946, no art. 48, § 2º, estatuiu que perderia o mandato, por 2/3 dos votos de seus pares, o deputado ou o senador cujo procedimento fosse incompatível com o decoro parlamentar, coisa que até então era inconcebível nas Constituições do Brasil e de outros Estados soberano (FERREIRA, 2001).

Quanto as eleições, ou ao sistema de voto mantiveram-se o espírito do Código Eleitoral de 1932, acrescentando, porém, uma alteração que iria ser passageira: a representação proporcional, adicionada à representação política, conforme preconizava o art. 134 da Constituição (FERREIRA, 2001).

Contudo, em janeiro de 1963 através de um plebiscito o povo pediu o retorno do regime presidencialista, sendo o mesmo efetivado através da emenda constitucional n.º 6, datada de 23 de fevereiro de 1963 (FERREIRA, 2001).

No dia 31 de março de 1964 os Comandantes-em-Chefe das Forças Armadas sob a alegação de restaurar no Brasil a ordem econômica, financeira, política e moral, bem como, impedir que se instalasse no país um regime bolchevista, e com a finalidade de restaurar a ordem interna e o prestígio internacional do país promoveram a revolução militar que culminou com a derrubada do Presidente da República e a tomada do poder constitucional (AMADO, 1999).

Situar as Constituições brasileiras de 1967 e 1969 dentro do contexto que integravam o mecanismo do sistema político daquela época é uma tarefa um tanto quanto difícil, já que elas possuíram dois focos bem caracterizados do poder: o primeiro era que no plano federal era a União quem centralizava o sistema e representava a totalidade do poder do Estado brasileiro; e o segundo era que na organização dos poderes federais era o Executivo quem concentrava o poder e exercia o efetivo comando político, bem como, possuía um amplo poder de decisão (SILVA, 1999).

Estas Constituições depois de afirmarem que a forma de Estado seria a federação, estabeleceram que o sistema político seria o democrático e a forma de governo republicana, no entanto, não esclareceram se a república seria presidencialista ou parlamentarista.

Ainda sob a vigência da Constituição de 1967, foi editada a Emenda constitucional n.º 15 de 19 de novembro de 1980, que restabeleceu o voto direto nas eleições para Governador de Estado e para Senador da República, iniciando-se, assim, o processo de abertura política tão almejado pela população do País.

Por fim, é importante lembrar que o ápice do processo de abertura ocorreu com a edição da Emenda Constitucional n.º 26 em 27 de novembro de 1985, que convocou a Assembléia Nacional Constituinte.

Em 1985, o primeiro presidente civil após o Golpe de 64 foi eleito: Tancredo Neves. Apesar de indireta, sua escolha entusiasmou a maioria dos brasileiros, marcando o fim do Regime Militar e o início da redemocratização do País.
Com a morte de Tancredo, logo após sua eleição, a presidência foi ocupada pelo vice, José Sarney, que, ironicamente, era um dos principais líderes da Arena, partido que apoiava o Regime Militar (POLETTI, 1999).

Com a morte de Tancredo Neves, momento de perplexidade nacional, coube a José Sarney, assumir a presidência da República e iniciar a transição em direção à democracia. Desde logo, símbolo da redemocratização do país e alma da campanha das "Diretas", ocupou a presidência do Congresso Nacional e, no conjunto do país, as esperanças da população voltam-se agora, para a convocação da Constituinte. Suas funções, reais ou imaginárias, eram múltiplas. Para a maior parte do povo deveria ser o momento em que seus anseios por uma maior participação política, econômica e social seriam preenchidos (BOCAYUVA; VEIGA, 1999).

É nesse contexto que a democracia passa a ser entendida de forma diferenciada pelos diversos grupos sociais em presença.Para a maioria dos setores sociais concentrados nos novos partidos e nas organizações da sociedade civil, democracia era concebida como a ampliação da participação do indivíduo na vida pública, ou seja, no exercício ampliado da cidadania (BOCAYUVA; VEIGA, 1999).

A Constituição aprovada em 5 de outubro de 1988 apresenta 245 artigos e 70 disposições transitórios, tratando de vastíssima gama de assuntos. É a mais democrática Constituição brasileira e a com maior preocupação com os chamados direitos sociais. Estabelecia eleições diretas, em dois turnos, para presidente, governadores e prefeitos, com mandato de cinco anos; o presidencialismo como forma de governo; a independência dos Três Poderes; restringe a atuação das Forças Armadas; voto facultativo, extensivo aos analfabetos e maiores de 16 anos por iniciativa própria. Porém, a característica mais importante da "Constituição Cidadã", foi a incorporação de uma série de direitos civis e sociais.

Promulgada em 1988, a nova Constituição estabelece eleições diretas com dois turnos para a presidência, os governos estaduais e as prefeituras com mais de 200 mil eleitores e prevê ainda mandato de cinco anos para presidente. Também mantém o voto facultativo aos analfabetos e aos jovens a partir dos 16 anos.
O texto trouxe ainda avanços como a garantia dos direitos humanos contra a arbitrariedade do Estado, a proibição da tortura, o fim da censura, a igualdade de direitos entre homens e mulheres. A nova Carta também transformou o racismo em crime. A Constituição de 88 acabou transformando-se em um dos símbolos da expectativa dos brasileiros por dias melhores.

Após 29 anos com eleições presidenciais indiretas, somente em 1989 o brasileiro voltou a escolher pelo voto direto o presidente da República. O País consolidava de vez a democracia. A eleição foi a mais concorrida da história da República, com 24 candidatos, entre eles, Ulysses Guimarães, Paulo Maluf, Mário Covas, Fernando Collor de Mello e Luís Inácio Lula da Silva. O período foi marcado por grandes comícios, e o horário eleitoral, segundo os historiadores, foi o mais importante na formação de opinião dos eleitores.
Collor venceu o segundo turno das eleições com mais de 35 milhões de votos. Seu Governo foi marcado pelo confisco do saldo das cadernetas de poupança, das contas-correntes e demais investimentos. Além do descontentamento da população, o Governo foi abalado por uma série de escândalos e denúncias de corrupção envolvendo o próprio presidente, que provocaram a abertura de um processo de impeachment, em 1992.

Porém, uma vez que a abertura política já havia se consolidado, José Sarney que era vive assumiu o mandato de presidente. Depois de Sarney, foi eleito Fernando Henrique Cardoso por dois mandatos e, depois em 2004, houve o que se pode chamar de consagração da vontade popular, pois assumiu a presidência Luis Inácio da Silva, ex-operário e fundador do Partido dos Trabalhadores ? PT.






















3 LINHARES: DE ROBERTO CALMON A GUERINO ZANON


Linhares, município localizado ao norte do Estado do Espírito Santo tem sua origem em uma fortificação militar denominada Quartel de Coutins, construída à margem esquerda do rio Doce numa barranca em forma de meia-lua (ZUNTI, 2000).

A sua construção teve por objetivo inicial o povoamento da região e também a proteção dos viajantes e comerciantes, que por ali passavam, dos ataques dos Botocudos, índios tidos como violentos.

No próprio lugar onde o Quartel de Coutins foi instalado situava-se uma clareira aberta pelos Botocudos para dançarem e celebrarem suas festas.

A edificação do Quartel de Coutins e de mais cinco - Regência Augusta, Pancas, Porto de Souza, Lorena e Anádia -, aconteceu pela ação do então Governador da Capitania do Espírito Santo, o senhor Antônio Pires da Silva Ponte no ano de 1800. O sr. Antônio seguia a recomendação feita pelo Conde de Linhares, de quem era amigo e protegido, de abrir um caminho fluvial pelo rio Doce até Minas Gerais, iniciar o povoamento de suas margens e criar destacamentos militares (ZUNTI, 2000).

Conforme Calmon Júnior (1975), vivia-se um tempo de mineração, em que as minas de ouro polarizavam a atenção não só da Colônia como de todo o Reino.

Acompanhou o Governador, que subiu pessoalmente o rio Doce, um grupamento denominado Corpo de Pedestres formado por 300 soldados. Além de fundar os quartéis, também o Governador cuidou de determinar algumas ações de incentivo à navegação e ao comércio na promoção do desenvolvimento da região. Porém, não obteve êxito. Na região existiam inúmeras dificuldades de acesso que se agravavam com os ataques constantes dos Botocudos.

Dos quartéis inicialmente construídos, os Botocudos atacaram em 1808 o Porto do Souza e o de Coutins, arrasando-os. O ataque à Coutins ocorreu no momento em que os soldados haviam subido o rio para acudir os moradores do Porto de Souza. Em razão desses ataques, foram adotadas sérias medidas contra os índios, procedendo a militarização de toda a Capitania.

Nessa época, 1808, era Governador o Sr. Manoel Vieira de Albuquerque a quem coube a tarefa de militarizar a região, abrir a navegação no rio Doce e fazer as correções na carta geográfica que Silva Pontes fizera. Os destacamentos militares construídos ao longo do rio mantinham-se em precárias condições e seus integrantes não conseguiram estabelecer nenhum contato amigável com os indígenas.

Ao reconstruir o Quartel de Coutins, em 1809, Tovar mudou seu nome para Linhares em homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares. Para Bigio (2001, p. 36), O Conde de Linhares,

[...] foi o primeiro a perceber a importância do rio Doce como escoadouro da produção da região montanhesa de Minas e também do ouro, e inspirou a criação dos quartéis que pontilharam o caminho natural do rio, sendo a origem de quase todas as cidades e vilas que até hoje existem em suas margens.

Destaca Calmon Júnior que o Conde de Linhares mereceu a homenagem, pois foi incontestavelmente um dos maiores Ministro de Portugal e, no período de 1796 a 1801, realizou grandes obras e olhou com muito carinho e tino político a situação do Brasil - Colônia. Incentivou a agricultura e o transporte fluvial. Promoveu assim, a exploração, destacamentos militares para proteção contra os silvícolas, companhias de navegação e outros fatos de realçado valor marcam a obra de d. Rodrigo.

Porém, além da reconstrução do povoado nenhuma medida mais efetiva foi tomada com vistas a promover o seu desenvolvimento em termos de investimentos financeiros. Contudo, como tinha-se o objetivo de povoar a região, o então Governador convidou alguns lavradores para se instalar no local. Atendeu a esse pedido apenas o Sr. João Filipe du Pin Almeida Calmon que, após vender suas terras em Itapemirim e região de Benevente (atual Anchieta) mudou-se para Linhares em 1809. Iniciou-se a extração de jaracarandá e de outras madeiras que existiam em abundância na região.

Para Zunti (2000), a concessão significava que uma futura Câmara poderia cobrar foro ou taxa sobre o uso dessas terras que, de acordo com as medidas da época, perfaziam aproximadamente 4.356 hectares. Esta provisão foi o ato de D. Pedro I, a pedido dos moradores do Povoado de Linhares, encabeçados por José Alves da Cruz.

Em dois de abril de 1833, tendo o povoado 713 habitantes, foi elevado à categoria de Vila e, no ano anterior, já tinham sido determinados os limites da que foi chamada Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Linhares (ZUNTI, 2000).

Em 29 de maio de 1841 foi votada uma Resolução pelo Congresso, pela qual Linhares ficava despojada da categoria de Vila. Segundo Calmon Júnior (1975), a Câmara Municipal apelou para o Governo Imperial que, por "Aviso" de 1º de julho de 1842, ao Sr. presidente da Província, que era então José Manoel de Lima, recomendou a este que não devia ser extinto o município, e o presidente, em brilhante exposição de motivos, negou a sua sanção à dita Resolução, que assim não pode ter força executória.

Foi, em observância ao "Aviso" de 29 de agosto de 1798, de d. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, que mandara observar a Carta Régia de 12 de maio de 1798, dirigida a D. Francisco de Souza Coutinho, Governador e Capitão General do Pará, que se criou o Corpo de pedestres, em 4 de abril de 1800 (CALMON JÚNIOR, 1975, p. 35).

Segundo Calmon Júnior (1975) em 1841 e 1842, as leis provinciais de nº 7 e 9, respectivamente, que constituem o tombo da criação do município de Linhares, fixou os limites ficando São Mateus pela Barra Seca; com Santa Cruz pela linha Leste-Oeste que limita o termo de Nova Almeida pelo lado Norte. Porém, para Bigio (2001, p. 38)

O primeiro golpe contra Linhares veio em 1841, quando foi votada resolução, no Congresso, que lhe tirava a posição de Vila. Mas a valente Câmara Municipal apelou em peso para o governo imperial. O imperador d. Pedro II, por meio de Aviso, em 1º de julho de 1842, recomendou ao presidente da Província, José Manuel de Lima, que não fosse extinto o município.

Na condição de Vila, Linhares teve como primeiro Juiz Municipal Manoel Pinto Rangel de Souza e como primeiro promotor, José Maria Nogueira da Gama. Em 22 de agosto de 1833 instalava-se a primeira Câmara Municipal, iniciando-se a vida político-administrativa do município.


No ano de 1860 visitou Linhares D. Pedro II. A visita tornou-se marco histórico para a cidade. O anfitrião do imperador foi Anselmo Calmon, filho do pioneiro João Felipe. Segundo Bigio (2001, p. 38)

Em seu passeio pela Lagoa Juparanã, ele passou o dia a bordo da canoa Nova Emília, navegando por toda a lagoa, e parou na ilha da Pedreira (ou de Santana), que dali para a frente, e até hoje, ficou conhecida como Ilha do Imperador. Prepararam uma farta mesa para o monarca, mas este preferiu comer sentado em uma pedra, à beira D?água. A simplicidade de Pedro II encantou a todos. Culto, informado, o imperador anotou todos os acontecimentos da viagem. Ele navegou, caçou, riu muito e muito fez rir. E com a sua visita tornou Linhares mais conhecida e respeitada, além de dar novo ânimo aos produtores e comerciantes locais.

Em 27 de novembro de 1895 a Lei nº 153 elevou Linhares à categoria de Comarca, tendo sido instalada em 20 de fevereiro de 1896 tendo como primeiro juiz de Direito o Dr. Lourenço de Araújo.

Conforme relata Bigio (2001, p. 39)

O segundo golpe ? mais sério ? veio quando o Estado, enfrentando uma grave crise financeira, decidiu suprimir algumas comarcas (órgãos do Judiciário da época), inclusive a de Linhares, em 1900. A comarca foi restabelecida em 1907. Mas o esvaziamento de Linhares foi quase irreversível, além do mais porque chegavam a Colatina, em 1906, os trilhos da Estrada de Ferro Diamantina, hoje Vitória-Minas, incorporada à Companhia Vale do Rio Doce. Colatina prosperou, Linhares ficou esquecida ? até a comarca foi transferida para Colatina.

Com a transferência da Comarca para Colatina, Linhares, segundo Calmon Júnior (1975, citado por BIGIO, 2001) mergulha numa noite imensa de sofrimento, pois as fazendas entraram em declínio, faltando dinheiro para tudo. Nesse contexto, as famílias tinham dificuldades até de enviar os seus filhos para estudar em Minas ou no Rio de Janeiro, como era tradição.

Em 1906, Monsenhor Pedrinha, que estava a frente do Congresso Legislativo do Estado do Espírito Santo, apresentou o projeto de lei restabelecendo a Comarca de Linhares, o que aconteceu em 23 de fevereiro de 1907 pelo juiz de direito dr. Francisco de Paula Mendes Wanderley. Porém, em 1907, o Cel. Alexandre Calmon, liderando um movimento em favor de Colatina, retira a sede do município de Linhares, transportando todo o arquivo para Colatina. Em 22 de novembro de 1907, a Lei nº 488, consegue a transferência legal, ficando, deste modo, a povoação de Colatina elevada à categoria de Vila.

Em 20 de agosto de 1907, a Corte de Justiça do Estado do Espírito Santo, atendendo às razões alegadas pelo Juiz de direito da Comarca de Linhares, Dr. Francisco de Paula Mendes Wanderley, resolveu autorizá-lo a transferir a sua residência para a Vila de Colatina, assim como a sede da Comarca, os Cartórios e o aparelhamento do foro.

Em 1921 a Lei nº 1.307 de 30 de dezembro passou a Comarca de Linhares a denominar-se Colatina e, deste modo, o nome de Linhares ficou apenas circunscrito ao Distrito.

Nos anos de 1920 a 1924, o município de Colatina, politicamente, foi chefiado por Linhares, tendo como presidente da Câmara Lastênio Calmon.

Em 1940, o Dr. Celso Calmon Nogueira da Gama, então Secretário do Interior e Justiça, quis restabelecer o município de Linhares, quando, naquele ano, se fez a primeira divisão administrativa e judiciária do Estado, na forma do decreto-lei federal.

Em 1943, enfim, Linhares é elevada a Município por ação do Interventor Jones dos Santos Neves. De acordo com Calmon Júnior (1975), o primeiro prefeito foi o dr. Roberto Calmon que foi sucedido por Humberto Neves Calmon Fernandes, Miguel Gusman Júnior, Anário Marreiros de Araújo e Manoel Salustiano de Souza.
Contudo, ressalta Calmon Júnior (1975) que a mesma Lei que criou o município de Linhares desligou-o da jurisdição de Colatina e anexou-o à da Comarca de Aracruz. Linhares ficou dependente deste foro até 28 de dezembro de 1948 quando pela Lei nº 183 a Comarca foi restabelecida.

Conforme Bigio (2001, p. 39), foi graças ao governador Carlos Lindenberg, que a Comarca foi trazida de volta em 1949 e acrescenta: "A própria figura do Dr. Carlos, por si só, trouxe ao Estado o respeito do governo federal. E atrás do respeito vieram as verbas, os projetos, e atrás destes os resultados, o desenvolvimento [...] e Linhares caminhou de novo para a frente".



3.1 INÍCIO DA VIDA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DE LINHARES.


Em 22 de agosto de 1833, depois de empossada perante a Câmara Municipal de Reis Magos, realizava a de Linhares a sua primeira Sessão, dando início a vida político-administrativa de Linhares.

Desde 1833, quando Linhares passou a Vila, os vereadores puseram mãos à obra no sentido de construírem uma casa para suas sessões. Em 1849, os vereadores mandavam para o Governo uma planta de casa para suas sessões, que serviria ainda de quartel e cadeia. Porém, não existe registro dessa construção, embora exista registro da visita de D. Pedro à casa da Câmara em 1860. 17 anos depois, essa primeira construção estava desabando e, no ano seguinte, encontrava-se inteiramente no chão. Relata Zunti (2000, p. 62) que

Em 1878, Augusto Rafael de Carvalho, filho de Pereira, dizia que a Câmara se reunia numa estreita sala sem mobília e que eles viam na vergonhosa contingência de pedir mesa e cadeiras emprestadas. E assim foi, até 1886, quando um grande relatório, do próprio punho de Augusto, repete a mesma coisa.

Em 1892 um ofício assinado por Augusto Martins Pestana encaminhou nova planta, feita em Vitória, para a construção da Câmara Municipal. A construção iniciou-se em 1893, porém, não foi seguida a planta feita em Vitória, pois segundo ofício da Câmara, "tinha muitas escadas e leis municipais o proibiam; tinha sido planejada para um local que consideravam não prestar; e a construção iria ficar muito dispendiosa" (ZUNTI, 2000, p. 62).
Acredita Zunti (2000) que a antiga planta de 1849 tenha sido executada quase na íntegra acrescentando que,

Era uma casa sólida, ladeada de palmeira, 4 de cada lado, e seu original foi visto por muitos linharenses de hoje. Ali reunia-se a vereança até a época em que Alexandre Calmon (vulgo Xandoca) levou toda a documentação para Colatina, no início do século XX (ZUNTI, 2000, p. 62).

Essa construção serviu de delegacia de Polícia e cadeia até 1943. Das quatro palmeiras que havia inicialmente, duas foram destruídas por balas de revólveres oriundas de brincadeiras de tiro ao alvo que os soldados praticavam nas horas de folga.

Quando o município foi reinstalado em 1943, a Casa da Câmara foi desocupada pelos militares se tornando sede da Prefeitura de Linhares até 1979. Porém, de sua arquitetura original encontram-se poucos vestígios, pois uma reforma feita em 1960 a descaracterizou.

Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofêgo.

Figura 1 ? Casa da Câmara em 1961, bastante modificada em relação à planta original, quando funcionava como Prefeitura Municipal no governo de Armando Barbosa Quitiba

Ao recriar o município de Linhares em 1943 por meio do decreto nº 15.177 de 31 de dezembro, desligando-o de Colatina e vinculando-o à Comarca de Aracruz, o então Governador do Estado do Espírito Santo, Jones do Santos Neves, nomeou como primeiro prefeito o médico Roberto Calmon, filho do Coronel Lastênio e Miguel Gusman Júnior como secretário. Relata Zunti (2000, p. 116)

A festa da instalação do município e a chegada de Roberto Calmon como prefeito foi imensa. Bordaram faixas, enfeitaram as ruas e caixas de foguetes não foram poupadas. Todos, com justa e esfuziante alegria, contribuíram de algum modo para torná-la brilhante e inesquecível. Para Linhares, abriram-se novos caminhos, novos horizontes e novas esperanças.

Tendo Linhares um representante, pode o município iniciar a sua vida política de fato e de direito. Depois de Roberto Calmon, outros prefeitos ocuparam a administração municipal, uns indicados outros eleitos, mas acredita-se que todos puderam contribuir de uma forma ou de outra para o crescimento do município e, assim, consolidar uma identidade política própria, embora se saiba que houve grande influência da vida política nacional.



3.2 PREFEITOS DE LINHARES


Nesse ponto do estudo utiliza-se tanto a pesquisa bibliográfica como a de campo, pois entremeando as informações obtidas via revisão bibliográfica, serão apresentados relatos de ex-prefeitos e de seus descendentes. Busca-se nesse tópico demonstrar a importância política de cada um dos ex-prefeitos para a consolidação de uma identidade bastante representativa no cenário capixaba.

As informações obtidas junto aos ex-prefeitos foram obtidas mediante um formulário de entrevista estruturado. As entrevistas aconteceram em diferentes locais, respeitando a disponibilidades dos entrevistados. Ressalta-se, que muitos deles são pessoas idosas e que foi preciso respeitar seus horários. No momento dessas entrevistas foi solicitado aos entrevistados fotos e outros documentos referentes aos pleitos eleitorais investigados. Esse serão apresentados no decorrer desse estudo como prova incontestável da presença desses personagens na vida política do município.

Opta-se, portanto pela oralidade como recurso para elucidar alguns aspectos dos pleitos eleitorais ocorridos em Linhares da década de 40 até o ano de 2004, pois apesar de existirem alguns livros editados sobre a história do município, privilegiou-se nesses, quase que unicamente os fatos históricos embasados em documentos oficiais sem, contudo, valorizar a impressão e/ou percepção dos moradores sobre os mesmos.

Também se acredita que ao reconhecer a oralidade dos moradores como fonte histórica, consegue-se perceber aspectos da identidade social, cultural e política do município diferentemente do que acontece com os textos oficiais, pois parte-se da impressão pessoal de cada indivíduo para depois integrar e/ou confrontar as informações com a história oficial.

Conforme esclarece Meihy (2000, p. 66) na história oral "[...] busca-se o registro da experiência vivenciada, ou, em alguns casos, informações factuais", uma vez que, em se tratando do município de Linhares somente há pouco se teve a preocupação em historiciar sua origem e evolução.

A oralidade permite ainda que se perceba que a história de um dado lugar não pode se restringir apenas a datas necessitando ouvir também o homem, suas idéias e suas impressões pessoais, pois quanto mais o historiador se aproxima do universo humano maior será a possibilidade de ampliar o conhecimento das experiências vividas, ou seja, "[...] não se faz obrigatória a ordem cronológica dos acontecimentos e sim a valorização subjetiva de detalhes (MEIHY, 2000, p. 131).

Na fala das pessoas comuns pode-se apreender valores, opiniões e, sobretudo, compreender a importância da dignidade humana na construção da verdadeira história ou, como se anseia, a história viva, pois com base em Meihy (2000) percebe-se que é fundamental assinalar que, além dos fatores culturais que interferem na arte e técnica de desenvolver e fortalecer a memória mediante processos artificiais auxiliares, como, por exemplo, a associação daquilo que deve


Quando indagada sobre quais prefeitos mais contribuíram para o desenvolvimento de Linhares ela cita Samuel Batista Cruz, Guerino Zanon e José Carlos Elias.



3.2.4 Anário Marreiro de Araújo (Abril a dezembro de 1947)


Anário Marreiro de Araújo nasceu no Ceará no ano de 1901 vindo a falecer em 1963. Filho de Sabino Marreiro de Araújo e Maria Araújo, casou-se com Ana Azevedo Marreiro.

Anário foi nomeado e empossado prefeito em abril de 1947 tendo como secretário Miguel Gusman Júnior, pois como aconteceu nos mandatos dos prefeitos anteriores não tinha nem vice-prefeito e nem Câmara.


Fonte: Acervo de Lúcia Maria Marreiro Azevedo Lima

Figura 6 ? Anário Marreiro com a filha Lúcia Maria

Anário Marreiro, em seu mandato providenciou eleições para a primeira câmara de vereadores e prefeito municipal, no final do ano de 1947.

Sua filha Lúcia Maria Marreiro Azevedo Lima foi entrevistada no dia quatro de outubro de 2005. Lúcia Maria Marreiro Azevedo Lima, filha de Anário Marreiro de Araújo e Ana Azevedo Marreiro, nasceu em Senador Pompeu-CE no dia 1º de julho de 1933.

Lúcia Maria não se lembra qual a data do seu título de eleitor. Lembra que seu pai, Anário Marreiro de Araújo, votou pela primeira no estado do Ceará e era filiado ao PSD (Partido Social Democrático). Diz que não existia rixa política na época de sua nomeação. Também não se recorda de nenhuma eleição problemática.

Lúcia Maria diz ainda que no passado não havia eleições. Os prefeitos eram nomeados, diferentemente do que acontece na atualidade, em que existem eleições diretas e o povo escolhe seus representantes. Também ressalta que seu pai não deixou de votar em nenhuma eleição.

Lúcia Maria acredita que o voto é importante para o cidadão e que a democracia é a liberdade de fazer o que quer, por isso, para ela existe democracia em Linhares. Dentre os prefeitos eleitos até a atualidade cita Guerino Zanon e José Carlos Elias, como os que mais contribuíram com o desenvolvimento do município.



3.2.5 Manoel Salustiano de Souza (1948-1950)


Os dados sobre Manoel Salustiano de Souza foram obtido em fontes bibliográficas editadas, pois não foi possível encontrar nenhum familiar do mesmo que pudesse falar sobre sua gestão.

Manoel Salustiano de Souza nasceu em Almenara-BA em 1900 e faleceu em 1954 em Linhares. Filho de Filogônio Alípio de Souza e Prudência Neiva de Souza casou-se com Judithe Reis de Souza.

Manoel Salustiano foi o primeiro prefeito de Linhares eleito pelo voto popular em dezembro de 1947. Também foram empossados os vereadores eleitos no mesmo pleito: Joaquim Calmon (presidente), Talma Drumond Pestana, Gerles Gama, Elita Calmon Machado (primeira vereadora), Francisco Aristides de Albuquerque, Agenor Homem de Carvalho, José dos Santos Filho, Olindo Garcia Duarte e Pedro Ceolin.

Tinha como secretario llkacy Calmon Costa. As reuniões da Câmara eram realizadas numa sala da prefeitura. Esse prédio, antes, servira de casa da Intendência, porém, foi desocupada pelos soldados com a recriação do município. Conforme Zunti (2000), no século passado essa casa foi construída justamente para reuniões da Câmara de Vereadores porque não havia o cargo de prefeito.

Dadas às necessidades do município, o prédio foi sendo usado para outras finalidades e na atualidade abriga o Arquivo Público Municipal. Na lateral desse prédio podem ser avistadas duas palmeiras imperiais que foram doadas por D. Pedro II e à sua frente encontra-se a praça "22 de Agosto". As palmeiras reais, foram tombadas pelo Patrimônio Histórico juntamente com a Casa da Câmara (BIGIO, 2001).

O Arquivo Público Municipal faz o cadastramento e cuida dos objetos e livros antigos. Juntamente com o Arquivo funciona a Serlihges - Seccional Regional de Linhares do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

Dentre as principais ações e obras realizadas na administração de Manoel Salustiano de Souza, Zunti (2000), destaca a primeira reforma na praça da Conceição, atual 22 de agosto, com plantio de árvores e postes para iluminação, instalação da Escola "Bartouvino Costa" em um prédio construído por Joaquim Francisco Calmon e construção de um pavilhão próximo à escola onde os alunos realizavam atividades manuais como entalhe, artesanato em couro e outras, conforme preconizava a educação tecnicista da época.
Na administração de Salustiano, mais precisamente em 1948, foi institucionalizada a data de 8 de dezembro como dia da padroeira de Linhares, "Nossa Senhora da Conceição", decretando feriado municipal.

Como fato independente ocorrido à época da administração de Salustiano de Souza, Zunti (2000), destaca a fundação do América Futebol Clube em 1948.



3.2.6 Joaquim Calmon (1951-1954)


Joaquim Calmon foi o segundo prefeito eleito de Linhares. Seu Quincas, como era carinhosamente chamado pela população, governou de 1951 a 1954.

Nascido em Linhares, no ano de 1895, filho de Joaquim Francisco da Silva Calmon e Philomena do Nascimento Calmon, casou-se com Holinda Carvalho Calmon.


Fonte: Acervo Serlihges

Figura 7 ? Posse do prefeito Joaquim Calmon, de braço dado com sua esposa D. Holinda Carvalho Calmon em 1951.


Não havia vice-prefeito. Tomaram posse em janeiro de 1951, juntamente com Joaquim Calmon, os vereadores eleitos: Jair Pinheiro Machado (presidente nos dois anos iniciais), Gerles Gama (presidente, depois de Jair), Antonio Soares, José Biancardi, Moacyr Calmon Costa, João Favalessa, Luís de Azevedo Lima, Benício Ceolin, Sebastião Justino Furtado.

Dentre as principais realizações de sua administração, Zunti (2000) destaca a criação de 10 escolas municipais, nos lugares onde existisse no mínimo 25 crianças em idade escolar, criação de 20 cargos de professores municipais, aprovação de verba para abertura de uma praça na cabeça da ponte, lado norte, construção de um campo de aviação (no bairro chamado Três Barras) e autorização ao DER para iniciar obras na praça e no campo de aviação.

Fonte: Acervo Serlihges
Figura 8 ? Início das obras da praça "Régis Bittencourt"

Na administração de Joaquim Calmon ainda foram executadas obras para abastecimento de água e construção ¬de esgotos na cidade, doação de lotes para construção do futuro prédio do departa¬mento de Correios e Telégrafos, concessão de abono natalino aos funcionários municipais, aquisição de um serviço de auto-falante e desapropriação de dos lotes 1, 2, 3, da rua Rufino de Carvalho ¬para que fosse construída futuramente a Casa do Lavrador (ZUNTI, 2000).

Foi também no seu governo que foi inaugurada a ponte "Presidente Getúlio Dornelles Vargas" e a praça "Régis Bittencourt", sendo a primeira, uma das alavancas do progresso de Linhares, juntamente com o cacau e a abertura da BR-101.

Fonte: Acervo Serlihges
Figura 9 ? Ponte "Getúlio Vargas", inaugurada em 22 de junho de 1954 (Acervo SERLIHGES).

O prefeito Joaquim Calmon instituiu a data de 22 de Agosto, como o Dia de Linhares, sendo considerado feriado municipal, e determinando co¬memorações de caráter cívico em todo o município.

Para falar sobre Joaquim Calmon foi convidado o Sr. Gastão Calmon, um de seus filhos, nascido em 17 de janeiro de 1925. A entrevista com Gastão aconteceu no dia 12 de outubro de 2005. O entrevistado relata que votou pela primeira vez em 1945.

Segundo Gastão na época em que seu pai foi prefeito não havia qualquer rixa política mais grave a não ser aquelas normalmente observadas dentro de oposições.




Relata ainda que não se lembre de nenhuma eleição problemática e que, geralmente, ganhava sempre o favorito. A votação era feita por meio de cédulas, porém, nunca deixou de votar em nenhuma eleição.

Em relação às eleições do passado, Gastão relata que a principal mudança foi o aparecimento de vários partidos, pois antes somente tinha a Arena ? Aliança Renovadora Nacional e o MDB ? Movimento Democrático Brasileiro.

Para Gastão o voto é importante para o cidadão, pois representa liberdade de expressão. De acordo com o entrevistado em Linhares existe democracia, mas nada mais acrescentou. Em sua opinião Linhares somente começou a se desenvolver depois de 1954 quando foi inaugurada a ponte e, posteriormente, asfaltada a BR-101 e o prefeito que mais contribuiu com o desenvolvimento da cidade foi Senatilho Perin.



3.2.7 José de Caldas Brito (Janeiro a abril de 1955)


Para falar de José de Caldas Brito, prefeito no período de janeiro a abril de 1955, foi constatado sua esposa, Lenir Ramos Brito que reside na atualidade em Vitória-ES, porém, a mesma não quis se manifestar enviando duas fotos que são apresentadas a seguir.

Conforme Zunti (2000) José de Caldas Brito nasceu em Esperantina, Piauí em 1921 e faleceu em 1975. Filho de Bernardo Brito Filho e Nize de Caldas Brito, foi Procurador Geral da Justiça no governo de Cristiano Dias Lopes, além de ter exercido outros cargos em Linhares e em Vitória. Formou-se em Direito pela Faculdade de Minas Gerais. Em uma foto enviada para a sua esposa, o momento da colação de grau como Bacharel em Direito. Encontra-se no verso da foto uma dedicatória bem significativa datada de 11 de dezembro de 1951, com os seguintes dizeres: "A minha querida Lenir, a quem espero sinceramente, amar por toda a vida".
























Fonte: Acervo Lenir Ramos Brito
Figura 10 ? Colação de grau de José de Caldas Brito em Belo Horizonte - MG.

José de Caldas Brito era vereador-presidente da nova Câmara empossada a 31 de janeiro de 1955, mas teve que assumir a prefeitura interinamente em 3 de abril do mesmo ano, pelo fato de o prefeito eleito Manoel Salustiano de Souza ter falecido antes de tomar posse em 27 de novembro de 1954.

Além de José de Caldas Brito (presidente) foram empossados os vereadores: Francisco Aristides de Albuquerque (vice), José Biancardi, Sebastião Justino Furtado, João Paulo da Silva, José Raimundo Dazzi, Gastão Calmon, Djalma Soeiro Banhos e BernardoTesch.





















Fonte: Acervo Lenir Ramos Brito
Figura 11 ? José de Caldas quando prefeito de Linhares-ES.

Por convocação do prefeito interino, novas eleições são realizadas em 20 de março de 1955, sendo eleito Emir de Macedo Gomes.





3.2.8 Emir de Macedo Gomes (1955-1958)


Emir de Macedo Gomes, baiano de Remanso, nasceu em 1924 e faleceu em 1º de janeiro de 2000. Filho de Pedro Gomes da Silva e Maria Amélia de Macedo Gomes, casou-se com Therezinha de Jesus de Macedo Gomes.





















Fonte: Acervo Emir de Macedo Gomes Filho
Figura 12 ? O prefeito Emir de Macedo Gomes.

Assumiu o cargo de prefeito em 3 de abril de 1955, tendo continuado os mesmos vereadores eleitos na eleição de 1954. Teve como secretário Cid Adalberto dos Reis, porém não existia ainda o cargo de vice-prefeito.
Na fala dos moradores foi uma das mais importantes figuras da política capixaba, tendo exercido o cargo de Deputado Estadual na Assembléia por 28 anos. Por isso, conseguiu vários benefícios para Linhares-ES

Como prefeito construiu escolas, comprou equipamentos para a prefeitura, realizou obras de construção e recuperação de estradas, iniciou a construção do Mercado Municipal, retirou casas que estavam localizadas em meio a ruas para favorecer a urbanização, adquiriu terrenos para a construção de escola, contribuiu para a realização de obras em localidades do interior, além de outras realizações.

Para falar de Emir de Macedo Gomes foi entrevistado seu filho, Emir de Macedo Gomes Filho em 19 de outubro de 2005.

Segundo Emir Filho na época em que seu pai exerceu o cargo de prefeito somente existia dois partidos: Arena e MDB. O Sr. Emir era filiado à Arena e, posteriormente filiou-se ao PSD.

Quando questionado sobre rixas políticas, Emir Filho relata que existia uma rivalidade muito grande justamente porque existiam dois partidos. O MDB era comandado por Nyder Barbosa de Menezes, grande rival e "arquiinimigo" político de seu pai.

A partir do que vivenciou, Emir Filho diz que as eleições de Linhares sempre foram muito disputadas, mas sempre foram "eleições limpas". Porém, ressalta que:

[...] houve uma eleição que gerou descontentamento, exatamente por que a nossa lei eleitoral, é muito injusta. Então em vez de ser majoritária, ou seja, o candidato que fosse mais votado é que sairia vencedor das urnas, na verdade não aconteceu, por que tem o coeficiente eleitoral e naquela ocasião eram três candidatos do MDB e na Arena eram dois candidatos; meu pai e Zé Vasquim do lado de lá quem encabeçavam era Muniz Reis, então meu pai individualmente foi o mais votado, mas só que na soma da legenda, o MDB acabou tendo mais votos que a Arena e acabou sendo eleito prefeito Muniz. E aí houve um descontentamento, depois foi um caos administrativo, pois Muniz fez uma péssima administração, e precisou até de interventor no município.

Fazendo um paralelo com as eleições acontecidas em outras épocas, Emir Filho observa que antes tinha bem menos recursos para administrar o município e muito idealismo, muito amor a causa. Para ele, o político na atualidade, infelizmente, está mais voltado para o dinheiro.

Sobre seu pai comenta que ele nunca deixou de votar: "Ele era um político ativo". Para Emir Filho o voto é importante para o cidadão porque a consciência política, a educação, o desenvolvimento, a escolha de seus representantes, a legitimidade do poder é exatamente pelo voto do cidadão. Porém, ressalta que é preciso que o cidadão saiba escolher bem os seus representantes para não sofrer as conseqüências no futuro.

Para Emir Filho democracia é a liberdade de expressão, liberdade de pensamento, e se for falar em termo cientifico é o poder que emana do povo, pelo povo, para o povo e, "[...]acho que é isso aí, essa faculdade que a gente tem de agir livremente".

Na opinião de Emir Filho, em Linhares existe democracia, pois as pessoas podem escolher livremente, ninguém é pressionado, ninguém é obrigado a fazer nada que não queira.

Quando perguntado sobre qual prefeito eleito até a atualidade mais contribuiu para o desenvolvimento de Linhares ele cita, com exceção do pai, Guerino Zanon e, acrescenta: "Guerino Zanon eu acho que foi um administrador pujante, alavancou mesmo o crescimento da nossa cidade; foram dois mandatos de grande administração pública".

Ao fazer esse comentário Emir Filho lembra que uma eleição polêmica foi também a que ocorreu entre Guerino e Nozinho (Jair Correa) em 1996, pois o segundo ao pedir a recontagem, fez com que o primeiro ficasse praticamente dois anos impossibilitado de trabalhar. Comenta ainda que, "[...] naquela disputa, se realmente ia ser o prefeito ou não, eu acho que foi uma eleição problemática que acabou provocando um entrave administrativo, mas que depois felizmente, terminou bem e ele pode inclusive deslanchar no trabalho".



3.2.9 Armando Barbosa Quitiba (1959-1962)


Armando Barbosa Quitiba, prefeito no período de 1959 a 1962 nasceu em Alfredo Chaves-ES em 1913 e faleceu em 1981. Veio para Linhares em maio de 1953 removida, a pedido, para o cartório do 3º Ofício da Comarca de Linhares. Filho de Elpídio Barbosa Quitiba e Philomena Barbosa Quitiba, casou-se em primeiras núpcias com Noêmia Roque Quitiba e em segunda núpcias com Inez Francischetto Quitiba.

Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofêgo
Figura 13 ? O ex-prefeito Armando Quitiba e sua esposa Inez Francischetto Quitiba.

Armando Quitiba, eleito em 1958, tomou posse como prefeito em 31 de janeiro de 1959 juntamente com os vereadores: Senatilho Perin (presidente) Antônio Edson de Azevedo Lima (presidente depois), Djalma Soeiro Banhos, Teodoro Faé, Teodoro Alvim Lirio, José Amarílio Pessoti, Francisco Pereira do Nascimento, João Paulo da Silva e Pedro Ceolin Sobrinho. Armando Quitiba teve como secretário Ubaldo Oliveira Reis.

Dentre as principais realizações de seu mandato, Zunti (2000), destaca uma campanha para instalação em Linhares de uma agência do Banco o Brasil, auxílio para construção de cemitério em Bebedouro, reforma de escolas municipais, auxílio ao ginásio "Afrânio Peixoto", criação de novas escolas municipais, extensão de rede de água, aquisição de um jipe Willys e de um caminhão basculante.

Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofêgo

Figura 14 ? jipe Willys adquirido no governo de Armando Quitiba como carro oficial sendo usado em desfiles e paradas comemorativas.

Em seu governo, Armando Quitiba, além de ampliar a rede e a estação de tratamento de água da cidade, remodelou a praça "Régis Bittencourt", construiu ponte de cimento armado em Rio Bananal, reformou estradas de penetração para o interior, construiu e remodelou escolas singulares, implantou o serviço de água em convênio com o Departamento Estadual de Saúde em Desengano, Japira e Rio Bananal e construiu rede de esgotos na cidade de Linhares.
Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofêgo
Figura 15 ? Praça "Régis Bittencourt" remodelada no governo de Armando Quitiba.

Armando Quitiba ainda contribuiu com subsídios para a instalação do Banco de Crédito Real de Minas Gerais (na Avenida Comendador Rafael no centro, atual Percicle, loja de bicicletas) que foi fechado na década de 90. Reformulou e ampliou a planta topográfica e urbanística de Linhares, levantou e organizou a Banda de Música 8 de dezembro, adquiriu área de terras às margens do rio Doce, no final do bairro Aviso, para construção de matadouro público, deixando pronta a planta do mesmo (ZUNTI, 2000).




Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofêgo

Figura 16 ? Banco de Crédito Real de Minas Gerais.

Assinou ainda um contrato para aquisição de postes para melhoria e ampliação da rede elétrica, realizado com Walter Leal Silva, sócio da firma Barbosa e Cia. Guaraná.












Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofego

Figura 17 ? Ato da assinatura do contrato relativo ao empréstimo da CVRD à prefeitura de Linhares para ampliação da rede elétrica. Da esquerda para a direita, os srs. Armando Quitiba, Ewaldo Gomes e João Calmon.

Com o objetivo de ampliar as informações sobre Armando Quitiba e sua atuação frente à prefeitura de Linhares entrevistou-se a sra. Maria Consuelo Quitiba Lofêgo, sua filha com Ignez Francischetto Quitiba.

Maria Consuelo foi entrevistada em 5 de outubro de 2005, quando informou que nasceu no município de Castelo-ES em sete de fevereiro de 1947.

Maria Consuelo diz que seu pai, Armando Barbosa Quitiba, foi filiado ao PSD e que nunca deixou de votar. Lembra que existia uma rixa política entre dr. Emir e dr. Lastênio Calmon Júnior, porém, não se recorda de nenhuma eleição problemática ocorrida no município.

Quanto às eleições no passado ela relata que essas eram mais simples e que as campanhas não eram tão arrojadas e com tantos recursos financeiros como existem na atualidade.

Quando perguntada sobre as mudanças ocorridas nas eleições em relação ao passado, ela diz que anteriormente votava-se na figura do candidato e que hoje o marketing influencia muito na decisão, não se considerando tanto o homem por detrás da candidatura.

Para Maria Consuelo o voto é importante no sentido de que vivemos numa democracia e ele contribui para a sua manutenção. Acrescenta que é a liberdade de expressão e de escolhas, de ir e vir. Possibilita condições de vida melhores.

A entrevistada não soube destacar um prefeito que mais contribuiu para o desenvolvimento de Linhares, mas afirma que cada um deve ser analisado de acordo com a época em que governou.

Foi entrevistado ainda no dia 19 de outubro de 2005, José Quitiba Bósio, filho de Alcebíades Bósio e Adalgisa Quitiba Bósio, nascido em seis de janeiro de 1933, tendo seu título de eleitor datado do ano 1954, tendo sido filiado aos partidos MDB, PMDB, PFL e na atualidade ao PDT.

José Quitiba relata que em se tratando de rixas políticas existentes na época em que Armando Quitiba era prefeito, a que mais marcou a história do município foi a disputa entre os grupos Emir de Macedo Gomes x Antenor Elias; Emir de Macedo Gomes x Nyder Barbosa de Menezes e que essas podem ser consideradas eleições problemáticas.

Relata José Quitiba que as eleições no passado eram realizadas com cédulas individuais e que as mudanças mais representativas em sua opinião relacionam-se com a escolha do candidato (representante) pelo total de votos individuais recebidos.

Para José Quitiba o voto é muito importante, pois faz "[...] reinar a democracia e liberdade de escolha do candidato". Para ele democracia é o Direito de ir e vir, de livre manifestação de pensamento e de expressão, votar e ser votado. Por isso, acredita que em Linhares existe democracia, embora perceba algumas restrições.

Em sua opinião, dentre os prefeitos eleitos até a atualidade o que mais contribuiu com o desenvolvimento do município de Linhares, embora seja inimigo pessoal do mesmo, foi Guerino Luiz Ceolin Zanon.

Contudo, sobre as eleições em Linhares acrescenta que a Justiça Eleitoral, através de alguns representantes, deveria respeitar mais os Delegados e Fiscais dos Partidos Políticos durante os dias de campanhas políticas, de eleições e apurações de votos, inclusive ao povo em geral, pois é este que escolhe seus representantes.

À época em que Armando Quitiba foi prefeito de Linhares, essa ainda apresentava características de cidade do interior com ruas de terra batida, não se observando a existência de prédios, somente casas e muitas árvores nos quintais.

Fonte: Acervo de Maria Consuelo Quitiba Lofêgo

Figura 18 ? Vista aérea de Linhares em 1961.

Porém, apesar de ter sido um dos prefeitos que muito contribuiu para o progresso de Linhares-ES, por questões de foro íntimo, renunciou às funções de prefeito seis meses antes do término de seu mandato não mais participando da vida pública. Continuou nas atividades do Cartório e dedicou-se a obras comunitárias, tendo exercido por seis anos, as funções de presidente da Obra Social de Linhares que havia sido recém-criada. Tendo à frente Armando Quitiba, a Obra foi legalizada e, por meio dela, foram criadas creches em vários bairros e numerosos cursos de aprendizado doméstico (ZUNTI, 2000).

Após a renúncia de Armando Quitiba assumiu a prefeitura Antônio Edson Azevedo Lima.



3.2.10 Antônio Edson Azevedo Lima (Agosto de 1962 a janeiro de 1963)


Antônio Edson Azevedo Lima nasceu em Pedra Branca-CE em 1928 e faleceu em 1981 em Linhares-ES. Antônio é filho de Antônio Azevedo Lima e Maria Marreiro Azevedo. Casou com Lúcia Maria Marreiro Azevedo Lima, filha do ex-prefeito Anário Marreiro de Araújo.

Antônio Azevedo, como apenas terminou o mandato de Armando Quitiba, não teve a oportunidade de grandes realizações. Porém, o pouco tempo em que esteve à frente da prefeitura pediu à Câmara crédito para pagamento de serviços de conservação de estrada e outros. Também conseguiu crédito para construção da praça "Nestor Gomes", no centro da cidade, próxima à agência dos correios e fez a primeira praça nesse local.

A viúva de Antônio Azevedo foi quem forneceu algumas informações sobre a sua breve participação na história política do município de Linhares.














Fonte: Acervo Lúcia Maria Marreiro Azevedo Lima

Figura 19 ? Antônio Edson Azevedo Lima.

Lúcia Maria Marreiro Azevedo Lima foi entrevistada no dia quatro de outubro de 2005. Lúcia afirma que Antônio Edson era filiado ao partido PSD (Partido Social Democrático) e, posteriormente filiou-se à Arena. Disse não haver rixa política na época da eleição de seu esposo. Não se recorda de nenhuma eleição problemática.



3.2.11 Antenor Elias (1963-1966)


Antenor Elias nasceu em Viana-ES em 1904. Filho de Filipe Elias e Porcina Elias, casou-se com Carmosina Morais Elias. Foi prefeito no período de 1963 a 1966, tendo sido tomado posse em 31 de janeiro de 1963 juntamente com os vereadores: Norton de Souza Pimenta (presidente), Gildo Gava, Samuel Batista Cruz, Waldemar Borges da Silva, Maurício Badiani, Albino Saither, Jacinto Campos de Araújo, Antônio Freitas da Silva e Theodoro Fae. Posteriormente, assumiram como suplentes: Francisco Monteiro de Souza, Horaydes Almeida da Silva, Manasses dos Reis e Orrestes Casati. Exercia o cargo de secretário Jacy Roque Pratti.


Fonte: Acervo de Elcy Elias da Silva

Figura 20 ? O ex-prefeito Antenor Elias despachando com sua secretária Jacira Martinelli.

Dentre as realizações do governo do ex-prefeito Zunti (2000) destaca a criação de escolas municipais, a construção de salas de aula em grupos escolares, projeto para a construção do 1º andar da sede do Ginásio "Afrânio Peixoto", compra de uma rural Willys em 1963, de uma patrol, uma caminhonete Willys e de um carro de limpeza pública para recolher o lixo, tipo basculante; aquisição de motor com bomba d?água para abastecer Japira e gerador para iluminação de São Sebastião do Bananal, reconstrução do cemitério em São Sebastião do Bananal, ampliação da rede elétrica municipal, criação do serviço de fornecimento de sementes e formicidas aos lavradores, abertura de crédito para o início da construção de uma maternidade que inaugurou com o nome de Maternidade "Carmosina Elias" (atual Hospital "Rio Doce"), inauguração de postos de saúde em São Rafael e São Sebastião do Bananal e remodelação da praça "22 de Agosto" adaptando áreas para exposição de alguns animais da região, lagos, chafariz.

Fonte: Acervo de Elcy Elias da Silva

Figura 21 ? Praça "22 de Agosto" remodelada no governo do ex-prefeito Antenor Elias.

Ainda no governo de Antenor Elias foi feito o calçamento da avenida João Filipe Calmon, no centro da cidade, com arborização, postes de iluminação e jardim central na avenida entre as duas pistas, construção da estrada barra da lagoa Nova-São Francisco, construção de ponte sobre o rio São José, aprovação do orçamento para parques e jardins, construção e inauguração de residência para o Juiz da Comarca de Linhares, criação da Guarda Municipal, construção do jardim de infância "Menino de Jesus", construção de matadouro de animais, no final do bairro Aviso, dentro dos requisitos exigidos pela Saúde Pública, com fiscalização direta do prefeito que tinha conhecimentos práticos de veterinária e construção de muro no platô, atrás da prefeitura (ZUNTI, 2000).

Para falar de Antenor Elias foi entrevistado o Sr. Edson Elias no dia quatro de outubro de 2005, filho do ex-prefeito e D. Carmosina.

O Sr. Edson Elias não se recorda da data de seu título de eleitor e nem tampouco quando votou pela primeira vez. Sobre seu pai, Antenor Elias, diz que era filiado ao PTB e que o mesmo não deixou de votar em nenhuma eleição.

O senhor Edson Elias não lembra de rixas políticas existentes no município. Mas, diz que houve eleições em que o resultado não atendeu a preferência da maioria. Recorda que quando Antenor Elias concorreu e perdeu duas eleições injustamente.

Porém, comparando as eleições atuais com as de antigamente, relata que não mudaram em nada, pois cada um busca seus votos.

Para Edson Elias, o voto "[...] só tem importância para o governo, para o cidadão não vale nada. E que democracia é uma faca de dois gumes, protege-se o grande. Ele opta pela ditadura ou pelo comunismo". Afirma que em Linhares tem democracia, que em todo lugar existe democracia, até demais.

Acredita que o prefeito que mais contribuiu para o desenvolvimento foi seu pai e acrescenta que em seu governo, Antenor Elias planejou a cidade, fez as pracinhas dentre outras coisas.


















Fonte: Acervo de Elcy Elias da Silva

Figura 22 ? O ex-prefeito Antenor Elias.

Além de seu filho Edson Elias, foi entrevistada a Sra. Elcy Elias da Silva em 15 de outubro de 2005, também filha do ex-prefeito. D. Elcy nasceu em Domingos Martins-ES no dia 26 de abril de 1931.

Tal qual seu irmão Edson, Elcy não se recorda da data de seu título de eleitor, mas lembra que votou pela primeira vez em 1949 e depois disso nunca mais deixou de participar das eleições com seu voto.

Sobre as rixas, diz Elcy que existiam, mas que eram muito "respeitosas". Para ela em Linhares houve uma eleição em que o povo achou que seu pai foi injustiçado, o resultado não atendeu a preferência da maioria da população, pois ele perdeu.

A senhora Elcy recorda-se que as eleições no passado não tinham carros de propaganda, fazia-se propaganda política de bicicleta ou num jipe velho.

Quando perguntada sobre as mudanças nas eleições do passado com relação a atualidade a senhora Elcy responde que hoje as pessoas estão mais conscientes, antigamente votava-se em troca de churrascos. Entretanto, ressalta que as eleições da atualidade têm sido menos violentas.

Para ela o voto é importante, mas tem que se saber escolher o candidato. Porém, acrescenta que: "É difícil escolher. O prefeito que é bom hoje amanhã não presta".

Para a senhora Elcy democracia é liberdade e diz que em Linhares ela existe. Dentre os prefeitos eleitos até a atualidade aquele que mais contribuiu com o desenvolvimento de Linhares foi seu pai, Antenor Elias.

D. Elcy é uma grande admiradora de seu pai e guarda com carinho fotos, mensagens e poemas que escreveu para ele. Dentre essas foi selecionado um trecho demonstra bem o seu sentimento de admiração por seu pai. A mensagem completa escrita em 7 de setembro de 1989 foi escrita um ano depois da morte de Antenor Elias (Anexo A).

Meu velho, quanta coisa ainda tínhamos para conversar [...] Conversando você beijava minhas mãos quando ia deitar-se e me abençoava enquanto eu ajeitava as suas cobertas. Foi nessa época de sua invalidez que nos tornamos mais amigos, mais carinhosos e inseparáveis. Não mais sabia viver longe de você. Cuidar de você não era um peso, era quase um ritual que Deus reservou para mim. Éramos tão parecidos física e espiritualmente, que sua partida foi como se tivesse levado um pedaço de mim. Há momentos que ainda o procuro pela casa, e nitidamente em minhas saudades o vejo sentado na grande poltrona, em sua cama ou em sua cadeira tirando um cochilo. Depois, volto à realidade e com o rosto banhado em lágrimas fico olhando o infinito tentando descobrir em que dimensão do universo você se encontra.

Pelas mãos de Elcy foi entregue uma revista que traz uma reportagem sobre a cassação do ex-prefeito Antenor Elias. A Revista "Espírito Santo Agora" de abril de 1978, entrevistou o Sr. Antenor e nessa o ex-prefeito revela um pouco da sua angústia e sentimento de revolta pela falta de reconhecimento pelo que fez por Linhares. No entanto, na entrevista relata que não sabe o motivo da cassação de seu mandato como prefeito em 13 de março de 1969 pelo Conselho de Segurança Nacional, pois que já havia deixado à prefeitura, visto que governou o município de 1963 a 1967 (Zunti, 2000, assinala que Antenor Elias governou de 1963 a 1966) (FABRINO; MEDEIROS, 1978).

Antenor Elias, depois de exercer o cargo de prefeito, passou a se dedicar às plantas e às flores do parque "Regis Bittencourt", recebendo por seu trabalho cerca de Cr$ 2 mil mensais pagos pela prefeitura por determinação do então prefeito municipal Antônio Muniz dos Reis.

Em entrevista a Fabrino e Medeiros (1978, p. 8), Antenor Elias, quando interpelado sobre sua cassão, diz:

Dizem até que eu fui cassado pôr corrupção. Mas ninguém sabe. E ninguém é capaz de dizer porque fui cassado. Depois que me tiraram da po¬lítica, o Dr. Emir Macedo Gomes (de¬putado estadual) virou dono do terrei¬ro. Eu sempre fiz muita sombra dos donos dos municípios.

Antenor diz ainda que ganhou as eleições "[...] do pessoal dele e, acrescenta:

Eu fui candida¬to a prefeito contra Senatilho Perim e José de Caldas Brito Dei uma surra nos dois. Foi a vitória da raia miúda sobre os ricos de Linhares. Eu era po¬bre e minhas despesas de campanha eram feitas pelo povo. Andava de ôni¬bus para ir fazer campanha no interior e de bicicleta. Me hospedava na casa dos colonos. Nunca recebi apoio de um fazendeiro ou de um comerciante. Quem votava em mim eram os pobres.

Diz Antenor Elias em entrevista a Fabrino e Medeiros (1978, p. 8) que começou a sua vida política em Viana, on¬de nasceu. Relata ainda que:

Depois fiz política para o meu sogro, João de Paula Moraes. Co¬mo vacinador do Estado corri todos os municípios. Acabei aqui em Linhares. Andando pelo sertão vacinando o gado e fazendo amizade com os colonos. Com o tempo vi que os políticos só de¬fendiam o lado dos fazendeiros. Come¬çei a combater esse tipo de coisa e mostrar para os colonos. Passei a tratar do caso do povo. Resolve um negócio aqui, outro ali. Não demorou muito eles exigiram que eu fosse candidato deles. Acabei sendo. A princípio, quan¬do me viam em cima de uma bicicleta, fazendo campanha, os meus adversá¬rios riam. Mas com o resultado da pri¬meira eleição, que aliás eu perdi, eles viram o tamanho do adversário. Na outra, amargaram a sua derrota.


Sobre sua administração, Antenor Elias relata que:

Ah, eu fiz muita coisa. Eu fui prefeito de 1963 a 1967. Fui cassado depois que sai em 1969. A principal avenida da cidade, a Felipe Calmon, fui eu quem arborizou e calçou toda. Construí um Jardim da Infância. Fiz o parque na frente da prefeitura. Cons¬truí uma maternidade. Uma ponte de 50 metros. Tem muita coisa. Mas você sabe que o meu sucessor chegou e ti¬rou todas as placas das minhas obras. Quis apagar o meu trabalho.

O prefeito que o sucedeu foi Senatilho Perin que para Antenor Elias: "Foi o homem mais perverso que eu conheci. Olha que eu não tenho inimigos, só adversá¬rios políticos. O Dr. Emir, por exemplo, se dá comigo. Nunca ficamos de mal. Sempre respeitei os meus adversários".

A partir da pesquisa feita em Zunti (2000), dos relatos de Edson e Elcy e por meio da entrevista dada a Fabrino e Medeiros (1978), pode-se constatar que Antenor Elias foi um prefeito de grandes realizações em seu tempo. Porém, ainda existe muita coisa sobre sua administração que necessita ser resgatada de maneira que se conheça um pouco mais sobre os fatos e ações que constribuiram para a formação da identidade política linharense.

Sucedeu Antenor Elias, Senatilho Perin, o 12º prefeito a partir de Roberto Calmon.



3.2.12 Senatilho Perin (1967-1970)


As informações sobre Senatilho Perin foram obtidas por meio do próprio que foi entrevistado em cinco de outubro de 2005.

Senatilho Perin, nascido no distrito de Burarama em Cachoeiro de Itapemirim-ES, no dia 26 de setembro de 1930 é filho de André Perin e Amábile Gava Perin. Casou com Lezy Caetano Perin.

Foi o primeiro mandato de prefeito, a partir de Roberto Calmon, que teve vice-prefeito, à época o Sr. José Rodrigues Maciel, que veio a ser prefeito no ano de 1971.



















Fonte: Acervo de Senatilho Perin

Figura 23 ? O ex-prefeito Senatilho Perin.

Senatilho teve como secretário o Sr. Aldenor Almeida dos Santos e como Secretários da Administração exerceram os cargos: Alfêo Marchi Grillo, Francisco Pereira do Nascimento e depois José Anísio Gava. Como vereadores foram eleitos para o mandato de 1967 a 1970: Manassés dos Reis, Samuel Batista Cruz, Jacinto Gaburro, Celso Bobbio, Emilio Guilherme de Jesus, José Biancardi, Tomaz Passos Gaigher, Antônio Freitas da Silva e Waldemar Borges da Silva.

Dentre as principais realizações de seu mandato, Zunti (2000) cita: drenagem do brejo da lagoa dos Patos, aquisição de um prédio e terreno para a Escelsa, elaboração de orçamento para novas obras de ampliação rede elétrica do município, compra de transformadores e 3 motores para São Rafael, extensão e melhoria da rede de iluminação à mercúrio BR - 101 Avenida Carlos Lindenberg e Praça Nestor Gomes, aquisição de duas motoniveladoras, um trator e uma caminhonete, orçamento para aquisição de tratores e equipamentos no setor de estradas municipais.

Senatilho conseguiu ainda abertura de crédito para aquisição de maquinário a fim fabricar paralelepípedos pré-moldados e manilhas, adquiriu máquinas e utensílios para instalação do Centro Social de São Rafael, construiu prédios para grupos escolares e colégios. Obteve crédito para pagamento do plano de viabilidade econômica da Interligação Telefônica, instalou torre da Companhia Telefônica em colabo¬ração com outros municípios, liberou verba para pagamento a técnico de televisão pela instalação da Estação Repetidora de Imagem de televisão em Linhares e torres repetidoras de televisão em Rio Bananal e São Rafael, ampliou rede de esgotos sanitários e para as águas pluviais da cidade, abriu crédito para pagamento de contrato firmado para per¬furação de três poços artesianos com fim de extração de água potá¬vel em Rio Bananal, Bebedouro e Povoação, inaugurou o serviço de água em Bebedouro, São Rafael, Tiradentes, Santo Isidoro, São Jorge da Barra Seca e Comendador Rafael, construiu um reservatório de água em Rio Bananal (ZUNTI, 2000).

Tendo como secretário o sr. Francisco Pereira do Nascimento e depois José Anísio Gava obteve empréstimo junto ao Banco Nacional de Habitação-BNH para obras de infra-estrutura em núcleo residencial do mesmo nome, liberou recursos para pagamento de área de terras si¬tuadas nos arredores das Casas Populares, destinada à constru¬ção de uma estação abastecedora de água no bairro, adquiriu terras destinadas à construção de aeroporto e terraplenagem do mesmo (situado próximo da BR - 101, antes do bairro Canive¬te) (ZUNTI, 2000).

Por meio de informações orais pode-se ainda incluir como obras do mandato de Senatilho a construção, em convênio com o estado, das Escolas: Castelo Branco, Roberto Moreira, Auto Guimarães, Polivalente I, prédio da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos em São Jorge do Tiradentes e outros, do prédio e instalação do Setor de Merenda Escolar, da Biblioteca Pública Municipal, de mais de 140 escolas rurais, algumas em convênio com o Estado e outras com recursos municipais, jardim de infância em Sâo Rafael e Rio bananal, das sedes da Emater (antiga Acares), do IBGE e do Serviço de Alistamento Militar, do prédio da Campanha de Erradicação da Malária e da estrada no morro Aricanga, Ibiraçú, para dar acesso à torre transmissora de TV, além de muitas outras realizações.

Em seu governo, foi aprovado e instalado o busto do dr. Jones dos Santos Neves, doado por Joaquim Calmon, e de busto de Caboclo Bernardo, doado pela Marinha do Brasil, construção e melhoramento de diversas estradas dentro e fora da faixa cacaueira e instituição de emblemas municipais em dezembro de 1968 (ZUNTI, 2000).





Fonte: ZUNTI, 2000
Figura 24 ? Brasão de armas do município de Linhares. Criação de Alberto Lima (heraldista e desenhista)









Fonte: ZUNTI (2000)
Figura 25 ? Logomarca da prefeitura. Criação do arquiteto Rubens Santana.

No governo de Senatilho Perin foi feita a doação ao Estado de terreno ao lado da prefeitura, na Praça 22 de Agosto, para construção do Fórum, aquisição de área atrás do núcleo residencial BNH para cons¬trução do Parque de Exposição Agropecuária em julho de 1969, e de um terreno para futura instalação de uma Estação Rodoviária local que não foi instalada, aquisição de área de meio alqueire de terras no bairro Aviso para serem doadas a famílias que residissem em barracos, dentro das ruas da cidade, e doação, ao Departamento Nacional de Obras Centro e Saneamento-DNOS, de lotes para instalação de residências e demais dependências.

Senatilho disse que seu primeiro título não existe mais, porém recorda que a primeira vez que votou foi no Rio de Janeiro no ano de 1946. Foi filiado à UDN ? União Democrático Nacional. No seu relato diz:

[...] comecei [...] antigamente era mais estudante né? E a gente quando era estudante criava mais, onde ia a corrente de estudantes, vamos dizer assim. Atualmente é mais PT o pessoal que é mais contra o governo. Antigamente era mais contra o governo, era mais ligado a estudante.

Ao ser perguntado se recordava de alguma rixa política entre os candidatos em seu pleito em Linhares, confirma a existência não só em sua época, mas em muitas outras.
Questionado sobre a existência de alguma eleição problemática em que o resultado não atendeu a maioria da população, Senatilho respondeu que foi uma em que perdeu para o adversário.

Para Senatilho o processo eleitoral era normal e, acrescenta "[...] a gente escrevia o nome do candidato que concorria, botava na sacola, uma sacolinha".

Senatilho diz que nunca deixou de votar, e em relação às mudanças mais representativas no passado disse:

Bom, eu concorri e fui eleito e ajudei o país, não sei se devo falar, mas, no período da Revolução eu fui membro da Revolução, então nós que participamos das coisas do passado, nós tivemos épocas em que era tudo, vamos dizer assim, não eram dois partidos, tinha gente de dois lados. Que eram vários partidos: UDN, PSD e acho que uns cinco partidos e tinha de um lado o Dr. Emir e do outro lado Antenor Elias e a gente de vez em quando entrava por fora nas coisas. Eu concorri à eleição de prefeito uma vez e ganhei e concorri uma vez e perdi. Tiveram concorrentes nesse período que um foi Antenor Elias e o outro foi Dr. José de Caldas Brito e daí pra cá teve período que eu quase não participei, porque entraram outros candidatos que não eram do meu lado, era do outro lado ARENA e MDB.

Quando perguntado sobre a importância do voto para o cidadão ele responde que esse é importante quando o candidato é bem escolhido. Para o senhor Senatilho Perin democracia é: "[...] exercer o direito de votar e ser votado".

Quanto a existência de democracia em Linhares ele diz que existe, porém, acrescenta que:

[...] a dificuldade é como é feito, né? Por que às vezes, vamos dizer assim, não vamos citar nomes para poder distinguir, mas, você tem as pessoas que ficam dessa área e outros do lado de cá, e os de cá quando conseguem maior número de pessoas, ele faz democracia à moda dele. Por exemplo, ali no grupo escolar, por exemplo, vou dizer que o Antenor Elias era um concorrente, mas ele foi prefeito, e você vai dizer que ele não era assim ou não era assado, mas ele na minha presença, quando era prefeito tirava dinheiro, ?cinco reais, dez reais? e dava pro eleitor pra ele votar no candidato dele. Você acha que isso estava certo? Então que , existia, existia. Eu não fazia, mas vi ele fazer.

Quando perguntado sobre qual prefeito mais colaborou com o desenvolvimento de Linhares o Sr. Senatilho diz:

Olha é suspeito falar isso, né? Fica um negócio difícil, porque eu fui prefeito eu fui candidato e até hoje eu tenho nome aqui e eu fiz vamos dizer assim, eu tenho que enumerar pra dizer o que eu fiz; não é que eu queira aparecer. O SAAE o Serviço de Água o contrato que eu assinei para começar o SAAE que era ali embaixo ali, no buraco ali aquele negócio de água. Tinha o grupo escolar na época da Revolução tinha muita obra, não é porque era Revolução, é porque o governo tinha interesse de mandar dinheiro para cá, para poder quebrar o pessoal da oposição. Então tinha muita obra, muita coisa, por exemplo, Polivalente I, Polivalente II, as coisas calçamento, ruas e tudo o que existiu e que foi feito na época e foi fazendo, fazendo e eu hoje não saberia dizer a vocês o que foi feito.

A partir das leituras feitas e da entrevista com Senatilho Perin, pode-se constatar que em seu mandato foram realizadas muitas obras importantes, mas como ele mesmo diz, isso ocorreu porque o governo da época tinha em mente que quanto mais contribuísse com o povo, menos a oposição receberia o seu apoio.



3.2.13 José Rodrigues Maciel (1971-1972)


José Rodrigues Maciel, nascido em Colatina em 1933, filho de Waldemiro Rodrigues Maciel e Ângela Rovel Dobrovosk Maciel, exerceu o mandato de 1971 a 1972. Seu vice-prefeito foi Zaudino Ceolin (falecido durante a gestão). Teve como secretário Paulo Sérgio Gava.

O Legislativo tomou posse em 31 de janeiro de 1971 representando por: Bernardo Tesch, Manoel Vitorino Lima, Antônio Freitas da Silva, Altair Ferreira Leite, Rubercy Felício dos Santos, Vilmo V. Guizani, Waldemar Zardo, Emilio Guilherme de Jesus e Edson Barbosa de Menezes.

José Rodrigues Maciel em seu breve mandato liberou verba para auxiliar conclusão do segundo pavi¬mento anexo ao Hospital Municipal (hoje Hospital Rio Doce), criação da primeira Comissão do Mobral em Linhares, extensão da rede de água e esgoto, aquisição e manutenção de transmissores de TV para os distritos de São Rafael e São Jorge de Tiradentes, aquisição de uma motoniveladora , início e construção do novo Mercado Municipal, extensão da rede elétrica no Bairro Nossa Senhora da Con¬ceição e nos povoados Canivete, Povoação do Rio Doce, Alegre e Lagoa Juparanã, dentre muitas outras realizações (ZUNTI, 2000).

















Fonte: Zunti (2000)

Figura 26 ? Ex-prefeito José Rodrigues Maciel (1971-1972).


Para falar de José Rodrigues Maciel foi entrevistado no dia 18 de outubro de 2005 o Sr. Ralph Tadeu Rodrigues Maciel seu filho com Maria Silva Maciel com quem o ex-prefeito foi casado.

Ralph nasceu em 11 de dezembro de 1960, em Linhares, votando pela primeira vez em 1979, não tendo nunca deixado de votar. Era filiado no partido do PDT no ano de 1992 e PTB no ano de 1996, não existindo rixa política no período, pois relata que só havia atritos de palanque. Em toda a sua vida desde que tirou o título de eleitor, nunca deixou de votar.

Ao perguntar se houve alguma eleição problemática em que o resultado não atendeu a preferência da maioria da população, diz que não.

Quando foi perguntado sobre como eram as eleições no passado, diz que não mudou muita coisa não. Porém, ressalta que não viveu nesse meio, mas sempre acompanhava os comícios. Para Ralph na atualidade o povo é mais esclarecido para votar do que antigamente.

Em relação às mudanças ocorridas nas eleições da atualidade, quando comparadas com as de antigamente, Ralph diz: "[...] a mudança que eu acho é que houve realmente, a gente pode ver em termo de representação, acho que o que melhorou em termos de eleições, foi o voto eletrônico. Agora fica melhor para votar, fica mais fácil".

Sobre a importância do voto, Ralph que já exerceu a vereança em dois mandatos, diz que: "[...] o voto é importante para o cidadão". E afirma que quem não vota e se omiti, depois não pode cobrar nada. Tem que votar e cobrar depois".

Quando se pergunta o que é democracia Ralph relata que:

[...] democracia é isso o que estamos vivendo hoje, no país, no Brasil hoje, na atualidade, as crianças falando o que querem. Nós cidadãos, estamos aí juntos com os políticos cobrando essa liberdade que a gente tem hoje pra falar, que não tínhamos na época da ditadura. Essa é que é a democracia, todo mundo está dispondo realmente o que pensa e o que acha.

Ralph ainda comenta que existe democracia em Linhares e diz:

[...] acho Linhares uma cidade como outra qualquer do nosso Brasil. É até muito ampla, a democracia aqui. Hoje não vejo ninguém reprimido à nada aqui; nem nosso cidadão, nem os políticos, todo mundo fala o que acha e tem essa liberdade pra se expressar.

Para o entrevistado, dentre os prefeitos eleitos até a atualidade ele diz que tudo depende na época. Conforme o seu entendimento, os anteriores deram "[...] o pontapé inicial". Foram eles que desbravaram Linhares e que antigamente tinha mais dificuldade para se governar do que hoje. Linhares antigamente era muito grande. Lembra-se que quando o pai era prefeito na década de 70, Bananal ainda pertencia a Linhares. As prefeituras tinham "pouca coisa na mão", pouco maquinário, pouco dinheiro para fazer muita coisa. Hoje Linhares, depois da emancipação de Rio Bananal e Sooretama, Linhares perdeu uma parte considerável de seu território, mas favoreceu a administração local. Para ele, seu pai, pode contribuir com o desenvolvimento do município dentro das limitações da época, mas além dele o prefeito que mais contribuiu, em sua opinião, Guerino Zanon.

E finalizando, deixa uma mensagem:

[...] o povo tem que pensar que a eleição realmente não é brincadeira, tem que votar, tem que participar e, jamais se omitir. Por isso, nós temos que ser conscientes para saber escolher os nossos representantes. É isso que eu acho que tem que ser percebido pela população. Votar em quem ela realmente acha que vai dar continuidade em nosso município.



3.2.14 Samuel Batista Cruz (1973-1976/ 1983-1988)


Nascido em Lajinha-MG, no ano de 1938, filho de Felizardo Batista Cruz e Ma¬ria Cecília Cruz, Samuel Batista Cruz casou-se com Maria José da Silva Cruz.

Em seu mandato, no período de 1973 a 1976, teve como vice-prefeito o sr. Joel Roberti e secretario Josemar de Deus.

Tomou posse em 31 de janeiro de 1973 juntamente com os vereadores eleitos para esse mandato: Antônio Muniz dos Reis, Jacinto Campos, Ercílio Angeli, Pio Veronez, Rubercy Felício dos Santos, Alvacy Perin, Silvano Bragato, Vilmo V. Guizani, Basilio Pereira da Paixão, Jurandy Rosa Loureiro e Joviano Viana de Souza.















Fonte: Acervo do Jornal Terral

Figura 27 ? Ex-prefeito Samuel Batista Cruz discursando ma tribuna da Câmara.

As principais realizações de seu mandato, segundo Zunti (2000) foram: a construção da Banca do Município na Feira Capixaba da Provi¬dência, aquisição de duas ambulâncias, destinadas ao atendimento do Serviço de Assistência Social do Município, liberação da verba para subvenção à Campanha Nacional de Alimentação Escolar-CNAE, verba para subvenção do Mobral, aquisição de máquinas, equipamentos e outros veículos de tração mecânica, compra de motoniveladora, trator de esteira e aquisição de materiais para construção de pontes, conservação de estradas e calçamento de ruas e avenidas, inauguração do cemitério São José, em 1975, aquisição de terreno para ampliação do sistema de abasteci¬mento de água de Bebedouro, construção de estradas do Córrego do Veado à lagoa Juparaná e São Bernardo a Desengano.

Segundo relatos orais, apresentados em Zunti (2000), na administração de Samuel Batista Cruz, foi ainda construído um aterro e uma pequena ponte sobre a lagoa do Aviso, no Bairro Interlagos, e reconstruídas várias pontes no município, devido a problemas gerados pelo uso, foram adquiridas 12 basculantes para diversas obras e um carro coletador e compactador de lixo, adquiridas três motoniveladoras e três máquinas denominadas Patrol, terraplenagem, com 30 dias-máquina de serviço, na quadra onde se construiu o colégio Polivalente II, foram construídas as estradas de Bananalzinho a Sapucaia e a de Linhares a Japira-via Piabanha, concluída no governo posterior, foi ainda realizada eletrificação do bairro Interlagos com vapor de mercúrio.

No setor educacional várias escolas foram construídas e reformadas, dentre essas cita-se a construção do prédio de um ginásio no lnterlagos (com verbas municipais) que posteriormente foi inaugurado pela administração com o nome de ?Marília de Resende Scarton Coutinho", criada uma escola de 1º grau em Córrego d?Água, construção de prédios para Jardim de Infância no Araçá e Interlagos, reforma do Jardim de Infância das Casas Populares e no de Santo Antônio do Bananal, foram feitas reformas no Escola Estadual de Ensino Médio "Emir de Macedo Gomes" e doação de carteiras para o mes¬mo, construção de salas de aula anexas às escolas municipais (ZUNTI, 2000).

Em seu governo, Samuel ainda calçou avenidas e ruas como a Filogônio Peixoto, Monsenhor Pe¬drinha e outras da zona urbana, calçou ruas em São Sebastião do Bananal, realizou aterro no Córrego do Rodrígues, instalou água em Japira, Córrego d?Água e em mais de 100 escolas municipais, também fez a doação de área para funcionamento do Departamento de Es¬tradas de Rodagem-DER, anexa à antiga garagem da prefeitura.

No âmbito social, Samuel, fez doação de área no Interlagos para que o Banestes construísse a sede da Associação, construção de um viveiro de mudas de café, com distribuição posterior de mais de 6 milhões de mudas, construiu mini-postos de saúde em Japira, bebedouro, Farias, Córrego D?água, Comendador Rafael, etc., criou ainda um dispensário técnico de análises clínicas, contando com assistência de 12 médicos e 4 acadêmicos.

Para falar de Samuel foi entrevistada a sua esposa, a sra. Maria José da Silva Cruz, nascida em 20 de setembro de 1941. Segundo ela, votou pela primeira vez quando tinha 18 anos, não tendo deixado de votar em nenhuma eleição.

Seu marido, falecido em 13 de outubro de 1994, era filiado ao PMDB. Quando perguntado a dona Maria José, se existia alguma rixa política no município diz que sim, mas prefere não comentar. Diz ainda que não se lembra de nenhum problema ocorrido durante as eleições.

Em relação às eleições do passado, dona Maria José diz que aconteceram muitas mudanças e que antigamente existia muita dificuldade financeira o que dificultava a disputa.

Diz que o voto é importante para o cidadão e que democracia para ela é sinônimo de honestidade. Porém, para ela não existe em Linhares uma democracia ampla.

Dentre os prefeitos que na sua percepção mais contribuíram com o desenvolvimento de Linhares, dona Maria José cita o seu próprio marido, José Carlos e Guerino.

Samuel Batista Cruz se reelegeu para um novo mandato no período de 1983 a 1988. Tomou posse em 31 de Janeiro de 1983. Tinha vice-prefeito José Carlos Elias. A Câmara de Vereadores era composta por: Jair de Souza Moreira, Ademar Luiz Pianna; Wanderlei Ceolin, António Carlos de Freitas, Aldenor Almeida dos Santos, Maria Edna Fiorot, Wilson Ferreira da Silva, Roberto Ricardo de Mendonça, Jovino Viana de Souza, Sebastiáo Nunes Batista, Valdir Celestrine e Athayde Antônio Armani.

Como principais realizações dessa administração, Zunti (2000), destaca:

- Construção de creche e posto de saúde em Bebedouro.
- Abertura e manutenção de uma estrada ligando a sede do mu¬nicípio ao distrito de Regência.
- Implantação do sistema de água tratada no Bairro Canivete, no distrito de Córrego d?água e na localidade de Japira, bem como um posto telefônico nessa última.
- Aquisição de tratores e patrol.
- Calçamento de ruas no Bairro Nossa Senhora da Conceição.
- Iluminação no Bairro lnterlagos II e implantação de rede de es¬gotos.
- Construção de escola e creche no distrito de Córrego d?Água.
- Ampliação da rede de eletrificação rural.
- Criação do hortão municipal, juntamente com o secretário mu¬nicipal de agricultura.
- Construção de creche no Bairro Aviso
- Construção de galerias pluviais, calçamento, creche e Jardim de Infância no Bairro Juparanã.
- Ampliação de creche e escola no Bairro Interlagos.
- Calçamento de avenidas no Bairro Araçâ e de ruas no centro da cidade.
- Inauguração do prédio de Assistência Social no Bairro Araçá.
- Implantação de sistemas de água e rede de esgotos em bairros da cidade, melhoria da rede elétrica e também nos distritos.
- Construção de uma quadra de esportes e de uma creche em Povoação.



3.2.15 Antônio Muniz dos Reis (1977-1979)


Antônio Muniz dos Reis, nascido em Fundão, município do Espírito Santo, no ano de 1927, filho de Sercundes Antônio dos Reis e Joana Muniz do Reis e casado com Constância Rosa dos Reis.

Em seu mandato, no período de 1977 a 1979, teve como vice-prefeito, Luis Cândido Durão e secretário Josemar de Deus. Sua posse como prefeito foi em 31 de janeiro de 1977, tendo como vereadores empossados no mesmo dia: Waldemar Zardo, Durval Calmon, Antônio Freitas da Silva, Wilson Ferreira da Silva, Amantino Pereira Paiva, José Liberato Segundo, Maria Edna Fiorot, José Carlos Elias, Bernardo Tesch, Maurício Bonicenha e Jovino Viana de Souza.

Dentre as obras realizadas em seu mandato, Zunti (2000) cita: limpeza na cidade, patrolamento e calçamento de ruas, bolsas de estudo para estudantes, reforma na escola de Povoaçâo e cemitério, reformulaçâo da praça Régis Bittencourt, construção de salas de aula, anexas a escolas já criadas, aprovação da planta de loteamento do Bairro São José, aprovação da planta do loteamento do Bairro Juparanã, aprovação planta de área denominada Parque Residencial da lagoa do Meio e ainda a planta do loteamento do Bairro lnterlagos II, requerida pela firma Almir Sponfeldner.

















Fonte: Zunti (2000)

Figura 28 ? Ex-prefeito Antônio Muniz dos Reis (1977-1979).

Por meio de decreto cosiderou criados no município cinco escolas e cinco jardins de infância. Segundo Zunti (2000), no governo de Muniz ainda foi liberada verba para instalação e compra de equipamentos destinados à Secretaria de Educação do Município, instituição de caixa escolar nas escolas municipais e inaugurou a escola de 1º e 2º graus "Marília de Resende Scarton Coutinho" no bairro Interlagos.

Fora do âmbito da administração municipal foi inaugurada em 14 de setembro de 1979 a Rádio Cultura de Linhares. Em janeiro de 1979, fundou-se o Clube Social Mata do Lago.

Para falar de Antônio Muniz dos Reis, foi entrevistada a srta. Tatiane Silva dos Reis nascida no dia 23 de maio de 1983, no município de Linhares, sua filha com Idaltiva Mendes da Silva.

Tatiane não recorda da data de sua primeira votação, e diz que não é filiada a nenhum partido. Recorda-se que existiram rixas políticas que marcaram o município de Linhares e cita o atentado sofrido por seu pai. Porém, fora esse problema, não se recorda de nenhuma outra eleição problemática na qual não tenha sido atendida a vontade do povo. Também não se lembra de como eram as eleições no passado acrescentando que é péssima em assunto de política.

A entrevistada diz que nunca deixou de votar. Quando questionada sobre as mudanças, Tatiane acredita que as eleições na atualidade priorizam mais questões como saúde e segurança.

Tatiane acredita que o voto é importante para o cidadão no sentido de melhorar o município. Para ela democracia é ter direito a escolha, e ter opinião própria. E acrescenta que em Linhares existe democracia, mas que nem sempre a população é respeitada. Quando perguntada qual o prefeito que mais contribuiu para o desenvolvimento de Linhares citou Guerino Zanon.

Ressalta-se que no ano de 1979, Antônio Muniz dos Reis sofreu um atentado e por isso, a prefeitura foi entregue a um interventor Hélio Leal no período de 10 de maio a 29 de junho de 1979. Hélio Leal nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1917. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (ZUNTI, 2000).

O interventor foi nomeado por Ato do governador do Estado, Eurico Rezende no dia 10 de maio de 1979. Em 29 de junho de 1979, o mesmo governador determinou o fim da Intervenção e a Câmara, presidida na época por Durval Calmon, empossou o novo prefeito, Luis Cândido Durão, em 1 de julho de 1979 (ZUNTI, 2000).










Fonte: Zunti (2000)

Figura 29 ? O interventor Hélio Leal



3.2.16 Luis Cândido Durão (1979-1982/ 1989-1992)


Luis Cândido Durão, nascido em Linhares em 12 de setembro de 1947, filho de José Durão e Graci¬osa Garcia Durão e casado com Sônia Nadir Sponfeldner, exerceu o mandato de prefeito no período compreendido entre 1979 a 1982. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direi¬to de Colatina-ES, foi presidente da Associação Capixaba dos Muni¬cípios e presidente da Coordenação Municipal da Defesa Civil.

Fonte: Acervo Jornal Terral

Figura 30 ? o ex-prefeito Luis Cândido Durão, a esposa, Sônia e, filhos.

Luiz Durão tomou posse em dois de julho de 1979, tendo como secretario Amantino Pereira Paiva, depois Nelson Darby de As¬sis. A Câmara continuou a mesma, estando na presidência o vereador Waldemar Zardo.

A Prefeitura Municipal de Linhares localizava-se no centro da cidade, em prédio com três andares e contava em seus quadros com 1.180 funcionários. A sede da prefeitura encontra-se ainda no mesmo local.

Dentre as principais realizações, citadas em Zunti (2000, p. 171-173), relaciona-se algumas mais importantes:

- Implantação em Linhares, pelo prefeito, em convênio com a UFES, de três cursos universitários de Licenciatura Curta: Ciênci¬as, Educação Artística e Educação Física, funcionando no prédio da escola Polivalente, no BNH e reconstrução de mais de 150 pontes;

- Construção de pontes sobre o rio Bananalzinho; sobre o rio São Francisco; rio Bananal; rio Terra Alta; rio Ipiranga; rio Quartel; rio das Palmas; córregos do: Farias, São Francisco, do Meio, Santo Hilário, São Sebastião, Farroupilha, Capivara, Panorama de Cima, Barra de Tiradentes e numerosas outras;

- Obras de infra-estrutura em Araribóia, como: caixa d?água, poço artesiano, iluminação, etc.; Doação de 7 áreas para construção de grupos escolares, no Bairro Shell, no Bairro Interlagos II; para construção do prédio para a Companhia de Polícia Militar e para o Corpo de Bombeiros, próximos ao Bairro São José;

- Compra de 1.000 lotes e doações dos mesmos para as famí¬lias de baixa renda, convênio feito junto ao Governo do Estado, Ceplac e Telest, para a instalação e construção de 15 postos telefônicos em povoa¬dos, vilas e distritos do município e convênio com o Detran para implantação de placas de sina¬lização.

- Convênio com o Cartório de Registro Civil, através do qual a prefeitura, até março de 1982, forneceu gratuitamente 13.000 regis¬tros de nascimento e quase 3.000 registros de casamento.

- Trabalho de cunho social com a atuação de seis médicos de clínica geral, ginecologia, pediatria, cirurgião-dentista e laboratório aparelhado para exames de modo geral.

- Em convênio com a Legião Brasileira de Assistência, a admi¬nistração mantinha oito creches-casulo nas seguintes localidades: Ju¬paranã, Interlagos, Novo Horizonte, Araçá, Córrego D?Agua, Bebedouro, Povoação e Canivete, que davam assistência a mais ou menos 600 crianças. Os funcionários e demais serviços de manutenção dessas creches eram totalmente pagos pela prefeitura. Da verba enviada pela LBA, 70% eram para fins de alimentação e 30% para medicamentos e material didático.
- Ampliação e reativação de vários minipostos de Saúde no interior do Município, facilitando o atendimento ao homem das zonas rurais, das vilas e povoados, criação da Secretaria Municipal de Agricultura - SEMAG. Seu objetivo era dar apoio e assistência ao homem do campo.
- Incremento da atividade hortícula e política florestal, com produção de árvores frutíferas e de sombreamento. No setor de mudas, foram produzidas mudas de café, tendo sido doadas mais de 1 milhão.

A Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Turismo, promoveu atividades variadas desde 1979. Além das festividades anuais da Festa da Cidade, Semana da Pátria, Exposição Agropecuáda e Feira Capixaba dos Municípios.

Melhoramentos na localidade Lagoa Juparanã como caixas de coleta de lixo, intalação de barracas para salva-vidas, cobertura das raízes das árvores com areia branca, rampa para botes e aterro para estacionamento. Reabertura e aterro da estrada para o Pontal do piranga.

Outras obras e realizações aconteceram durante a administração de Luis Durão, mas dentre aquela que acredita ser mais importante, cita-se a abertura da estrada do Pontal do Ipiranga e, posteriomente o seu empenho em transformar o lugar em um balneário com infra-estrutura capaz de atrair turistas de vários lugares do país, gerando emprego e renda para os moradores locais.

Luis Durão retornou a prefeitura municipal em 1989 exercendo o mandato como prefeito eleito até 1992. Nesse período deu continuidade a várias de suas obras iniciadas no mandato anterior. Assumiu o cargo de vice-prefeito o sr. Jair Corrêa (Nozinho) e como vereadores foram empossados: Roberto Ricardo de Mendonça (presidente), José Mauro Gomes e Gama (pre¬sidente nos dois anos finais), Adelson Borges Favarato, Antô¬nio Carlos de Freitas, Atayde Antô¬nio Armani, Fábio Roberto Gama Vieira, Francisco Tarcisio da Silva, Getúlio Ubiratan Costa dos Santos, Jair Souza Moreira, João Pedro da Silva, Joceny Braga Lopes, Luciano Ribeiro Durão, Mário Antô¬nio Del?Caro, Narcisio Agrizzi, Pedro Miguel Miranda Rangel, Remegildo Milanez, Ricardo Lopes, Santo Poltronieri, Sebastião Cuzzuol. Suplente que assumiu: Almir Antônio Dadalto

Fonte: Acervo Jornal Terral

Figura 31 ? o ex-prefeito Luis Cândido Durão na tribuna da Câmara Municipal de Linhares

Conforme Zunti (2000), Luis Durão instituiu durante os quatro anos de seu mandato o Micarense, carnaval fora de época, patrocinou atividades culturais e edição de livros, construiu aproximadamenrte 40 escolas na zona rural, construiu e inaugurou Jardim de Infância no Bairro Aviso. Também instituiu um projeto municipal em parceria com o governo do Estado, através do Subnúcleo Regional de Educação de Linhares, para atendimento a um programa de educação de jovens e adultos, Projeto Linharense de Alfabetizaçâo-PROLAL, constando também, para atendimento a esse projeto: a aquisição de uma Kombi com TV, vídeo e filmes educativos, como material pedagógico comple¬mentar de assistência às salas de aula dessa área educativa.

Luis Durão assinou em 1992, lei autorizando o tombamento do prédio que foi a antiga Casa da Câmara e depois primeira sede da prefeitura, como patrimônio municipal. Também recuperou a estrutura desse patrimônio que estava bastante danificada e, na mesma lei, entregou esse patrimônio sob a guarda da SERLIGHES - Seccional Regional de Linhares do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, que havia sido recém-criada.

Também reestruturou a Assistência Social, com médicos especializados e distribuição de remédios e implantou o Bairro Nova Esperança e doou lotes para a popula¬ção de baixa renda. Aprovou o loteamento Três Barras, reservando área para cons¬trução futura de escola e dos prédios dos três poderes: prefeitura, justiça (Fórum) e legislativo.

No ano de 1995 foi eleito Deputado Federal exercendo o mandato até 1998.

O Sr. Luis Cândido Durão foi procurado e concedeu entrevista em 10 de outubro de 2005.

Luis Durão relata que se filiou ao PMDB confirma a existência de uma rixa política em Linhares entre Emir de Macedo Gomes, que era do PSD e Antenor Elias.

Segundo Luis houve fraudes nas eleições de Linhares. E disse que as eleições no passado eram partidárias. Porém, apesar dos problemas observados, nunca deixou de votar nas eleições.

Acredita Luis que o voto tem grande importância para o cidadão. Quando perguntado qual prefeito eleito até a atualidade mais contribuiu para o desenvolvimento de Linhares ele responde:

Se nós temos uma companhia de Polícia e um Corpo de Bombeiros em Linhares foi à época em que eu era prefeito fiz o prédio e eu conversei com o vereador que eu dava tudo, mas que eu queria isso pra Linhares e trouxe. Se hoje nós temos comunicação no interior 99% foi implantado quando eu era prefeito. Na minha época nunca faltou remédio nunca faltou hospital pro povo. Em compensação eu cobrava segurança, na minha época, você pode fazer um levantamento com todos os prefeitos, quem tinha segurança pra você e pra seus filhos foi na minha época. Esses outros a gente tá vendo que fizeram um bom trabalho, mas é bem diferente do meu da minha época. Na minha época não tinha dinheiro, essa era uma besteirinha de dinheiro. Eu fiz aqui vários bairros como o bairro Santa Cruz, o bairro Nova Esperança, Agrovila, Pontal do Ipiranga, tudo com aquele pouquinho de dinheiro que eu tinha, remédio nunca faltaram a população, tinha médico especializado, o hospital nunca faltou a comunidade. Hoje a gente vê, uma fábula que entra e a gente não vê apoio a esse povo.
Para Luis, não existe nenhuma inovação para o município. Em sua época, a praça 22 de agosto foi toda feita por ele e relata que: "[...] tinha até lago com peixe e tudo, aqui e a do centro, a do Interlagos, a do Juparanã fui eu que fiz, a de Regência fui eu que fiz, com aquele pouquinho de dinheiro que tinha".

Hoje vê o prefeito fazer muita coisa em termos de calçamento e de tudo. E eu como deputado federal fiz uma mudança na lei dos royaltes que era 1% para o município e eu passei pra 5%. Para ele, "[...]o que o prefeito José Carlos recebe em 10 dias paga tudo o que eu recebi em quatro anos e ainda sobra dinheiro" e, acrescenta:

Então você vê que migalha e o que eu conseguir fazer pelo povo de Linhares. Então eu acho o seguinte que hoje a gente vê muito jardim, muito isso, muito aquilo, é importante, mas a gente não vê nada de inovação pra este município.

Luis Durão relata que: "[...] como deputado trouxe aqui pra área da SUDENE, se hoje estão vindo indústrias pra Linhares é porque está na área da SUDENE, porque se não tivesse um incentivo não vinha nenhuma para aqui". E cita o exemplo: "Nós temos um exemplo aqui de um proprietário de Aracruz que botou uma indústria de mármore na divisa, porque tinha que ser colocada em Linhares para pegar os dividendos dos incentivos" e, acrescenta:

Então quer dizer se considera que o que eu fiz, eu fiz por amor, porque eu sou linharense, eu não fiz isso com interesse. Mas se você fizer realmente um apanhado de tudo isso. Procurar-nos demais se tem alguma inovação. Alguma coisa que foi feita para o nosso município. Eles administraram, mas não inovaram.

Acrescenta ainda que

A única coisa dessas eleições de Linhares é difícil a gente transmitir para o povo que eles votem consciente. Votem no candidato que eles acharem melhor para eles, independente se ele vai ganhar ou não. Ele tem que estar em paz com a consciência dele, ele tem que estar em paz com os filhos dele. Porque se ele vota por dinheiro, se ele vota porque fulano pediu, porque cicrano pediu o que é que vai acontecer amanhã? A vítima será seu filho.

Para Luis, o cidadão tem que votar no candidato que ele achar que é melhor para o futuro do filho dele, independente se vai ganhar ou não. Que pelo menos ele tenha esperança que ele quer trabalhar pelo município.
3.2.17 Waldemar Zardo (maio de 1982 a janeiro de 1983)


Nascido em Castelo-ES, no ano de 1929, filho de Camilo Zardo e Esther Ri¬beiro de Aquino, casou-se com Maria Zanoli Zardo.

Como presidente da Câmara Municipal, assumiu a prefeitura em meados de maio de 1982, após o afastamento do titular para candidatar-se a deputado. A Câmara de vereadores perma¬neceu a mesma, assumindo o su¬plente Alcides Pontini para a vaga de Zardo. Também assumiram ou¬tros suplentes, por motivos diver¬sos: Ubaldo de Oliveira Reis e Almir Antônio Dadalto (ZUNTI, 2000).

Com a saída de Waldemar Zardo, assumem o cargo de presidente da Câmara, de início, o vice: Maurício Bonicenha, depois Edna Fiorot e, por eleição, Amantino Pereira Paiva; volta o Bonicenha e, por último, com outra eleição, retorna Amantino Pereira Paiva (ZUNTI, 2000).

Apesar de ter permanecido no cargo de prefeito por pouco tempo, conseguiu prorrogação de prazos para pagamento do IPTU, solicitou à Câmara autorização para contrair empréstimos para pagamento dos funcionários da prefeitura e também uma subvençâo para auxiliar o Hospital Rio Doce, concedeu abono natalino aos funcionários da prefeitura, encaminhou projeto para instituir o Código de Edificações Mu¬nicipais e emprestou, a pedido do juíz, os prédios da Praça 22 de Agosto para instalação do Poder Judiciário (ZUNTI, 2000).

Para falar de Waldemar Zardo foi entrevistada no dia 12 de outubro de 2005, sua filha Florizes Zardo Salvador com Maria Zanoli Zardo, nascida em 29 de outubro de 1953 em Castelo-ES.

Florizes relata que votou pela primeira vez no ano de 1972 e que não é filiada em nenhum partido. Não se lembra de nenhuma rixa política em Linhares. Quando questionada se houve alguma eleição problemática no município, Florizes diz que isso realmente aconteceu e que, na oportunidade foi necessário fazer recontagem. Diz ainda que em outras épocas era comum a prática do voto de cabresto, ou seja, aquele em que os eleitores estavam ligados de forma definitiva a um político pela existência de favores ou de vínculos empregatícios.

As mudanças mais representativas em relação às eleições do passado, segundo Florizes é que tudo é mais moderno, informatizado e o eleitor não é tão afoito como no passado.

Considera que o voto é importante para o cidadão, porém, diz que o cidadão precisa saber votar, para que ele seja considerado importante. Para Florizes, democracia é respeitar e ser respeitado, o direito de ir e vir; e afirma que em Linhares existe democracia, não tanto como deveria, porém, "dá para sobreviver".

Dentre os prefeitos eleitos até a atualidade, acredita-se que aquele que mais contribuiu com o desenvolvimento do município de Linhares diz que no passado foi o presente José Carlos Elias e na atualidade Guerino Zanon. Finalizando relata: "que os candidatos fossem mais bem preparados para subir no palco, para não falarem tantas bobagens".



3.2.18 José Carlos Elias (1993-1996)


José Carlos Elias, nasceu em ltapemirim-ES, em 1º de junho de 1954. Filho de José Elias e Nilcy de Oliveira Filas e casado com Maria Elizabeth Dadalto Elias. Como vice-prefeito exercia o cargo Ronaldo do Espíri¬to Santo Lopes.


Tomou posse em 1 de janeiro de 1993, tendo como secretário de gabinete, o sr. Odilon Gava. A Câmara de vereadores era composta por José Mauro Gomes e Gama - Juca (presidente), Esmael Nunes Loureiro (presiden¬te: dois últimos anos), Arildo Kirnse, Francisco Pereira Santana, Francisco Tarcísio Silva, José Belisárío Corrêa, José Zitenfeld Cardia, Jusinete Corrêa Soeiro, Mário Antônio Del?Caro, Natalino Pandolfi (Suplente de Natali¬no: Toninho de Freitas), Pedro Miguel Miranda Rangel, Ralph Tadeu Rodrigues Maciel e Wilson Pereira da Silva.

Fonte: Acervo Jornal Terral

Figura 32 ? José Carlos Elias discursando na Tribuna da Câmara Municipal de Linhares

Dentre as principais realizações, Zunti (2000), destaca: Construção de uma praça no Bairro Shell, de um Centro de Manutenção de Veículos (garagem) e do muro do cemitério São José; Doação de terreno para a Sociedade Pestalozzi de Linhares, de uma área para a Associação da Terceira Idade e também terre¬nos para associações de moradores; construção e inauguração do Tiro de Guerra e do Centro de Assistência Integral à Criança ? CAIC; instituiu o transporte escolar gratuito; construiu e inaugurou nova iluminação a vapor de sódio na BR¬101, dentro de todo o perímetro urbano; calçou ou asfaltou aproximadamente 400 mil metros quadra¬dos de ruas e avenidas; e, adquiriu área para construção de aeroporto e futuro Fórum da cidade.

Em seu governo foi implantada uma Central de Ambulâncias e adquiriu novos veículos para ampliar o atendimento; comprou máquinas e equipamentos agrícolas; construiu novo sistema de iluminação a vapor de sódio no estádio Guilherme Augusto de Carvalho; instituiu sistema de água tratada no balneário Pontal do lpiranga; construiu e/ou reformou escolas e creches e mudou a iluminação para vapor de sódio em várias avenidas e ruas da cidade.

Também foram construídas pontes e instalados postos telefônicos no interior do município, foi feito o ajardinamento das frentes da igreja Matriz e do cemitério central, informatizado os serviços da prefeitura municipal. Patrocinou ainda atividades culturais e publicações de livros.

José Carlos Elias foi eleito Deputado Federal, assumiu em 1999 e na atualidade exerce um novo mandato de prefeito no período de 2005 a 2008.

O senhor José Carlos Elias é o atual prefeito de Linhares, exercendo o seu segundo mandato. O Sr. José Carlos foi entrevistado no dia 04 de novembro de 2005.

José Carlos relata que votou pela primeira vez em 1972 e que era filiado ao MDB. Não se recorda de nenhuma rixa política que marcasse a história do município de Linhares. Também, quando perguntado sobre alguma eleição problemática em Linhares ele diz que não se recorda de nenhuma.

Sobre as eleições no passado, o senhor José Carlos relata apenas que a contagem dos votos era manual. Diz ainda que nunca deixou de votar em eleição alguma e que as mudanças mais significativas no processo eleitoral foi a informatização das eleições.

Ele acredita que o voto é importante no sentido exercer a democracia e a cidadania. Completa ainda dizendo que em Linhares existe democracia.

Dos prefeitos eleitos até a atualidade ele destaca a gestão de Samuel Batista Cruz como sendo a que mais contribuiu para o desenvolvimento de Linhares.

José Carlos acrescenta que ocorreu uma "[...] perda da representatividade do município no Poder Legislativo Estadual", pois nenhum linharense foi eleito para o cargo de Deputado Estadual.




3.2.19 Guerino Luis Zanon (1997-2000/ 2001-2004)


Guerino Luis Zanon Nasceu em Rio Bananal, distrito de Linhares na época, em 29 de maio de 1956. Filho de Agenor Zanon e de Luiza Ceolin Zanon, casou-se com Luciléia Maria Uneida Zanon.

Fonte: Acervo Jornal Terral

Figura 33 ? O ex-prefeito Guerino Luiz Zanon ao lado de sua esposa recebendo o carinho de seus eleitores.

Nesse primeiro mandato, o vice-prefeito era José Mauro Gomes e Gama (Juca). A Câmara de Vereadores estava composta por: Francisco Lopes da Costa (presidente), Alaor António Pessoti, Antônio Rodrigues Filho, Antônio Carlos Toninho de Freitas, Arildo Kirnse (su¬plente: Noel Bassani), Carlos Almeida Filho, Francisco Tarcísio da Silva, .Jadir Alpoin, Joel Luis Bisi, Joelson Antônio Fregona, José Belisário Corrêa, José Zitenfeld Cardia (su¬plente: Atayde Antônio Armani), Jusinete Corrêa Soeiro, Mário Antônio Del?Caro, Ralph Tadeu Rodrigues Maciel, Remegildo Mílanez e Wal¬dir Rodrigues Maciel.

Dentre as principais realizações desse mandato, Zunti (2000), destaca a implantação de redes de esgoto, canaliza¬ção de valas, drenagem pluvial e pavimentação nos Bairros e locali¬dades: Pó do Shell, Pó do Aviso, Aviso, Santa Cruz, Canivete, São José, Invasão do Araçá, Vila Capixaba, José Rodrigues Maciel e no distrito de Bebedouro; água tratada: oferta aumentada em aproximadamente 70% no distrito sede; ampliação da rede em outros distritos e no interior do municipio; duplicação da rede no Pontal do Ipiranga; Projeto Linha Verde: despoluição da lagoa do Meio, ajardinamen¬to, arborização e pavimentação do entorno, iluminação a vapor metá¬lico e preservação de pontos pesqueiros.

Em seu mandato ainda foi desenvolvido um projeto-piloto educativo, sobre preservação ambiental, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura; Urbanização: aquisição de veículos e equipamentos para servi¬ços urbanos essenciais, como coleta de lixo; ajardinamento da alamedas da rodovia BR-101 e trevos; abertura da rodovia em pontos estratégicos para comunicação entre o centro da cidade e bairros, com instalação de semáforos nesses locais; sinalização de orienta¬ção a motoristas nos principais cruzamentos do centro comercial da cidade; ciclovias na ponte entre os bairros Araçá e lnterlagos e outra no Bairro BNH (ZUNTI, 2000).

Dentre as ações desenvolvidas em seu governo, destaca reinstalação da Secretaria Municipal de Turismo para planeja¬mento na área e realização de eventos; a criação da Secre¬taria Municipal de Ação Social e Trabalho.

No setor de agricultura, elaborou o Plano Municipal de Desenvolvimento Agropecuário, para nortear as ações do órgão, visando auxiliar pe¬quenos agricultores, abertura de poços, construção de terreiros de secagem de café e incentivo à piscicultura.

Também pode-se destacar nessa administração, a implantação da Policia lnterativa e do Consel: Conselho lnterativo de Segurança Municipal; aquisição de viaturas e instituição de pos¬tos, em bairros e localidades, do Serviço de Atendimento ao Cidadão.

Na saúde foram adquiridas ambulâncias; inauguradas novos postos de saúde em bairros e localidades, com atendimento médico e odontológico; implantação do Centro Municipal de Fisioterapia e do Centro de Controle de Zoonoses, esse último para controle de animais que perambulam pelo centro da cidade.

Foi criada ainda em seu governo, a Farmácia Básica Municipal; aquisição de um ônibus-saúde, para atendimento a comunidades distantes da sede.

No setor de cultura, foi instalada a Casa de Cultura "Isabel Taqueti Teixeira"; organização e instalação em convênio com a Petrobrás e projeto da Serlihges do Arquivo Público Municipal Informatizado; implantação de outro projeto da Serlihges, aprovado pela Câmara Municipal na gestão anterior, a "Lei Lastênio Calmon", visando patrocinar atividades culturais variadas, através de incentivos fiscais; realiza¬ção de eventos culturais sob coordenação da Secretaria da Educa¬ção; construção de cruz de madeira de lei, ao lado do Arquivo Públi¬co Municipal, em comemoração aos 500 anos do Descobrimento.

Na área da Educação assinala-se a construção da sede da Secretaria Municipal de Edu¬cação e Cultura e de escolas municipais em Regência, bairros e localidades no interior do município; reforma e ampliação de prédios escolares e creches; construção de quadras poliesportivas e veículos e equipamentos para serviço de coleta de lixo; ajardinamento das alamedas trevos; abertura da rodovia em pontos entre o centro da cidade e bairros, sinalização nesses locais e nos cruzamentos do centro comercial entre os bairros Araçá e lnterlagos.

Guerino foi entrevistado em sua residência no dia 16 de outubro de 2005. Essa entrevista foi gravada e depois transcrita para análise.

O entrevistado relata que votou pela primeira vez em 1974. É filiado ao PMDB desde 1995. Sobre a existência de rixa política no município, Guerino relata que:

De rixa política não, mas disputas acirradas e que movimentaram muito a nossa região foi ai na época de dois grandes políticos Emir de Macedo Gomes e Samuel Batista Cruz. Eu acredito que a minha geração também o senhor Nozinho Correa comigo acho que também vai ficar registrado nos anais da história política deste município, mas nada como algo pessoal e sim como disputa política.

Destaca que como eleição problemática que o resultado não refletiu a preferência da maioria da população, uma ocorrida na década de 70, pois:

[...] você somava o voto de todos os candidatos de um determinado partido e confrontava com a totalidade dos outros partidos que era a Arena e MDB. Então naquela ocasião que era Dr. Emir ele teve aproximadamente 4.000 fotos a mais que o 1º colocado MDB que era o Muniz dos Reis, mas juntando todos os votos do MDB ultrapassaram os votos da Arena então quem assumiu foi o Muniz. Então automaticamente não entendeu a expectativa da população em que ela votou necessariamente a caso Dr. Emir.

Quando questionado sobre mudanças ocorridas nas eleições, Guerino relata que as da atualidade não diferem muito das do passado. Para ele, as visitas as residências, os compromissos de campanha dentro de um plano de governo, continuam sendo, sendo fundamentais e, acrescenta que: "[...] eu acho o compromisso de campanha e o plano de governo são fundamentais na eleição de qualquer candidato".

No seu entender, que mudou foi que no passado existia aquilo que se chamava liderança de tal lugar que carregava todos os votos. Para ele, hoje não adianta ter liderança se o candidato não tiver um bom plano de governo e, acrescenta:

Acho que o eleitor está votando por ele e, começou a mudar isso, eu sinto isso, ele vota na concepção dele, no que ele vê no candidato que ele está escolhendo. Isso foi uma grande mudança até em função dos meios de comunicação entrar no processo eleitoral, as rádios, as TVs, hoje a gente tem on line qualquer informação que acontece e então em qualquer cantinho do município. Aconteceu aqui agora, daqui a um minuto lá em São Rafael já sabem; então o eleitor está muito consciente está votando mais naquilo que ele tem de concepção do candidato e não por alguém que se intitula liderança de uma comunidade. As lideranças contribuem, mas na hora do voto, eu gosto de falar ao eleitor o seguinte: ?não, deixa que eu escolho o meu candidato?.




Fonte: Acervo Jornal Terral

Figura 34 ? O ex-prefeito Guerino Luiz Zanon discursando na Tribuna da Câmara Municipal de Linhares.

Quando perguntado se deixou de votar em alguma eleição o senhor Guerino responde que "não, nunca deixei de votar". E sempre que pode, fala às pessoas para votarem. Essa questão de descrença que algumas pessoas falam que deixam de votar por descrença nos políticos, faz com que sejam eleitos sempre os piores. Para Guerino: "[...] o eleitor tem eleger o melhor, se no caso for assim, dos piores, mas tem que eleger, tem que eleger alguém. Então é preferível sempre dar o voto e nunca negar".

Quando perguntado quais foram as mudanças em relação ao passado, mais representativas na sua opinião, o senhor Guerino Zanon responde

Eu acho que é essa percepção do eleitor votar naquilo que ele quer para o seu município, para o seu Estado e para o seu país; dentro daquilo que ele entender que é melhor e não naquilo que as pessoas ficam, a todo o momento, querendo dizer para ele fazer. O cidadão está consciente, no meu entender, hoje, daquilo que ele quer, para onde que ele vive, para sua família para sua comunidade. Então essa para mim, tem sido, está aí: um exemplo foi, agora, esse referendo que tivemos, que começamos com uma das opções ganhando de 80% a 14, 15, 16%, no decorrer do tempo ele foi fazendo uma análise dos fatos, bom ou ruim, no futuro é que vamos saber, mas ele não atendeu, no meu entender, se o presidente da República estava votando no ?sim?, se o vice-presidente estava votando no ?não? ou se o governador declarou o voto no ?sim?, se o Guerino como político também declarou.

Fonte: Acervo Jornal Terral

Figura 35 ? O ex-prefeito Guerino Luiz Zanon recebendo uma homenagem.

Para Guerino, o eleitor vota naquele candidato que entende seja o melhor para um determinado momento, ou seja, é uma demonstração clara de que ele está votando de acordo com a convicção dele.

Quando perguntado sobre a importância do voto o senhor Guerino diz que o voto é importante em todos os sentidos e, acrescenta,

Eu costumo dizer nas minhas falas em comícios, em eleições, em reuniões que o instrumento mais importante que o cidadão tem é o voto e ele não pode deixar de negar que é através da política que se provocam transformações estruturais, culturais, econômicas num estado, num município, num país. Então o voto tem que ser dado, como eu já disse anteriormente, e de dois em dois anos nós temos essa oportunidade, pelo menos a gente tem a oportunidade de, se for preciso, mudar, se não for, manter aquilo que está bom.

Quando questionado sobre o que é democracia, o senhor Guerino diz,

Eu falo que é uma das coisas, também costumo falar muito que a democracia tem várias definições. Dos mais estudiosos até uma pessoa mais humilde ela vai dar uma definição de democracia. Se você chegar para qualquer cidadão aí, num butequinho e pedir a ele o que é democracia ele vai dizer: é eu ter liberdade. E se você pedir a um acadêmico ele vai te dar uma definição mais aprimorada. Minha definição que eu faço de democracia; eu gosto de citar muito, e principalmente na arte da política, a gente tem que saber fazer isso daí que eu vou falar: ?é entender os diferentes?. Essa foi a minha definição de democracia. Quando a gente sabe entender os diferentes, então eu acho que a gente está praticando democracia. E esse entender os diferentes é em todos os aspectos.

Quando indagado se em Linhares existe democracia o senhor Guerino responde que acha que existe. Porém, ressalta que a população está precisando reivindicar mais, por que está vendo os governantes e políticos tentam construir uma liberdade entre as associações de moradores, por isso, procurou fazer governo junto com seus colaboradores e com a sociedade. Acredita que estruturando o município as conquistas serão maiores. No entanto, ressalta que,

[...] de repente veio alguém que passou uma vassoura nisso e eu não vi a população se revoltar contra isso. Eu vi a população ficar assustada e quieta; é claro que em algum momento da vida ela vai dar o troco a alguém, mas eu acho que ele tinha que lutar para manter aquilo que conquistou. Então ela conquistou algo no passado e vai esperar o momento do voto para dar o troco, mas era mais interessante que lutasse pelas conquistas que ela teve e na hora do voto ela pudesse escolher entre os candidatos, aquele que ela acha que era o melhor.

Para Guerino, o eleitor não pode esperar o voto para dizer que não gostou das mudanças que foram feitas. Então, pensa que as pessoas precisam praticar mais o poder constituído pelo voto. Segundo o entrevistado, em Linhares ainda não existe um movimento forte que conseguisse emplacar o seu nome como município independente. Guerino destaca que,

Infelizmente ainda eu vejo pessoas falando em revolta contra político. Porém, não vi ainda grupos, seja nas escolas, nas faculdades, partindo para movimentos estruturados, assim de conquista sociais. Isso ainda não vi. Só vi gritando contra alguém especificamente a algo mesmo e aí não leva a nada.

Questionado sobre qual o prefeito, dentre os eleitos mais contribuiu com o desenvolvimento de Linhares relata que:

Olha aqui, eu acho que a gente faz injustiça quando cita apenas um ou outro. Eu tenho minha visão, todos foram importantes. Mas assim cada um, eu acredito que deixou sua contribuição para o município. Mas posso dizer desde que eu acompanho política e tive essa percepção do que o prefeito, até onde ele pode provocar modificações na sua comunidade eu acho que quem procurou ter uma visão de cidade futurista e planejada tendo as bases democráticas de desenvolvimento foi Senatilho Perin.

Conforme Guerino foi ao governo de Senatilho Perin que foi implementada a estrutura das avenidas do contorno nas lagoas de Linhares. Porém, ressalta que a ação de ocupação desordenada incentivada por prefeitos posteriores fez com que o projeto inicial fosse descaracterizado e, acrescenta:

Então quando você for ao Araçá, você vai ouvir falar da avenida do contorno do Araçá, você vai ao Aviso, avenida do contorno do Aviso, você vai ao Interlagos, avenida do contorno do Interlagos. Então tem essa visão, essa visão de que Linhares poderia ser uma cidade agradabilíssima. E com alto grau de qualidade de vida, se soubéssemos aproveitar esse potencial que nós temos aqui dentro da cidade e que recomeçamos a fazer isso através do projeto Linha Verde e espero que agora continue.

Mas, de maneira a não criar melindres, diz que todos os prefeitos deixaram às suas marcas em diferentes épocas. De uma maneira ou de outra puderam contribuir com a construção da identidade política de Linhares-ES.

Ao apresentar essa última entrevista, pode-se verificar que, cada prefeito a seu tempo e de acordo com os recursos existentes, soube trabalhar em prol do município. Também se observa que a partir do momento em que a população começou a participar mais dos processos eleitorais, Linhares pode contar com uma consciência política de desenvolvimento comum, ou seja, as práticas personalistas deram lugar a ações voltadas para o bem comum.






CONCLUSÃO


Ao analisar os pleitos municipais em Linhares-ES e a contribuição dos mesmos para a construção da identidade política do município, verifica-se que cada um, em função de sua época, teve características diversas. Do primeiro prefeito até o atual, percebe-se que o município de Linhares já não é mais aquela província dos primórdios e que as pessoas já não têm uma ligação com seus representantes como tinham no passado. Anteriormente, os eleitores tinham verdadeira fidelidade aos políticos que acreditavam ser os melhores. Na atualidade, mesmo que se reconheça que o poder econômico influencia os processos eleitorais, prioriza-se mais as idéias e também o que os políticos podem fazer em benefício de todos.

O primeiro prefeito Roberto Calmon foi indicado, em função de ser membro de uma família tradicional de Linhares. Da mesma forma aconteceu com os que o seguiram como Humberto Calmon Neves Fernandes, Miguel Gusman Júnior e Anário Marreiro de Araújo. Esses são representantes de uma época em que ainda se fazia a política dos coronéis e o sobrenome era a qualidade maior para assumir um cargo político.

O primeiro prefeito eleito Manoel Salustiano de Souza já encontrou um outro contexto, porém ainda com resquícios da política colonialista. Nacionalmente, iniciava o Regime Militar, podendo-se dizer que eleger um prefeito pelo voto direto foi uma verdadeira vitória para Linhares. Porém, observa-se que nessa época os recursos ainda eram poucos, daí muitas vezes, os prefeitos tinham de pagar as despesas da prefeitura com dinheiro do próprio bolso, pois embora não se tenha pesquisado quando começou a ser pago um salário para o chefe do executivo, nos relatos existem várias evidências de que custear as despesas públicas com recursos pessoais era uma prática comum.

A figura do vice-prefeito somente surgiu em 1967 no governo de Senatilho Perin. Nessa época, a BR-101 já estava asfaltada, a ponte "Presidente Getúlio Vargas" (1954) inaugurada e Linhares já possuía uma base econômica bastante diversificada. Pode então, Senatilho exercer seu cargo com maiores recursos, podendo contribuir com maiores realizações com o município.

Dessa época destaca-se um maior acirramento político. Os dois maiores e únicos partidos ? Arena e MDB eram comandadas por grupos fortes que se revezavam no poder. Nesse período a população participava ativamente das eleições, tendo seus representantes como verdadeiros ícones, como aconteceu com o dr. Emir de Macedo Gomes que era endeusado pela população por sua política assistencialista, mas, no contexto em que viviam, acreditavam ser essa a forma mais correta.

Também se observa que alguns prefeitos assumiram e exerceram o cargo interinamente em função de acontecimentos que forçaram essa situação, como aconteceram com Humberto Calmon Neves Fernandes (1 mês), Miguel Gusman Júnior (3 meses), Anário Marreiro de Araújo (8 meses), José de Caldas Brito (4 meses), Antônio Edson Azevedo Lima (6 meses), Hélio Leal (interventor por 2 meses) e Waldemar Zardo (9 meses). Esses não devem ser esquecidos, pois tiveram a sua importância dentro do contexto e motivos pelos quais exerceram os seus mandatos.

A alternância no poder, embora não seja regra, pode ser verificada nos políticos que exerceram o cargo de vereador, pois alguns deles se elegeram para o executivo em outro pleito como foi o caso de José Rodrigues Maciel e Samuel Batista Cruz.

Ao todo foram 18 pleitos, porém Samuel Batista Cruz, Luis Cândido Durão, Guerino Luiz Zanon e José Carlos Elias exerceram o cargo de prefeito por duas eleições seguidas.

Quanto aos partidos, no início verificou-se que a disputa se concentrava apenas em dois grupos políticos, talvez daí venha o maior acirramento nas campanhas entre os grupos opositores. A partir da década de 80 com o surgimento de novos partidos, a preferência dos eleitores teve que ser disputada, sendo que para isso, o simples "tapinha nas costas" como era comum para os políticos tradicionais, já não surtiu mais efeito. As campanhas tornaram-se mais complexas e bem mais ricas de recursos técnicos e financeiros.

Contudo, do que fica em toda essa análise é a certeza de que esses políticos, por suas realizações, ficaram na memória dos linharenses e todos sabem apontar seus feitos.

Pelo que representam para a história da cidade e pelo o que imprimiram na memória dos linharenses por meio de suas realizações, esses ex-prefeitos devem ser lembrados sempre, pois cada um a sua época, pode contribuir de alguma maneira para a construção da identidade política do município.






































REFERÊNCIAS


AMADO, Gilberto. Eleição e representação. Brasília: Senado Federal. 1999.

BIGIO, M. Linhares ? uma explosão de emoções. Ano II. Nº 15. maio. Século. O Espírito Santo em revista. Vitória, ES: m4, 2001.

BOCAYUVA, Pedro Cláudio Cunca; VEIGA, Sandra Mayrink (orgs.). Afinal, que país é este? ? Rio de Janeiro: PD&A editora, 1999.

BONAVIDES, Paulo. Ciência política. São Paulo; ed. Malheiros. 1998.

CALMON, Lastênio Júnior. Vultos, fatos e lendas linharenses. Belo Horizonte: Littera Maciel, 1975.

FABRINO; MEDEIROS, Rogério. Cassados. Revista Espírito Santo Agora. nº 23. Abril. Vitória: Ciclo, 1978.

FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal. 2001.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. 4.ed. maio. São Paulo: Loyola, 2000.

NOGUEIRA, Octaciano. Constituições Brasileiras: 1824. Brasília: Senado Federal e Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 1999.

POLETTI, Ronaldo. Constituições Brasileiras: 1934. Brasília: Senado Federal e Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 1999.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16.ed. São Paulo: Malheiros, 1999.

ZUNTI, Maria Lúcia Grossi. Panorama histórico de Linhares. Linhares: Pousada das Letras, 2000.





































APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO AOS ANTIGOS PREFEITOS E DESCENDENTES

Somos alunas do curso de História da UNILINHARES e estamos realizando uma pesquisa sobre a importância do voto na construção da democracia no município de Linhares-ES. Por isso solicitamos a sua participação respondendo a esse questionário.

Rosa e Thais

1. Dados pessoais:
1.1 Nome: ___________________________________________________________
1.2 Filiação: _________________________________________________________
1.3 Data e local de nascimento: __________________________________________
1.4 Data de seu título de eleitor: _________________________________________
2. Informações sobre as eleições em Linhares.
2.1 Data em que votou pela primeira vez___________________________________
2.2 Era filiado a algum partido? Qual? _____________________________________
2.3 Existia alguma rixa política, da qual se lembra, que marcou a história do município?
2.4 Houve alguma eleição problemática em que o resultado não atendeu a preferência da maioria da população? _____________________________________
2.5 Como eram as eleições no passado? __________________________________
3. Percepção sobre a importância do voto
3.1 Deixou de votar em alguma eleição? ___________________________________
3.2 Em relação às eleições do passado, quais mudanças, na sua opinião, são mais representativas? ______________________________________________________
3.3 Acredita que o voto é importante para o cidadão? Em que sentido? ___________
3.4 O que é democracia para você? ______________________________________
3.5 Em Linhares existe democracia? ______________________________________
3.6 Dentre os prefeitos eleitos até a atualidade qual você acredita que mais contribuiu com o desenvolvimento do município de Linhares? __________________

3.7 Existe alguma informação sobre as eleições em Linhares que gostaria de acrescentar? _________________________________________________________




ANEXO A

A Música que Marcou a Minha Vida

Há sempre, em nossa existência, uma música que marca a nossa vida. Sete de setembro é uma data que nos faz recordar a nossa infância, cantando orgulhosamente diante da bandeira o Hino Nacional. E foi nesse dia, data tão significativa para o povo brasileiro, que o destino escolheu para retirar do nosso convívio o não menos patriota Antenor Elias, que tanto lutou pelo desenvolvimento, pela paz e felicidade do povo linharense.

Faz hoje um ano que ele nos deixou, foi em busca de sua felicidade e independência. Ele que passou seus últimos anos escravo de uma cadeira de rodas, dependente de todos para a sua sobrevivência, partiu em silêncio rumo à casa do Pai.

Com 86 anos, lúcido e de boa saúde, surpreendeu a todos nós nessa viagem sem volta. Eu, que praticamente passei seus últimos anos ao seu lado, procurei durante sua invalidez ser seus olhos já cansados para ler os jornais, suas mãos para alimentá-lo, sua voz para receber os amigos, suas pernas empurrando sua cadeira de rodas. Durante todos esses anos, nunca ouvi de seus lábios uma palavra de revolta, uma queixa sequer. Com humildade e resignação aceitou sua doença sem perder sua fé (Devoto que era de Nossa Senhora da Conceição). Às vezes, era brincalhão contando anedotas, peraltices de sua infância, aventuras de sua mocidade e sua militância política. Outras vezes o surpreendia calado, olhar distante e sombrio. Eu passava a mão levemente em sua cabeça já meio calvo, beijava sua testa e ficava sentada no braço da cadeira papeando até que passasse aquele momento de angústia e que só eu entendia.

Meu velho, quanta coisa ainda tínhamos para conversar [...] Conversando você beijava minhas mãos quando ia deitar-se e me abençoava enquanto eu ajeitava as suas cobertas. Foi nessa época de sua invalidez que nos tornamos mais amigos, mais carinhosos e inseparáveis. Não mais sabia viver longe de você. Cuidar de você não era um peso, era quase um ritual que Deus reservou para mim. Éramos tão parecidos física e espiritualmente, que sua partida foi como se tivesse levado um pedaço de mim. Há momentos que ainda o procuro pela casa, e nitidamente em minhas saudades o vejo sentado na grande poltrona, em sua cama ou em sua cadeira tirando um cochilo. Depois, volto à realidade e com o rosto banhado em lágrimas fico olhando o infinito tentando descobrir em que dimensão do universo você se encontra.

Sete de setembro tornou-se para mim um feriado maior. Tornou-se o seu dia. Dia do meu herói, do meu mártir, do meu amigo, do meu velho pai.

Hoje vou te levar uma rosa (você foi o prefeito das rosas) não levarei uma rosa comprada, encomendada num grande buquê com fitas. Será uma rosa simples colhida na minha roseira e que certamente será regada com minhas lágrimas, perfumada com minhas preces e eterna como minha saudade.

De onde estiveres meu Velho, não te esqueças de mim.
Te amo.

Sua filha

Elcy

Linhares, 07 de setembro de 1989.
Música ? Meu Velho Pai. "Com Carmem Silva."
Autor: Rosa Charilli Berger


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