Procissão do Madeiro



Procissão do Madeiro ? Tradição e Féhttp://lh4.ggpht.com/_69pbIHL-R1w/TDfZeA61XJE/AAAAAAAAAKg/XGgA4-DeJ1E/s144-c/Madeiro08.jpg
O presente trabalho nasceu da necessidade de se ter registros oficiais sobre a Procissão do Madeiro e das beatas, tendo em vista se tratar de uma manifestação religiosa tradicional bicentenária, nascida e desenvolvida no seio popular.
O que se segue é fruto de um trabalho de pesquisa longo que contou apenas com fontes orais, visto que como supra citado, inexistem documentos oficiais que tratam desta história.
Ao pesquisar sobre o Madeiro, muitos momentos tornaram-se emocionantes, devido a simplicidade e fé demonstrada nas palavras das pessoas entrevistadas que por várias vezes deixaram-se emocionar até mesmo em lágrimas, o que explicitou a marca forte da tradição de fé deste povo.
Histórico da Procissãohttp://lh6.ggpht.com/_69pbIHL-R1w/TDdofZoq6KE/AAAAAAAAAIs/7gQhjHs4be0/s144-c/Madeiro.jpg
A Procissão do Madeiro, representa uma grande manifestação religiosa popular, que atravessa os séculos, regida por muita penitência, graças alcançadas e o mais importante que é a fé do povo expressadas em um ato simples e popular da Fé cristã.
A ausência de registros escritos impossibilita a datação exata do início dessa procissão. Baseando-se em fontes orais, é possível afirmar que provavelmente foi iniciada no começo do século XVIII, pelo então patriarca da família e fundador da procissão Sr. José Vicente, quando reuniu um grupo de homens e mulheres, que levavam uma cruz de madeira em procissão, na tarde da sexta-feira da Paixão, cantando hinos antigos de penitência e devoção, visitando as "santas cruzes", onde rezavam pelas almas dos defuntos.http://lh4.ggpht.com/_69pbIHL-R1w/TDfqfHJgRGI/AAAAAAAAAKg/Qkh4sTMEbKA/s128/S5037045.JPG
Vale ressaltar que no início desta procissão ainda não existiam cemitérios oficiais e os mortos eram enterrados nas chamadas "santas cruzes". As mulheres vestiam-se de preto e cobriam o rosto com um manto da mesma cor, lembrando as mulheres de Jerusalém que acompanhavam o Santo Funeral de Cristo.
Ano após ano, a tradição se manteve e cada vez mais se arrastava multidões às rezas e cantigas do madeiro que vinha à frente das beatas, como objeto de reverência e devoção, lembrando a caminhada de Cristo ao Calvário.
Com a morte do fundador , Sr. José Vicente aos 96 anos, a procissão ficou liderada por seu filho mais velho, João Pajaú que foi guardião do Madeiro por mais ou menos cinqüenta anos, falecendo com 86 anos de idade, deixando a procissão aos cuidados de sua Sra. Dona Minelvina, que manteve a tradição por mais de vinte anos, vindo a falecer e, portanto, assumindo o compromisso sua filha mais velha, Dona Julhinha, que após cinco anos , resolveu por sua vontade passara liderança para seu irmão, Manoel Pajaú, que foi guardião do Madeiro durante 57 anos, vindo a falecer em 1992, com 86 anos de idade. Nos últimos anos da liderança do Sr. Pajaú, um seguidor da procissão, de nome Paulo, promoveu a inserção de peças teatrais da Paixão de Cristo, bem como a descaracterização da tradição,com vestes coloridas e mudanças no itinerário. Este choque cultural acarretou o afastamento de muitos devotos.
Vendo a tradição abalada, a família fundadora resolveu reassumir a procissão, resgatando toda a tradição e recuperando a devoção popular, que a cada ano aumenta significativamente.
À partir de l992, o Madeiro tem como guardiã, a Senhora Maria José, da 6ª. Geração da família fundadora da Procissão do Madeiro e das Beatas, que perdura até os dias atuais mantendo viva a manifestação de fé, religiosidade de um povo.
Em síntese, a Procissão do Madeiro, tradição bicentenária, é uma forma popular de penitência e religiosidade de um povo, que caminha carregando uma cruz, com devoção e piedade, na qual manifestações vivas de Fé, são demonstradas de forma simples, como simples é o Povo de Deus.
Simbologia
As beatashttp://lh6.ggpht.com/_69pbIHL-R1w/TDflk76PmAI/AAAAAAAAAKg/Jsa4rz78d6k/s128/S5037062.JPG
São mulheres vestidas com vestes longas pretas, com o rosto coberto, lembrando as mulheres de Jerusalém que acompanhavam o Funeral de Cristo e não podiam ser reconhecidas durante o trajeto. Essas mulheres que saem de beatas, na maioria das vezes, são pagadoras de promessas feitas por uma graça alcançada. Qualquer mulher pode sair de beata, desde que atenda aos requisitos da organização: ser piedosa, demonstrar religiosidade e participar das reuniões e encontros promovidos pela equipe organizadora. O grupo não se reúne apenas na sexta-Feira da Paixão e sim durante muitos outros dias para rezarem juntos e planejar a procissão do ano em questão.
Cordão de São Francisco
Atado à cintura das beatas, simboliza a simplicidade e a pobreza de espírito deste povo. Foi este símbolo imposto na procissão desde a fundação e não se vê até a atualidade, nenhum membro sem usar este cordão na cintura.
Toalha Branca
Estendida sobre o Madeiro, simboliza que mesmo sendo a Sexta-feira da Paixão, Jesus não está morto e sim ressussitado no meio de nós. A Paz e o Amor venceu a morte. Simboliza também que a Cruz está vazia e que nosso Deus, não é morto e sim vivo e atuante no meio de nós. Não adoramos um deus morto, o que fazemos é lembrar de todo um sofrimento que Ele passou para salvar a humanidade e que sua glória está na ressurreição.
O Madeiro
Cruz de madeira(cedro), que é a mesma peça que saiu a frente na primeira procissão e até hoje continua. A Cruz é carregada no trajeto por homens seguidores da procissão, mas mediante promessa, um devoto também pode carregar a cruz. Para isso, deve se apresentar e expressar sua penitência.http://lh5.ggpht.com/_69pbIHL-R1w/TDfmAjV36fI/AAAAAAAAAKg/8yIJREXH4XQ/s128/Foto077.jpg
Terço de Nossa Senhora
Nas mãos das beatas e na cintura dos homens simboliza a solidariedade e a devoção coma Mãe de Jesus que teve seu coração rasgado de dor, ao ver seu filho padecer e morrer. Nossa Senhora das Dores é muito reverenciada na procissão do Madeiro, por ter passado por dores horríveis no caminho do Calvário. A devoção a Nossa Senhora está bem explícita nas rezas entoadas durante o percurso e a estação onde se entoa a Salve Rainha.
Hinário
Os hinos entoados durante a procissão, também tem sua simbologia própria. São rezas antigas, de melodia e letras que lembram o sofrimento de Cristo, a devoção a Nossa Senhora e a tradição popular de fé.
MANIFESTAÇÕES DE FÉ
Beijo na toalha
Pessoas devotas se aproximam do Madeiro e beijam a toalha branca, acreditando alcançar assim graças com este ato simbólico, onde expressa, sua fé em Deus que usa de diversos sinais para abençoar e agraciar seus filhos, pois a fé nos ensina que Deus usa de muitos sinais para agraciar seus filhos.
Pés descalços
Acompanhar a procissão do Madeiro de pés descalços significa agradecimentos por graças alcançadas e até mesmo pedido de curas e outras necessidades. É muito comum ver nas pessoas que acompanham o Madeiro, este gesto de penitência. Ao serem indagadas neste sentido, a resposta é uma só: Promessa.
Vestes
É comum ver pessoas acompanhar o Madeiro vestidas de preto, de branco, de roxo, e até crianças vestidas de anjos, todos pagando promessas e expressando sua fé.
Itinerário
Os lugares por onde passa o Madeiro e onde reza-se as estações, são escolhidos conforme a tradição, que são as "santas cruzes" e os cemitérios, onde se reza pelas almas dos fiéis.
Igreja Matriz
A passagem na Igreja de Nossa Senhora das Dores, é uma expressão de fé de todo o povo que acompanha o Madeiro para render as homenagens ao Senhor Morto e a Nossa Senhora das Dores no dia da sexta-feira da Paixão. Quando coincida a chegada do madeiro na igreja, com a liturgia, as orações do madeiro são feitas piedosamente aos pés do Cruzeiro em frente a Igreja. É um dos pontos mais aguardados pelos seguidores da procissão, pois é onde todo o povo espera o madeiro e de forma piedosa participa das rezas dentro da igreja, onde o coro de toda multidão emociona num clima de penitência e devoção.
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CONCLUSÃO
A procissão do madeiro, tradição popular de fé e piedade, é uma fonte de estudos no campo da antropologia. Informações muito ricas de sabedoria popular cecado de emoções e uma história que se mantem viva e forte com o passar dos séculos, essa procissão deve ser mantida e fortalecida por estudos oficiais , pois trata-se da memória viva do nosso povo, do nosso Brasil.


Autor: Prof. Nivaldo Alves De Moura Filho


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