Formação de Grupos na Adolescência




FORMAÇÃO DE GRUPOS NA ADOLESCÊNCIA

MURILO MIRANDA SEILONSKI

RAQUEL GUZELLA DE CAMARGO

Graduandos em Psicologia, pela Faculdade de Pato Branco - FADEP
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A adolescência consiste numa fase considerada por muitos, conturbada e conflituosa. As mudanças físicas e psicológicas modificam de uma maneira rápida o cotidiano do adolescente. As novidades, as expectativas e as idealizações deixam o jovem, em grande parte das vezes, confuso e perdido. É comum o adolescente procurar outras pessoas que estejam passando por conflitos semelhantes aos dele, alguém com quem ele se identifique, ou que possa servir como um amparo e companhia para si. Surgem assim, os grupos, pelos quais o adolescente busca consolidar sua identidade, encontrar pessoas para dividir e compartilhar seus pensamentos e sentimentos. Este artigo busca compreender como acontece a formação de grupos nesta fase e como esta constituição é vista pelos próprios adolescentes e pela sua família.

Palavras - chave: Grupos; Adolescência; Família.

Abstract

The adolescence is considered a trouble and confrontational phase by many people. The physical and psychological changes modify the teen?s daily routine quickly. The news, the expectations and the idealizations let the teenager, most of the times, confused and lost. It is common the adolescents look for others who are having the same conflicts, somebody who identifies with them or somebody who can be a companionship. Thus, the groups appear and the teenagers aim to consolidate their identities and find people to share their thoughts and feelings. This article intends to understand how the formation of these groups happens at this stage and how this constitution is seen by the adolescents themselves and by their family.

Keywords: Groups; Adolescence; Family


A adolescência consiste numa fase considerada por muitos, conturbada e conflituosa. São muitas as mudanças físicas e psicológicas, que de uma maneira rápida, modificam o cotidiano do adolescente. As novidades, as expectativas, as idealizações, os conceitos e as cobranças levam o adolescente, em grande parte das vezes, a se sentir confuso e perdido diante das características dessa fase. É comum o jovem procurar outras pessoas que estejam passando pelos mesmos conflitos que ele, alguém com quem ele se identifique, ou que possa servir como um amparo e companhia para si. Nesse ponto, surgem os grupos, pelos quais o adolescente busca consolidar sua identidade, encontrar pessoas com quem possa compartilhar os momentos, os segredos, as dúvidas, as idéias. Ao enfatizar a natureza dos grupos, busca-se compreender como acontece a formação de grupos nesta fase e como esta constituição é vista pelos próprios adolescentes e pela sua família.

Adolescência

Na antiguidade e no período da Idade Média, as pessoas eram tratadas como crianças até os 14 anos, incluindo o uso de roupas e a adoção de comportamentos infantis. A inserção no mundo adulto era decidida pelos pais, que faziam uma modificação no ambiente e no comportamento do "novo adulto". Com o passar do tempo houve uma eclosão na concepção de adolescência, levando os jovens a adquirirem um espaço maior, conquistando mais liberdade.

Entendemos por adolescência a etapa que vai dos 12-13 anos até por volta dos 20 anos de idade. É a fase onde não se é mais criança, mas também não pode ser considerado adulto. É como uma preparação para a vida adulta. Muitos adolescentes do nosso meio podem estar nesta fase, na escola, em busca de empregos, como também podem estar morando com os pais. Segundo o que diz Fierro (1995, p.264), esses jovens estão em fase de transição de um: "[...] apego centrado, em parte, na família para um sistema de apego centrado no grupo de iguais".

Fierro (1995) ainda relata que eles sentem que são membros de uma cultura de idade, que tem por características, os hábitos, as roupas, os seus valores, o estilo de vida, esses jovens passam a ter inquietudes e preocupações que são parecidas com as dos adultos deixando para trás preocupações da infância.

É importante salientar, como ressalta Fierro (1995), a diferença entre adolescência e puberdade. A puberdade se refere à todas as modificações físicas que transformam o corpo infantil para corpo adulto, essa fase acontece para todas as pessoas. Em determinadas culturas a criança passa da fase infantil para a adulta sem intermédio da adolescência.

Na puberdade o jovem passa a sofrer modificações físicas drásticas, trazendo conseqüências psicológicas, nem sempre agradáveis. Fierro (1995) ressalta que o corpo das crianças são fundamentalmente iguais, quando pequenos. Ao chegar-se à
puberdade, eles sofrem mudanças bruscas, onde as meninas mudam mais rapidamente que os meninos e em tempo menor.

Para Fierro (1995), jovens de ambos os sexos podem se desenvolver fisicamente precoce e outros mais tardiamente, isso não acarretará problemas biológicos no organismo, mas essa demora ou essa aceleração pode trazer problemas psicológicos, causados pelo padrão de beleza imposto pela sociedade. No caso do homem, ter efeitos de maturação precoce é favorável quase sempre, pelo fato de apresentarem um corpo atlético e bonito.

Já as meninas nem sempre recebem muito bem pelo fato de acharem que estão chamando a atenção, ou estão feias, ou até mesmo vulgares e podem vir a ocultar seus sinais externos mais visíveis. Conforme Fierro (1995, p.268): "Supõe-se, de acordo com esse ponto de vista, que a adolescência seja uma época de turbulência, de mudanças dramáticas, de abundantes tensões e sofrimentos psicológicos".

Fierro (1995) também esclarece que a visão de adolescência como uma época tormentosa reforçou-se a partir de formulações psicanalíticas que situavam que, após a fase da latência (dos 5 anos de idade, até a puberdade), um período de tensão especial, onde conflitos que tinham até então permanecidos adormecidos, eram reativados, causando maior complexo e problemas do que na infância.

Se, para alguns jovens, a fase da adolescência é tormentosa e difícil, para outros, esta é fácil, sem complicações, mesmo que esses tenham problemas. Alguns têm facilidade e outros nem tanto para aceitar essa nova situação. É uma preparação para uma época de grandes mudanças físicas e mentais na vida do indivíduo. Fase transitória que passa com rapidez onde se vê a vida com clareza, como ela é. É sentir-se alguém, com independência. É o início para o amadurecimento de tudo. Formadora do caráter e opinião consiste, para muitos, em uma fase complicada, abrangendo inúmeras descobertas.

trazem consigo muitas dúvidas e contradições, tornando a fase mais difícil e complexa. Há um querer libertar-se, encontrar-se no mundo, fazer muitas coisas, aflorar muitas idéias. Viver com uma dose de inconseqüência nesta busca frenética do conhecer-se.

Adolescência é um período único da vida, que envolve muitas mudanças físicas e psicológicas no contexto do indivíduo. Uma fase onde as experiências parecem exigir um aproveitamento maior. Um viver a vida intensamente, desfrutando de cada experiência, sempre agindo com prudência, respeitando os limites exigidos.

Desenvolvimento da personalidade

O tema mais importante da personalidade do adolescente é a busca e a descoberta do EU e da identidade. Ambos se referem a pessoa, a seus gostos, características e expectativas, esse EU e a identidade estão vinculados a história de vida do adolescente. Porém, conforme salienta Fierro (1995), nem sempre o jovem consegue encontrar essa identidade.

Em relação à personalidade do adolescente, Fierro (1995, p.295) ressalta que: "O seu sucesso evolutivo individual depende, crucialmente, de circunstâncias sociais e históricas, que facilitam, ou, ao contrário, tornam muito difícil aderir a determinados estilos de vida e identidade pessoal".

Não é sempre que o adolescente consegue ter uma identidade concluída. Segundo Fierro (1995), essa crise se resolve, ou pode permanecer durante um tempo não muito longo. Conforme Erikson (in Fierro, 1995) sustenta, cada etapa de formação da identidade se correlaciona com determinada instituição social, que, no caso da adolescência, é a ideologia. Fierro (1995) sintetiza essa ideologia como o conjunto de elementos, tais como valores, atitudes, moral, modo de vida, que se referem a uma
identidade psicossocial. Em outras palavras, o problema da identidade não é apenas psicológico, mas também social.

O desenvolvimento da identidade, também referido como o desenvolvimento do EU, possui funções resumidas por Josselson e Loevinger (in Fierro,1995): unificação das representações que o individuo possui à seu respeito; organização das defesas da própria identidade, diante das dificuldades do mundo exterior; estratégias de enfrentamento e adaptação à realidade; adaptação da realidade às próprias necessidades e aspirações; elaboração da memória autobiográfica do indivíduo e a projeção de um futuro satisfatório.

Fierro (1995) ressalta que nem sempre e nem todas as pessoas conseguem alcançar a independência nessa fase. À chegada ao mundo adulto, as responsabilidades trazidas com isso, juntamente com as dificuldades que vêem com o adolescente na aquisição da própria identidade, podem ampliar de maneira significativa a ambigüidade de independência/dependência que caracteriza essa idade. Sebald (1976, in Fierro, 1995) aponta que alguns adultos continuam sendo como adolescentes, constituindo a chamada "perpétua adolescência", que estabelecesse pelo sentimento de inferioridade, incapacidade de tomar decisões, irresponsabilidade, ansiedade, egocentrismo, narcisismo e parasitismo emocional.

A consolidação da identidade do jovem, requer que este fortaleça seus ideais perante as dificuldades e pretensões que implicam a realidade em que está inserido, buscando sempre, a solidificação de um futuro promissor.

Relações sociais da adolescência

Fierro (1995) destaca que logo nos primeiros anos de vida da criança, mais especificamente até a entrada da mesma na escola, a família, pai, mãe, irmãos são peças fundamentais, o grupo mais importante, representam sua única referência.

Quando a criança vai para a escola, ela passa a conhecer novos amigos, pessoas diferentes das de seu convívio familiar, tendo um apego agora não mais apenas com familiares, mas com outros grupos, que vão tomando o lugar da unificação familiar. "A emancipação em relação à família, no entanto, não se produz da mesma maneira em todos os adolescentes. De imediato, as práticas da criação se diferem muito de uma família para outra, não favorecendo da mesma forma a autonomia dos filhos, quando chegam a essa idade" (FIERRO, 1995, p.300).

Outro ponto de ênfase destacado por Fierro (1995), está relacionado à chegada dos filhos à adolescência, associando-se esse momento como o de maior ocorrência dos atritos familiares. O adolescente passa a se distanciar um pouco do seio familiar, a comunicação entre os mesmos diminui, e a distância aparece. Os jovens estão mais independentes de seus pais. Os rapazes são muito mais independentes dos pais que as meninas pelo fato de que a filha pela vida toda mantêm laço afetivo com a mãe.

A autonomia característica da adolescência, associada com o distanciamento das relações familiares, comum em muitos casos, leva o jovem à desviar-se da comunicação com a família, buscando um relacionamento mais fortalecido, permanente e satisfatório com o grupo de amigos e companheiros.

O grupo de companheiros

Com o distanciamento do adolescente do contexto familiar, ele passa a unir-se com seus pares, com um grupo de companheiros. Primeiramente, se estabelece relação com membros do mesmo sexo, tendo hostilidade pelo sexo oposto. Com o passar do tempo eles começam a se relacionar com pessoas de sexo diferente e conseguem formar grupos com os mesmos (FIERRO, 1995).

Na fase final desses grupos, ocorre o início da desagregação, fato caracterizado pelo estabelecimento de laços amorosos entre os membros de sexo oposto, formando um casal.

Apesar de a influência que os amigos exercem na vida dos adolescentes se fazer presente, continua sendo notável a influência que os pais influem nos filhos, se fazendo decisiva nas opções e valores adotados pelos adolescentes. Fierro (1995) considera que no que se refere aos valores e finalidades primordiais da vida, tanto as influências exercidas pelo grupo, como as exercidas pela família tendem a um fortalecimento recíproco, complementando as escolhas do adolescente.

"O adolescente de qualquer maneira, durante toda a etapa continua tendo uma enorme demanda de afeto e de carinho por parte dos pais, em um grau não inferior ao da infância. Pode se mostrar intratável e esquivo, diante de algumas manifestações desse carinho, quando os adultos, em seu afeto, adotam ares de superproteção, mas ainda então o adolescente precisa dele, somente rechaçando sua modalidade paternal ou materialista" (FIERRO, 1995, p.301).

Fierro (1995) ainda ressalta que as contradições entre os valores que o grupo preza e os valores reforçados pela família, costumam afetar os aspectos superficiais do adolescente, tais como: forma de vestir, preferências e gostos, o estilo geral de vida, porém, não influenciam tanto as opções e valores decisivos. É comum que o adolescente observe mais o critério dos pais do que de seus companheiros, em matérias que se relacionam ao seu futuro. No entanto, seguem os ideais de seus companheiros no que diz respeito as opções sobre o seu presente, na realização de seus desejos e necessidades atuais.

Percebe-se desse modo, que o adolescente necessita do apoio dos familiares, bem como do grupo de amigos, embora possa haver um distanciamento do seio familiar na adolescência, a demanda que o jovem busca na família é de tal importância como a requerida pelos amigos. Ambas as relações são fundamentais para a vivência do adolescente.

O grupo e seus diferenciais

Os grupos podem apresentar diferenças entre si, não somente na forma de recrutamento, como na forma de organização, finalidade e objetivos. Porém, todos eles possuem características determinadas, que levaram à seguinte definição de grupo social, proposta por Fichter (1973, apud LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 119): "Uma coletividade identificável, estruturada, contínua, de pessoas sociais que desempenham papéis recíprocos, segundo determinadas normas, interesses e valores sociais, para a consecução de objetivos comuns".

O sociólogo Charles H. Cooley capacitou em seus estudos, no ano de 1909, duas distinções para os grupos, as quais, ele denomina: primários e secundários. A conceituação de grupo primário proposta por Cooley, citado por Davis (1961 in LAKATOS e MARCONI,1999, p.124), ressalta que estes caracterizam-se por uma íntima cooperação e associação face a face: "São primários sob vários aspectos, principalmente porque são fundamentais na formação da natureza social e nos ideais do indivíduo. O resultado dessa associação íntima é, psicologicamente, certa fusão das individualidades num todo comum, de modo que o próprio ego individual se identifica, pelo menos para vários fins, com a vida e o propósito comuns ao grupo. Possivelmente, a maneira mais simples de descrever essa totalidade consiste em apresentá-la como "nós", porque envolve a espécie de simpatia e identificação mútua para as quais o "nós" é a expressão natural."

Lakatos e Marconi (1999) enfatizam que, em contrapartida, as características do grupo secundário, se opõem às do grupo primário. Cooley salienta que as relações no grupo secundário geralmente se estabelecem por contato indireto. Quando estas se dão por contato direto, apresentam-se passageiras e desprovidas de intimidade. A consciência de "nós" é fraca; o contato é secundário e categórico, a participação dos membros é limitada à contribuição que prestam.

Independente de o grupo ser primário ou secundário, a influência da identificação com o grupo sobre a opinião, as crenças e as atitudes das pessoas é existente. Um fator relevante para o grupo exercer influência é a adoção dele como grupo de referência, despertando no indivíduo a identificação psicológica. Lakatos e Marconi (1999, p. 128) explicam essa tese, salientando que: "Pessoas que atuam em situações específicas podem ser influenciadas não apenas por sua posição (status), pelos membros dos grupos a que pertencem, por suas expectativas de comportamento e por suas concepções, mas pelo conceito que possuem sobre grupos de que não fazem parte".

Considerando esta afirmação, muitos sociólogos afirmam que a identificação dos indivíduos com certos grupos de referência, é mais ideal do que real: se dá pela maneira como os membros imaginam que seus componentes agiriam diante de certa situação, " [...] e quando procuram copiar suas atitudes o fazem sob o prisma de sua interpretação das concepções reais" (LAKATOS e MARCONI, p. 128, 1999).

Lacerda (1998) identifica o homem como um ser social, que vive em grupos. Os grupos são diferentes entre si, desde a forma de agir, pensar, se organizar. Existem características dos grupos sociais, as quais são:

. Identificação: o grupo deve ter suas características para poder ser identificado pelos seus membros e pelas pessoas de fora. A identificação apresenta-se como um dos principais fatores causais para a procura pelo grupo da parte dos adolescentes, já que estes, estão em uma busca pela consolidação da identidade.

. Estrutura Social: o lugar que cada membro ocupa em relação a posição dos demais. Em uma tentativa de libertar-se da dependência dos pais, os adolescentes tendem à procurar novos líderes diferentes de seus progenitores. Essa liderança é encontrada em uma figura de identificação e/ou admiração presente no grupo, ou, eles mesmos acabam por se tornar líderes de seus grupos.

. Papéis individuais: condições essenciais para a existência e permanência do grupo. Cada indivíduo tem uma participação determinada. Correspondem à função que cada adolescente exerce no grupo, seja como líder ou não.

. Relações recíprocas: Dentro do grupo seus membros devem estar integrados. Há uma interação e cooperação mútua entre os jovens no grupo.

. Normas comportamentais: padrões que orientam a ação dos componentes do grupo e suas funções. Pode-se dizer dos padrões comportamentais tidos como aceitos pelo grupo, aos quais, o adolescente acaba por aderir e acomodar.

. Interesse e valores comuns: o que, pelo grupo, é considerado bom e é aceito pelos membros do grupo. Corresponde às atividades aceitas, comuns à cada grupo, às quais os adolescentes agregam como comportamentos próprios, e realiza, na maioria das vezes, quando em presença do grupo em que está inserido.

. Finalidade Social: razão de ser, o objetivo do grupo. Em relação ao adolescente, pode-se dizer que dizem às características que levaram esse jovem à se inserir nesse grupo, e o que este proporciona ao indivíduo e o mantêm como membro.

. Permanência: para que o grupo seja considerado, é necessária que a interação entre seus participantes se prolongue durante determinado período de tempo. Um grupo sólido possibilita mais vantagens para um adolescente que está à procura de sua identidade.

O círculo de relações do adolescente tende a ser mais amplo. As relações com os companheiros costumam se enquadrar em três categorias: A "turma" mais ampla; a menor (grupinho mais íntimo), e as amizades pessoais. A turma está presente nas atividades sociais, mais amplas e organizadas. É onde o adolescente encontra-se com mais freqüência. Desenvolve-se um relacionamento um pouco mais íntimo, embora o adolescente não os considere amigos (LACERDA, 1998).

O grupo mais íntimo estabelece uma fonte de segurança e companheirismo. Neste pequeno grupo os membros podem trocar informações, compartilhar sonhos e preocupações, embora não com a mesma intensidade com que ocorre com as amizades pessoais.

As amizades pessoais ocupam um lugar especial nos vínculos dos adolescentes. Elas são mais íntimas, envolvendo sentimentos mais intensos. Há mais franqueza e honestidade do que outras relações. Há menos esforços no sentido de buscar uma aceitação e maior popularidade no grupo. Conger (1980, p. 70) afirma que em tais relacionamentos "[...] há confiança, não há necessidade de simulação, não é necessário ficar em guarda contra a possível divulgação de segredos trocados".

Os adolescentes esperam dos amigos lealdade, confiança, uma fonte segura de apoio em qualquer crise emocional. Os amigos podem ajudar o jovem a lidar com sentimentos complexos próprios e dos outros. Podem servir como uma espécie de terapia, no sentido de haver uma revelação dos adolescentes de sentimentos que em outros casos seriam reprimidos. Proporcionam também uma certeza de que o adolescente não está sozinho naquilo que está passando.

O grupo de adolescentes

A adolescência é o período que antecede a vida adulta, onde não se é mais criança. Nesta fase, o adolescente está à procura do "Eu", nos outros. Por isso ocorre a identificação com pessoas de determinado grupo social.

Embora a construção da identidade se dê desde o início da vida, é na adolescência do indivíduo que ela se define, se encaminha para um perfil mais concreto, fazendo com que essa experiência acabe se tornando um elemento principal na vida do adolescente.

A identidade se organiza por identificações, no início é com o pai ou mãe, depois o indivíduo passa a se identificar com outros familiares, e por fim se relaciona com professores, ídolos, amigos, com a sociedade em geral. "Na adolescência inicial, a identidade se estrutura como uma "colcha de retalhos", na qual cada retalho é um ?pedaço? de alguém, tornando difícil saber com ?quem? estamos conversando no momento... Posteriormente ocorre uma ?amálgama? em que várias experiências de identificação se ?fundem?. Este é um processo lento e difícil, tanto para o adolescente como para os adultos que convivem com ele" (OUTEIRAL, 2003, p.63).

À medida que acontece o desenvolvimento, o adolescente vai se desligando dos pais para se tornar menos dependente e imaturo, tendo relações com pessoas fora do contexto familiar. O grupo de adolescente é o primeiro passo para a busca da identidade e este talvez, seja o mais importante aspecto.

De acordo com Conger (1980), a influência exercida pelos companheiros na fase da adolescência é especialmente crítica. Os companheiros desempenham um importante e decisivo papel no desenvolvimento psicológico e social de grande parte dos adolescentes. As relações construídas nesse período da vida, passam a servir como protótipos dos relacionamentos adultos posteriores.

Conforme o adolescente vai adquirindo independência, seus vínculos com os pais vão se tornando menos intensos, isso acarreta uma maior aproximação com os grupos. O afastamento cada vez mais intenso da família e a ligação cada vez mais intrínseca com o grupo, levam o indivíduo à atribuir uma maior dependência com os companheiros.

Conger (1980) aponta ainda outro fator que influencia a proximidade com os companheiros e distanciamento da família, da parte do adolescente. Trata-se do fato de poder surgir conflitos entre os membros da família. Os conflitos emocionais surgidos nos primeiros anos da adolescência podem conturbar as relações do adolescente com sua família. Há uma dificuldade da parte dos adolescentes em compartilhar os problemas com os pais, o que também contribui para que os jovens busquem apoio nos amigos.

A vivência dos pais em sua própria adolescência é outro fator contribuinte para o sucesso ou insucesso das relações familiares nesta fase. Quanto à esse aspecto, Outeiral (2003, p. 66) salienta a utilidade de conflitos nesta fase, enfatizando que: "[...] ?alguma crise? acontecerá e que, às vezes, ela poderá ser útil, dando nova dimensão às relações, ?reoxigenando?, revitalizando os vínculos familiares". O autor ainda consta que é necessário, quando se trata de adolescência e identidade, referir-se à identificação dos adolescentes com seus pais, e destes, com seus filhos ? fator considerável no que se refere à relação entre pais e filhos, já que diz respeito à identidade que os pais encontram nos filhos, e que estes, encontram em seus pais.

A fase consiste muitas vezes, em um período de desafio e dificuldades, tanto para o jovem que a atravessa como para seus pais. Conger (1980) evidencia esse apontamento, enfatizando as mudanças que estão ocorrendo com o filho, seus pais e o relacionamento de ambos: "Os pais, à sua maneira, também podem estar enfrentando uma "crise de identidade". Os pais do adolescente médio estão entrando na meia-idade. No momento em que seus filhos se aproximam do máximo vigor físico e sexual, os pais estão frente a frente com o fato de já terem ultrapassado seu próprio máximo de esplendor físico e que o resto do caminho significa a descida da montanha, embora suave no início. Numa sociedade tão obcecada por juventude como a nossa ? e tão desdenhosa da velhice ? a perspectiva pode às vezes ser dolorosa" (CONGER, 1980, p.38).

A aceitação do adolescente no grupo, e suas relações íntimas com estes, são de fundamental importância na vida do jovem. "O papel do grupo de companheiros é particularmente importante para auxiliar o indivíduo a definir sua própria identidade: em nenhuma outra etapa do desenvolvimento o sentido de identidade é tão fluído". (CONGER, 1980, p.66). A importância do grupo é tão grande que muitos jovens podem se conformar com os padrões, comportamentos, manias e modismos deste.

Quando o adolescente encontra o "grupo de amigos", a relação é mais profunda, tendo maior sinceridade entre os membros, permitindo confidências e afinidade, o que acaba sendo bem maior com esses pares do que com seus próprios pais. Lacerda (1998, p. 48): "Despem as máscaras, usam da maior franqueza, abrem o coração para a livre expressão da ansiedade ou da raiva, do apaixonamento ou da frustração. Percebem que todos têm o direito de ter problemas, que estes não são desgraça exclusiva de sua pouca sorte. Ora um ora outro acaba exercendo a função de apoio terapêutico, para que o outro não despenque no desespero".

No entanto, nem tudo nas amizades entre adolescentes é um "mar de rosas", como Conger (1980, p.71) salienta: "Em virtude de sua própria intensidade, tais amizades podem acabar com mais facilidade que as dos adultos. [...] Os jovens com o maior número de problemas pessoais podem sentir mais necessidade de ter amigos íntimos, embora sejam menos capazes de os conservar e de evitar mágoas, suspeitas ou recriminações. E mesmo as amizades mais estáveis e reconfortantes entre adolescentes podem cair num vazio apenas porque cada uma das partes está atravessando um período de rápidas modificações de necessidades, sentimentos e problemas que, em sua natureza, raramente coincidirão".

Os companheiros exercem tal importância na vida da maioria dos adolescentes, que a aceitação social é provavelmente um dos maiores impasses para grande parte dos jovens. Poucos adolescentes são imunes as conseqüências da indiferença ou rejeição social. Conger (1980, p. 72) salienta que: "Apenas uma pequena minoria de pessoas muito individualistas, confiantes em seus próprios interesses e objetivos e dotadas de forte senso de identidade própria podem não necessitar ou não buscar a aprovação de seus companheiros".

No entanto, a maioria dos jovens avalia seu próprio valor, baseados nas reações de aprovação e do reconhecimento dos companheiros. Esses adolescentes podem se deixar cair num círculo vicioso, conforme Conger (1980, p. 73) aponta: "Se já tiverem alguma dificuldade emocional, se forem preocupados consigo mesmos e se lhes faltar um autoconceito seguro, provavelmente se defrontarão com a rejeição ou com a indiferença dos companheiros, o que, por sua vez, lhes diminui ainda mais a autoconfiança e aumenta a sensação de isolamento social".

A partir desses apontamentos, é possível concluir que ser aceito socialmente é algo desejável, especialmente se a aceitação estiver vinculada com comunhão de interesses e cooperação.

Lacerda (1998) faz um apontamento em relação à presença permanente em um grupo, ressaltando que as amizades por mais seguras que sejam podem chegar ao declínio pela falta de maturidade de seus componentes. Em geral, os que mais precisam de amizades, são os que têm menos condições de conservar a amizade, pelo fato do descontrole emocional entre outros conflitos.

Segundo Lacerda (1998), o grupo tem função de definir papéis e ajudar na identidade social dos integrantes. Para muitos adolescentes não participar de nenhum grupo, significa o mesmo que estar fora do universo. Os adolescentes esperam quando estão em grupos, que sua participação lhe promova bem estar, experiência, emoções, satisfações e companheirismo. Os componentes do grupo em geral, seguem os seus líderes. Quando estão em grupos, os indivíduos passam a ter as mesmas atitudes, a mesma visão sobre as coisas, isso pode ser positivo, quando através da convivência com os outros integrantes, se desperta um relacionamento saudável, e tendo apoio emocional através das experiências vividas pelos demais.

Por outro lado, não só aspectos positivos são postos. O adolescente por vezes não teria capacidade de fazer algo se estivesse sozinho, mas quando em grupo seria capaz de fazer só para ser aceito pelo mesmo, e essa capacidade de fazer algo que não faria, pode não ser bem visto. Lacerda (1998, p. 50) exemplifica isso, expondo comportamentos relacionados com: "[...] acessos de ódio, gestos de brutalidade, atitudes de desconsideração cruel para com as pessoas, ausência de responsabilidade pelos próprios atos".

Lacerda (1998) ainda expõe que o grupo exerce muita influência sobre o adolescente pelo fato de os membros do mesmo terem gostos em comum. Um exemplo é na escola onde tem uniforme e alunos não usam na rua alegando ser ridículo, só o vestem ao chegarem na escola, e de repente depois da aula quando os mesmos estão na rua se vestem com roupas parecidíssimas o que não deixa de ser de certa forma outro uniforme. Neste caso o grupo não se sente ridículo pelo fato de suas roupas não terem sido impostas por detentores da autoridade. Lacerda (1998, p. 50): "Na tentativa de libertar-se do poder dos pais, ou seja, de defender a própria independência, vão atrás de novos líderes que não sejam seus genitores. Vivem uma cultura provisória, simulação forçada de qualquer coisa que se oponha à cultura dos adultos. Ou então, tentam eles mesmos ser os líderes rebeldes que enfrentam a liderança parental".

Lacerda (1998) ainda ressalta que os costumes aprendidos pelo grupo, na visão de pais e professores, parecem não ter muito sentido, como as vestes, os esportes, as músicas, entre outros. Mas para os componentes desse grupo é como se fosse um passaporte que lhes dá o direito de sentirem-se seguros e integrados. Além disso, tudo pode parecer para eles, um distintivo, que em suas visões os tornam diferentes e individuais diante do mundo.

Nestes casos seus comportamentos podem não ser condizentes com os comportamentos da vida adulta, porque se os fossem seriam considerados comportamentos psicopáticos, como por exemplo, os acessos de ira, ódio, brutalidade, atitudes cruéis com pessoas, ausência de responsabilidade em relação aos seus próprios atos, ficar trancados em seus quartos, entre outros. Porém, um tranqüilizador para os pais e para a própria sociedade, é o apontamento que Lacerda (1998, p; 50) faz, relatando que: "O que torna menos grave tal comportamento nos adolescentes é o fato de ser transitório, tanto quanto o é a própria adolescência".

Estudos apontam que adolescentes que participam de algum grupo restrito, tem maior auto-estima do que os que não participam de nenhum. Tese que é comprovada a partir da citação que Saito (2008, p. 85) faz: "[...] todos no grupo estão no mesmo momento existencial, vivenciando a mesma crise, os mesmos questionamentos. Isso torna cada componente menos frágil, menos solitário, fortalecendo-se a auto-estima [...]. As atitudes impostas pelo grupo passam a ser soberanas, pois dele advém o suporte emocional".
Reforçando esse pensamento, Lacerda (1998, p. 48) expõe que: "A falta desta presença amiga no momento necessário costuma ser motivo para tentativas de suicídio, mais comuns após o dezesseis anos de idade". Com isso, é possível compreender o quão importante é a aproximação grupal na vida do adolescente.

A permanência e aceitação do jovem em um grupo, não se detêm apenas à construção de sua identidade e seu status social, mas também, representam uma fonte de auto-estima, fortalecimento de seus ideais, encontro do seu lugar no mundo. As relações sociais estão inseridas no contexto de cada ser humano, e a presença e solidificação desses relacionamentos durante a adolescência, são fundamentais para uma transição pacífica e tranqüila desta fase tão conturbada.

Considerações Finais

O grupo de amigos representa um fator de grande importância na vida de um adolescente, visto que propicia sentimentos de coragem e enfrentamento diante das situações complicadas, identificação para que o adolescente consolide sua identidade, formação de caráter diante das possibilidades de pensar e agir que adquire com o grupo, companhia para que não se sinta sozinho e desamparado, suprimento para as ausências vindas da família, melhora em suas relações sociais de um modo geral. Portanto, a formação de grupos na adolescência tem sua relevância confirmada na medida que possibilita ao adolescente passar pela fase em questão com confiança, auto-estima e bem-estar.

É notória a repercussão que o grupo de adolescentes causa na sociedade de um modo geral, já que está incorporado no meio social. As ações tomadas pelo grupo, atingem a sociedade mesmo que de uma maneira indireta, portanto, é necessário salientar que a maneira como este grupo estará atuando na sociedade, ocasionará conseqüências marcantes para ambos os lados.

Uma sociedade preparada suficientemente para proceder diante de um grupo de adolescentes, terá como resultados uma colaboração mútua para a solidificação da maturidade adolescente, bem como um convívio social mais harmonioso com aqueles que, segundo já o foi mistificado, representam os indivíduos de convivência mais desafiadora.

O adolescente, por seu lado, sentindo o apoio e espaço que a sociedade lhe oferece, tenderá à crescer e fortalecer-se cognitivamente, podendo contribuir para a construção de um meio social mais cidadão, justo e equilibrado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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. SAITO, Maria Ignez. Adolescência: prevenção e risco. Atheneu, 2 ed. São Paulo: 2008.













Autor: Raquel Guzella De Camargo


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