NÓS JOVENS, PRECISAMOS TIRAR NOSSAS MÁSCARAS



NÓS JOVENS PRECISAMOS TIRAR AS MÁSCARAS QUE COBREM OS NOSSOS ROSTOS, OU NÃO VEREMOS PAÍS NENHUM!

"A gente não sabemos escolher presidente/ a gente não sabemos tomar conta da gente/ A gente não sabemos nem escovar os dentes/ Tem gringo pensando que nós é indigente..."
(Ultraje a Rigor, na música "Inútil", de 1983)

"Diga quem você é[...] Tira a máscara que cobre o seu rosto[...] Ninguém merece ser só mais um bonitinho/ Nem transparecer consciente, inconsequente[...]"
(Pitty, na música "Máscara", de 2003)

Essa música do Ultraje a Rigor continua atualíssima, mesmo depois de tantos anos. O Brasil de hoje continua tendo muito dela, e os cães continuam mordendo!

Num País em que nós, os jovens, fomos confinados ao lugar do prazer e da alegria, muitos de nós acabam manifestando, de forma pungente, certo "mal-estar na civilização". Nós sofremos sem saber disso e não dispomos de linguagem para expressar nossas dores. Falta-nos um sentido na vida. E, concordando com a psicanalista Maria Rita Kehl, achamos que é preciso "preencher tal vazio com o pensamento e o diálogo". Defendemos o direito à rebelião dos que buscam respeito, mas sempre lembrando que o ideal é a convivência sem violência.

O leitor da revista Caros Amigos, Álvaro Cerqueira, na edição nº 159, de junho, em e-mail intitulado "Sociedade Igualitária", afirmou: "Como estudante do ensino médio, digo com a propriedade de quem vive em meio à juventude atual, que esta perdeu alguns dos principais ideais defendidos pela geração anterior. Como indivíduo político, digo que não quero perder nenhum ideal defendido pelas gerações de esquerda (meus pais e avós), que lutaram por uma sociedade mais igualitária".

A nossa temática, a nossa escrita, nesses oito anos, é basicamente a mesma: de protesto contra tudo o que ocorre de errado no nosso País e no mundo: corrupção, desmandos políticos, guerra e violência. O que nós fazemos é guerrilha cultural. Traficamos informação. Sabe aquele espírito amador de faça-você-mesmo, típico do rock?n?roll? Pois é. Crescemos assim, com a ideia de que podemos fazer as coisas. E fazemos! Se alguém quiser nos prender por isso, estamos preparados, nossos advogados juram! O que escrevemos, e publicamos, é para ser lido, criticado ou elogiado, se o leitor achar necessário. E estamos preparados para o elogio ou para a crítica da mesma forma, pois sabemos que, assim como afirmou o documentarista Sílvio Tendler em entrevista recente, "a gente tá dando murro em ponta de faca, sem perder a esperança jamais"...

O grande lance nosso é curtir poesia e curtir música. Quando nós, os jovens mais conscientes, dizemos: "Gostamos de viver perigosamente", podemos estar querendo dizer o contrário, entende? É preciso exercitar a leitura, para perceber a ironia. Há certas coisas que escrevemos e cantamos que precisam ser lidas de forma mais aberta. O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, certa vez disse que "uma postura punk para nos salvar do abismo tem sua razão de ser." Somos revolucionários. Fazemos o que devemos fazer. A nossa proposta é anticomercial. Acreditamos numa ação própria, rápida e direta, desvinculada de qualquer tradição. Imagem não é tudo, atitude é tudo! É como diz a roqueira baiana Pitty na sua música, citada lá no início do texto. Drummond disse certa vez: "Tantos pisam este chão que ele talvez um dia se humanize." Acreditamos nisso, ainda.

Precisamos ter esperança em dias melhores. Uma música famosa do Raul Seixas diz: "Não diga que a canção está perdida/ Tenha fé em Deus/ Tenha fé na vida/ Tente outra vez". E outra do Caetano Veloso, da mesma época: "Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ Morrer e matar de fome, de raiva e de sede/ São tantas vezes gestos naturais". E nessa linha, que mistura esperança e indignação, seguimos em frente, escrevendo nossos textos. Não gostamos do jogo que os partidos políticos fazem, mas sabemos que somos políticos até quando não somos. E sabemos que precisamos participar mais da vida da comunidade. Há associações, entidades, grupos que precisam de pessoas que tenham um espírito comunitário. O doutor Sócrates, em entrevista na mesma edição da Caros Amigos citada acima, diz: "Nós só vamos virar gente, nossa nação, quando tivermos cultura comunitarista. Nós somos muito individualistas, a gente só pensa na gente. Nós temos que pensar na comunidade. O dia que a gente pensar em comunidade, a gente derruba o que quiser, ultrapassa qualquer obstáculo, porque nós somos mais fortes do que um indivíduo."

O grande pacifista e libertador da Índia, Mahatma Gandhi ensinou certa vez: "Cada dia a natureza produz o necessário para nossas carências. Se cada um tomasse o que lhe é de direito, não haveria fome no mundo e ninguém morreria de inanição." Ou, ainda, essa que talvez seja a sua grande lição para nós, os jovens: "Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo." Para ajudar mais no entendimento desses pensamentos de Gandhi, lembremos desse trecho da música da Legião Urbana, que está no seu disco mais famoso, o "As Quatro Estações", e que é uma adaptação de "I Coríntios 13" e "Soneto 11", de Luís de Camões: "Ainda que eu falasse a língua dos homens/ E falasse a língua dos anjos/ Sem amor eu nada seria." O que nos falta é amor! Olha o caso do ex-goleiro do Flamengo, o Bruno: estragou uma carreira de sucesso por ganância e ódio!

E aqui cabe então uma citação do Ray Manzarek, músico, produtor e ex-tecladista da banda The Doors, em entrevista para o livro do Legs McNeil: "Está tudo muito bom, tudo muito bom, exceto que, quando você se torna um homem, tem que começar a maneirar e examinar as profundezas da sua psique. Tem que conciliar seus impulsos freudianos ? meu pai fez isso pra mim, minha mãe fez aquilo pra mim ? e tem que conciliar seus impulsos junguianos pra ser um ser humano completamente integrado. Então você vai estar no comando total do universo." Foi essa compreensão, esse discernimento que faltou ao Bruno e que falta a muitos de nós.

A nossa trajetória de vida é feita de idas e vindas, pelas estradas da vida. Hoje nós somos outros. Vamos inventando as nossas histórias, as nossas trajetórias, e o que lemos, os livros que lemos, vão nos ajudando a construir os nossos textos.

Essas palavras são de um anúncio de uma empresa de materiais esportivos do início da década: "Impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca que prefere viver no mundo como está em vez de usar o poder que tem para mudá-lo. Impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é hipotético. Impossível é temporário." É isso. Achamos que é por aí. Não somos mais os mesmos, e tentamos não viver como nossos pais.


REFERÊNCIAS

CD Warner 30 Anos: Ultraje a Rigor, 2006.

CD Admirável Chip Novo: Pitty, 2003.

CD As Quatro Estações: Legião Urbana, EMI, 1989.

MCNEIL, Legs e McCain, Gillian. Mate-me por favor; tradução de Lúcia Brito ? Porto Alegre: L&PM, 2004. 2 v. (Coleção L&PM Pocket)

Revista Caros Amigos, nº 159, junho de 2010.

(Márcio Melo, um jovem que tenta conciliar seus impulsos freudianos - lendo Freud; e que tenta também conciliar seus impulsos junguianos - lendo Jung!)

Autor: Antônio Márcio Melo


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