O fim da escola
1.) Primeiro, um princípio: o interessado estudioso é autorizado apenas por si mesmo.
2.) Isto não exclui que a Escola garanta que um interessado estudioso depende de sua formação. Pode depender, se quiser, e o interessado estudioso terá a cabeça que a Escola lhe impingir. A escola é dogmática e obedece os ditames estatais. O professor obedece o que o estado manda.
3.) E o interessado estudioso pode querer esta garantia, coisa que, a partir de então, deve necessariamente ir além. Ou honra o que lhe formam (deformam) ou rompe com tudo logo em seguida.
AUTORIZAR-SE. AUTORIZADO APENAS POR SI MESMO, é via alternativa à Formação em Qualquer Instancia de Estudo. A escola está envolvida em gradativa burocratização, transformando a Formação ao campo da "eficiência", daquilo que será útil no mercado, favorecendo aos grupos já estabelecidos, tornado a instituição um campo estéril ao saber.
O que se DESEJA é a via capaz de dar espaço para que os princípios dos saber e da liberdade de pensamento ressurjam, fecundando com seus efeitos a possibilidade da autonomia da pessoa. Ser autônomo é estar livre inclusive livre de qualquer liame com a sociedade estabelecida.
AUTORIZAR-SE, não quer dizer que não se precisa mais de todo o "esforço" do estudo, da preparação, do autodidatismo, da pesquisa. O interessado estudioso buscará por si esta formação. O interessado estudioso deformar-se-á de acordo com seus interesses e não com o interesse da Escola.
AUTORIZAR-SE é tentativa ousada de se descolar do poder institucionalizado, gessante, livrar-se das Escolas fascistas, e, com liberdade e consistência buscar os fundamentos teóricos e as raízes estruturantes do universo do saber. AUTORIZAR-SE: sinônimo de tarefa árdua, intelectual e afetiva; não mais o diploma que garante seu saber, mesmo não o tendo. O AUTORIZAR-SE determina que a pessoa conhece-se a si mesmo. A grande biblioteca mundial provê e proverá o interessado estudioso. É o fim da Escola de qualquer graduação e qualquer instância.
ESCOLA/MUSEU: acúmulo de livros, acúmulo de professores à espera, acúmulo de papel, depósito de pessoas, poder político das instituições sobre seus membros, relações de servos de cabeça baixa a obedecer ditames de Diretorias.
AUTORIZAR-SE é resultado de: 1) campo teórico, inovador e ousado, abertura da Escola, derrubada dos muros como queria Ivan Ilitchi, para o mundo de forma profunda, libertária, abrindo janelas e portas para alma humana; 2) campo sobrevivência política e prática, onde o aluno foge das garras dos professores que querem aplicar seus testes e provas, fogem da (de)formação, ou formatação de cérebros.
AUTORIZAR-SE, é bom observar, não se abre mão do papel da auto/instituição.
AUTORIZAR-SE APENAS POR SI MESMO e o TER A GARANTIA DA auto/INSTITUIÇÃO de saberes. AUTORIZAR-SE é diferente de FORMAÇÃO. São dois momentos, não necessariamente cronológicos. Você pode se autorizar e se formar depois. O importante livrar-se da instituição e que isso se proclame como questão universal.
AUTORIZAR-SE: efeito de um desejo pessoal.
FORMAÇÃO, situada no campo do estudo, amarrada ás bibliotecas e estudiosos mundiais atravessada, pela prática de leitura e experiência constante, formação constante e ininterrupta.
AUTO/INSTITUIÇÃO: todo grupo que se reúne para ler, discutir e interpretar os textos fundamentais ou outros relacionados a estes, viabilizando o ambiente para a Formação.
Uma das principais riquezas teóricas reside nesta não aceitação de modelo acabado de civilização; pensa-se no estado de permanente aperfeiçoamento da civilização ou sociedade, diz o estudo de José Gomes.
A Escola deveria ser rebelde e tornou-se acomodada.
A Escola deveria ser audaciosa e tornou-se pau-mandado do governo.
A ESCOLA: fonte de ideologia revolucionária e não como fonte de mão de obra para trabalho em riqueza alheia; diferente de uma relação entre os membros de uma ESCOLA com a mesma, na qual estes pagam e em troca recebem seus serviços, O QUE SE DESEJA É QUE os membros da ESCOLA serão seus novos mestres, caso os interessados estudiosos se interessem por isso... livres e escolher. "TORNAR-SE RESPONSÁVEL PELO PROGRESSO DA ESCOLA".
Há, sabemos, a tendência à oligarquia no poder dentro de qualquer aglomerado humano. O aluno se tona professor e descentraliza-se o poder com alternância eficiente. O aluno ? interessado estudioso, escolhe seu professor, preceptor, guru, mestre.
TORNAR-SE professor DE SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA.
TORNAR-SE RESPONSÁVEL PELO PROGRESSO DA ESCOLA.
O Sujeito Suposto Saber comanda a trilha da obtenção do saber. Não se deseja saber se este ou aquele conhecimento é útil para a sociedade como um todo, mas se oi é para ao indivíduo. E a soma dos indivíduos faz o todo.
Após um período importante de estudos ou formação, surge o desejo de ser mestre, guru, professor, expert.
A prática de leitura é importante componente que forja este ser do saber.
Transformar o que vinha antes na aterrorizante forma de sintoma, em valiosa matéria prima para a Formação, pode ser, em parte, o que Lacan diria, - adaptando sua fala à formação fora da Escola, - com o "tornar-se MESTRE de sua própria experiência", citando Lacan e José Gomes.
Autor: Maestro Marco Antonio Coelho De Moraes
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