A História Da Vida De Joãozinho
A HISTÓRIA DA VIDA DE JOÃOZINHO.
PAI:
Joãozinho, acorda, já é cinco horas, temos que ir trabalhar.
JOÃOZINHO:
Há pai é muito sedo e eu estou com muito sono.
PAI:
Levanta já daí moleque, temos que plantar se não vai morrer de fome.
JOÃOZINHO:
Pai eu estou com os pés todos furados de espinhos, não estou agüentando.
MÃE:
Há meu filho você tem de ajudar seu pai, vou enrolar uns panos em seis pés e isso vai ajudar a não doer.
PAI:
Joãozinho, como você cortou este pé de milho?
JOÃOZINHO:
Há pai eu não vi, estava atrás do mato.
PAI:
Você me paga moleque, vou dar-lhe umas cabadas de enxada na cabeça para você enxergar melhor e não cortar mais as plantas.
MÃE:
Homem! Já são oito horas da noite e você está chegando esta hora da roça?
PAI:
Saímos da roça escurecendo, é porque a distancia é longe.
MÃE:
Veja o coitadinho do menino já está dormindo ali no chão, vou colocar ele na esteira para dormir amanhã ele come.
PAI:
Acorda menino temos de ir trabalhar.
JOÃOZINHO:
Há pai estou com sono e muita fome.
PAI:
Mulher, veja se sobrou algum resto de fruta pão e dê a este menino que eu não posso perder tempo.
NÃE:
Há sim sobrou um pouco de sopa de fruta pão, vou esquentar para ele.
PAI:
A sim aproveite e chame a Alzira, vou levar ela também para ajudar, porque esta semana quero terminar aquele serviço.
MULHER:
Homem estes meninos estão crescendo, a professora veio aqui ontem e disse que temos que colocarem eles na escola, se não eles vão ficar burros que nem nós.
PAI:
Que nada mulher, até hoje não precisei de estudos.
MULHER:
É mais até hoje nunca teve nada, se que nunca pode comprar um sapato nem para você, quanto mais para seus filhos.
JOÃOZINHO E ALZIRA:
É mesmo pai, os colegas zombam de nós porque andamos descalço.
PAI:
Está bem vou colocar o Joãozinho na escola porque ele é homem, mas as mulheres não precisam de estudar não, logo elas crescem e vão se casar.
PROFESSORA:
Bom dia senhora, vim aqui, procurar saber se não vão colocarem seus filhos na escola?
MÃE:
A sim professora, falei com meu marido sobre isto, e ele disse que vai colocar só o menino, depois da aula ele tem de ir ajudar ele na roça.
MÃE:
Joãozinho, vai para a escola, e na hora do recreio você vem colocar arroz na pedra pra secar e lavar as vasilhas para mim.
JOÃOZINHO:
Mãe, não vai dar tempo pra tudo isso.
MÃE:
Olhe, e tem mais uma coisa , quando terminar as aulas vem direto pra casa, você tem de levar almoço para seu pai e se chegar atrasado já sabe, vai apanhar.
PROFESSORA:
Olhe senhora, o Joãozinho já está com oito anos, já passou da idade para começar a estudar, e depois entrou na escola no meio do ano, é possível que ele não passe de ano.
PAI:
Menino vagabundo, a comida já está fria e azeda, vou lhe dar uma surra pra você aprender a não ficar brincando na estrada.
PROFESSORA:
Olhe pai, seu filho não tem condições de passar de ano e estou achando ele muito triste porque seus coleginhas riem muito dele por estar sempre descalço e com estas roupas de chita todos os dias.
PAI:
Que nada, moleque é assim mesmo, e demais eu tenho nove filhos, não poço comprar calçados e nem roupas melhores para eles.
MÃE:
Joãozinho, pegue seu caderno e vai fazer as tarefas que a professora mandou.
PAI:
O moleque está dormindo em cima do caderno, vou dar umas cadernadas na cara dele que ele toma vergonha.
MÃE:
O homem não faz isto, o coitadinho está cansado de tanto trabalhar.
PAI:
Levante moleque e vai dormir que amanhã você tem que acordar cedo para ir a escola.
PROFESSORA:
Joãozinho, não durma na aula, você tem de dormir de noite e não na escola.
JOÃOZINHO:
A professora, é que chego todos os dias da roça às oito horas e ainda tenho de fazer as tarefas.
PAI:
É Joãozinho este ano você termina a quarta série e vai ficar melhor que o ano que vem você pode me ajudar o dia todo na roça.
JOÃOZINHO:
Mais pai! Eu quero estudar mais como os outros meninos.
PAI:
Deixe de ser bobo moleque, não está vendo que eles são ricos e seus pais podem pagar estudo para eles. E nós como vamos pagar.
JOÃOZINHO:
O pai, em outros lugares tem escolas do governo e é de graça.
PAI:
Deixe de besteira moleque, que estudar que nada, até hoje eu não estudei e estou vivendo.
JOÃOZINHO:
Mãe, o pai não quer deixar eu ir estudar, eu vou embora para estudar em outro lugar.
MÃE:
Meu filho não me de este desgosto,eu não vou agüentar sem você.
JOÃOZINHO:
Não mãe, sempre virei te visitar.
MÃE:
Está bem meu filho se é assim que quer.
JOÃOZINHO:
Bom dia seu Arlindo, o senhor deixa eu morar aqui para eu estudar.
ARLINDO:
Olhe menino, pra você ficar aqui já é uma complicação com seu pai. Vou deixar você ficar até arrumar um lugar.
JOÃOZINHO:
Bom dia seu Vivaldo. O senhor podia arrumar um trabalho para mim para eu morar aqui e poder estudar a noite.
VIVALDO:
Bom, posso até arrumar um trabalho para você, mas é o seguinte, vai ter de levantar às três horas da madrugada para tirar o leite e depois durante o dia fazer alguma coisa.
JOÃOZINHO:
Pra mim está bom, o que eu quero é estudar.
VIVALDO:
Acorde rapaz, já são três horas.
VIVALDO:
Joãozinho, só tem um cavalo e nós vamos ter de levar o gado para a outra colônia ok.
JOÃOZINHO:
Vamos seu Vivaldo então vamos tocar o gado.
VIVALDO:
Vamos Joãozinho cerque esta vaca seu idiota.
JOÃOZINHO:
Olhe seu Vivaldo, ninguém ate hoje precisou gritar comigo, e o senhor estava acavalo e não cercou a vaca, acerte minha conta que vou embora.
VIVALDO:
Pra onde vai menino? Deixe de bobagem fique aqui, você é um bom menino.
JOÃOZINHO
Não seu Vivaldo, não vai dar certo, eu vou para a casa do seu Arlindo ajudar ele apanhar café.
VIVALDO:
Está bom Joãozinho, se você quer assim, vou levar o dinheiro para você na escola a noite.
JOÃOZINHO:
Bom dia seu Arlindo, tem serviço pra mais um ai?
ARLINDO:
É claro que tem, o café está quase seco e preciso apanhar ele logo.
(uma semana depois) JOÃOZINHO:
O seu Arlindo, uma cobra me mordeu e minhas vistas estão escurecendo.
ARLINDO:
Vamos descer a cerra e você vai tomar uma injeção na venda do Vergílio e isto vai melhorar.
JOÃOZINHO:
Seu Arlindo, estou sentindo uma fraqueza danada.
ARLINDO:
Olhe rapaz, não posso ficar com você aqui em casa sem fazer nada, você vai ter que se virar, arrumar um serviço por ai.
JOÃOZINHO:
Bom dia seu Henrique. O senhor não tem um trabalho ai para mim?
HENRIQUE:
Olhe meu filho, serviço tem muito, mas do jeito que estou vendo você não vai agüentar muita coisa.
JOÃOZINHO
Há, seu Henrique, o que quero é um lugar para ficar e comer, não importo com salário no momento.
HENRIQUE:
Se for assim está bom pode ficar.
Autor: João do Rozario Lima
Artigos Relacionados
September, 11: Farenheit
Na Vida...
Novos Tempos
Não Deixe Esta Vida
Avis Rara
Sombra & Luz
Gata Mineira