O VASO CHINÊS



Afinal, depois de viver anos com os filhos no que considerava e considera um cárcere ou uma espécie de Auschwitz, o casamento havia acabado definitivamente, nunca, nunca mais haveria aquele holocausto na vida deles.

Que paz!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Vibraram os três : ela e os dois pequenos apenas na idade, pois já sabiam muito da vida ,principalmente o lado cruel da incompreensão, do autoritatismo e do egoísmo humano.
Na casa, ficaram eles e a secretária que se tornaria por um bom tempo, a melhor amiga!

Ela quis realizar seus sonhos de decoradora, trocando o sofá , algumas peças, até que finalmente encontrou e comprou o maravilhoso "vaso chinês", dourado com figuras típicas da cultura chinesa que a bisavò materna havia ensinado a adorar.
Colocou-o em uma mesa de canto da sala, sozinho, imponente, imperador.
Um orgulho.
Estava mesmo mudando a sua vida. Masssssssssss começando pelo exterior.

Estava errada!!!!

Por inexperiência , solidão, carência e muito mais pois a família lhe virou as costas completamente.
Por íncrível que pareça o único a se importar com eles,durante algum tempo, foi o sogro.

Voltando ao maravilhoso vaso:
Avisou aos menininhos quanto aos cuidados que deveriam tomar:
- foi caro;
- era raro ( nem tanto);
- nao queria brincadeiras perto dele!
- ah se ele quebrasse!!!!!

Na época ,ela estudava á noite e fazia estágio pela manha .
Ironia do destino: era estagiária dele , o "ex".
Mais uma forma de vigía-la, podá-la ameaça-la e humilhá-la.
Tudo era aceito pelos três, desde que ele nao voltasse para casa e cumprisse o acordo de separação (feito por ele e injusto. Mas novamente , TUDO era aceito pela paz).

Um dia, ele entrou na sala onde trabalhava junto ao cartório e pediu para que o acompanhasse até seu gabinete.
Ela nao estranhou. Seria mais uma advertência, mais uma ameaça, mais uma reclamação sobre os meninos ou sobre ela mesma.
Foi então que ouviu o inusitado:
-Olha, acho que seu vaso chines quebrou rs .
-Como? ( ele nao sabia do vaso??)
-Isso mesmo, o Julinho ligou aqui muito muito nervoso pois brincando na sala com a Larissa ( vizinha de porta) esbarraram no vaso, e ele se foi. Pediu para eu te contar e acalmar.

Aquelas palavras ditas com ar de vitória tiveram vários significados para ela, entretanto, o mais importante e devastador foi que eles ( seus menininhos) tinham pedidos ajuda a "ele" por que, no mínimo ,ela os assustou demais por causa de um enfeite.

Sentiu-se um lixo.

Era apenas um adorno . E colocou em xeque toda segurança que tinham nela, buscando ajuda onde nunca haviam buscado , muito antes o contrário. Aquele telefonema denunciava desespero!

Lembrou-se na mesma hora do escandalo que ele havia feito quando o mais velho chutou uma bola e essa bateu no lustre da varanda da casa de praia e o quebrou.

Detalhe: o lustre era uma bola de vidro no valor de r$3,00.

Sendo o suficiente para que fossem os três dormir como se tivéssem quebrado um cristal valioso da Boemia e o que é pior, teríam feito de propósito, para aborrecê-lo. (a culpa de tudo que nao ocorria como queria era sempre dos três).

Ah...!!! Detalhe bem mais que um detalhe: ele, o filho que chutou a bola, tinha 03 aninhos.

Que dor no coração ela sente até hoje , anos e anos depois.

Voltando aquele momento:
Nao foi à aula .
Chegou em casa e nao disse nada, absolutamente nada!
Eles contaram o que havia ocorrido e, pelo que percebeu sem nenhuma proteção, a verdadeira culpada havia sido Larissa. Deixou para lá... Pois seus pais nao se manifestaram. E ela sabia que nao houvera maldade e sim descuido natural em crianças.

Colocou sua pequena família no carro e foram todos ,aquela noite ,ao Mc Donald com direito a comerem o quisessem, e nenhuma reprimenda foi feita. Nao se tocou mais no assunto.

O cacos foram jogados no lixo, e ainda hoje, ela busca nao assustá-los com avisos e cuidados que nao sejam muito muito relevantes.
A sensação de ter feito eles sentirem pavor, medo ,mesmo que por alguns momentos, é culposamente doída e está bem viva dentro do peito.


Na hora de dormir, o juramento eterno e mais importante de sua vida:

Nao deixaria nada nem ninguém abalar a confiança e lealdade que eles depositavam nela.

Angélica
Autor: Angélica Alvarenga Fantauzzi


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