Reconciliação



O choro é ininterrupto. As lembranças de Lúcia são intensas e confusas, jamais esquecerá aquela noite conturbada e solitária em que seu riso foi cortado. Na cama desarrumada, está jogada, onde vislumbra a janela fechada, fixa, intacta e hermética. No alto da parede um relógio marca 02h30min da madrugada. Milhares de pensamentos permeiam sua mente como se voltasse no tempo, como se quisesse saltar para fora de si, repleto de ressentimentos, dúvidas, revolta. Arrependimento talvez. Pois são obscuros e não é possível defini-los, Lúcia apenas pode os sentir doer.
Seus olhos procuram um canto da parede para lembrar-se dos instantes vividos de eterno prazer, e por um momento parece balbuciar em seu pensamento, como em busca de reativar o passado:
-Amor, que horas são?
E a resposta é feita com um sussurro ao ouvido:
-Porque medir o tempo se estamos na eternidade!
E uma aparência de sorriso irradia o rosto de Lúcia, mas logo se recorda dos acontecimentos do início da noite e o choro continua.
Aos poucos, sente sede e procura a jarra e um copo ao lado da cama, mas a desordem os encobre, um vendaval de ira humana estivera ali... Tudo quebrado! Esquece a sede para não interromper sua dor e de volta ao seu casulo de desilusão ao olhar uma fotografia que estava ao chão, analogamente como se sentia, no chão.
As pessoas na foto pareciam-lhe estranhas, era ela com cinco anos a menos, e Estevão, o homem sorridente e com rosto singelo, que ela conhecera, casara e amara até aquela noite... Os perdidos olhos fixos naquela foto eram gradativamente mais agressivos e o sentimento veemente que a dominava era de um arrependimento. Um querer exacerbado de voltar no tempo e mudar aquele execrável presente. O sono como um companheiro aos poucos a tomou nos braços para descansar. Quando de repente, na porta entreaberta ela ver um vulto. Um simples alguém molhado pela chuva. Depois de contemplar por alguns segundos reconhece que é o mesmo a quem estava a olhar na foto com repulsa, e saudade, quem sabe?
A surpresa foi tanta que permaneceu inerte, a única coisa que se moveu nela foi à pupila dos olhos para observar Estevão ajoelhado e quieto aos seus pés. Os olhares se encontraram e por minutos permaneceram calados. Até que ele, com lágrimas misturadas ao orvalho da noite, rompe o silêncio e fala:
-Perdoa-me!
Lúcia ainda inflexível não responde, estagna os pensamentos, somente os sente, e não os entende.
Estevão consciente do erro insiste. Mas Lúcia contesta:
-Pensei que me amava!
-Mas, eu amo e por isso voltei a tempo de dizer-te que foi bom ter ido...
-Hipócrita!!! (Lúcia deixa-se exaltar e grita várias vezes) Cínico.... Como foi embora e me deixou?
- Procurei um beijo com o sabor do teu, mas não encontrei... Por isso voltei!
-Vou viajar ao amanhecer, e nunca me verás novamente!
-Sei, e não te julgo por isso, porém, quero que saiba que criarei raízes a tua espera, até mesmo quando não mais voltar. Não esqueças!
-Eu não acredito! Eu...
-Não fale, mas saiba que eu precisava ir como fui, para saber, para arriscar, para sofrer tua perda e me converter. Nos meus passos incertos descobri um domínio forte em mim, que se não tivesse arriscado jamais descobriria, agora o chamo de amor.
-Estevão tu sabes que teus erros me deixaram máculas que me transformaram a vida e não posso mais... Não!
Lúcia foi surpreendida por um beijo. O amor domou o ódio e o desencantamento.
Talvez não valesse a pena uma segunda chance na vida, mas é impossível saber o fim, por isso ser flexível é buscar a felicidade enquanto durar o infinito.

Ass: S.M

Meus amores
Ele beijou-me de maneira que nunca esqueci...
O outro me toca a mão e sinto seu afago suave
Aquele me negou carinho quando mais precisei
Este desde que chegou fez-me cativa.
O primeiro nem lembro seu perfume, porém reconheço seu olhar
Este de olhos enigmáticos logo deixa mistério no ar
Aquele as promessas inúteis me fizeram chorar,
Entretanto, este seu símplice falar soa seguro...
Ainda que num dia qualquer, me mentisse,
E eu independente seguisse; ficaria em ti o meu último sonho de amor...
Porque os fracassos de amar me sugam a alma. E simplesmente desisto!

Portanto, meus amores, conforme a música, eu procuro bailar...
E à proporção que amo também morro.
(SM)
Autor: Samily Bernardo De Macedo


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