AS CARTILHAS E A ALFABETIZAÇÃO



AS CARTILHAS E A ALFABETIZAÇÃO

É surpreendente perceber que na educação não existe verdade absoluta nem tampouco uma receita pronta de como educar corretamente. É preciso sempre dedicação, bom senso, e bem, além disso, sensibilidade para perceber as limitações e as capacidades de quem aprende. Digo isso por que o uso da cartilha exemplifica bem isso. Método utilizado há algum tempo para alfabetização que, à primeira vista, teria tudo para ser perfeito e parecia mesmo que iria dar certo, mas seus resultados se mostraram contrários às expectativas. Os índices de reprovação na 1ª série eram altos, cerca de 50% da turma, mas, mesmo diante das evidências de que o método não era tão perfeito assim, os professores passaram a atribuir o fracasso aos alunos repetentes.
Afinal, qual era a estratégia de ensino da cartilha? Em que era baseada? Quais suas principais falhas? Até cerca de 1950 as cartilhas enfatizavam a leitura, procurando ensinar o abecedário, sendo a leitura desenvolvida através de exercícios de decifração e de identificação das palavras. Dessa maneira os alunos aprendiam as relações entre letras e sons, seguindo a ortografia da época. As referências do escrever e até falar bem era a imitação de bons e famosos autores da literatura. Mas a fala culta não era absoluta entre todas as pessoas, existiam dialetos diferentes que eram atribuídos às crianças menos favorecidas tanto de recursos materiais quanto culturais na vida familiar, levando a escola a se dedicar à alfabetização desses alunos. Portanto, na década de 50 a ênfase passou a ser na escrita do aluno, na sua produção, não mais na leitura.
Diante da situação a escola resolveu investigar os erros desse modo de alfabetização e uma das principais observações era a de que as cartilhas eram muito esquemáticas, por isso muitos professores podiam não estar sabendo utilizar-se dessa ferramenta adequadamente. Foi dessa maneira que surgiu o manual do professor, que por sua vez não resolveu o problema, pois diz o que deve ser feito entre o aluno e o professor, ou seja, o professor deveria ensinar o aluno a responder o que estava no manual, não aceitando nem tampouco considerando nenhuma outra resposta. Pelas evidências, o professor não está devidamente preparado sendo agora atribuição de a universidade prepará-lo melhor. Muitas teorias surgem, mas o professor ainda não assume essa responsabilidade no que se refere à sua própria formação.

BREVE PANORAMA DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

É importante que o professor conheça os diversos tipos de métodos para se utilizar de algum com a consciência de um objetivo já pré-estabelecido. Como já foi dito anteriormente, não existe método perfeito nem tampouco fórmula pronta, receita, para uma alfabetização que atinja todos os níveis de necessidades. A aprendizagem é variável de pessoa para pessoa, o que parece óbvio para uma pode não ser assim para outra. O ritmo de aprendizagem é inerente ao ritmo de ensino. Nem tudo o que se ensina, se aprende, e é justamente onde está acontecendo o maior erro dos métodos, supondo que a aprendizagem ocorre automaticamente.
Os métodos, de modo geral, baseiam-se em dois métodos básicos: Método de ensino (método 1) e Método de aprendizagem (método 2). Dai então, segundo sua argumentação, os métodos são intitulados, a exemplo do construtivista, mecanicista, método fônico, entre outros. É bom ressaltar que tanto o método 1 quanto o 2 serve para qualquer atividade de ensino e de aprendizagem, mas a síntese trata da alfabetização.

O MÉTODO 1

O método é baseado em partir do zero sem importar necessariamente onde o aluno está. Os planejamentos são feitos com bastante antecedência sem que o professor tenha ao menos a menor curiosidade de conhecer seus alunos antes. Portanto, cada aluno terá que corresponder ao conteúdo de que qualquer jeito, quem não conseguir o problema não é do professor.
O estágio supervisionado nos anos iniciais me deu uma vivência desse método. A escola que fiz o estágio tinha essa concepção de educação, e confesso que isso me entristeceu bastante. Se parece grave apenas discutindo sobre o assunto, vivenciando dá uma maior dimensão dessa forma de metodologia por si só. Alguns alunos liam bem, outros nem tanto e outros, nada; ou seja, uma sala totalmente heterogênea para uma metodologia apenas. O resultado já parece previsível, mas muito mais do que simplesmente ver o aluno estagnar em sua ignorância era o fato de lhes serem atribuídas as falhas de aprendizagem, ocasionando uma baixa auto-estima e o estigma de que os perseguiam daquele momento em diante.
O método consiste em formar palavras através de pedaços, e nesse jogo de montar e desmontar palavras, muitas das vezes o aluno nem sequer sabe o que está escrevendo, ficando até feliz por achar que aprendeu a juntar palavras, quando o professor vê alguma palavra montada incorretamente, na maioria das vezes com palavras que não existem o aluno percebe que não aprendeu, e dessa forma o professor passa a culpa pelo fracasso ao próprio aluno.
Quando o aluno consegue superar essa etapa da aprendizagem passa a fase do já dominado, ou seja, ele terá que ter aprendido já um número considerável de palavras. As que ele já domina ele põe em prática através de ditados e até frases, mas logo se percebe o verdadeiro domínio que este deveria possuir, esse aluno raramente chega a descobrir como o sistema de escrita funciona, ou seja, continua analfabeto e quando lhe é exigido que aplique o que o professor acha que ensinou é que fica evidente a falha desse método.
Outra característica do método é da hierarquia do fácil ao difícil e o controle rígido da avaliação, onde os erros são mais importantes que os acertos, por que é dessa forma que o professor, dentro da perspectiva do já dominado, irá mostrar o que ele não "aprendeu". Se o aluno erra, repete a lição, a repetição é a mola mestra desse método. A fixação é feita através de cópias e ditados, a maneira mais comum de fixação, porém, é a cópia. Fica claro então, que nesse método o erro serve para indicar que o aluno não dominou certo conhecimento, erro este que o método não sabe como resolver, ignorando-o e ensinando apenas o certo, sem ao menos discutir o erro. Portanto, o método um é um excelente método de adestramento.

MÉTODO 2

Por ser totalmente diferente do método 1, é baseado na aprendizagem e na reflexão, e a situação inicial de cada aluno é diferente, é levada em consideração a história de vida de cada um e também seus conhecimentos.
Para conhecer seus alunos o professor conversa bastante com eles, avaliam lhes entregando folhas de papel em branco para que desenhem e até mesmo escrevam se tiverem vontade. O professor almeja conhecer as particularidades de cada aluno para que possa elaborar sua estratégia de ensino adequadamente à realidade daquele grupo. Ele quer melhor se preparar para buscar uma prática de aula para uma turma que ele reconhece e trata como heterogênea.
O professor já não é mais o detentor do saber, ele será agora um mediador, ajudando seus alunos a construir seus próprios conhecimentos e quando acontece o erro, esse professor volta atrás e repete tudo novamente, que pode ser repassado agora de outra maneira, até que se obtenha um entendimento. A concepção de aprendizagem do método 2 baseia-se nas decisões que o aluno toma, considerando as explicações que recebeu, aqui ele aprende a aprender e a avaliação, por sua vez, considera a história, a evolução e o desenvolvimento contínuo de trabalhos realizados em sala, o professor quer saber como esse aluno está construindo seu próprio conhecimento.
É evidente que essa maneira de ensino exige maior preparo do professor, e deve estar ai o impasse da maioria dos problemas vivenciados no sistema educacional brasileiro. No método 1 essa competência fica camuflada, segue-se um manual que pouco importa seus reais resultados, não são questionados por quem se acomoda a esse único estilo de alfabetização. Essa atitude empobrece cada vez mais a qualidade e as expectativas de uma verdadeira educação.
O método dois no início parece desordenado enquanto o método 1 só evidencia suas falhas no resultado. Além disso, no método 1 o aluno aprendem primeiro a escrever e no 2 a ler, para depois a escrever e ai sim, posteriormente aprenderá sobre ortografia.





Autor: Jéssica Eleodoro


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