Flaino



A leitura adequada de todo poema comporta alguns requisitos:
1.Leia-o várias vezes e atenciosamente. Procure ouvir suas particularidades. Não tenha receio de lê-lo em voz alta.
2.Procure ler o que está escrito, e não aquilo que você gostaria que estivesse escrito.
3.Cuidado com as associações e sugestões! Não ultrapasse os limites da obra. Você deve redimensioná-la e iluminá-la, mas mantendo-se dentro dela o tempo todo. É nela que estão todos os elementos para a sua interpretação.
A seguir, indicamos alguns livros que poderão ser proveitosos àqueles que quiserem se iniciar no estudo analítico do poema. A leitura de livros como estes é indispensável para a compreensão teórica adequada de elementos como sonoridade, rima, ritmo, imagem, figuras de retórica, entre outros, bem como para entender a diferença entre poesia e prosa. Lembre-se de que estes livros também trazem a bibliografia utilizada pelos autores, cuja leitura recomendamos.
De José Carlos Tréssino,
Flame. Faminto. Flaino.

O Evangelho!

A José Saramago.

Esse livro que exige especial atenção,
Requer também uma outra cousa, mas, senão;
Entender esses meandros e sua elocução,
E, muito se despojar e rever tal ilusão!

Eis que ele descrevendo, como se viu, os fatos,
Talvez porque, deveras, assim ocorreram,
Relata-os tão bem, como sendo retratos!
Que na sua mente pródiga, assim reviveram.

Por isso a nós convém, o deliciar-se dele:
Ao lado caminhando, sem se estarrecer!
E sem que, porventura, conviesse que ele,
Vivendo sua história; devesse não Crer!


O dia da morte de José Saramago. 18/06/2010

Então converso: diga, dói tal morte?
Como com parte de você vivi;
Tal qual memória sabe, sim, consorte!
Mas eu vejo-o a si!

Assim para ambos, para a morte não!
E a todos nós que refletimos tanto;
Esse muito sofrer não é em vão
Pois perde a língua todo o seu encanto!


Passeio

Vida dura a daquela e quem pode julgar?
Uma fonte de vida e amargo cantar,
Qual sinuca de bico a do trottoir
Das amadas mulheres e bolsa a virar;
Essas idas e vindas é muito chorar!


Bolo de chocolate

Sentindo o cheiro doce, esse doce cheiro,
De amargo sabor bolo de chocolate;
Recordo-me entrando e correndo entre
O forno e o amargor de minha doce alma.

Procuro saciar meu carente desejo;
Ouço o meu passado, ouço um sorriso!
E ouço docemente e amargurado,
A pequena lembrança; ouço a saudade,
A gula sem maldade; e sinto-me criança!


Mãe

Só... Minha alma regozija-se.
Feliz! Minha alma angustiada,
Chora tua ausência!

Verdade dolorosa...
Existe e não a vejo.
Ausente é teu beijo.

Sentimento... Resplandece!
O espírito esvaece...

Manifestam em meu ser.
Incertezas, quimeras.
Onde estás?

Mãe.
Amada mãe...
Quanta dor em te perder!



Ausentes Tamoios!

"Não chores meu filho"
Chores, se pensas que deve;
Sem refletir; quem descreve,
A notável escultura!

"Escuta-lhe a voz!"
Recorra, busque sua gênese;
Erga junto a quem padece,
Outros tempos de bravura!

"Retumbe aos ouvidos"
Por ferir então o joio;
O vigor do forte trigo
Coube a ele separar!

"Tranqüilo nos gestos",
Em alto brado! Tamoio!
Combatendo o inimigo
Sem temer pelo perigo
Fez-se Nobre ao guerrear!

"Teu nome lhes diga",
Filhos; quais são os inimigos,
Propagados há este dia
Já que é muda a poesia?

"Teus feitos memoram",
Sem coragem, há perigos,
Não convém deles lembrar;
E sendo muda a poesia;
Relembrando belos dias,
Só resta aos filhos chorar!

Pânico

Relaxado à cadeira, macambúzio:
Um corpo contamina-se ao inerte;
Mendiga divagando, a sorte inverte,
Absorto, onde há mente em conluio!

Perplexo! Sem viver sabedoria,
Confuso, refletindo, ser abstrato;
Vegeta tristemente eis o retrato,
Delira! Ser constante a letargia!

Invocando! Seus deuses são ausentes;
Chorando! Seus dias são perenes!
Vislumbrando os sofrimentos presentes,

Aconchega-se nas desgraças solenes;
Que dele difere os inconseqüentes;
Recorre a Deus! E os teus males serenes!


Um jardineiro, o livro.


Eu preciso entender-me com o viver,
Com o universo, detalhes e alegoria.
Entre duas capas eu preciso ler,
Envolver-me, ensejando a sabedoria.
Manusear e encontrar nas páginas,
A verdade! Extrema, ao me ver!
Procurando intensamente as palavras,
O plantio, as sementes e muita alegria.

Na ânsia do conhecer,
Tristezas, envolventes, maestria.
Entre duas capas,
Crianças, sorrisos, contentamentos.
Eu preciso ler,
Viver, despojos, discernimento.

Contos, poemas, fantasias,
Sentimento, descaso, desentendimento.
Tudo me encontra lá,
Criando, sementes enternecidas.
Folheando e me infiltrando,
Ceifando plantio de lamentos.
Ansioso sem me conter,
Plantando lamurias e sentimentos.

Percorrendo as letras combinadas,
Colhendo incertezas, envelhecimento.
Entre duas capas, é preciso.
Um mundo novo, encontro.
Onde tudo esta contida,
O saber e o prazer.
Sob o cuidado do jardineiro das palavras.
Entre duas capas.
É livro!



Humanidade

O pensamento divaga,
Há os que riem.
O coração emudece,
Penso nos que choram.

Empalidece minha mente
Que reflete
A vida dos que
Entristecem-se.


Cama

Quero-te, noite.
Deitar,
Reluto dormir,
Pensar e sonhar.

Lá se vai, noite.
Desejos, murmurar.
Rezar, sem falar.
Abraçar e amar.



Louco

Meiguice, parcimônia?
Tolice.
Sou tudo?
Quem disse.

Contente?
O que ser,
Em que pensar?
Insensatez, sandice.

Dúvidas

Pensando às vezes
Na conquista de sonhos
Que sequer vislumbro.
Volto os olhos para a infinda
Memória de passado remoto.

Concedo ao meu ser
O privilégio de me entender
Sem no momento temer o viver.
Terei eu direito de punir-me
Diante de tantas incertezas?

Ocorre no seio involuntário
Que soergue do ser inerte?
Que farei se assentir coerente
O estarrecido?

Qual o motivo move meu ser?
Se for só um,
Estou em maus lençóis!

Dorminhoco

Hoje não acordei cedo
Como me é possível,
Muita vez.

Espreguicei o dia ensolarado
Faz poucas horas.
Acordado, meus pensamentos!
Prediz... Ainda dormindo:

É preciso correr atrás do sol.
Ele não se importa
Com meu dormir, meu levantar,
Ele se levanta sempre.

O sol todos os dias nunca dorme.
Assim como minha alma,
Que mesmo no corpo preguiçoso
Movimenta-se em meus sonhos.

Cachorro vira lata

"_ este ai mente mais que cachorro vira lata".

E o meu cachorro é tão cachorro
Creio até que nunca mente.
Latido alegre, amoroso.
Diferente da voz da gente.

Mente quem mente,
Homem ou mulher mente.
Meu cachorro late docemente
Meu cachorro nunca mente.

Meu cachorro bagunceiro
Mistura de muita raça.
Têm meiguice, faro perdigueiro
E o rabo, balança com graça.

Late, mas late de verdade!
Com força, muita emoção.
Virtuoso em amabilidade.
Ouçam o latido do meu cão.


Jeito de gente grande

Amor sentido por criança
Felicidade oculta na lembrança.
Afeto, beijo desinteressado
Alegria de entes contagiados.

Vislumbremos um sorriso na vida,
Na ânsia de somente o receber.
A beleza de um rosto feliz
E a meiguice espontânea do ser.

Reflito.
Por quê?
Tantos são, rostos!
Sisudos e aflitos.

Temos medo de ser criança,
De ser molestado por agrados.
Temos jeito de gente grande,
Temos horror de afagos.


Sequer pensar

Refletindo,
Novamente defronte
Do defronte
Perplexo.
Versos
Sequer consigo,
primeiro
Pensar.

Defronte
Do defronte
Olhando-me,
Penso como pensaria...
Defronte do defronte
Pessoa
Defronte do defronte
Caeiro.

Álvaro de Campos,
Defronte.
À parte, heterônimos!
tabuleta
tabacaria


Incoerência

Será tanta insensatez
Deus!
No seio do universo
O que ocorre

Mente limpa
Tantas injustiças
Benção receber
Orgulho encoberta

Perfeito bondoso
Entender a justiça
Universo
Tudo certo?

Muito distante

A mente indagando incontinente
As lacunas por preencher
Temeroso do impertinente
E se fazer entender
Olhos pesquisando
Rimas faltando
Palavras terminando
O fim se aproximando

A espera angustiada
A procurar sem cessar.
Sentir a fala excitada,
Sem versos e chorar!




Uma pausa para o café:
Prosa ou medida velha?

Os excluídos não se dão mostra
Do que são capazes.
Nem pensam, quiçá lutar
Contra o já esperado.
Perseguidos que são
Pela sua morte e sua paz.
Aguardam as "benesses"
De um final bem planejado.

Nos casebres e favelas
De sob a ponte.
Lugarejos e vilas
De quaisquer lugar.
Olhando para um
Futuro que se esconde.
Expostos a rudeza
Tão vulgar.

O fazer parte da sociedade
O almejar por ser cidadão
O legitimo anseio por felicidade?
O vegetar sim, não é ilusão!

Vislumbram por instante,
Tempo de bonança.
Anseiam por melhor vida,
É hora de mudar.
Suas angustias, mazelas
E esperança
Imaginam por fim saciadas,
É o momento de votar.

Eis que surge a salvação:
Um nome de doutor.
Messias em compreensão
De ideais beneficente.
Doando carinho,
Alimento e cobertor.
Matando a fome, o frio!
E toda aquela gente.

A burguesia pródiga
E decidida.
Proferindo o grande
E amado gesto.
Colabora em muito
Na hora precisa.
Ingratos serão quaisquer
Outro manifesto.
Junta-se aos lamentos
Em nome do amor.
Comem, dormem
E enaltecem a pobreza.
Sorrateiros subjugando-se
Ao "eminente" eleitor.
Saciada estará em breve:
Mérito pela proeza!

O rebanho há muito,
Amestrado e conduzido
Pelo infortúnio.
É mantido vivo,
Necessitado
E "socorrido"
No momento oportuno.

Findou-se o tempo
De eleição.
Soçobram a bonança
Anseio do proletário.
A amargura
Perdura no coração.
Hipócritas
Surrupiaram o necessário.

Olhando tudo à distância
Em seu canto, há artista.
Intelectual factual,
Cabedal em se envolver.
Enxergando sim
Um palmo além da vista.
Criticando por criticar,
Fazendo o jogo do poder.

E esfacelada, a utópica família
Dos sentados à esquerda.
Articulados benevolentes
Porém sempre desunidos.
Sobrevoam, repudiando tal situação
Como abutres à espreita.
Ensejando o oportuno governar
Por aqueles mesmos motivos.


Até quando

E agora, o que fazer?
Pensativo,
Nem idéias para curtir têm.
Que será isso?
E agora, o que fazer?
Não sei,
Sinceramente não sei.
Farei o absolutamente nada,
Nada, nada.

Farei o refletir,
O ver distante
Até que meus olhos
Sintam a luz brilhante.
A luz do nada à minha frente.
Luz manifesta de aura pungente
De almas presenciadas pelas
Pupilas videntes
Como não os são,
Olhos de tanta gente.

Entender-me por demasiado
Sentir o meu ser
Extasiado.
Continuo ando com meu pensar
Eu comigo mesmo,
Junto, do meu lado.
Distante como meus sonhos
Enternecidos.
De muitos longos anos
Que mostram meu corpo
Anos e anos vividos.
Até quando?


Existência

Um rio por vezes, lá na sua imensidão!
Segue seu curso e destino almejando
Encontrar por fim lá sua eterna solidão
Em águas de mares azuis penetrando

É mais uma, eterna gota de água!
Que jamais, mesmo nua, se mistura.
E completa, no âmago de sua aura!
Permanece só e eternamente pura

Seguem, no esplendor da vida, confiante.
Amparados por margens abundantes
Deixando o solo e suas espécies inerentes
Auxiliados, pelos pequenos afluentes!

Vida que segue também eternamente
Procurando sempre saciar um instante forte
Deixar o carinho pura e simplesmente
Pela troca do final o suspiro da morte





Espaços, tristemente, vazio,

Importa,

Estranho,


Quais caminhos, empoeirados?

Quais pés, esmigalhados?

Seguirei!



Estarrecido!



Apavorado!

Ignorei.


Vertigem!

Sombrio!


Querendo tudo esquecer, chorarei!

Quando tudo arrefecer,


Morrerei!

Espiando

Através da janela,
Cá de cima, observo
Sob o sol, lado a lado
Duas diria meninas
E o que há na sacola
Que carregam?

Sol escaldante,
Lá deve estar,
Presumo,
Pois que não o sinto.

Cá, o ar é condicionado
A funcionar, se faz e o é.
Agradável o estar em meu recinto.

Suspiro, e continuam a carregar
Em minhas retinas
O olhar, imagens do caminhar,
Passo a passo e do andar.

Curioso, a janela termina
Sumindo dos meus olhos
Seu destino segue
Apenas meninas

Quais são seus anseios
Seus desejos
Volto as costas à janela
Enfrento-me gélido
Com a mesma frieza
Do condicionado ar

Volto a ser, o ser de ser alheio
Sem saber o que lá continha
Por certo, aquelas meninas
Sequer imaginando
Quem! E quiçá as angustias
Do ser a horas espiando.



A vida

Um imenso sorriso
Percorre a noite chuvosa.
Uma brisa fria envolta
Por tênue recomeço.

A aurora se manifesta tímida
Exibindo tranqüila um porvir
Incógnito, sem se incomodar
Com iminente louvor

É a chegada de um novo dia,
Mais um raio de sol,
Faz sentido e tudo faz sentido
Simplesmente porque há vida.

Pela porta

Afora os meus pensamentos e
Ainda sob a sombra
Daquela pequena árvore e
Atento aos ruídos íntimos
De meu ser

Imagino sempre as diversas
Saídas que possam surgir para
As angustias de minha caminhada

Como será a saída por aquela porta
Entreaberta que me proponho
Nunca tentar por completa abrir?

Imagino que para tudo
Há uma saída feliz,
Como feliz é a saída
Após aquela mesma porta
Entreaberta que nunca ultrapassei.

Imagino que todos os problemas
Serão por fim resolvidos,
Como resolvido está o caminho
Após a ultrapassagem
Daquela entreaberta porta

Ao entrar por aquela porta terei
Afinal, desvendado o segredo
Para a saída dos meus
Infindáveis conflitos?

Nunca o saberei, porque
Procuro não mais sequer olhar
À porta,

Sequer enfrenta-la e
Sequer vislumbrar o temor
E a existência de novos
Problemas adiante
Daquela porta entreaberta.


O papel da palavra

Amparado pelo verso companheiro
Um fiel amigo deste espírito matreiro
Revela-se insaciável e por inteiro
Junto do papel da pena e do tinteiro

Alias, quantos têm por dificuldade
O sentimento de se expor sem maldade
E quantos são os que pecam por esconder
A volúpia contraditória do amar e não viver

Quantos dos meus prantos
Os são divulgados aos quatro cantos
E quantos como eu sentem o prazer
Do desejo inexplicável de escrever

E ignorando tantos anseios
Vislumbrados pelo mundo.
Exibo apenas meus desejos
Mais terno que profundo.

Por isso converso com as palavras,
Revelando-lhe minha louca fantasia
E soltando-me no vôo de suas asas
Pereço extenuado abraçando a poesia


O nó da gravata

Já se passavam algumas horas do se levantar,
E já em pé, nem sei se acordado devesse estar.
Um final de semana me permitindo nem pensar no trabalhar
Era como a tranqüilidade de após o nó da gravata desatar.

Lá fora com um dia que "deu em chuvoso",
Chuvoso exceto para minha alma que absorvia,
Extasiado e longe do mundo exterior e tenebroso,
Iluminando a mente deste ser que outro não se via.

Outro ser que devesse
Ser por de menos temeroso
Qualquer ser que se entendesse
Sendo mais afável, um ser amoroso.

E que abrindo um livro como se fosse mais um dia
Que se lê, mas que não só através dos olhos lia,
Os versos muito mais canoros que o gorjeio da cotovia,
Daquelas profundas estrofes de um Drummond em poesia.

Chuva

Você, que inspira cuidado!
Sem beijo molhado.
E abraço apertado,
Com seu namorado!

Nos abraços apertados.
Como vai você, lágrimas dos namorados
Que os envolve nos beijos molhados.

Umedecendo minha mente após a escuridão
És amiga aconchegante da minha solidão.
Você ruindo; estremece também meu coração
Dos maiores males eternos: a minha paixão.

Você minha temporária companheira,
Das tardes, noites e dias extenuantes.
Você que sempre chega alvissareira
Trazendo alegria em afagos pungentes!

Nunca deixe de cair sombria sobre meu teto!
Juntos, seguiremos repartindo um sofrimento,
Venha com sua ternura, traga junto seu afeto
E acalente-se no calor deste corpo sonolento.

Anjo de minha alma.

Oh, Anjo que me guarda o dissabor!
Sem que haja sacrifício de seu doce labor.
Ensejando que minha vida, seja calma,
Feliz e não me permitindo sentir tanta dor,
Envie para junto de minha alma
A alegria da compreensão de um grande amor.

Hoje e assim, já não suporto me vendo
Na angustia desse momento horrendo!
Oh, Anjo de minha amarga Alma; guarda!
Viver assim por inteiro me remoendo
Pela necessidade desse amor que tarda!
Suplico-lhe! Entender-me é o que pretendo.


Moço

Dói-nos: partiu dessa, moço?
Sim, foi muito cedo!
Ficou, sequer um esboço,
Pois que, viveu sem ter medo!

E, muito jovem, contente,
Talvez não quisesse ir;
Já que a vida intensamente
Viveu pra amar e sorrir.

Em vida, nunca omisso,
Viveu com prosa e poesia!
Fiel em seu compromisso,
Bem longe da fantasia!

Findou-se, amada vida,
Viveu sem ilusão!
Deixou pra alma ferida,
Seu amor, sua emoção!

Adulto,

Poder pisar descalço, no meu chão;
Voltar à infância, na vermelha terra,
E ao ver ao longe aquela alta serra,
Ensejar um retorno, a ilusão!

Na perna esfolada, a alegria!
Tenho saudade! Tanta ainda sinto:
A vibração do gol e, por instinto,
A tristeza driblada com maestria;

O gramado, com roupa estendida;
A mãe chamando: filho olha o banho,
A trave de bambu sendo erguida;

O rosto sujo e feitio risonho,
A infindável ternura vivida;
Terno lar, por que tanto sonho?


Rio da vida

Vida; ó rio perene de ilusão;
Vais, segue seu curso, planejando;
Corre ao mar imenso, vislumbrando,
Ao longe, em sua morte, exaltação!

Adiante, um futuro deslumbrante,
No maior esplendor dessa sua vida;
Caminha presa, junto à ferida,
Exposta, ao delírio extenuante!

Tem-se por rumo o mar: sua clausura.
Na beleza que tímida se fez;
Pojar eternamente a bravura!

Com vigor, coragem e altivez;
Enfrente esse arroubo! A loucura!
Tomara: refletindo muita vez!

Libido,

Sobressalto, esguio a sedução,
Vem teu corpo belo, manifestar;
Juntando-se a outro sem pesar,
Nos afagos e beijos da paixão;

Juntos nessa libido vêm ensejos;
E por todos os lados sem malícia
Entregam-se dois corpos à carícia,
Envoltos aos sentidos, têm desejos!

Vividos nos abraços envolventes,
Embrenhando-se, amantes manifestos,
Ao vale dos lençóis, e, entrementes;

Há harmonia solícita em gestos.
Excitados, soluçam ofegantes,
Distantes! Esquecem seus desafetos.

Sol

Neste dia radiante:
O sol que não se olvida
Tem energia e nos convida;
Enfrentemos o mal constante!

Por que tanta solidão?
Ah! Sou sol, junto ao dia,
Tenho o sol por companhia;
Basta! Mundo de ilusão.

Sol que extasia,
Veja quem enaltece.
Sol dum novo dia.

Ensine a quem aquece.
Sua luz é alegria,
Que a dor arrefece!

Silêncio,

Stou ainda sob sombra!
Stou sem pensamentos,
Ouço meus momentos;
Um ruído que assombra!

Sussurrando; não entenda.
Este coração partido;
São ruídos dum aborrecido,
Muito sofro, não compreenda!

Quanto meiga repreendeste
Junto a minha solidão
Quando, só, murmurejaste!

No silêncio da razão:
Ternamente encorajaste
Meu rebelde coração!


Grito,

Quem na sociedade grita,
Padecendo sem labor,
Com sua tão intensa dor?
Só quem tem sua alma aflita!

Se a sociedade aprendesse
Sem confronto sua lição,
Tão tamanha evolução
Sendo adulta agradecesse

Decerto não teria tanto,
Sem que se envelhecesse,
Em se acolher em seu pranto!

Feliz, teria o encanto,
Se com ternura acolhesse
Um excluído sem espanto!

Serra Leoa

Melhor seria não nascer;
Para não ver o semblante
De tão meiga semelhante.
Vegeta a doce campina!
O que há por perto?
A fome, por certo!

Longe, a meiga criança,
Pede aos deuses que a descarte;
Eu também, essa lembrança!
A fome nos mostra a arte!
E o néscio, tem esperança,
Que Deus faça sua parte!


Bêbedo

Ah! Essa cachaça;
Esse belo gole
Que um sofrer engole.
E tanta desgraça!
Bela bebedeira:
Mitigas meu viço
Desse terno vício
Minha companheira!

Amarga cachaça:
Minha alma conforta
E a magoa rechaça;
Numa vida torta:
A morte sem graça,
Vê na pinga a porta!

Glaucoma

Tantos são os versos que desejo.
Creiam, como ninguém deseja;
Tanto que a vista lacrimeja!
Meus versos? Tenho e não os vejo!

E ocorrem na memória, os heróicos!
Alexandrinos adeuses às redondilhas
Não porque não as quero como filhas
Mas por serem filhos os decassílabos!

Mas comumente à mente divaga
Sem que tenha qualquer preconceito
Sem que a retina a tenha clara

E sigo escrevendo mesmo sem jeito,
A todos propondo, essa coisa rara!
Os quatorze versos dum soneto!

Renoir, Toulouse!

Da arte nova o impressionismo?
Impressiona-me arte nova
Deslumbrante arte se renova
Abrem-se portas ao cubismo!

Demonstrando suas cores,
Vivas, como só o sol libera!
Morre-se, minúcia e espera,
Vicejam telas, quais flores!

E, já que o mundo se supera!
Diante de tantos amores,
Deste óleo que não é mera!

Digam, basta de horrores!
Vislumbrem a arte da tela;
Que encobrem tantas dores!


Terror!

Qual parte do mundo há ceticismo;
Qual vontade divina põe à prova;
Quais sofrem, quem os estorva?
Abrem-se portas ao eufemismo!

Pois são tantos os culpados
Que jogam com a vida inocente
Deixando na mente da gente
A perplexidade dos desolados!

E os belicosos como torpedos
Requerendo pra si a justiça
Vislumbram seus lucros pseudo-s

E sobrevoam sobre a carniça
Semeando ao mundo mais medos
Mais bombas pra sua cobiça!


Saber!

Conhece-te a ti mesmo, sem o saber!
E sem que nenhum outrem vos diga;
Vais, já que é em vão: nunca os siga,
Vislumbre vós em vós o seu entender;

E a vida se encarrega do restante!
Sem que tenhas dela se amargar;
Sem que tenhas nela se culpar,
Basta a vós; o olhar sempre adiante!

E o nefasto que faz parte do passado
Mesmo sendo a todo instante lembrado
Deve ser da mente escorraçado;

Para que tenhas sempre a sabedoria
E jamais se sentindo o grande errado,
Dê a ti mesmo sua carta de alforria!

Fala; louro (a).

Louro me dá o seu pé!
Peço de jeito gentil,
Venha de modo sutil,
No dedo pousar; mecê quê!
Olha lá você o que me diz:
Loura atenção no que fala,
Comporte-se nesta sala,
Cuide bem do seu nariz!

Louro preste bem atenção;
Quando aqui tiver visita
Não faz cara esquisita
Nem diga um palavrão:
Se fizer como de hábito,
Se xingar sem dar o pé,
Chamo o papagaio; ce quer?
Nossa... Esse vosso hálito!


Pássaros

Sob sol; a vida semeia:
Seu canto nos encanta
E a minha dor espanta;
É o sabiá que gorjeia!
Um esplendor de plumagem
Contagia o campo alado
Deixa-me maravilhado!
Canta! Campo selvagem:
Qual flor, e o seu vicejar;
Canta a melodia suave
Canta a alegria à ave:
É a harmonia a esvoaçar!



Palavra de um papel

Constrito, enalteceis!
Verso: é bem-dito;
Traga luz ao meu espírito,
Por inteiro reveleis.

Venha sem dificuldade:
Com alegria e prazer
Posso assim viver;
Peço a sua lealdade!

Vou às palavras:
Louca fantasia;
Contigo poesia
Quero criar asas!

Gravitação

Num seu rumo escalar;
Vê-se o corpo em luneta,
Ao redor de um planeta,
Na sua função circular!

Numa órbita constante.
Note-se a velocidade
E a voraz capacidade,
Da centrípeta incessante!

Vê um gênio em seu Dom,
Numa queda: na maçã;
Vislumbrar com mente sã;
Universal: lei de Newton!

Conciliar

Exposto ao sigilo:
Que tal beber um café,
Falar do que a gente é,
Da flor ou daquilo;

Sem qualquer rigor:
Dizer sobre algo,
Ouvido fidalgo
Tranqüilo rancor;

Contar sereno a dor:
Ouvir: mesmo tenso!
Mas sentir prazer imenso
Ao lembrar de nosso amor!

Razão dum Poeta

Penso apenas escrever:
Querendo fazer poesia,
Mesmo que seja elegia,
Com ritmo, me envolver!

Em sintonia inconsciente;
Com as rimas andar junto,
Enlouquecido, no mundo,
Mundo da mente de gente!

Cultivando com palavra
Plantada num "... vasto mundo...".
Colho dum solo profundo;
Poemas, que minha alma lavra!

Beijo

Para o futuro prever;
Lêem as estrelas os sábios!
Leio com beijo os teus lábios;
Para minha alma viver!

Rogando ao céu disperso:
Por um beijo, extasiado,
Ou, terno e calado;
De joelhos é que lhe peço!

Latente

Tanta poesia há,
Inconsciente e só, num ser.
Tão segura lá está
Sem querer recrudescer!

Desvencilha-se, lhe peço!
Emergindo sem decrescer.
Venha ocupar seu espaço,
Não se deixe fenecer.

Mostre todo seu encanto
Professora do meu mundo.
Afugente o meu pranto,
Inconsciente e tão profundo!

Frincha

Vejo a frincha de uma porta.
O que há depois? Não sei.
Entreaberta? Não importa
Se nunca a ultrapassei!

Pensando como seria
Reluto... Não poderia
Ver um mundo após a porta
Tal medo, de mente morta!

Lápis

Alegremente sonhava,
Quão sublime escrever.
Triste... Um lápis faltava,
Só, restou-me o esquecer.

Alegre a mente sonhava,
Porém o lápis faltava...
A memória não guardou
E um verso então... Voou!

Antigo beijo!

Quanto o tempo nos beija?
Nem me lembro quando os dei!
Tanto e tanto nós brigamos
Para tê-los os roubei!

Beijos têm como herança
Relegadas dum passado
Que rebusco na lembrança
Com meu lábio insaciado!

Incauto

Decide!... Sem hesitar
Tome providência!
Não pense sequer lastimar
Defronte da conseqüência!

Quanto se fala no homem,
Tantos com imprecisão!
Quantos com seus medos somem,
São tantos na solidão!

Coragem!... Junto do peito
Onde bate o coração!
Dê a sua alma um direito;
A altivez na decisão!

Pelo espaço

E agora o que faço
Com todo este espaço?
Ah! Esta necessidade.
Poesia, por que existe?
Se não inspira cuidado,
Se fores deixada ao lado!

Alfabeto desleixado,
Amigo das horas a sós
Exposto, intenso!
Tímido, inconseqüente!
Sujeito ao passado
Futuro ausente!

Planeta

Ao longe avistada e bela
Qual rota percorre a Terra?
Ao sol cujo dorso vela
Sem fim a viagem encerra!

Ao norte rico... Sul pobre!
Terna mãe, sem filho dócil.
Ao longe um azul seu, cobre,
O mistério, em abismo o fóssil.

Sonhos

Quantos sonhos! Minha vida:
De escrever, me entender.
Soltar a emoção contida
Vendo os versos florescer!

Com loucuras, fantasias.
Envolver-me sempre sozinho.
Num embalar de poesias
Junto às pedras do caminho!

Ter talento sem igual
Ao tocar um coração.
Qual Pessoa com: Natal...
Ou; infância, dum Drummond!

Quantas horas!

Que horas são, por favor?
Entender as horas!
Minhas horas, ora bolas,
Para que saber das horas?

Como viver tantas horas?
Para chegar num lugar
Chega-se lá caminhando
Goste ou não das horas!

Vivendo num vasto espaço
Nem sinto se a terra gira!
Com este meu ser: Escasso!
Sinto! Minha alma expira!

Versificar.

O que faço com você,
Minha força, sem vontade?
Reprimir não dá,
Represar transborda!

O que faço sem você,
Minha força de vontade?
Fugir, não sentir,
Não pensar, nem pensar!

Liberte-se, minha escrava.
Minha louca fantasia.
Sejas terna, forte e lavra.
Plante tua poesia!

Sofrido olhar

Eu me feri com teu olhar
E minha alma, só, chorou!
Tanta dor vê-la calar,
Que o meu ser não suportou!

Quanto emudeceste o pranto,
Diante da amargura!
Quanto, com tanto encanto,
Foste-me tão terna e pura!

Mas, um dia lhe fiz chorar,
Tanto, que tua alma secou!
Hoje pago, sem teu olhar,
Que tudo viu e me calou!

Anticristo "Jesus".

No princípio o Verbo!
No final dos tempos,
Falam em Teu nome.

Criatura recria a criação!
Inovando na penúria
De um desejo, enaltece.
Sua força a inspiração.

Deslumbrante a magnitude!
Socorrendo com seus gestos
Perfilando em manifestos;
Eis o mentor incoerente
Na eloqüente previsão.

Consagração importante!
O consagrado desfilando
Na linguagem inventada;
Sugerindo a inverdade
Encantada! Removendo
A verdade decifrada.

Eis que surge o ser soberbo!
Sob pele de um cordeiro
Falam em teu nome
Vislumbrando o pavor.

Disputado em cassino
E os fiéis na sedução.
Oh! Cristo Divino;
Eis "Jesus" desilusão!

A procura do amor

Amor!... Por onde andei tanto
Por quem procurei,
Sofrendo, entretanto!
Jamais encontrei?

Hoje, só, minha alma.
Que um dia procurou
Volta mansa e calma
Para um lar que desertou!

Quanto em vão andei
Procurando ser feliz,
Muito e muito que sonhei
Pelo amor que não me quis;
Mas, triunfo finalmente.
Depois de muito chorar,
Hoje sei, sou consciente!
Tenho o amor dentro do lar!

A Vida

Numa vida bem vivida
Não só tem felicidade;
Também tem dor da partida,
Tem quem chora de saudade!

Não se vive só contente
Nos momentos desta vida
Não se vive impunemente
Sem que tenha a dor sofrida!

Entendendo assim a vida
Ao saber a quanta é bela;
Só não chora a despedida
Quem vegeta junto dela!

Um Ser... Tão alfabetizado!

Um sonho escrever o nome,
Plantar na terra sofrida!
Sem ler, alimento a fome;
Co saber cessa a ferida!

A sede da água que tenho;
Vem da fonte tão distante
Dum alfabeto que embrenho
E ilumina meu semblante!

Amém! Caminho bendito!
Desta estrada tão estreita.
Já reconheço um escrito!
Êta-mundo: êta!

Unidade!

Sofreis, sem se indignar!
Defronte da podridão;
Tendes medo de lutar?
Tereis sempre a punição!

Solitário é indefeso,
Devereis, só, aceitar!
Vós seguis com o cortejo,
Sentireis vosso penar!

Ides, juntais os laços,
Arrojais com galhardia!
Quem determina os passos,
Desconhece a covardia!

Amor Eterno!

Como vai tímida Estrela,
Que observas, quieta e singela!
Ai dum mundo tão distante?
Vejo a luz vindo da Terra
Refletida qual diamante,
Luz dos olhos que revela;
Tanto amor num semelhante
Deixa opaco meu semblante!

Sobre qual, humilde Estrela,
Ser da Terra, falas Bem?
Falo Dele que foi visto
Há muito em Jerusalém;
Dum Universo já previsto
Que na Terra não foi quisto
Falo Dele, Jesus Cristo,
E do amor que Ele nos têm!

Os quintais

São poucos quintais frondosos
Varanda banhada em sol;
Com cidadãos prazerosos,
Que vivem do bem em prol.
Mas ao lado dessa gente,
Sentida, pois vence o mal;
O pobre sofre, clemente!
Há justiça em meu quintal?

Já no berço falta o beijo
Falta o afago maternal,
Sem carinho sem ensejo
Segue um ser, angelical;
Num mar de periferia
Com tanta poeira exalada
Tanta pobreza teria
Sendo a criança educada?

Tão triste aspecto, nas ruas,
Na fome do ser humano,
Vê, minhas retinas cruas!
No lixo se revirando,
Tal semente assim plantada,
Nesse mundo de injustiça;
Não vislumbra Deus! Nada...
A não ser dos seus, cobiça!

Pétala

Num sonho, onde planto!
A semente de jasmim;
Tem a flor o encanto;
E perto, você de mim!

Porém esse solo secou,
Deixando dormente
Somente a semente
Que um sonho plantou!

Sequer floresceu o jardim!
E com tanta dor
Por falta da flor;
Secou também o jasmim!

Sob um límpido céu

Aquém de aurora!
Adormecidas... Envoltas
Numa úmida névoa.
Dormem homens, casas!
Árvores... Cercados.

Os cães: vadiam, latem.
Sem que se sintam
Mal incomodadas,
Sob límpido céu,
As janelas sonolentas!

Com a aurora! A cerca,
Aos poucos perdendo
Muita umidade,
Levanta-se junto
Dos homens. Das árvores!

Cães perambulam;
Dum lugar, para outro.
Não convém vadiar,
Latir! Incomodar-se
Sob agitação!

Refletidos

Tão quieto estava em meu canto
Porém como por encanto!
Embrenho-me para os cantos
E vejo-me em prantos!

E vejo-me defronte da palavra
Encontro-me deveras desolado
Com descrença e amargurado
Este poeta se depara!

Pasmo segue a folhear!
As páginas, sua leitura,
Decerto devesse olhar;
Só os que têm alma pura!

Ensurdecida pelo eco
Ouvidos só pelo espectro.
Deseja minha alma amena
Compreender este poema!

Mas defronte o sonho meu,
Esse sonho compreendeu;
Na poesia há saber
Que sequer sei descrever!

Com pesar

Hoje, stou novamente refletindo a morte:
Não aquela ditada por um infortúnio.
E, fraco consternado; quem pode ser forte?
Diante da sorrateira disfarça o conluio;
Que na formalidade alguns chamam óbito,
E que insiste chegar disfarçada de súbito,
Sem a solenidade, sem consentimento;
Enlutando famílias, deixando o lamento!

Sim... Estou novamente refletindo a morte:
Mas desta feita sobre aquela sempre cega,
Que insiste se manter na vida a própria sorte,
Alienada, a consciência a realidade nega;
A primeira falada, como combater?
Nos basta esquecer e a vida bem viver!
De outra que falo; amiga dos males profundo,
Quero fora, bem longe do meu vasto mundo!


Senhora

Na Pátria onde surgiu
À vista do pescador
Emerge junto do rio
Mãe do Redentor!

Um povo clama por ti,
Canta teu louvor!
Gente que sofre e sorri;
Rezando por teu amor.

Os muitos na grande terra
Veneram... Mãe protetora!
Benção que se espera.
Maria conciliadora!

Fé, com recompensa,
Anseiam da Mãe gentil.
Pagas, explorando a crença,
Na Senhora do Brasil.


Surgimento

A mente indagando renitente,
Quais são as lacunas por preencher?
Temeroso responde; o pertinente!
Isso sim, se me basta o entender.

Olho os versos findo;
Nas rimas faltando!
Palavras vão se exaurindo
Com o fim se aproximando!

A espera angustiada,
A procura sem cessar.
Sentir que a fala excitada
Chora se em vida calar!

Nada

Pensativo, o que fazer,
Sem curtir afrontas?
Sinceramente não sei!

Farei o absolutamente
Nada, nada, nada e nada.
E mais nada simplesmente!

Não ousarei refletir
Nem em rever o distante,
Até que meus olhos
Sinta a luz brilhante.

Luz do nada à frente.
A luz da aura lancinante!
Dessa pupila vidente,
Daquela alma inconstante
Dos olhos de tanta gente!

Entendo-me demasiado?
Apenas com meu pensar;
E sigo do meu lado
Longe do sonhar!

Mas enternecido,
Pelo eterno sonho;
Depois de muito vivido:
Nada é o que proponho!

A passagem

Por que Deus! Essa passagem,
Por que viver a saudade
E perder entes queridos?

Deixar quem amo.
Viver eternamente
Indeciso.

Existência no lar?
Visita constante;
E não posso num instante
Nem sequer imaginar!

De nascer por pouco;
Bem pouco tempo viver!
Para viver como louco
E simplesmente morrer!

Tudo se acaba... Por quê?

Íntimo.
A Drummond.

Ó Virgem Senhora!
Qual... Sentimento do Mundo,
Incita-me escrever?

Pego de surpresa,
Guardo meus olhos
Com cuidado, quieto!

Ao longe, sem manifesto!
Largado, descuidado;
Pensou-se escrever!

Amada a escrita excita!

Sou tenso com meus desejos.
Quero entender teu corpo,
Entenda meu coração.
Soa surda neste meu ser,
Incomodando o silêncio
Intenso, na minha - alma.

Os versos que me aguardam,
Guardando meu sentimento,
Não incomodam meu senso...
Na mística ala da sala,
Lá, incomoda o incenso!

Livro debruçado!
O livro sobre o sofá...
Um ruído...
De minhas rimas,
De minha inspiração!

União amiga tão ofegante:
Aonde encontro os versos
Que ensejam sentimento?

Um sentimento que tanto
Encanta esse meu canto,
Esse pedaço sentido...
Sentimento do mundo!


Terceiro Milênio!
Globalização:
Adeus à utopia.

A vida sem medo;
A coragem de outrora
De fazer-se à hora,
Na ágora é segredo!

Tão cantada ontem,
Quimera e utopia,
Quiçá na poesia
Os ideários encontrem!

Então: um basta ao sonhar!
Pra que a ilusão,
Se hoje nos dão
"Um tão bem estar?".

"E o bem nos dado!";
Combate à fantasia
De se fazer novo o dia:
É o caminho alçado!

E quando olho pro alto:
Não o daquela montanha
Que a vista nem estranha,
Mas, dos céus; há sobressalto!

Que vem de outro hemisfério?
Sem ser cônscio da razão,
Fogem envoltos na oração;
Vem de Deus tanto mistério!

Defronte à vida enfadonha:
O logro persiste
O tempo é triste;
E o homem não sonha!

Tanta vida,

A vida que passa,
Que não é vivida,
Nem compreendida;
É vida sem graça!

É a vida tímida
Que o tempo espaça!

É Vida sofrida;
Aos que vêem vida,
Tão só na desgraça!

Pombinho,

Armo o bozó...
Pombinho vem cá,
Vem pombinho já...
Nunca estive só!

Doce fruta tem a vinha
Num amável lugarejo;
Cuja cerca não detinha
Tanto era meu desejo!

Sobe poeira do chão;
E envolto junto a ela,
A fumaça sem seqüela
Do fogo de são João!

Tanto espaço no lugar;
Que eu vivia em correria
De brincadeira e folia
E o pombinho a galgar!

Pouca gente residia
Nos confins da zona norte;
Longe do centro por sorte,
Muita gente entedia!

Questionar não questionava,
Mas às vezes imaginava:
O nome eu não entendia
Por que é periferia?

Um Santo por parceria,
Insígnia essa certeza;
Fé: A fome que feria:
Um barraco a pobreza!

Com apego na esperança:
Na alegria em que vivia
Tal pobreza nem sentia
No meu tempo de criança;

Sem rancor a circundar:
Pois riqueza lá da vila,
Por faltar ouro da tila;
Tem meiguice a florejar!

Ouço: olhe o brincar,
Meu filho, não age mal,
Seu bodoque, o pardal...
Sábia mãe ao educar!

Naqueles dias sem véu
Papai capinava o chão,
À noite, a iluminação:
Via-se, capinado o céu,
Estrelas na imensidão;

Do banho à procissão:
Na capela olho o joelho,
De soslaio, sem gracejo,
Do terço à confissão;

Há ternura, afeição...
Na memória! Com carinho,
Junto! Vem pombinho...
Ah! Saudade do meu cão!

Aááh!

Como explicar a decepção
Ao pressentir não mais escrever?
Vejo-me debruçado e, em desalento,
Esvaindo-me defronte do abjeto
Repelindo esse momento!

Assentir a duvida da ausência,
A iminente tortura,
Do desalento à loucura,
É sofrer!

Priva-me, não sou forte.
Livra-me, temo essa morte!

Alimente, benção do suor,
Como água que molha a flor,
A seca alma que anseio expor!


Partitura.

Junto ao meu sentimento;
Um homem de gravata!

Sombrio...Traz a partitura.
Severo... Oscila entre os dedos um lápis,
Num movimento instrumental!

Sobre a partitura, sob nossas vistas;
Frágil, movimenta-se a formiga.
O homem de gravata, balanceado!
De posse do lápis a esmaga...

Resta à partitura, como peça,
A sepultura das partes da formiga!
E, ao pusilânime de gravata,
O lápis entre os dedos!

E eu: Sem nenhum gesto,
Sem nenhuma crítica,
Sem nenhuma voz,
Sem desolação...
Assisto o extermínio de ambas!

Partitura.

Junto ao meu sentimento;
Um homem de gravata!

Sombrio...Traz a partitura.
Severo... Oscila entre os dedos um lápis,
Num movimento instrumental!

Sobre a partitura, sob nossas vistas;
Frágil, movimenta-se a formiga.
O homem de gravata, balanceado!
De posse do lápis a esmaga...

Resta à partitura, como peça,
A sepultura das partes da formiga!
E, ao pusilânime de gravata,
O lápis entre os dedos!

E eu: Sem nenhum gesto,
Sem nenhuma crítica,
Sem nenhuma voz,
Sem desolação...
Assisti ao extermínio de ambas!



Sectário.

Aparvalhado!
Faz alguns anos, a maternidade não interrompe o silêncio.
O lugarejo não traz sinal da peraltice.
Os parques, onde "brincarmos era seu nome",
Não recebem as visitas daqueles pequeninos!
O novo não se manifesta!
Os que eram pequeninos, já há muito estão crescidos!
O novo há muito envelhecido!
Desnorteados os membros da comunidade científica reúnem-se:
Não há conclusão alguma!
Não há quem desvende tal mistério.
Por que faz tantos anos que não nasce o novo no lugarejo?
Apassiar o velho, tampouco!
Os mais novos são os mais velhos!
Os mais velhos continuam apenas mais velhos!
O tempo passa, porém, fica a estranha sensação que não há o amadurecimento!
Os ideais envelhecidos apenas envelhecem!
Então... O lugarejo convive sem as esperanças do nascer quando se morre!
E o habitante: Aparvalhado e sequaz!
Óbvio.

O longínquo e o louco.

Aqui estou.
Só...
Quem mo dera escrever uma crônica!
Uma narrativa!
Na primeira ou terceira pessoa?
Pessoas?
Quais são seus anseios, suas frustrações, seus ideais?
Aonde andam os loucos?
Longínquo! (Não o que vem de longe, o distante da vista ou do ouvido, tampouco o afastado o remoto!).
A conotação que meu íntimo traz do longínquo; é a do indivíduo, tanto faz o sexo real ou imaginário do ser, que vive intensamente o mundo alienado!
Mundo onde o bem existe, onde o bem supera o mal, onde os anjos confortam os necessitados anunciando o porvir da justiça.
Mundo onde há a paz tão apregoada por algumas pessoas.
Mundo do seguinte diálogo:
- Bem, acaso não mais nos encontrarmos:
Espero que tenhas um feliz ano novo cheio de paz e saúde!
- Digo-lhe o mesmo, acrescentado muito sucesso e muito dinheiro no bolso!
- Acaso você o vir, transmita-lhe também muito sucesso!
- Igualmente, obrigado!
- Eu quem agradeço!
- Obrigado eu meu caro!
Interessante o diálogo entre os longínquos.
Esperar o melhor um para o outro, porém, ficou claro, somente acaso não se encontrem!
Os desejos de uns para os outros fazem parte de um simples senso de urbanidade, e em mais nada acrescenta! Nada!
Seja tu ingênuo o bastante para concordar com o longínquo.
Sê tu estúpido o suficiente para aceitar o que foi pensado sem o cuidado de refletir o senso comum e pronto!
Tu és um longínquo.
E defronte do mundo, tirante o louco, estará agradavelmente rodeado dos incautos!
Dos crédulos, dos alienados, seguindo por um caminho de justiça onde o bem caminhará ao teu lado!
Néscio! Erguei-vos para altura da sola de vossos pés!
Questione a tudo e a todos, sê tu um louco ou jamais descerá ao mundo da realidade!
Mundo de quem é quem, o que querem e a quem e por quanto tempo querem enganar!
Sê tu, louco e não se deixe enganar!


Bem-te-vi.
À Vera Lúcia,

De mansinho... Bem-te-vi...
Encantaste com teu canto,
A mulher do meu encanto;
Estrídulo bem-te-vi...

Bem-te-vi... Meu bem-te-vi...
Tu vês bem-te-vi,
Que o meu bem fala pra ti?
Bem-te-vi... Meu bem-te-vi...

Com seu peito intumescido,
Denotando o amarelo!
Garboso... Seu bico sentido,
Gorjeia um canto singelo!

E o meu peito enfraquecido
Não compreende esse amor:
Inveja-o em pranto! Vencido...
Pois seu canto é minha dor!

Invídia... Porquanto cantas,
Fontal além da janela!
Enlevo! Tu não se espantas,
Enquanto canta querela!

E em estridente queixume,
Enxoto... Por ter ciúme:
Voa... Bem-te-vi tagarela...
Não me roube o beijo dela!

Soneto aterrorizador,

Deus! Jogaste ao mundo o ceticismo
Que Tua vontade divina põe à prova!
Perdoe-me não usar do eufemismo:
Mas, todos aqueles que sofrem, os estorva?

Deus! Diga-me: São eles os culpados?
E os que jogam com a vida inocente,
O insigne, que deixa à indelével gente
A perplexidade dos desolados?

Sim! São os belicosos, os torpedos;
Concupiscível dizendo... Justiça!
Importando somente lucros pseudo-s!

Os que sobrevoam sobre a carniça...
Semeando na terra os Teus medos,
Bombas! A morte que tanto cobiça!


Adulto,

Poder pisar descalço em meu chão;
Voltar à infância à vermelha terra,
E vendo ao longe aquela alta serra,
Vem o ensejo do lúdico à ilusão!

Da perna esfolada à alegria,
trago a saudade de longe e sinto,
A vibração do gol e, por instinto,
A tristeza driblada com maestria!

Vendo o gramado coa roupa estendida,
Ouço um chamado, do filho em sonho,
Deleitante coa ternura vivida!

Mas num calção sujo e feitio risonho!
Revejo a criança na fuga da vida!
Deixando um adulto amargo e tristonho!


Defronte à vida

Vida... Um rio perene de ilusão!
Continua o seu curso chorando;
E serene o seu mar desaguando,
Ao longe, sua morte a exaltação!

Defronte dum futuro deslumbrante,
No maior esplendor de sua vida;
Caminha presa, junto à ferida,
Exposta! Um delírio extenuante!

Vais! Sem temer o teu mar de ternura!
Com vigor, coragem e altivez;
Pojar eternamente tua bravura!

Qual beleza que tímida se fez;
Enfrente esse arroubo! A loucura!
Questionando o medo muita vez!


Menino de rua.

Moço me dá um trocado!
Oi moço eu tenho fome:
Sou de rua, sou sem nome,
Não sou gado e sou marcado!

Qualquer coisa pra comer,
Uma migalha de pão,
Querer mais é ilusão...
Moço é duro sofrer!

E o seu carro é tão bonito!
Sabe moço: Vou crescer;
E não tendo o que comer,
Traço o caminho bendito;

Não vou ser mais atrevido!
Não vou mais pedir na rua
Nem querer ajuda tua...
Como tu: Serei bandido!

José Carlos Tréssino
10/04/02 19:09:23



Apófase noturno

À noite, vem a inspiração.
Inspiração para a poesia,
Inspiração das palavras,
Das rimas do ritmo.

Não tenho nas noites
Quaisquer delas.
Nunca cri em poeta noturno...
A noite nega-me a inspiração!

Mesmo vígil, faltam-me palavras
No transcorrer da soturnez!
Noite... Noite que anuvia
Um inspirado poeta dormente!

José Carlos Tréssino,
13/04/02 02:26:35

Armário

Tirante a gravata
Sacudida sem raiva
Com fervor, sem bravata;
Compreendi o tempo,
Esvaindo-se a pó...

Envolto, duma vida sem revolta;
Com a volta dum amor
Guardado em armário:
Qual alma que se solta...
Eis a alma guardada num corpo!
Autor: José Carlos Tressino


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