Parnamirim-Pe 3



Parnamirim-Pe 3

Aspectos Sócio- Econômicos e Culturais

Toda a cultura de Parnamirim deve-se às suas personagens ilustres que fizeram e fazem o seu desenvolvimento. Antes de enumerar os nomes importantes vinculados à História de Parnamirim é preciso, mais uma vez, ressaltar o destaque a Martinho da Costa Agra - Tenente Coronel vindo de Catolé do Rocha na Paraíba, filho de um advogado e politico, vereador várias vezes em Campina Grande, também Tenente ?Tenente Coronel e sertanista descendente de Portugueses. Martinho da Costa Agra foi o fundador da Vila de Santana do Saco, responsável pelas primeiras medidas de terras e definição da vila de Santana e dos povoados de Humaitá e Belmonte, antigas fazendas que deram origem à Leopoldina e, que é atualmente, o município de Parnamirim.
Também se deve à Brígida de Alencar a influência religiosa de culto à Senhora Santana e sua participação política para elevação do Povoado do Saco à Vila de Santana e mais tarde à cidade de Leopoldina. Embora não hajam indícios que tenha ela conhecido a vila de Santana do Saco, mas registros da igreja católica dão conta de passagens de Brígida nas fazendas e vilas existentes que eram da freguesia de Cabrobó, por ocasião das missões em que acompanhava os ofícios da igreja nas capelas cuja doação dos terrenos fora feita por ela. De família cearense, Brígida das Virgens de Alencar, nasceu em Cabrobó, no começo do século XVIII, no período em que havia um aldeamento cariri, cujas terras estavam sendo tomadas pelo governo português, para a colonização. Brígida era inicialmente arrendatária da Casa da Torre dos Garcia D?Ávila, mais tarde comprando toda a antiga sesmaria, torna-se rica fazendeira e herdeira das terras que antes arrendara. Era proprietária de grande extensão de terras que ia de Cabrobó a Exú, parte da sesmaria que correspondia à antiga Panela D?água, e que, segundo consta em cartório de Cabrobó, deixou em testamento o lote de terra da Vila de Santana, depois Leopoldina, atual Parnamirim, para a sua filha Josefa Maria do Carmo, mais tarde esposa de Martinho da Costa Agra.
O casal Martinho e Josefa teve onze filhos, 4 homens: José, Joaquim, Martiniano e Ernesto e 7 mulheres: Mª Florinda, Inocência, Geracinda, Joaquina, Balbina, Hermínia e Ana. Sua Neta Bárbara de Alencar e seus bisnetos Tristão de Alencar e José Martiniano de Alencar também herdaram de Brígida de Alencar, as terras do lado do Cariri cearense, em Crato-Ce.Brígida também deixou as terras que hoje pertencem ao município de Ouricuri para outros herdeiros, sendo tutoradas por Bernardino Maranhão, juiz de Direito da Comarca de Cabrobó. Em 1851, um juiz de Salgueiro veio para tratar dos negócios das terras da família, era Miguel Gonçalves Lima. Com a morte de Martinho, Josefa nomeou seu outro genro, Lino da Costa Araújo para resolver os problemas relacionados ao inventário da família. Ocorreram vários casamentos envolvendo herdeiros dos fundadores do lugar e os juristas que cuidavam das heranças. Hermínia, filha de Martinho, em 1851, casou-se com o juiz de Direito, Miguel Gonçalves Lima, de Salgueiro, o qual ficou responsável pela escrituras dos terrenos e imóveis das famílias pioneiras. Quando Leopoldina virou Comarca, outros amigos da família também se aproximaram, alguns alcançando cargos e funções, outros participando de favores dessas famílias; assim como o primeiro Juiz de Direito, Bernardino Maranhão e o primeiro Vigário, Manuel Simplício do Sacramento.
Em 1880, com a criação das comunas, cidades imperiais, foram nomeados os primeiros vereadores, todos da família Agra ou amigo: José Joaquim Amando Agra, Martiniano da Costa Agra, Eufrásio Araújo Costa Filho, Cipriano Rodrigues da Silva, João de Araújo Costa, Ângelo Ernesto da Costa Agra e João Cardoso Miranda. Ao contrário dos dias de hoje, para ser vereador naquela época tinha que ser grande proprietário de terras, ser influente na região e ter domínio sobre os moradores, ou seja, vereador não ganhava da coroa, e sim, pagava para administrar, pois com isso ganhava prestígio.
Como destaque é preciso que se ressalte que, em 1918, veio de Recife para Leopoldina, a primeira professora estadual formada, Dona Leonídia, com a qual se abriu a primeira escola na sede, numa sala atrás da casa de Seu Raimundo Angelim e Dona Alzira, terrenos que pertenciam às famílias Batista e Rodrigues, onde mais tarde foi construída a casa de Seu Argemiro. Também na área da educação, já na década de 30, não pode ser esquecido o nome de Francina Agra, filha de Dona Mundinha da Costa Agra, neta de Martinho da Costa Agra, Irmã de Hermógenes Agra. Ela foi a primeira professora leiga da Escola Municipal da Prefeitura de Leopoldina, a qual ministrou aulas no período de 1930 a 1934, na gestão do prefeito Antonio de Sá Neves, que era seu padrinho de batismo.





Segundo conta Djanira de Sá, filha de Antonio de Sá Neves, essa professora alfabetizou a maioria das lideranças que criaram Parnamirim, cuja escola era, primeiramente, na casa grande de Antonio de Sá, no beco que vai para o Poço da Porta. Depois a escola funcionou numa sala ao lado da casa de Cícero Nicolau, de propriedade dos Lustosas. Mais tarde, já na gestão dos Menezes, com a chegada da professora Dona Aurora de Itacuruba e da professor Dona Raimundinha de Exú, a escola passou a funcionar na esquina da antiga rua Padre Lima, na rua da Prefeitura Velha, encostada, na época, ao comércio de Washington, na primeira sala, perto da venda de fardos de algodão, numa sala de propriedade de Raimundo Batista Angelim (local que ficou conhecido, muitos anos depois como o Café de Anazite). Atualmente, funciona no local um pequeno Mercado e Bar na frente da praça da Igreja Matriz. Djanira de Sá conta que estudou só até a 2ª série na Escola de Francina Agra, mas depois fecharam a escola porque vieram as professoras formadas, também havia uma campanha para os pais tirarem os filhos da escola da Francina, porque ela era professora leiga, pois na cidade já havia professoras formadas. Por essa razão, a professora Francina ficou desgostosa por não ter sido aproveitada no ensino e foi embora para Bodocó, para junto da sua família. E ela, Djanira, também não quis mais estudar. Nessa época foi construído, na mesma rua da antiga escola, um Clube, conhecido como Grêmio, em que muitas festas, bailes de carnaval e de formatura e até peças de teatro eram apresentadas no prédio, que depois passou a ser Escola Normal Colegial e hoje é a Secretaria de Educação do Município e Biblioteca Pública.
Santa de Neci, filha de Hermogenes da Costa Agra, bisneta de Martinho da Costa conta que, na época da escola de Francina, ela e Djanira levavam os banquinhos de casa para sentar na escola, pois era tudo muito improvisado, aliás passava-se de livro e não de ano e tinham que esperar até que todos mudassem de lição. A escola era fraca e o aprendizado era difícil, pois tinha castigo, bolo de palmatória nas mãos, quando não conseguiam decorar a tabuada ou passar de lição. Os colegas de Djanira, nessa década de 30 eram José Agra, Santa de Neci, as filhas de Benjamim Miranda e vários outros Agras que ela não lembra mais os nomes. Os pais não davam palpites na escola, davam autoridade e autonomia para as professoras que eram autorizadas a corrigir, mesmo com severidade, castigo no milho e puxões de orelha.
Em entrevista, Geraldo Simões de Almeida, paraibano nascido na cidade de Batalhão, no dia 05 de abril de 1928, conta que chegou a Parnamirim em 1944, morou na casa de seu irmão Severino e de sua cunhada Djanira, na casa da Rua Coronel Jambo, que ficava vizinha do lado esquerdo da antiga casa de Zé Magalhães, no caminho que seguia para o Poço da Porta; e, do lado direito era vizinha com Julieh Magalhães. Na época, segundo ele conta, só os mais velhos e colonos ainda chamavam a cidade de Leopoldina, pois era comum, na feira, ouvir-se: "venho toda terça à Leopoldina". Geraldo, ainda jovem trabalhou com Severino e Djanira durante cinco anos em Parnamirim e na Fazenda Surubim. Lembra passagens engraçadas que os mais velhos da época contavam e que a maioria falava de Leopoldina como uma coisa do passado que se queria esquecer e que estava ligada à política anterior dos Agra e influência dos líderes de municípios vizinhos das famílias Sampaio e Alencar. Ao chegar a Parnamirim, ele ouvia boatos sobre Antonio de Sá, pai de Djanira. Segundo conta, o comentário da época era que ? Doza ? e ?Beca de Dondon de Bêja eram irmãos de Djanira, por parte de pai. Isto pareceu se confirmar quando Antonio de Sá, antes de morrer, presenteou Dondon e Bêja com uma casa da Rua Coronel Jambo. De suas lembranças destaca ambém a Rua Padre Lima que seguia da casa de Geraldo Aquino até o Posto Caldas, que foi também importante referência para boiadeiros, comerciantes e viajantes da época. Isto porque além da prestação de serviço do posto de gasolina, a família Caldas e a família Freire traziam gado do Piauí para vender em Parnamirim. Diz Geraldo Almeida que a família Freire, nesta época, tinha muito dinheiro e destaque na economia de Parnamirim, tanto em atividades de comércio de gado que traziam do Piauí, quanto na revenda de lotes de terras e grande criatório de rebanhos de modo geral. Narra que Ciço Freire, ainda jovem, na década 20, foi levado pelo bando de lampião por causa de 10 contos de reis. Lembra também da primeira difusora de rádio de Constantino Maranhão que só sabia falar contra Gumercindo Cabral, porque não concordava com a luta pela emancipação política. Ele recorda que as condições na região estavam ruins, em termos de trabalho, por isso ele foi para São Paulo com 21 anos; viajou 17 dias de caminhão de Parnamirim até São Paulo, com uma carta de recomendação de Seu Landim para João Pernambuco em Araraquara. Confessa ele: ?trabalhei lá em diversas areas, em firmas, depois larguei tudo para trabalhar nos cafezais do Paraná". Diz que ainda hoje continua sua vocação migrante: morou em Garça, em São Paulo, mudou com a família para o Paraná, depois se instalou no Paraguai onde reside hoje, mas pretende mudar novamente para Santarém, no estado do Pará.
Djanira de Sá Almeida, que nasceu na região, em 19 de janeiro de 1922, quando ainda era Leopoldina, conforme registro, conta que ajudava seu pai, Antonio de Sá, na Farmácia que ele tinha ao lado da Prefeitura velha, a qual mais tarde foi comprada por Ulisses Menezes e transferida para o outro lado da Rua Padre Lima. Ela afirma que Antonio de Sá era muito namorador e tinha outros filhos além dela, e que legalmente, sabe de Nelson de Sá Neves, que teve com Maria da Conceição, afilhada de Dona Bela, uma negra ?forra? que trabalhava muitos anos para a família Sá, da Barra do Mororó. Djanira, depois que seu pai morreu, casou com o paraibano de Taperoá Severino Simões de Almeida e foi morar na casa grande que era de seu pai, na rua Coronel Jambo. Diz ela que seus filhos Reusa, Reuma e Antonio Huyamachita nasceram naquela casa ,e, mais tarde, quando mudou para a fazenda que herdou do seu pai, os outros filhos já nasceram por lá.
No início, quando mudou para a fazenda, ela ficou num casebre conhecido como Casa dos Vaqueiros, (uma moradia feita de taipa, barro batido e trançado com caroá), enquanto estava sendo construída a Casa Nova da Fazenda Surubim. Seus filhos: Severino Filho e Abel Huyapuam nasceram já na casa nova, que foi feita por seu marido, Severino. Outros dois, Djalmira e Iran Carlos nasceram em Terra Nova, quando essa cidade já não pertencia mais a Parnamirim. Os demais, Huyriam, Huyrajá, Reuva e Huynalvarone nasceram no Surubim, já pertencente ao município de Parnamirim. O mais novo, Huynalvak, foi o único filho de Djanira que nasceu em Ouricuri.
Sobre religião, costumes e a Festa de Santana, Djanira conta que desde o tempo de Leopoldina que as coisas acontecem do mesmo jeito: o povo junto com a igreja faz a festa: procissões, novenas, missas, bandas de pífano, a banda instrumental de Décio Angelim, a passeata dos vaqueiros, a festa do Clube, a feira livre e a festa na praça. O que muda, diz ela, é que os jovens de antes comandavam todas as festas, e olhando as fotos da última festa da igreja, ela se queixa: "parece que hoje na igreja e na procissão só se vê velho. Os jovens não fazem mais nada, só querem ficar na praça". Morando atualmente no Pará, Djanira mudou com os filhos de Parnamirim, primeiramente em 1972, por ocasião dos conflitos no distrito do Barro, o que motivou a mudança da família Sá Almeida para o Paraná. Depois para Itaituba, em virtude de seus filhos terem instalado uma Faculdade nesse município.
De 1962 a 1972, a educação da sede do município de Parnamirim acontecia na única Escola do Estado que existia, o Grupo Escolar Euclides da Cunha, a qual era definida pelo Núcleo de Educação de Salgueiro, onde os professores da época buscavam capacitação e orientação para desenvolver o processo de ensino. Haviam poucas escolas municipais e as que existiam funcionavam com classes multisseriadas nos povoados. Alguns professores faziam cursos superiores em Recife e outros faziam seus cursos e treinamentos em Belém do São Francisco, Arcoverde e Petrolina. Entre os professores da época os mais requisitados eram: Ivalda Menezes, Givoneide Cabral, Liinha Menezes, Luisinho, Reuma de Sá Almeida, Orlane Sampaio, Edenir Sampaio, Gícia Aquino Menezes, Aurenívia Modesto, Reusa de Sá Almeida, Elizete Modesto e Professor Wilson. Vários nomes ilustres que não podem ser esquecidos: o Músico Francisco Agra; o Cantor Geraldo Dantas; os Padres, Sizenando, Leôncio e Reginaldo; As professoras, Dona Aurora de Aquino, Ivalda Menezes, Margarida Moura, Maria Olívia, Vilanir Cabral, Orlane Sampaio, Givoneide Cabral e Ozinete Dantas; e os professores, Wilson, Vanildo Freitas, Mariano Freire, Luisinho Amando e o professor dentista Plácido de Aquino Angelim.
Já havia em Parnamirim o Ensino Municipal que atendia bem poucas escolas da zona rural. No Grupo Escolar Euclides da Cunha também funcionava à noite o antigo Ginásio Cenecista, uma escola da Comunidade, onde se destacavam os professores: Mariano Freire, Plácido Aquino Angelim, Ivanildo Amando, Maria Olívia Magalhães, Elizete Modesto, Gleide Aquino Angelim, Reusa de Sá Almeida, Gícia de Aquino Menezes e Margarida Moura. Também haviam alunos que geralmente se sobressaíam nos estudos, tais como: Filomena Menezes, Rosangela Menezes, João Bosco de Carvalho, Edivaldo Lopes, Giovane Aquino Angelim, Glaucia Aquino Angelim, os irmãos Ronaldo, Renato e Roberto Magalhães e as amigas vizinhas: Fátimas Novaes e Fátima Magalhães, Isa Maria Barros, além das irmãs Elisbete, Elisiê e Fátima Modesto.
Parnamirim, no aspecto cultural, sempre foi destaque entre as cidadezinhas do interior, pois além das festas juninas e da Festa de julho de Santana, nas décadas de 60 e 70, já contava com o cinema de Chico Agra, que funcionava na esquina de duas importantes ruas de comércio, a do bar de Dezinho Ângelo de onde saíam importantes decisões políticas da época; o Grupo de Teatro da Reuma, que apresentava peças de teatro escritas por Francisca Maria Lima (Cibalia) e levava enquetes e dramatizações para Terra Nova, Guarani e Quixaba. Além dos blocos de Carnaval,que apresentavam-se em Cabrobó também haviam os clubes: Grêmio Recreativo, o Clube Alvorada e a Palhoça, locais de muito movimento, que, o povo, em qualquer época do ano, trazia sempre Bandas e Conjuntos Musicais, contratados para bailes de Debutantes e de Formaturas. Outras atividades que também atraíam estudantes de cidades vizinhas eram os torneios de Vôlei na quadra do Grupo Escolar Euclides da Cunha e os Jogos de futebol no Campo no caminho da Barragem,cujos craques eram João Bosco Carvalho, Edivaldo Lopes, Jairo Modesto, Givaldo Modesto (Galego), Giovani e Puam.
Em entrevista para esta pesquisa, Marinêz Barros de Almeida, filha de Santa de Neci e neta de Hermógenes Martiniano da Costa Agra, conta o que sabe sobre sua família. Marinêz nasceu em Parnamirim, na Rua Agamenon Magalhães, perto da Praça, localizada próximo ao Colégio Euclides da Cunha. Segundo ela, quem a "pegou" para cortar o umbigo foi Dona Mariinha, uma parteira que morava numa casinha de taipa, atrás da antiga casa de Manoel Lopes. Marinêz é filha de Conrado Laudelino de Barros, da região de Salgueiro, cujo apelido é Seu Neci e de Maria de Lurdes de Barros, conhecida como Dona Santa, de Parnamirim. O avô paterno de Marinêz era Laudelino de Barros, também de Salgueiro e sua avó paterna era Leonilda de Barros, de Salgueiro. Seus avós paternos eram primos e residiam em São José do Belmonte, cujos nomes aparecem na história daquela cidade como nomes de ruas e memórias no acervo do Museu. As terras que eram de sua família pelo lado paterno são hoje de propriedade do seu primo Gonzaga Barros.
Segundo Marinêz, seus avós paternos, seu Hermógenes Agra e Dona Mariquinha (Liberalina Pereira de Alencar) tinham 6 fazendas, herança dos antecedentes fundadores do lugar e que atualmente são dos herdeiros descendentes que ainda vivem na região. A Fazenda Humaitá, a Fazenda Belmonte, a Fazenda Altinho, a Fazenda Estaca Zero, a Fazenda Estoque (a maior de todas), a Fazenda Cachoeira e os 3 Logradouros são áreas que compõem a maior parte da zona rural de Parnamirim e que são de propriedade dos remanescentes dessa família Agra.
Sobre a Fazenda Humaitá Marinêz diz que é o local onde foi construída a primeira capela do lugar, por uma prima do seu avô Hermógenes Agra, Sinhá Naninha Agra, em promessa ao Senhor Bom Jesus da Lapa. Dona Nanhinha criou as novenas que virou romaria e todo mês de agosto havia feira, quermesse e apresentação de ex-votos (partes do corpo ou imagens esculpidas em Madeira, oferecidas aos santos em agradecimento a graças recebidas). Marinêz afirma que não conheceu Tia Naninha como era chamada, mas lembra da capela onde, na infância ia mexer nos objetos antigos que eram lá guardados. Hoje, essa capela não mais existe, somente as fotografias, porque os novos donos a demoliram. Durante muito tempo, o coral do Humaitá funcionou, as cantoras eram Dona Sinhá, primeira esposa de Senhor Donana, pai de Margarida Moura, Tia Tercina, Santa de Hermógenes, Djanira de Sá, Dona Sinô e Aurora de Antonio Novíssimo, irmã de Dona Mariquinha Alencar. Aqueles terrenos eram da primeira proprietária da família Agra, depois a capela ficou abandonada e Dona Geracina, irmã de Seu Hermínio Agra e prima de Seu Hermógenes Agra ficou com todos os santos da capela. Marinêz tem hoje 51 anos, não sabe como tudo se perdeu, mas lembra do refrão do Hino que era cantado na capela por sua avó: "vá de dois em dois, aos pés do altar, se ajoelhe primeiro para poder rezar".
Marinês conta que a Fazenda Belmonte era também de propriedade de Martinho da Costa Agra, sede que tinha uma casa grande de pedra e que ficou para o neto, Seu Hermógenes Agra e sua esposa Dona Mariquinha, os quais tiveram catorze filhos, sendo que os sete primeiros morreram e os sete ultimos receberam os mesmos nomes dos primeiros: Maria de Lurdes Barros (Santa), José da Costa Agra (tio Zé), Valdemar da Costa Agra (tio Dema), Emídio da Costa Agra (tio Mída),Osmar da Costa Agra (tio Mapa), Eunice Peixoto Agra (tia Nita) e Francisco da Costa Agra ( tio Chico).
Do segundo casamento de Hermógenes da Costa Agra com Desidéria Sampaio, tiveram dois filhos: Hermógenes Martiniano da Costa Agra Filho e Eliane Agra Sampaio. Sobre os irmãos de seu avô, Marinêz lembra dos nomes de Francina, a professor, Euclides Agra e Américo Agra. Dos irmãos de Neci, Marinêz destaca o coronel Sinhô Laudelino de Barros (RJ), Adalberto Barros, conhecido por Dau, famoso por server, carne durante anos para toda a cidade, no principal açougue de Parnamirim, em frente à cadeia pública, Hilda de Arnaldo, Terezinha Barros Agra ,viúva de João Panelada, e Gonzaga Barros (tio) que mora em São José do Belmonte. Com a morte de Hermógenes Agra, a Fazenda Belmonte ficou de herança para seu filho Valdemar. Chico e Santa ficaram com a Fazenda Altinho, sendo que a parte de Santa de Neci foi vendida para Geraldo de Desidéria Sampaio. A Fazenda Estaca Zero, localizada depois da ponte, ficou para Eunice Peixoto Agra, Dona Nita,casada com Eduardo Peixoto, e que, após seu falecimento deixou para os filhos: Elio, Emilton, Enilton, Elmo, Elson e Evaldo.
A maior propriedade dos Agras é a Fazenda Estoque, com sede localizada depois da Fazenda Altinho, onde criavam gado, carneiro e bode, além de dedicar-se ao plantio de cebola. Metade da Fazenda Estoque era do primo de Hermógenes, Hermínio Agra, pai de João Panelada, onde plantavam avelós para impedir que a criação entrasse na parte do outro. Assim, muitas brigas aconteciam entre os primos por causa das cercas e divisas da propriedade. Hermínio Agra deixou sua parte na fazenda de herança para seus filhos: João Panelada (já falecido também), Doge, Edésio, Gumercindo, Bebé (mãe de Leleu), Terezinha,Vanir, Nininha e Maria José. Atualmente, Marinês Barros Almeida, trineta de Martinho da Costa Agra, casada com Huyrajá de Sá Almeida, mora em Itaituba no Pará, juntamente com suas quatro filhas (Djinês, Danielle, Daisla e Teca, sendo que Marinês, Huyrajá e as 3 primeiras filhas fizeram cursos superiores na Faculdade de Itaituba de propriedade da família Sá Almeida.Entretanto, segundo Marinêz Barros, vem todos os anos a Parnamirim sempre nas férias de dezembro,porém revela que sente saudade da terrinha é no mês de julho quando poderia participar da procissão de Santana, ouvir a Banda Marcial da cidade e ver o desfile dos vaqueiros.

Os desfiles da banda municipal, de 7 de setembro, as paradas dos vaqueiros, o tocar do sinos anunciando a alvorada, os tocadores de pífano, as novenas na matriz, os corsos de carnavais e piqueniques nas fazendas, além dos passeios e visitas dos conterrâneos que vinham nas férias para as festas de final de ano, são eventos que ainda acontecem, mas vê-se que alguma coisa mudou. Não são mais os mesmos pesonagens, o cenário é outro, os temas não são mais os mesmos, embora algumas cenas ainda tenham os mesmos objetivos são situações com outras tramas e outros desfechos.
A respeito desssa questão cultural e econômica e sobre o comportamento social das famílias de Parnamirim, Luiz Ferreira Filho, conta alguns detalhes e descreve algumas lembranças da cidade. Luiz Ferreira nasceu em 1960 na rua da Casa Paroquial, em Parnamirim, estudou na Escola Euclides da Cunha até 8ª série e foi aluno das professoras , segundo ele, as mais famosas do seu tempo na cidade: Dona Ismênia de Geraldo Miranda, Elizete Modesto de Pedro Modesto, Vilanir Cabral, Orlane Sampaio e Ozinete Dantas. Filho de Luiz Ferreira da Silva da cidade de Serra Talhada e de Alzira Ferreira Leite, da Fazenda Mororó, Luiz Ferreira filho hoje é caminhoneiro, mas trabalhou na Barragem do Chapéu, no rio Brígida em Parnamirim e também acompanhou o padre Leôncio (que deixou a batina para casar-se) e padre Reginaldo (sacerdote com mais de quarenta anos de dedicação) nas celebrações pelo interior do município. Luiz lembra que seu avô, Sebastião Jovino Leite, veio de Serra Talhada para Parnamirim por causa de conflitos de terra. Sua mãe, filha de Cornélio Jovino Leite, barbeiro, morava na bomba, perto do restaurante de Seu Sé e Dona Regina, local onde seu pai tinha uma oficina de ferreiro. Diz ele que sua família sempre viveu da ocupação de ?bater ferro? e da agricultura de subsistência. Na região de Flores, Água Branca e Serra Talhada, seus parentes da família Ferreira se orgulham em ter como símbolo de luta pela terra a figura do capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Em sua narrativa Luiz conta que Lampião se hospedava em casa de seu avô, Sebastião Jovino Leite e de sua avó conhecida como Amorzinho. Segundo ele, a família de Luiz Ferreira em Parnamirim é muito grande. São 12 irmãos: José Rudival Ferreira, Creuza Ferreira, Rubem, Francisco, Ozinete, Francisca Neuma, Luzinete, Luiz Filho, Raimundo e Elaine. Seus pais já morreram e seus irmãos ainda moram em Parnamirim.
Da cidade, Luiz Ferreira dá notícia dos nomes que, para ele são destaques em Parnamirim: Moisés Sampaio, Nininho (o atual prefeito) Geová Cabral, Danielzinho (filho de Dona Edenir e Daniel, Kaká (Luís Carlos Sampaio), Atita (filho de Raimundo Angelim) e Plácido Angelim. Ao recordar as pessoas, Luiz associa os feitos de cada um, cita Dona Telva de Luís Sampaio, irmã de Nanete Lustosa, tia de Ribinha Lustosa e descreve os principais comércios, vendas e serviços da cidade que estão na sua lembrança: o comércio de Chiquinho de Siné (Clementino) as feiras, a venda e aluguel de imóveis da família Miranda, a rede de mercado e de postos de gasolina atuais como o da Tranzamazônica na Bomba e o Raul Lins na Br-163. Sobre os produtos da região, o destaque,segundo ele, ainda é a produção de cebola, melão, melancia, mamão. Na pecuária a criação de gado, ovelha, bode e de cavalos, aparentemente não se sobressaem, mas aparecem em destaque, no censo de produção do município e, principalmente, nos desfiles e em eventos culturais de vaquejada, exposições e feiras. Para quem convive com essa cultura agropastoril, o evento da noite dos vaqueiros representa não só a cultura das famílias pioneiras que se preserva com muita tradição e carinho, mas também a vida de várias comunidades do sertão que nasceram com o mesmo objetivo, mais ou menos na mesma época e com as mesmas características em que se mesclam trabalho, religião e política econômica regional. A simbologia da alvorada, a missa, a ceia de rapadura com queijo, o desfile dos vaqueiros com terno de couro (gibão), luvas, chapéu e botas, comprados por eles mesmos, aliás, todas as comemorações das nove noites de Santana que ocorrem no mês de julho,em Parnamirim são elementos do ritual de celebração de uma cultura centenária de bravos sertanejos, que acreditam na sua capacidade de enfrentar desafios e criar realidades, mesmo com os obstáculos e lutas pela igualdade e justiça no direito à terra, acesso à agua e à cidadania.
Luiz Ferreira recorda das fazendas onde teve convivência: a Fazenda Curicaca de Delino Ramos, na Chapada do Baixio, no sentido da propriedade de Joaquim Aleixo. Também lembra da Fazenda Logradouro da família Batista e da Fazenda Mandassaia de Antonio de Sá Sampaio e Dona Emília Sampaio, oriundos da cidade de Jardim, estado do Ceará, onde se destaca pela criação de bois e bodes. Segundo Luiz Ferreira, os nomes de Emília, Ana Maria, Luizito, Moisés, Dona Edenir e Dona Orlane fazem parte do elenco de personagens que não podem faltar na história de Parnamirim. Analisando os dados da entrevista de Luiz Ferreira e comparando aos dados coletados para a pesquisa genealógica das famílias sertanejas de Pernambuco, constata-se que as famílias Jovino, Januário, Ferreira e Leite são parentes próximos dos Rodrigues e Silvas e se relacionaram no trabalho, nos negócios e amizades aos Agra, Lustosa, Sampaio e Sá.
Há alguns aspectos em que a cidade não mudou, as pessoas ainda não conseguem preservar a memória e a história dos que já foram, é preciso que nova mentalidade seja formada no sentido de resgatar os bens culturais e os saberes historicamente acumulados pelos antepassados. A cada nova gestão política prédios públicos e obras construídas sofrem o prejuízo de serem desfeitas, de tal forma que, a cada quatro anos a cidade passa por mudanças no sentido de reformar algo ou tirar algo do lugar. É certo que o modismo e a tendência à renovação são progressos evidentes, porém, muitas trocas podem trazer prejuízos às referências de um povo que, no presente, não tem o direito de descuidar do seu passado, visando crescer no futuro com a experiência de quem já viveu e tem muito para contar. Ganham todos: os velhos, os jovens e muito mais as crianças que ainda não tiveram tempo de entender suas raízes.
A cidade de Parnamirim é bastante conhecida tanto pela Festa de Santana quanto pelos seus açudes e barragens, indicados para a pesca artesanal. Entre os principais pontos turísticos está o Açude do Chapéu, um dos maiores da região. O artesanato local também é bastante significativo. Caracterizado pelos trabalhos em madeira, papel, bordados e peças em cerâmica, os produtos podem ser facilmente encontrados nas ruas e feira da cidade. No folclore destacam-se a capoeira e principalmente as quadrilhas juninas, na época de São João, um ótimo período para se visitar Parnamirim e desfrutar das comidas típicas da festa. Além do Grupo Escolar, na década de 70 havia o Curso Normal Colegial que funcionava onde antes tinha sido o Grêmio, local em que durante o dia funcionava o ensino de primeiro grau e à noite os cursos de Segundo Grau: Normal, Técnico e Científico. Já existia uma Pré-escola em 1970 chamada Pequeno Polegar cuja dona da escola e professora era Reuma de Sá Almeida em que algumas das alunas eram Reuva, as gêmeas Ana e Ruth, filhas da Professora Maria Celeste Angelim (Taeta), também Neidinha Carvalho, filha de Dezinho e Dona Neide, sendo que entre os alunos dessa escolinha, estava o seu irmão, Fred Carvalho, o atual prefeito da cidade.





Autor: Djalmira Sá Almeida


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