BETINHO - UM COELHO DE PELÚCIA



Um dia, vi-me num lugar estranho e cheio de coisas estranhas.
Olhei ao redor e vi-me rodeado de coisas estranhas, pálidas, sem alegria nem tristeza, sem vida.

Subtamente, algo me faz erguer ao ar.
Não sei, não posso mover-me.
Já vejo mais nada.
Estou só, mesmo não estando só.

Da mesma forma que fui erguido e privado da visão, fui presenteado com a liberdade e o dom de poder ver.
Agora vejo-me, parado, ao lado daquelas coisas estranhas e mortas, só que em cores e formas diferentes.
Já não sinto-me mais só, mas estou só.

Ali, fiquei muito tempo.
Algumas coisas estranhas que podiam se mover pegavam as coisas estranhas e levavam-nas consigo, com uma estranha expressão de alegria nos lábios e nos olhos.
Mas, porque? Porque essa alegria, se não existe vida?

Um dia, uma dessas coisas estranhas que se moviam passou olhando, atenta a todos os detalhes das coisas estranhas que não tinham vida.
Parecia preocupada, parecia perguntar: Qual...?
Parou, fixou seus olhos em mim, sorriu e foi como se dissesse: É este!

Não podia mover-me. Seu olhar era de adoração, era puro.

Novamente fui erguido e enclausurado. Só. Estava só. Escuro.

Qual seria meu destino?
Queria ver, novamente, aquela expressão de alegria ao ter me visto.
Mas, a coisa estranha me selou.
Em minha clausura pensava nas coisas estranhas que estavam ao meu lado, antes daquela coisa estranha ainda me pegasse.

Com ela me sentia só, mas não estava só.

De repente, a luz.

Ao mirar o rosto daquela que me erguia, desconheci.

Vi o mesmo rosto, só que agora transtornado pela expressão de tensão e ansiedade.
Voltou-se, olhou para mim e, rapidamente, dirigiu seu olhar para outra coisa estranha, daquelas que se movem, mas com feições mais finas e delicadas.

Colocou-me por detrás de si, por um instante, e ofereceu-me como sinal de algo muito importante, creio eu.

Pensei. O que devo ser eu?
Eu sinto, penso. Posso olhar-me?

Deduzo: se sou o objeto de demonstração de algo importante, devo ser importante.

REGILBERTO GIRÃO © 1984
Autor: Regilberto Girão


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