Viver Sonâmbulo (C.O.M.A)



Não tenho controle. Não tenho razão. Não tenho nada. Me perdi no tempo. O tempo me perdeu. Quero penas o fim. O meu fim. Sei que nada vai mudar. Nunca muda nada. Tudo se repete. Acordo sempre no mesmo lugar. Não quero mais dormir. Não consigo alcançar a insanidade. Tenho pressa. Tenho muita pressa! Sinto raiva. Não suporto as pessoas desse mundo. Sei que eles também não me suportam. O meu desprezo é a minha satisfação. Tenho fúria acumulada. O que eu peço é pouco. O que eu ganho é nada. Meus sonhos se confundem com o real. A minha alma é um pesadelo. Continuo caindo. Para baixo sempre. A vida como um abismo. Um abismo negro e sem fim. Todos os olhares sangram por poder. A minha face se transforma. A sujeira reina nos meus cabelos. Odeio a água. A fonte da maldita vida. Estou cansando. Estou cansado. Cansei. Vou desistir. Não, não vou desistir. Vou matar. Vou sangrar. Vou ficar desesperado. Vai ser impossível voltar atrás. Quero tocar o impossível. Quero me tornar o impossível. Meus passos esperam o meu sinal. Os últimos passos. A noite me apresenta o silêncio. Na luz artificial eu nada vejo. O lunático arde. O condenado tem livros, vontade, ideias, a mão na pena; e ele grita. Ele berra suas dores. O amargo magnífico das palavras. O doce sorriso feminino nunca envelhece. Representantes do inexistente. A personagem principal é uma farsa. Relógios na fogueira. Calendários na fogueira. Bússolas na fogueira. Queimarei todas as invenções inúteis. Séculos de tédio. Décadas de reprise. Solidão nunca é demais. O maior de todos está oculto. Todos que por mim passam fingem não me ver. Fecho os olhos. Continuo esperando. Espero o novo. Espero o mito. Espero o fogo. A próxima hora me enlouquece. A ambição me revolta. O belo e o feio entram em contradição. A beleza da noite. A feiura do dia. A lua que encanta. O sol que cega. As lágrimas dos homens secaram. Os animais também choram. São lágrimas cristalinas. Lágrimas da alma. São as minhas lágrimas. Sofro com eles. Sofro por eles. Sinto a vida na dor. Sou o dono dos meus sentimentos. A madrugada mais fria do ano chegou agora. É quando o espírito abandona o corpo. Enquanto observo o que sobrou do meu outro eu... me retiro para a eterna vigília.
Autor: Marcelo Moreira Grilo


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