Assédio Moral



O assédio moral é uma das preocupações na busca pela qualidade de vida no trabalho. Na moderna gestão de pessoas, este item ainda precisa ser muito difundido e trabalhado tanto por empresários como por funcionários.

Um funcionário precisa ser respeitado como pessoa, é um profissional qualificado ou não, que está naquele ambiente praticando uma das formas de capitalismo, vendendo sua força de trabalho, que busca qualidade de vida e não apenas um meio de sobrevivência.

Essa forma violenta de tratar pessoas que exercem funções abaixo de si, é uma atitude antiga, corriqueira, e por mais errada que esteja, valorizada em certos momentos da vida trabalhista no Brasil. Através da história, podemos observar que trabalhadores vivem situações de discriminações e constrangimento pelos seus superiores hierárquicos.

A sociedade durante muitos anos considerou um procedimento normal essa forma de tratamento. Afinal, o trabalho sempre foi representado por algo de categoria inferior, sem valor, aquele que é necessitado de trabalho é o ser humano de baixo escalão. Assim foi no período colonial, (apenas para focar emHistória do Brasil) com a colonização portuguesa, em que o trabalho físico era exercido por escravos.

A relação escravo-trabalho reflete a valorização do trabalho intelectual, o culto ao bacharelismo. Essa condição acarreta na exaltação do trabalhador com reconhecimento acadêmico, como se alguém pudesse ser superior a outro pelo diploma que carrega. E por conseqüência, o já tradicional respeito aos "doutores" que há pelo mundo de terno e gravata, e motivando pessoas em diversos cargos, mas principalmente em chefias, a se identificarem como seres superiores que merecem todo respeito e consideração, como se fossem insubstituíveis, de sucesso e poder.

São profissionais assim que modificam o ambiente de trabalho que deveria ser estimulante, descontraído e alegre. Passamos a encontrar, principalmente indivíduos desanimados e sem motivação, porque acabaram se transformando em meros instrumentos de produção.

Essas questões delicadas de relacionamento são os ingredientes para o desenvolvimento de comportamentos inadequados ao trabalho: assédio moral e sexual.

Assédio moral e sexual não são inadequações recentes e sim são tão antigos quanto o trabalho. A questão reside na intensificação, gravidade, amplitude do fenômeno e na abordagem que estabelece diferenças para tais comportamentos.

O assédio moral se caracteriza por uma conduta que costuma menosprezar a pessoa, transformá-la num brinquedo nas mãos de pessoas com má fé. Esse último normalmente é um profissional inseguro e necessita demonstrar o poder através de frases que desestimulam e atitudes que enfraquecem as pessoas que estão ao redor.

Quando se está num cargo de chefia, não por ter alcançado tal posto com atitudes empreendedores, liderança e conhecimento e sim por promoção vertical e preenchimento de vagas ociosas, a pessoa pode se sentir pouco valorizado e precisa se impor. Suas ferramentas são a desvalorização de alguém abaixo, brincadeiras de mau gosto e caráter pessoal, se aproveita de problemas familiares como doenças ou dependência financeira para fazer ameaças e chantagens.

A grande dificuldade em difundir esse problema está no medo que as pessoas têm em perder o emprego ou vergonha de ficar "mal falado" entre os colegas de trabalho, e assim evitam em fazer a denúncia.

O medo de se fazer ouvir contra um assédio moral está no fato de que emprego está cada vez mais difícil de conseguir. A grande competitividade, um número elevado de pessoas interessadas em trabalhar mesmo sem benefícios, insegurança em perder o emprego para outro mais experiente ou mais novo. Além disso, não há entre colegas o comprometimento de amizade, estão todos apenas numa convivência aparente.

Colegas de departamento são apenas pessoas com que se passa a maior parte do tempo, não cria vinculo afetivo. São peças no tabuleiro que poderão ser trocadas a qualquer momento sem perda para o trabalho e para aquela falsa equipe.

Todo funcionário sabe que não é insubstituível, seja qual for seu grau de instrução ou cargo. Todo conhecimento é algo prático, ferramentas de uso que são difundidos por apostila e cursos rápidos de atualização.Esse fenômeno tornou-se maior com as conseqüências da globalização devido à informatização, o desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte, tornando a concorrência mais agressiva, provocando um grau intenso de insegurança na empresa em que trabalha.

Um dos piores danos causados pelo assédio moral é a propaganda negativa que é feita sobre o profissional. Tal comportamento fica tão explicito que mesmo em outra áreas a pessoa é assediada negativamente, colocando em questão sua capacidade profissional ou até mesmo ocorrendo brincadeiras, piadas de caráter pessoal.

O assediado fica tão desmotivado que ele próprio começa a desconfiar de suas habilidades. De profissional seguro de suas informações, confiante e disposto a assumir novas tarefas, aos poucos se vê no meio de uma campanha contra sua pessoa, seus comentários, seus e-mails são motivos de graça e risadas do assediador e muitas vezes de alguns colegas de trabalho que não visualizam essa situação constrangedora.

Assédio sexual é uma deformação profissional decorrente de uma tradição machista e de abuso de poder. Normalmente começa através de brincadeiras na equipe, podendo avançar para chantagens e ameaças no campo pessoal.

É reconhecido por lei apenas quando o assédio é de chefe para subordinado ou que a relação de superior em função do cargo seja evidente. Nas relações entre colegas do mesmo nível profissional, esse tipo de abuso é classificado como assédio moral.

As mulheres são as mais vulneráveis ao assédio sexual, primeiramente, porque, em regra, ocupam cargos inferiores. É uma prática reconhecida nos locais de trabalho e aceita como uma coisa comum, apesar de tratada em sigilo, em uma sociedade que prossegue sem respeitar as mulheres e suas conquistas.

As mulheres deixaram para trás uma tradição de dependência financeira, afetiva e social. Através do trabalho garantem o próprio sustento e de sua família, coloca-se na sociedade de forma mais imperativa e decisiva e transforma a forma de ver e ser vista no mundo.

As transformações no comportamento da mulher, os novos padrões de liberdade, dignidade a qual vem ocorrendo em todo o mundo, às vezes não é acompanhada por homens. Alguns deles, por uma educação extremamente machista ou por insegurança mesmo, tentam impor seu poder e também desqualificar a profissional perante seus colegas. Com atitudes ou frases com o tom de brincadeira, tentam mascarar o assédio sexual.

Esses assédios tanto o moral quanto o sexual estão diretamente conectados com a cultura machista e da posição de ser superior. Diversas empresas estão enraizadas dessa tradição. São atitudes reveladoras de um passado nem tão distante de opressão, falta de respeito ao próximo, chantagem emocional e ameaças de desemprego. Os departamentos de recursos humanos por mais que estejam interessados em aniquilar esses comportamentos com campanhas, atividades envolvendo diversas áreas, é muito difícil no dia-a-dia da empresa, em salas reservados o controle desses males.

Esse problema é tão grande e comum nas empresas que profissionais que agem assim, costumam fazer parte do folclore da organização. São pessoas respeitadas, que suas determinações são atendidas por todos. Acontece de pessoas novas no setor ou de outras áreas render respeito a esses por saber do famoso comportamento. É comum ouvir histórias, versões diversas e piadas de fatos que foram constrangedores para alguns colegas.

Apensa com muita vontade política será possível reverter isso. A solução ainda está muito distante. Mas, como em todas as transformações, é um movimento lento e com a valorização da qualidade de vida no trabalho poderá ser uma realidade na vida de todo profissional.


Autor: Patricia Canarim


Artigos Relacionados


Alegria Sentido Da Alma

As Aventuras De Um Mago Roqueiro

Saudades

Vida Interna

No Colo De Deus

Azul Imenso

Nossa Língua é Nossa Pátria