ESPELHO MEU



ESPELHO MEU!

"Terrível acionador de lembranças dos anos dos pecados e das loucuras... esse despertador de consciências" - Stevenson

Espelho tem de todo tipo e qualidade. Desde os de metal polido, cromo, cristal importado e a própria lâmina dágua de um rio ou lago, quando em repouso, que serve para refletir a nossa imagem no Narciso. Diz um velho dicionário, que ele é uma superfície polida e brilhante que reflete raios e imagens.
Dele e ante ele, conta a lenda ter dito à bruxa malvada quando perguntado: "espelho, espelho meu! Tem alguém mais bonita do que eu?" O espelho respondeu: "Sim, Branca de Neve!"
A história está cheia de tribufus dando crises de inveja e de insatisfação ante à lâmina do espelho. Hoje, a retaliação é mais amena, pois as bruxas da feiura dispõem dos salões de beleza com toda uma parafernália embelezadora. Um verdadeiro laboratório de alquimista!
Além dos cirurgiões plásticos, atuam profissionais que são verdadeiros transformadores de bruxas em Cinderelas. O espelho tem fama de mágico, portal de dimensões, dobras do espaço e foi através dele que Alice viajou para o País das Maravilhas.
Nos nossos Montes Claros de antanho, nos bons tempos do romantismo, tínhamos o saudoso Claudionor Barbeiro. Um dândi curraleiro, sempre de terno, gravata borboleta, colete, chapéu de massa, sapato italiano Fagionne de duas cores, lencinho no bolso do paletó, abotoaduras e presilhas folheadas a ouro. Parecia cavalo de charrete!
Rescendia à colônia genuína Lorigan francesa, falava silabando, torcendo a boca e babava um pouco, por puro detalhe, que julgava ser chic. Era um tremendo pé de valsa, paquerador de suburbanas, bebia gim tônica, cerveja casco verde e era o criador, dirigente e cartola do Bahia Esporte Clube.
Tinha uma mania: Ficava mais de uma hora em frente a qualquer espelho que via, penteando o cabelo, ajeitando a gravata, olhando o poder de sedução do seu sorriso tropical, limpando o paletó. Dava nojo o ritual demorado e cheio de não?me-toques do cidadão. Almoçava no restaurante do Zé Amorim e quando chegava empatava a entrada de outros fregueses no WC, pois, ficava por longo tempo limpando as sobrancelhas, passando os dedos molhados no cabelo meio pixaim.
Um dia o Zé, já de saco cheio, preparou-lhe uma armadilha. Sabedor de que o Claudionor tinha medo de escuro, assombração e de morrer numa tocaia, Zé Amorim providenciou uma grande caixa de papelão, dessas que vem como embalagem de geladeira. Pendurou-a de boca para baixo, aberta, presa ao teto escuro do banheiro por uma embira e amarrou a ponta da corda numa caixa que ficava à entrada.
Quando o Claudionor chegou e entrou no banheiro para se embelezar, o garçom Belém deu o sinal, Zé Amorim desatou o cordão, soltou a caixa e o bonitinho encaixado e preso deu o maior pití! Rolou no chão aos gritos dizendo que estava sendo atacado por bandidos e, assim, o Zé ficou livre daquele mala sem alça, pois Claudionor nunca mais voltou ao restaurante...

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Autor: Rafael Freitas Reis


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