Podres Poderes



Podres Poderes

Tem gente que não lembra, nem viu, mas eu me recordo do burburinho que houve quando Caetano cantou Podres Poderes. O rebuliço veio dos dois lados. Os das esquerdas cantaram junto, empunhando bandeiras: "é isso mesmo", apaludiam! Os das direitas, como sempre ocorre ao se lhes mostrar os pés de barro, esbravejaram: "esse cara devia ser preso" condenavam. Mas, a poeira abaixou e por fim prevaleceu o que diz a música. Não na forma da pergunta, como está na música, mas numa afirmação "nunca faremos senão confirmar... a incompetência"
Nem precisaríamos da letra da música, mas ela escancara o que queremos fazer de conta que não vemos ou que tentamos ocultar mas está exposto: "Enquanto os homens exercem seus podres poderes", nós que somos coniventes com eles "nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica que sempre precisará de ridículos tiranos". Mas não foi só isso que cantou o poeta. Continuou afirmando que "Enquanto os homens exercem seus podres poderes" e enquanto nós permanecermos legitimando-os com nossos votos "cada paisano e cada capataz com sua burrice fará jorrar sangue demais: nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos Gerais"... Naquele tempo ele não disse, mas podemos acrescentar que a "burrice" desses capatazes e desses "ridículos tiranos" também tem feito jorrar sangue em terras de Rondônia (Josimo, Corumbiara...)!
É evidente que você ao ler isto que estás lendo deves pensar que estou querendo falar mal de algum político. Não pense mal a meu respeito. Esclareço: os políticos não merecem que usemos nossa inteligência contra eles. Não nos esqueçamos que falar mal deles é falar deles! E falar deles é mantê-los em evidência! Não queremos isso.
Queremos que desapareçam!
Por isso, mais uma vez vamos nos valer das palavras do poeta: "Queria querer cantar afinado com eles, silenciar em respeito ao seu transe num êxtase, ser indecente! Mas tudo é muito mau..."
Sabemos que tem, por ai, muita gente que não se contenta em cantar como cantou o poeta. Tem muita gente por ai que está "afinado com eles". Tem muita gente por ai que prefere "silenciar em respeito ao seu transe" indecente, imoral, ilícito, só porque com isso se mantém em algum posto nomeado por algum figurão para ocupar algum dos chamados "cargo de confiança". E, no final das contas, é por causa desses que "estão afinados com eles" que eles se reelegem ano após ano. Se ano após ano eles se reelegem é porque tem gente que vota neles, e vota neles porque concorda com o que eles fazem!!!!
Observe e veja que tudo isso é verdade. Falamos isto a partir de nosso estado, mas os "podres poderes" empesteiam o Brasil inteiro. Estado por estado, em nosso país, são inúmeros os casos em que o camarada é um notório bandido, mas na eleição seguinte volta a ser candidato... e se elege... com o voto popular. Aí alguém fala: "elegeu-se porque comprou votos. É um bandido. Não cumpre a lei" Comprou votos e com isso demonstrou que não presta? Com certeza. Mas se comprou votos é porque teve gente que vendeu... e se vendeu! E junto com seu voto, vendeu sua dignidade e seu direito de reclamar!!!
Quem se presta a "vender" o voto, além de não prestar, de ser tão bandido quanto o que "comprou", não tem direito de recamar contra qualquer bandidagem produzida por quem exerce algum poder. Não tem direito de reclamar, nem que isso contra o que reclama, seja feito por outro bandido e não aquele para quem o reclamante se vendeu. Ao "vender" o voto vendeu também seu direito à voz!
Estas linhas, recordando os "Podres Poderes", não se devem apenas à memória saudosista de um tempo em que combatíamos a ditadura. Tempo em que ser contra ou falar contra, implicava em perigo de prisão. Hoje é uma maravilha. Podemos falar. Podemos, sem medo, apontar as falhas dos ditadores. Por isso é que hoje podemos falar dos podres poderes que se instalaram nas prefeituras e seus periféricos legislativos, nos palácios estaduais e suas adjacências legislativas e também nos corredores do planalto. Hoje, abertamente, podemos falar dos podres poderes que se alimentam às custas dos votos de outros tantos putrefatos.
Mas, como ia dizendo, nossa intenção, aqui, não é o toque saudosista, nem enaltecer a "democracia". Nossa intenção é falar de uma lei que ganhou o apelido de "ficha limpa". Lei cuja intenção era "limpar" as candidaturas. Colocar no páreo eleitoral apenas os que não tiveram suas "mãos manchadas pela sujeira da corrupção" (lá no apocalipse se salvaram aqueles que "tiveram suas vestes lavadas pelo sangue do cordeiro"). Pelo espírito da lei seriam elegíveis somente os que não houvessem praticado atos indecentes, imorais, ilegais, ilícitos... Dessa forma, no sonho de muitos de nós, somente concorreriam os honestos.
Mas quem tem dinheiro tem poder. Por isso o emaranhado festival de pedido de impugnação; e do outro lado uma enxurrada de apelações pedindo a suspensão da impugnação. Gritos dos dois lados. Uns aplaudindo a lei, pensando que ela solucionará o problema. Outros condenando a lei, por tentar impedir que bandidos se candidatem.
Os dois lados estão equivocados. A lei pretende atingir o candidato. Mas os candidatos não são o nosso problema. Nosso problema são os eleitores, pois estes é que votam indistintamente. Por isso é que, outra vez, veremos candidatos bandidos sendo eleitos, apesar da lei. E por um motivo simples: eleitores bandidos votam em candidatos bandidos.

Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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Autor: Neri P. Carneiro


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