NÃO HÁ PANDORGAS NO CÉU



NÃO HÁ PANDORGAS NO CÉU

Na semana passada, precisamente na sexta-feira, eu estava voltando para casa, contente por mais um final de semana que chegava e este era muito especial, pois meu filho estava voltando das férias, período que havia desfrutado na casa dos seus avós maternos.
Não sei bem ao certo qual foi o momento em que entrou em pauta no meu pensamento, pequenos fragmentos de minha longínqua infância, só sei que mergulhei em um pedaço bom de tempo e voltei ao pátio da casa humilde de meus avós maternos e lembrei da silhueta de meu avô entre o serrote, o martelo, madeiras diversas, pregos e mais algumas utilidades que guardava; recordei das tardes ele passava fazendo brinquedos para mim: carros de madeira, bilboquês, roletes de lata, pernas de madeira e as pandorgas (pipas) ? e não foram poucas. Recordei também que ele um dia pegou um pedaço grosso de arame e, moldando-o em uma bigorna, me ensinou a fazer uma chave para abrir o cadeado de sua própria bicicleta (coisa que somente um avô faria!). Desnecessário dizer que deste dia em diante passei a "pegar emprestada" a sua bicicleta uma vez ou outra.
De repente dei-me por conta de algo interessantíssimo: há quanto tempo eu não via sequer uma pandorga no céu?
Automaticamente lembrei de meu filho e da sua alegria quando em uma tarde de verão confeccionamos um bodoque e depois demos algumas pedradas em uma bacia plástica velha que eu usava para lavar o carro. Lembrei que o bodoque está guardado em um armário, junto ao autorama, carro de controle remoto e outros brinquedos que a energia elétrica permite que ele utilize. Mas e a pandorga?
Bem, resolvi naquele momento de "lucidez pedagógica" (chamemos assim) que precisava arranjar um bom pedaço de bambu, papel adequado, barbante, tecido para fazer a cauda, farinha e água (quero fazer uma pandorga colada com "grude", idêntica àquelas que meu falecido avô fazia pra mim) e passar um sábado inteiro fazendo uma pandorga com o meu herdeiro; será bom para ele saber da alegria que existe na simplicidade e será muito bom pra mim, transferir para a outra geração o que aprendi com a anterior.
Creio que hoje não há mais pandorgas no céu porque os videogames, PCs, tvs, DVD, Mp3, Mp4, e todos "siglas" mais que o homem inventar, estão o distanciando de sua essência e por conta do trabalho, estudo, necessidade de enumerar experiências e diplomas no currículo vitae, este homem está esquecendo de garantir que as coisas boas perdurem aos que virão.
Creio que devemos evitar que os personagens dos jogos virtuais sejam exemplo aos nossos filhos e que depois de passar a idade da creche a lan-house seja o seu novo habitat. Independente de nossas obrigações profissionais e de estudo, precisamos esquecer por algum tempo a agenda fechada e o aparelho celular desligado e, quem sabe, permitir que as pandorgas voltem a colorir nosso céu.


Autor: Sergio Sodre


Artigos Relacionados


Férias, Lembranças Inesquecíveis

Mãe

CoraÇÃo De Papel - Hantaro - O Hamster

Ele

Sintomas Ou Conscidências ?

FÉrias Escolares E Pipas

Na Mesma Consciência