REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO USO DE DROGAS ENTRE ADOLESCENTES



REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO USO DE DROGAS ENTRE ADOLESCENTES
Adriana Vieira Brito
Anete Charnet Gonçalves da Silva
Luci Mara Bertoni


RESUMO


Os valores, as ideologias e as contradições que os adolescentes têm a respeito das drogas é o foco desse trabalho. Para tratar disso, tomamos como referencial a Teoria da Representação Social de Serge Moscovici. Esta pesquisa comprova, assim como outras similares já realizadas, que a estratégia de prevenção do uso de drogas por meio da veiculação de informações pelas escolas e mídia não está gerando resultados reais e positivos, principalmente no que se refere ao consumo do álcool. A superestimação dos malefícios das substancias ilegais e a subestimação dos malefícios das drogas legais gera incoerências nas representações sociais dos adolescentes sobre o uso de drogas.
Palavras-chave: Adolescentes, drogas, representações sociais.


ABSTRACT

The teenager?s values, ideologies and contradictions about drugs are the focus of this research. For this, Serge Moscovici?s Theory about Social Representation was taken as referential. This research shows, just as others similar already done, that the strategy of the use of drugs prevention by giving information through school and media is not producing real and positive results, mainly in case of alcohol consume. The overestimation of illegal substances harm and the underestimation of legal substances harm create inconsistencies in teenager?s social representation about the use of drugs.
Key words: Teenagers, drugs, social representation.


As drogas são conhecidas e utilizadas pelo homem desde tempos imemoriais, seja na forma de substâncias utilizadas em cultos religiosos, seja como instrumento de prazer (ROCHA, 1991). Entretanto, com o passar do tempo a utilização das drogas no mundo teve uma expansão desproporcional, sendo os adolescentes o grupo de pessoas mais vulneráveis ao início do consumo devido as particularidades dessa fase (PRATTA; SANTOS, 2005; RIBEIRO, 1998; SILBER; SOUZA, 1998). Diversas pesquisas sugerem que o início do consumo de drogas acontece cada vez mais cedo, principalmente em relação ao álcool. Seu consumo abusivo, bem como uso de outras drogas, tornou-se um dos maiores desafios da sociedade contemporânea (SOUZA, 2004), estando associado a diversos problemas de ordem biológica, psicológicos e sociais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa bem informada tem menor possibilidade de usar drogas. Todavia a informação sobre drogas, principalmente entre adolescentes, necessita de maior atenção por estarem em uma fase marcada por grandes mudanças, com grandes descobertas e aprendizados que marcarão sua identidade. Atualmente, a divulgação do conhecimento chega rapidamente a qualquer ponto do planeta por variadas fontes e muitas vezes de forma distorcida ou contraditória. Pensando nisso, procuramos analisar, à luz da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, o conhecimento particular sobre o uso de drogas que os adolescentes construíram até aqui em suas relações sociais, a fim de identificar os valores, ideologias e contradições que fazem a respeito do assunto, aspectos fundamentais para a compreensão do comportamento social.
Esta pesquisa foi realizada com adolescentes de 12 a 21 anos, matriculados em três escolas do município de Planalto ? BA, localizadas em uma área que atende estudantes de todos os pontos da cidade. Foram amostradas duas escolas do ensino fundamental, sete turmas de 8ª série, e uma escola de ensino médio, quatro turmas de 3º ano, totalizando 388 alunos. A amostra foi calculada com uma percentagem de 20% para cada turma, obtendo-se uma amostra total de 108 alunos.
O instrumento utilizado na pesquisa foi um questionário de autopreenchimento contendo questões abertas e fechadas. A seleção dos sujeitos foi voluntária e a aplicação dos questionários se deu coletivamente em sala de aula, após explicação clara e detalhada aos alunos sobre os objetivos da pesquisa, sem a presença do professor, garantindo-se enfaticamente o caráter anônimo e sigiloso do questionário, conforme o procedimento recomendado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).
O questionário continha dados pessoais e escolares do entrevistado, conceito sobre drogas e as que eles conheciam, informações referentes ao risco e fatores de risco do uso de drogas e fonte de informação sobre drogas; além de contar com um questionário sobre prevalência do uso de drogas. Somente foram consideradas neste questionário, as substâncias de uso não-médico mais utilizadas por estudantes adolescentes (Feijó e Oliveira, 2001; GALDUROZ, 2004), como o álcool, o cigarro, a maconha, os solventes, a cocaína e o crack. Para a análise das questões abertas, criou-se categorias de respostas que juntamente com as questões fechadas foram analisadas com o auxílio de dados quantitativos, porém foi mantido o caráter qualitativo da pesquisa (REA; PARKER, 2000).
Para a análise da prevalência de drogas, criou-se uma planilha específica, a partir da qual os dados foram analisados, seguindo as seguintes categorias propostas pela OMS:
? uso na vida: usou pelo menos uma vez na vida;
? uso no ano: usou pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores à pesquisa;
? uso no mês: usou pelo menos uma vez nos 30 dias anteriores à pesquisa;
? uso frequente: usou seis vezes ou mais nos 30 dias anteriores à pesquisa;
? uso pesado: usou 20 vezes ou mais nos 30 dias anteriores à pesquisa.
Em geral, as representações que os adolescentes fazem sobre drogas podem ser analisadas como um conjunto de imagens dotadas de valores unidimensionais, fragmentadas e truncadas para vários aspectos. Um desses aspectos é percebido ao conceituarem drogas somente pelos seus efeitos tóxicos, desconsiderando os medicamentos, que quando prescritos por profissionais habilitados e administrados corretamente provocam efeitos benéficos ou úteis.
A representação das drogas, como tóxicos, para os adolescentes constitui-se um fato de certa forma esperado, dado o processo de objetivação que ocorre contemporaneamente a partir da vulgarização do saber científico sobre drogas, ou seja, passamos a representar os objetos em função de valores aprendidos na sociedade normativa, uma vez que essas substâncias são amplamente vistas e discutidas como sinônimo de "coisa" ruim, como explicitam alguns dos respondentes da pesquisa ("droga é uma droga").
Outro aspecto bastante distorcido é o fato de que, apesar de considerarem as drogas nocivas, somente seus efeitos psicológicos são relatados, referindo-se em geral às mudanças de comportamento, e raramente aos danos fisiológicos. Esse fato, associado ao de considerarem somente as substâncias ilícitas (maconha, cocaína e crack) como drogas, podem ser analisados, segundo Carlini-Cotrim e Cols (apud CARLINI-COTRIM, 1998), como se a preocupação com tais drogas se devesse em grande parte, a uma amplificação da visão gerada pelos meios de comunicação de massa, de que estas drogas são as principais responsáveis por problemas como violência urbana, desagregação familiar e delinquência juvenil. Quando a droga ilícita é tratada como
"Bode expiatório", fazendo-a aparecer como responsável por grande parte dos revezes sociais; produz-se uma mistificação, o que impede seu dimensionamento correto e averiguável, imprescindível para se ultrapassar o nível de preconceitos, prejulgamentos e visões preconcebidas, ou ainda, aquele de interpretações unidirecionais ou tendenciosas (BOUCHER; OLIVEIRA, 1994, p. 138).

Sobre os riscos do uso de drogas, em geral, podemos dizer que os adolescentes pesquisados reconhecem sua existência, visto que, suas expectativas de custo são mais altas que as expectativas de benefícios, apresentando uma idéia negativa frente ao consumo. De acordo com Gil (2008), a percepção do risco se estabelece através de decisões racionais do indivíduo para envolver-se ou não no uso; das crenças; das expectativas; do valor afetivo atribuído às mesmas; da percepção de expectativas das pessoas significativas; e da auto-eficácia. Assim, ao reconhecerem que o uso de drogas proporciona perigo, percebem que existem ameaças que rondam a busca dos resultados desejados (GIDDENS apud SCENKER; MINAYO, 2005). Isso é corroborado quando a maioria dos adolescentes reconhece que as drogas não fazem bem à saúde do usuário e quando reconhecem que o uso de drogas afeta toda a sociedade, não somente o usuário e sua família.
Ora, se os adolescentes reconhecem a existência dos riscos do uso de drogas considerando-as perigosas, com risco para a saúde e para a sociedade em geral, preocupa-nos o fato de que 73,2% relatam já ter experimentado drogas pelo menos uma vez na vida, sendo que destes 52% fizeram uso no último mês. Dentre essas drogas o álcool foi a de maior prevalência para todas as categorias de uso, sendo que 81% dos adolescentes já fizeram uso vida, 19,8% o fazem frequentemente, e 3,7% fazem uso pesado.
Atentamos para o fato de que, embora possamos considerar desnecessária a preocupação para o uso na vida, tendo em vista que tal uso pode ter sido apenas uma única experimentação e muitos experimentadores podem nunca mais repetir o uso, ressaltamos aqui que o grande problema é justamente esse. Ninguém, muito menos os adolescentes sabem quem entre os experimentadores serão apenas usuários ocasionais ou quem se tornará dependente. Principalmente, pela idade em que começaram a experimentar (13 a 15 anos). Há indicações de que quanto mais cedo ocorre o primeiro contato, maiores são as chances de se chegar à dependência. Em relação ao uso frequente e pesado do álcool por adolescentes, por fazê-lo esporadicamente, sem graves consequências momentâneas, e por desconsiderarem seus efeitos nocivos para a saúde e para a sociedade em geral não as reconhecendo como drogas, certamente correrão riscos de passar a usá-las de forma regular. De acordo com Silber e Souza (1998), o uso de álcool e outras drogas, mesmo esporadicamente, é fator de predisposição para problemas futuros muito sérios com respeito ao abuso, funcionando nesse caso como uma droga indutora. Dessa forma, a desconsideração pelos adolescentes pesquisados de que o uso de drogas somente nos fins de semana, tanto pode levá-los a dependência, quanto pode influenciá-los a usar outro tipo de droga, constitui-se uma representação propícia aos riscos, pois de acordo com Shenker e Minayo (2005), o lado negativo do desejo juvenil de obter prazer com o uso de drogas é o risco que ele corre de se tornar dependente e comprometer a realização de tarefas normais do desenvolvimento.
Quando o assunto se refere aos fatores de risco associados ao uso de drogas, a literatura diz que estes, assim como os fatores de proteção estão na própria pessoa, na sua família, nos seus amigos, na escola, no trabalho, na comunidade onde ela vive e na sociedade em geral. Entretanto, alguns motivos são considerados como desencadeantes do uso de drogas por adolescentes. A representação de que a influência dos amigos usuários desencadeia o início do consumo pelos adolescentes, relatado pela metade dos respondentes da pesquisa, corrobora a citação de muitos autores , os quais consideram que um adolescente cujos melhores amigos demonstram tolerância, aprovação ou consomem drogas, será mais facilmente levado a experimentar, do que aquele cujos amigos evitam e não estão de acordo com seu uso. Entretanto, uma contradição interessante sobre três fatores despertou a atenção. Bem, se eles consideram os amigos usuários de drogas como fatores desencadeantes do início do consumo, e não tem amigos usuários, então porque 73,2% deles já experimentaram algum tipo de droga? Tais representações assentam-se no campo da teoria das representações sociais como explicações originadas no dia-a-dia durante as interações sociais para garantir a comunicação e a interação no interior do grupo (MOSCOVICI, 1978). Dessa forma, o grupo de amigos, considerado por Oetting e Donnermeyer (apud SCHEKER; MINAYO, 2003) como uma das fontes de socialização primária pela sociedade ocidental, além da escola e da família, forma grupos de intimidade, influenciando de forma marcante a transmissão de normas na fase da adolescência. Entretanto, para Shenker e Minayo (2005), esse desenvolvimento de afiliações a pares tolerantes e que aprovam as drogas, representa o final de um processo onde fatores individuais, familiares e sociais adversos se combinam de forma a aumentar a probabilidade do início do uso.
Assim, de acordo com as autoras, o mito que supervaloriza a influência dos pares durante a adolescência provavelmente decorre, em algum nível, de certa desresponsabilização, sobretudo por parte dos pais e dos outros educadores, de problemas frequentes nas relações intrafamiliares ou institucionais. Não podemos ignorar o fato de que a influência de amigos seja um dos maiores fatores predisponentes ao uso de substâncias psicotrópicas. Devemos nos atentar para o fato de que, durante a adolescência os jovens estão mais vulneráveis às influências externas e isso ocorre principalmente quando modelos de funcionamento do adulto estão ausentes na família (FEIJÓ; OLIVEIRA, 2001). Dessa forma, a valorização de vínculos saudáveis dos adolescentes com a família e a escola, bem como a educação pelo exemplo, pode prevenir a associação do jovem com as ditas "más companhias" (OETTING; DONNERMEYER apud SCHEKER; MINAYO, 2003).
Quando o assunto foi "fontes de informações sobre drogas", os relatos nos permitiram uma inferência de explicações para as representações dos adolescentes da Educação Básica sobre drogas. Os relatos dos adolescentes demonstram que, a prevenção ao abuso de drogas na escola, onde se deu o maior índice de informação sobre drogas (95%) , se operacionaliza através de atividades esporádicas, promovidas por instituições não educacionais representadas por policiais e usuários em recuperação. De acordo com os alunos, o primeiro costuma explanar sobre as drogas ilícitas e as leis que as proíbem. O segundo costuma relatar suas experiências com tais substâncias, sua marginalização, seu distanciamento familiar etc. Isso em geral, ratifica o que foi dito por Bucher e Oliveira (1994, p. 137), essas informações "caracterizam-se pela veemência de informação mais emotiva do que serena e objetiva; mais sensacionalista do que científica; mais moralista do que isenta de juízos valorativos". O que se vê, geralmente, são relatos sem fundamentação cientifica, contribuindo assim para mistificação das informações sobre drogas, privando o adolescente do dimensionamento correto e averiguável, imprescindível para se ultrapassar o nível de prejulgamentos e visões preconcebidas, ou ainda, as interpretações unidirecionais ou tendenciosas (BOUCHER; OLIVEIRA, 1994).

Há muito que a literatura estrangeira especializada no campo da prevenção ao abuso de drogas vem clamando pela superação do amadorismo e da improvisação na atuação junto aos jovens. Muitos autores colocam-se frontalmente contrários à posição de que "fazer qualquer coisa é melhor do que não fazer nada". Objetivos claramente delineados, planejamento, rigoroso treinamento dos profissionais envolvidos, são requisitos fundamentais para que um programa de prevenção não corra o risco de transforma-se em contrário, ou seja, num instrumento incentivador d suo de drogas [...] Há pelo menos uma década, percebe-se um consenso na literatura elegendo o professor, desde que devidamente treinado, como um dos agentes mais indicados para a prevenção ao uso de drogas. A ação preventiva deve ser na sala de aula, incorporada de forma natural aos currículos de algumas disciplinas. A intervenção direta de médicos, ex-drogados, religiosos, ou mesmo educadores que não tenham um vínculo sistemático com os jovens não se mostrou profícua (CARLINI-COTRIM; ROSEMBERG, 1990, p. 44).

Entretanto, os professores que deveriam abordar o assunto com embasamento cientifico, muitas vezes encontram-se despreparados para tratar sobre o problema, transferindo seu papel para outras pessoas da sociedade. Isso pode ser explicado devido ao fato de ser um assunto raríssimas vezes discutido na formação de professores. Conforme uma pesquisa sobre as representações sociais de professores do ensino médio da rede pública do Estado de São Paulo, sobre AIDS, Drogas, Violência e Prevenção, "para que a prevenção possa ser compreendida como tarefa educativa, é necessário que esteja incluída como área de preocupação dos processos de formação inicial e continuada dos professores e, portanto, tenha sido discutida amplamente no âmbito dos formadores" (PLACCO, 2000).
De acordo com os adolescentes, a mídia e a família, a segunda e a terceira fonte de informação, respectivamente, marcada pelos adolescentes, apresentam as mesmas características de informações, enfatizando as drogas ilícitas e tratando-as como se fossem as únicas responsáveis por todos os problemas sociais. Isso corrobora o que diz Carlini-Cotrim e Cols (apud CARLINE-COTRIM, 1998) que a preocupação em relação à maconha, à cocaína e o crack deve-se em grande parte a uma amplificação da visão gerada pelos meios de comunicação de massa, de que tais drogas são as principais responsáveis por problemas como violência urbana, desagregação familiar e delinquência juvenil. No entanto, muito pouco ou nada se fala de que, 90% das internações psiquiátricas por drogas no Brasil são decorrentes de problemas com álcool (CARLINI-COTRIM, 1998); que o álcool é responsável por 30 a 50% dos acidentes graves e fatais de trânsito em diversos países (MARIN E QUEIROZ, 2000 apud GALLASSI, 2008); que seu consumo tem sido associado à perpretação de 50% de todos os homicídios, de mais de 30% dos suicídios e tentativas de suicídio e a uma ampla gama de comportamentos violentos (MINAYO E DESLANDES, 1998, apud GALLASSI, 2008).
De acordo com Moscovici (1978), o indivíduo se constrói na relação com o outro e com a sociedade em que vive, e o processo de construção do seu conhecimento particular se dá nessa relação. Moscovici afirma que as representações sociais não são apenas "opiniões sobre" ou "imagens de", mas teorias coletivas sobre o real. Desse modo, podemos detectar um conjunto de teorias coletivas que explicam as representações dos adolescentes aqui pesquisados.
A influência indireta, sutil e cumulativa da mídia sobre a formação de atitudes e conhecimentos em todos os indivíduos dos diferentes grupos da sociedade como a família, a escola e os amigos, talvez nos permita inferir uma maior relação com essas representações dos adolescentes e as atitudes que orientam suas condutas em relação às drogas. Essa característica de influência da mídia são passadas por gerações, mantendo um guia de relacionamento com o mundo e com os outros (STRASBURGER apud NOTO, 2009). Embora saibamos que a mídia por si só não constitui o determinante do comportamento da população, ela pode atuar reforçando conceitos fundamentais que legitimam as políticas de saúde, de repressão e de ação social frente às representações de um povo. Dessa forma, conforme Moscovici (2003), os elementos da realidade, os conceitos, as teorias e as práticas são submetidos a uma reconstrução a partir das informações colhidas e da bagagem histórica (social e pessoal) do sujeito.
Portanto, os resultados deste trabalho acerca das representações sobre drogas entre adolescentes da Educação Básica, nos fazem refletir sobre as nossas próprias representações. Quantos de nós, indivíduos construídos e, ao mesmo tempo, construtores da sociedade, rotineiramente emitimos informações distorcidas, superestimando o perigo de substâncias ilegais, ao mesmo tempo em que relegamos a importância de um problema bem maior e mais frequente, que é o abuso de drogas lícitas como o tabaco e o álcool. Tal permissividade leva a crença da inocência desse uso, sem nos darmos conta de que o abuso da mesma tem se tornado um dos principais problemas da sociedade contemporânea (UNIFESP/ EPM,2009).
Não pretendemos aqui provocar um debate ideológico de "combate ao uso do álcool", mas, relembrar que este assim como as drogas ilícitas, também são consideradas drogas psicotrópicas, e, portanto, mesmo em usos moderados, agem em nosso Sistema Nervoso Central ? SNC, alterando o nosso psiquismo, produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. Além do mais, o álcool usado de forma abusiva também como qualquer outra droga estimula a ação dopaminérgica em vias mesolímbicas tendo papel determinante no estabelecimento de dependência.
Sendo assim, a educação, a divulgação do conhecimento científico, a valorização dos elementos éticos e morais são pilares fundamentais na tarefa da prevenção. A oferta do conhecimento sobre os malefícios do uso de drogas incluindo-se aí o uso indevido do álcool, e uma vida sadia e prazerosa são os elementos principais para garantir a redução dos problemas causados pelas drogas em níveis mínimos em toda a sociedade. Para tanto, vale salientar que toda sociedade está aqui incluída no papel dessa oferta de conhecimento, visto que são nas convivências sociais que se originam nossas concepções e representações e subsequentemente nossas condutas.



REFERÊNCIAS

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Autor: Adriana Vieira Brito Macedo


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