Índios do sertão pernambucano



Índios do sertão pernambucano

Os Tuxá.

Os Tuxá foram estudados em profundidade nos anos setenta do último século, na sua organização social e econômica pelo casal Nasser (Nasser 1974; Cabral 1974) e Sampaio-Silva (1997), que deles levantou costumes e lendas. Em meados do século passado, os Tux á, provavelmente junção de restos de diferentes etnias, ainda praticavam uma agricultura de subsistência, plantando mandioca, feijão, milho e "verduras de quintal" nas ilhas próximas a Rodelas inclusive na ilha da Assunção, possuindo três quilômetros de comprimento por meio quilômetro de largura, muito dividida entre posseiros brancos, pouco restando da sua área para o cultivo por aqueles que não fossem habitantes do lugar. Outra ilha onde exercitavam as práticas agrícolas era a ilha da Viúva, recuperada entre 1934 e 1937 graças ao capitão João Gomes Apax Caramuru Tuxá, líder indígena, que a tornou centro religioso, sendo mais provável que sempre tivesse desempenhado essa função (Nasser 1974).
Por ocasião da visita da equipe do NEA-UFPE, afirmaram que seu t erritório primitivo compreendia o espaço entre a aldeia de Curral dos Bois, a foz do Pajeú, inclusive a ilha de Surubabel, e a ilha da Assunção e da Missão e Rodelas, incluindo todas as ilhas dentro desse perímetro. Verificou-se posteriormente que além da própria Ilha da Assunção e a de Sorobabel, onde em épocas recentes ainda faziam roças, as outras ilhas eram a da Viúva, a dos Coitezinhos, do Combaiodá, do Tucum, do Cupim, do Coité, da Porca [de Porcaz, Periá, Preá?] da Inveja, da Paraibeira, e da Cobra. Os Truká, provavelmente remanescentes Tuxá, vivem atualmente na ilha de Assunção e arredores de Cabrobó. Adaptados aos costumes da população branca, muito miscigenados, e praticam a religião católica. Uma pequena população habita em área situada em torno das ruínas da igreja de N. S. da Assunção, as quais testemunham a imponência do antigo templo, que se apresentava sem a metade esquerda, levada pelas águas do São Francisco, à época das pesquisas de salvamento arqueológico desenvolvidas na região. Ao lado dos vestígios da construção, estava localizado o cemitério dos aldeões.
A missão da aldeia da ilha da Assunção estima-se que tenha sido fundada em 1722, ocasião em que os índios locais doaram as terras à Matriz de Cabrobó. Essa dependência da sede eclesiástica, possivelmente impediu que essa missão fosse arrolada em 1746. A pretexto de que as terras da aldeia pertenciam à matriz, um juiz de capelas arrendou a ilha em hasta pública por nove anos e vendeu o gado que pertencia aos índios. Em 1872, fato semelhante voltaria a ocorrer. O Juiz de Cabrobó pôs em arrendamento não só as ilhas pequenas onde os indígenas cultivavam, como a própria aldeia, com mais de 150 anos de existência. Em 1861, os pouco mais de seiscentos indivíduos existentes em 1855, estavam reduzidos a cento e setenta e um. Com a extinção das aldeias em 1879, seus habitantes passaram a viver em bandos, inclusive na própria ilha, em torno da pequena igreja construída próxima às ruínas da igreja da missão, em cujo lado oposto ao rio encontrava-se o cemitério. Hoje se tem notícia de famílias dispersas desde o norte do Ceará até o sul da Bahia. Atualmente a ilha está dividida entre diversos proprietários. Os nativos que nela permaneceram ocuparam nos anos passados 60 as habitações construídas para os colonos de um projeto governamental de colonização que fracassara e tivera as instalações abandonadas. Por volta de 1981, FUNAI e órgão do Governo do Estado de Pernambuco negociavam a possibilidade de se instituir uma reserva indígena com 600 ha para os Truká (Condepe 1981). Por volta de 1987, a igrejinha em meio à plantação estava com o teto arruinado e os ícones sob os cuidados de uma senhora octogenária que residia às margens do riacho da Brígida. Para Hohenthal Truká e Tuxá são índios canoeiros, remanescentes das aldeias de Assunção e Santa Maria, esta pouco distante de Cabrobó, de onde foram expulsos pela Casa da Torre. Tendo desaparecido do local por volta de 1845, conforme referência anterior, muitos se reuniram aos grupos nômades da Serra Negra, mas em 1855 estavam de volta e aí permaneceram até a extinção das aldeias de Santa Maria e de Assunção em 1879. Truká, segundo explicação dos Tuxá, significaria "filho de tuxá".

6.4.3 Os Atikum.

Atualmente o território dos Umã no topo da serra epônima de quase mil metros de altitude, é habitado por populações que se autodenominam Atikum. No século passado, por volta dos anos 80 compunham um contingente populacional em torno de 2.476 indivíduos distribuídos em dezesseis aldeias, das quais quinze integram a Reserva Indígena Atikum, sob a jurisdição da FUNAI, cujo posto localiza-se na aldeia principal, Alto do Umã. As demais aldeias situadas no topo da serra, que mede aproximadamente cinco quilômetros de comprimento por um de largura, próximas do povoado principal são: Jatobá, Samambaia e das Damas. A maior distância, no Umã ou na planície no sopé da serra, encontram-se as aldeias Jacaré, Lagoa Cercada, Casa de Telha, Baixão, Serra da Cutia, Bom Jesus, Areia dos Pedros, Serra da Lagoinha, Serra Grande, Sítio Sabonete, Sítio Boa Vista, Oiticica, Olho d? Água dos Padres. Dessas povoações, apenas cinco eram servidas com estrada de rodagem, sendo o acesso às demais feitas a cavalo ou a pé.
A aldeia que sedia o Posto da FUNAI distingue-se pela organização das edificações em arruado. As construções em alvenaria abrigam a escola, a sede administrativa, a enfermaria e as habitações dos funcionários da Reserva. O Posto, no entanto, não era freqüentado pelos habitantes das outras aldeias, das quais a mais desenvolvida era a Olho d?Água dos Padres, devido á proximidade de um açude da Cisagro, que deve ter facilitado a vida dos aldeados propiciar o cultivo de hortaliças e a pesca (Pernambuco-Condepe 1981).
Missão Nossa Senhora da Assunção. Localizada na ilha de mesmo nome, em Cabrobó-PE, subsiste nas ruínas de seu templo, que testemunham sua outrora imponência. Ao lado desses vestígios uma outra, modesta, à espera de um teto, de construção recente, servia aos atos religiosos dos Truká, proprietários da gleba, que à época lutavam pelo reconhecimento de sua etnia pela Funai. As imagens da igreja, transferidas para o templo menor, encontravam -se em uma capelinha no sítio Santa Rosa de D. Ana Celeiro, habitante no pé da serra da Extrema, que as transportou para lá, quando há alguns anos Antonio Sampaio comprou a área e proibiu a festa da padroeira. Os Truká esperavam reavê - las após a morte da senhora já muito idosa, que contava 88 anos naquela data. O líder, Joaquim Pereira da Silva, auxiliado por Pedro Alberto Maciel, informou possuir um documento da FUNAI (Recife) que faz referência à igreja hoje em ruínas como tendo uma existência de 210 anos no ano de 1987, não sabendo se da fundação ou da destruição. A edificação e os restos do templo apresentam características de uma construção tecnicamente bem cuidada, de um período tardio - século XVIII - provavelmente da época em que os nativos haviam sido banidos das redondezas da fazenda Cabrobó, com a criação da vila. O setor de várzeas, propício ao desenvolvimento da agricultura, estava localizado entre a foz do Pajeú e a sede do município de Belém do São Francisco, onde foram encontrados os vestígios das populações ceramistas que viviam em aldeias. Um outro setor, estava situado entre a embocadura do Pajeú e Itaparica, com relevo acentuado por morros e col inas ? os serrotes -, onde lentes de seixos haviam servido como fonte de abastecimento aos fabricantes dos instrumentos de pedra. É provável que os dois ambientes tenham sido explorados simultaneamente, o primeiro na agricultura, o segundo na artesania lítica, na fase mais recente da pré-história de Itaparica. Deste modo, os dois setores que apresentavam características ambientais bastante diferenciadas, podendo ser denominados nichos -, foram explorados de acordo com os recursos necessários às populações da época.
O espaço da ocupação em abrigos teria sido substituído em definitivo pelo
espaço das aldeias, pois o ambiente das ilhas despertara um particular interesse nas populações pré-históricas, pelo menos nos tempos que poderiam ser considerados proto-históricos, que voltaria a sofrer impacto não determinado pela natureza, mas pela presença de uma nova leva de ocupantes, portanto de ordem antrópica, com a criação das aldeias artificiais, por ocasião da implantação das missões, e pela apropriação da área para a modificação das condições que sustentavam o antigo modo de vida permitiu um desmonte nas estruturas sociais e culturais, de modo que a fabricação dos artefatos fosse de livre acesso a todos, embora se mantivesse a memória das técnicas antigas.
A segunda alteração cultural na área ocorreria com a passagem para a tecnologia trazida pelo europeu. Embora os nativos rapidamente adotassem os instrumentos de ferro, o acesso a esse material não era tão fácil, a ponto de deixarem o uso dos artefatos de pedra (ou de madeira). A adaptação ao espaço criado e imposto pelos estranhos, fazendo desaparecer o que durava há pelo menos dois milênios, seria lenta. O processo de aculturação de ambos os povos ? nativos e transmigrados -, aconteceria sob a implementação de um plano de colonização inicial, que se consolidou em um projeto a ser realizado por etapas, com a inserção do nativo na sociedade em formação, como seu elemento de sustentação. O projeto que se assentou no tripé colonizador ? funcionário ?missionário, e se desenvolveu por mais de dois séculos, comprova a resistência dos indígenas à situação de dominação pelo estranho e, por outro lado, a necessidade deste em cooptá-los para o projeto em andamento. Desse modo, não se pode afirmar que tenha havido uma ruptura brusca na vida dos povos nativos com a chegada do colonizador, no sentido de uma extinção como difundiam os escritores românticos do século XIX, dando oportunidade a que o governo decretasse essa extinção. O que houve foi uma modificação na trajetória de vida dessas populações. Grupos considerados extintos reaparecem atualmente, obviamente com denominações diferentes. Não se pode negar que tenha ocorrido redução populacional durante as guerras, mas a junção de etnias nos aldeamentos e o aportuguesamento destas pela cristianização, foram as estratégias empregadas pelo português que mais contribuíram para a camuflagem dessas populações traduzida em desaparecimento para que no lugar delas surgissem os cidadãos, essenciais à implantação e desenvolvimento do projeto de colonização. O português, paralelamente, ele próprio se mesclou e se adaptou ao novo ambiente, aprendendo os hábitos locais e adquirindo os conhecimentos dos primeiros habitantes da terra.






Autor: Djalmira Sá Almeida


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