Dragão ou Tigre de Papel? A Verdade Por Trás do Poderio Chinês



Republicação de artigo publicado originalmente em 15 de setembro de 2008 no periódico "Cenário Internacional" - ISSN 1981-9102.


Dragão ou Tigre de Papel? A Verdade Por Trás do Poderio Chinês
15/09/08

Desde o desmembramento do Império Soviético, em 1991, o mundo assiste a uma suposta unipolaridade protagonizada pelos Estados Unidos da América (EUA). O sentimento de que, de fato, haveria uma hegemonia exercida por Washigton foi fortalecido pela eventualidade das guerras na Bósnia (1995), na Sérvia (1999), no Afeganistão (2001-) e no Iraque (2003-). Entretanto, após a invasão deste último país pelos Estados Unidos, tem sido observada, gradualmente, uma tendência de enfraquecimento da posição política americana. A posição econômica daquele país já vinha sofrendo desgaste há algum tempo, com o fortalecimento econômico da República Popular da China (RPC) e a criação da moeda única da União Européia (UE), o Euro. Atualmente, as ações praticadas pelos Estados Unidos, em sua maioria, carecem de legitimidade, reflexo direto da política adotada por aquele país ao tentar conferir ares de legalidade à invasão do Iraque. Em virtude destes fatos, muitos se perguntam quem será a nova potência que, eventualmente, possa vir a substituir os Estados Unidos como superpotência ou dividir com este o citado título.

Antes de uma abordagem mais específica, faz-se necessário o esclarecimento de alguns aspectos. Alguns teóricos se referem à situação atual como uma "unipolaridade compartilhada". Como tem sido provado no Afeganistão e no Iraque, os Estados Unidos, apesar de todo poderio tecnológico e militar demonstrado, não tem conseguido, sozinhos, manter a situação sob controle. Isto denota que, apesar de serem capazes de desferir um golpe inicial avassalador, a guerra do século XXI exige que os EUA busquem apoio para dividir o peso de conflitos, seja este peso considerado tanto externamente quanto internamente. A tendência para este século é que o sistema internacional, tanto em seu espectro econômico quanto geopolítico, seja dividido entre vários atores. Mesmo que a UE venha a desempenhar o papel de superpotência, as decisões serão tomadas por um conjunto de Estados. E mesmo dentro da UE existe polarização, destacando-se naquele bloco a França e a Alemanha. Porém, os fatos têm demonstrado que parte dos europeus ainda têm grande receio de abrir mão de maior parcela de suas soberanias nacionais, o que dificultaria a transformação da UE em superpotência plena. Além do mais, o Tratado de Maastricht tem sua aplicação restrita à economia, permanecendo a segurança européia atrelada ao Tratado do Atlântico Norte e, por conseguinte, aos Estados Unidos. Portanto, a influência geopolítica da UE pode ser limitada. Não há, atualmente, nenhum país do globo com capacidade para exercer uma unipolaridade plena e individual. E esta situação perdurará ao menos pelos próximos vinte e cinco ou trinta anos.

Nas últimas três décadas, um fenômeno tem atraído a atenção não apenas de analistas ou pesquisadores, mas também dos leigos: o espantoso crescimento econômico da República Popular da China. Nos últimos trinta anos, a soma de tudo o que é produzido na China, o Produto Interno Bruto (PIB), aumentou mais de cinco vezes. Os acontecimentos ocorridos no fim da década de 1980 e início da década de 1990 com o bloco comunista europeu tornam o chamado "milagre chinês" ainda mais impressionante. Chamada de "a promessa do século XXI", muitos apostam na China como a nova superpotência. Entretanto os chineses não possuem, e nem há perspectiva de possuírem, alguns requisitos básicos para a ostentação do referido título de superpotência.

Algumas características básicas são necessárias para a ostentação de tal título. Além do freqüentemente citado padrão social, que na China, se comparado ao europeu ou ao americano, deixa muito a desejar, deve ser citado como um dos principais a capacidade de exercer influência. Para que se tenha uma polaridade característica de superpotência, tal influência deve ser exercida em múltiplos campos. Estes seriam o cultural, o econômico, o político e o geopolítico (militar). A influência cultural é uma das mais facilmente perceptíveis. Os chineses, de fato, já a exercem. A cultura chinesa fascina o Ocidente há séculos. Junto com a anterior, a influência econômica também se encontra entre uma das mais facilmente observáveis. A produção de aço chinesa em 2007, segundo dados do Instituto Internacional do Ferro e do Aço, corresponde a 36 % do total mundial. O país também é o terceiro maior receptor de investimentos estrangeiros no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido, segundo agências internacionais. Estas são apenas algumas das impressionantes estatísticas que ilustram o crescimento econômico da China. Porém, não pode ser ignorada a enorme dependência chinesa do fornecimento externo de recursos energéticos, principalmente petróleo. A China, segundo estatísticas oficiais do governo dos Estados Unidos, em 2006, foi a terceira maior importadora de petróleo do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Tal dependência torna a China vulnerável a oscilações globais geopolíticas e econômicas que podem minar sua economia. Como será tratada mais adiante, a porventura necessária capacidade de intervenção chinesa é muito limitada para garantir segurança frente a tais oscilações. A influência política deste país é inquestionável. O exemplo mais claro disto é a cadeira de membro permanente com direito a voto especial ocupada por Pequim no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), máximo órgão político global. Na última e não menos importante esfera de influência, a geopolítica, se encontra principalmente a capacidade que uma nação tem de se defender e projetar seu poder aonde tal projeção se faça necessária.

A China, no campo geopolítico, possui influência limitada à Ásia. Portanto, se enquadraria apenas na classificação de "potência regional". Apesar de possuir influência cultural, econômica e política de projeção global, o poderio de projeção global chinês tende a ser da mesma espécie do poderio japonês, com pequenas diferenças. Ambos possuem influência cultural e econômica de projeção global. Porém, a influência política japonesa é consideravelmente menor que a chinesa, sendo restrita à Ásia, e aí aparecem as diferenças. Os chineses, conforme já afirmado, ao contrário dos nipônicos, podem projetar seu poderio geopolítico por toda Ásia. Deve ser lembrado, todavia, que as forças armadas japonesas possuem função de autodefesa. Portanto, a China tende a se consolidar cada vez mais como importante pólo econômico, cultural e político, porém sem o título de superpotência devido à citada restrição.

Em sua maioria, informações sobre poderio militar são polêmicas, já que a variedade de fontes existentes possibilita a obtenção de dados que nem sempre se assemelham. Porém, a combinação aproximada de informações de algumas fontes confiáveis como a organização GlobalSecurity (GlobalSecurtity.org) e Federação dos Cientistas Atômicos dos Estados Unidos, a FAS (fas.org) permite a elaboração de excelentes parâmetros. As informações aqui citadas foram retiradas, em sua maioria, destas duas fontes, exceto quando citada.

O orçamento militar chinês, em 2007, foi de quarenta bilhões de dólares, ou seja, o terceiro maior do mundo, atrás apenas da Rússia e dos Estados Unidos. As colocações variarão de acordo com a fonte, no entanto a maioria delas coloca a Rússia em segundo lugar e a China em terceiro, estando sempre os EUA em primeiro lugar. Entretanto, o governo dos Estados Unidos contesta a informação, afirmando que os chineses escondem seus verdadeiros gastos, que podem estar entre noventa e sete e cento e trinta e nove bilhões de dólares. Apesar do grande orçamento, os chineses não estão conseguindo, comparando-os a outras potências, realizar melhorias revolucionárias em suas forças armadas. Denota-se, portanto, que mesmo que Pequim continue incrementando seu orçamento militar nos próximos anos, a capacidade de projeção estratégica nacional continuará defasada.

Os chineses possuem atualmente não só o maior exército do mundo mais também a maior força aérea do planeta. Contam ainda com uma marinha de águas verdes, capaz de realizar uma projeção naval regional, e com o quarto maior arsenal nuclear do mundo. Foram, ainda, a terceira nação a, por meios independentes, levar homens ao espaço. Para alguns, tais informações bastavam para afirmar, convictamente, que o poderio geopolítico chinês é indiscutível. Entretanto, uma análise profunda pode revelar a real natureza de tal poder.

Os chineses tentam há quase trinta anos elevar o padrão do treinamento de suas forças armadas. Como se pode observar pelos acontecimentos passados nos primeiros anos deste século, os chineses não têm sido bem sucedidos. Em abril de 2001 um caça chinês colidiu em pleno ar com uma aeronave de inteligência da Marinha dos Estados Unidos (USN) enquanto esta última realizava vôo próximo ao território chinês. Em junho de 2008, outros dois caças de combate Shenyang J-8 da Força Aérea da China (PLAAF, na sigla em inglês) também se chocaram em pleno ar em uma região deserta na Mongólia Interior. A marinha e a força aérea destacam-se pelos baixos padrões de treinamento. Na única guerra aberta na qual os chineses se envolveram nos últimos 40 anos, ao invadir o Vietnã, em 1979, foram rechaçados pelos experientes vietnamitas. Após um mês de confronto, os enviados de Pequim se retiraram do Vietnã anunciando "o fim da expedição punitiva", no que na verdade era uma derrota vergonhosa. Há quem credite a derrota à ingerência chinesa de não empregar sua força aérea no conflito ou à incapaz rede de manutenção de suprimentos empregada na época ? e que possivelmente ainda possui as mesmas deficiências. As forças armadas chinesas vêm, por meio de programas de intercâmbio com forças de outros países, tentando prover seu efetivo de um eficiente e eficaz programa de treinamento. Devido à limitação de informações divulgadas pelo governo comunista, estimativas precisas são escassas. Mas mesmo assim é possível afirmar que os chineses não alcançarão o padrão de treinamento das forças armadas da Rússia, França, Reino Unido ou Estados Unidos nos próximos quinze ou vinte anos.

O Exército de Libertação Popular (PLA, na sigla em inglês) possui hoje um efetivo de mais de dois milhões de homens que, apoiados por mais de 8.000 tanques, 6.500 veículos de combate, 13.000 peças de artilharia e 2.000 baterias de foguetes de artilharia seria capaz de impor derrotas a qualquer exército no planeta. Entretanto, apenas uma parte destes equipamentos pode ser considerada relativamente moderna e, portanto, capaz de combater no campo de batalha do século XXI. Dos citados números, menos de 2.900 tanques se enquadrariam na definição citada acima, assim como dois terços das peças de artilharia, que se encontram em melhor estado. Comparativamente, a Rússia e os Estados Unidos possuem, cada um, mais de 8.000 tanques modernos. Além do apresentado, significante parcela do inventário de artilharia auto-propulsada do PLA também é obsoleta. Apesar disto, as forças terrestres chinesas diferem das demais forças do país por possuírem um melhor treinamento, ainda que este seja inferior aos das forças das citadas potências, sendo sua maior fraqueza a já citada lacuna logística. Ainda assim, a Força carece de profissionais experientes. Os helicópteros em operação no exército são poucos, se comparados à Rússia ou aos Estados Unidos, e cuja aviônica está obsoleta em sua grande maioria, além de possuírem limitadas capacidades de transporte e ataque. A função de defesa antiaérea, exercida pelo PLA, pode ser dividida em três classificações: defesa antiaérea regional (estratégica), defesa antiaérea de campo (tática) e defesa antiaérea portátil (operacional). A defesa antiaérea estratégica chinesa é feita pelos mísseis HongQi-2 (HQ-2, Bandeira Vermelha-2), S-300PMU e Kaishan-1A (KS-1A). Os mísseis HQ-2 são cópias do míssil soviético V-75 (SA-2 Guideline) projetado na década de 1950 para conter aeronaves americanas voando a altitudes médias e altas a uma distância de até 35 km. O míssil soviético ficou famoso ao abater uma aeronave espiã U-2 da USAF em 1960, possibilitando aos soviéticos a captura do piloto Francis Gary Powers. O projeto do míssil é obsoleto, seu sistema de radares só permite o ataque a uma aeronave por vez, embora até três mísseis possam ser disparados contra um mesmo alvo, além do obsoleto sistema de orientação e detecção. Grande parte da defesa antiaérea estratégica chinesa ainda é executada pelo míssil HQ-2, portanto, antiquada. Os mísseis KS-1, de produção doméstica, aparentemente tiveram sua entrada em serviço atrasada durante vários anos devido à pobre performance apresentada por estes. Sua versão aperfeiçoada, o KS-1A, já está operacional. O míssil, projetado para substituir os HQ-2, consegue abater alvos que estejam voando apenas a partir de quinhentos metros de altitude e a uma distância mínima de sete quilômetros. Em comparação, os mísseis russos S-300PMU podem engajar alvos voando a partir de dez metros e a uma distância mínima de cinco quilômetros. Além disto, os mísseis KS-1A estão posicionados em poucas localidades, sendo sua cobertura, portanto, insuficiente. Já os mísseis S-300PMU e suas sub-variantes, de fabricação russa, são considerados os melhores mísseis antiaéreos da atualidade. Seu alcance de cento e cinqüenta quilômetros, aliado a um poderoso radar capaz de detectar aeronaves de baixa assinatura de radar (como as aeronaves stealth) e sua capacidade de abater tanto mísseis de cruzeiro como o americano Tomahawk quanto mísseis balísticos e aeronaves em um ângulo de cobertura de 360° embasam tal consideração. Os chineses compraram algumas baterias de mísseis da família S-300, posicionando-as especialmente nas proximidades de Pequim, Xangai e do Estreito de Formosa. Certamente elas são a jóia da defesa antiaérea estratégica chinesa. Porém a limitação da quantidade colocada em serviço denota a ainda insuficiente proteção antiaérea da RPC. Além disto, versões mais modernas do míssil, como a variante S-300PMU2, já estão operacionais na Rússia. Os sistemas de defesa antiaérea tanto táticos quanto operacionais estão em melhor estado do que os estratégicos, sendo, portanto, capazes de prover significativa proteção antiaérea às forças terrestres chinesas. Destacam-se entre os primeiros os mísseis portáteis FN-6 e QW-1, cuja tecnologia é superior ao do americano FIM-92A Stinger. Entre os mísseis antiaéreos táticos, destaca-se o russo Tor-M1, tido também como um dos melhores mísseis antiaéreos táticos da atualidade, sendo inclusive capaz de abater mísseis de cruzeiro. No entanto, poucas baterias deste último foram adquiridas pelos chineses, sendo insuficientes para atuar com eficácia. Além disto, é necessário citar que tanto os mísseis táticos quanto operacionais possuem limitada capacidade de defender alvos de importância estratégica, limitação esta que, no caso destes últimos, inviabiliza tal missão de defesa.

A Força Aérea do Exército de Libertação Popular conta hoje com mais de duas mil aeronaves de combate, se enquadrando nesta designação os caças e as aeronaves de ataque. O inventário destas últimas se encontra em melhor estado, sendo composto por modernas aeronaves Sukhoi Su-30MKK e XAIC JH-7A. Entretanto, a maioria do inventário de aeronaves de ataque tático da PLAAF ainda é composto pelos Nanchang Q-5 Fantan, caças derivados do soviético MiG-19, projetado na década de 1950. Nas últimas décadas os chineses tentaram, por meio de parcerias com empresas européias, incrementar o desempenho e os aviônicos do Q-5. Porém, o embargo imposto pela UE às vendas para as forças armadas chinesas ? que é mantido até hoje - devido aos eventos ocorridos em 1989 em Tienanmen impossibilitaram tais parcerias. O estado atual das aeronaves citadas quanto à aviônicos e capacidades é desconhecido, mas acredita-se que sejam dotadas de pouca ou nenhuma aviônica moderna. A Força Aérea da China possui uma gigantesca lacuna no que se refere a aeronaves de apoio cerrado, sendo estas inexistentes no inventário da força. Sendo assim, os chineses não possuem a capacidade de oferecer o adequado apoio aéreo aproximado às suas forças de terra. Os EUA, por exemplo, empregam as aeronaves A-10 para esta missão, e os russos a formidável aeronave Sukhoi Su-25. Já os caças de combate são, em sua grande maioria, a versão chinesa do MiG-21, o Chengdu J-7, e um derivado do MiG-19, o J-8. Alguns especialistas citam o MiG-21 como o melhor caça de combate do século XX, considerando-se a época em que foi projetado e seus posteriores melhoramentos. Quanto ao J-7, acredita-se que seja dotado de pouca aviônica moderna, desenvolvida na própria China. A Rússia desenvolveu um pacote de melhoramentos para o MiG-21 nos anos 90, atualizando-o para o padrão MiG-21-93, que incluía moderno radar e capacidade para disparar mísseis modernos e armas de precisão. Tal versão foi adquirida pela Índia, mas as versões chinesas J-7 são consideradas inferiores. O caça J-8 foi grandemente modernizado com aviônica russa nos anos 90, como resultado da dissolução da União Soviética e a melhora nas relações Sino-Russas. Atualmente, são capazes de utilizar mísseis e bombas modernas, como o poderoso míssil anti-radar russo Kh-31 Krypton. Porém, o caça tem pouco alcance e capacidade de carga limitada, além de baixa razão de subida. Entretanto, três caças de combate multifuncionais se destacam no inventário da Força Aérea da China, apesar de estarem em serviço em pequenos números: o Shenyang J-11, versão de produção doméstica do Sukhoi Su-27, o Sukhoi Su-30MKK, de fabricação russa e o Chengdu J-10. Certamente tais aeronaves representam os mais poderosos vetores da PLAAF, capazes de, com treinamento adequado dos pilotos, se imporem em qualquer cenário de combate moderno. O caça Shenyang J-11 foi produzido sob licença, sendo na verdade um Sukhoi Su-27K. As capacidades da aeronave Sukhoi Su-27 e suas variantes são reconhecidas mundialmente, sendo considerada a mais capaz em operação hoje no planeta, portanto, dispensando maiores comentários. O projeto da aeronave J-10 foi feito em Israel que, junto com a Rússia, dispôs a Pequim os meios necessários para construir tal aeronave. Os israelenses o haviam projetado como uma versão nacional do caça americano F-16. O J-10 é um caça moderno que representa um grande avanço para a China. Porém, a aeronave está em serviço em números limitados, e o progresso de aeronaves da chamada geração 4++ e da quinta geração na Rússia, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos denota que seu potencial pode ser contido. Existem relatos de que os chineses estariam projetando uma aeronave de quinta geração superior ao Eurofighter 2000 e ao francês Rafale. A própria rede de televisão estatal chinesa já citou a existência do projeto, entretanto a informação, não-oficial, de que uma futura aeronave venha a ser superior ao Eurofighter 2000 é contestável. As novas e modernas aeronaves leves Chengdu FC-1, não-operacionais na PLAAF, estão sendo testadas. Entretanto, sua capacidade de carga é limitada, devido a sua natureza de aeronave leve, e a força aérea tem insistentemente recusado adquirir exemplares do modelo. As aeronaves-tanque HY-6, versão convertida dos bombardeiros médios XAIC H-6, que por sua vez são cópias do bombardeiro soviético Tupolev Tu-16, possuem capacidade de combustível transferível extremamente limitada, se comparada à de outros modelos em operação nas forças aéreas da Rússia ou dos Estados Unidos. Além disto, carece de moderna aviônica e possui limitado alcance. As aeronaves Shaanxi Y-8 (cópia do modelo de transporte soviético Antonov An-12) foram modificadas para serem utilizadas como aeronaves de patrulha naval e de guerra anti-submarino. Apesar de possuir boa capacidade de carga e bom alcance, acredita-se que uma versão armada da aeronave ainda não esteja em serviço, utilizando-a, atualmente, apenas na função de detecção de ameaças. Além disto, os chineses operam poucos exemplares do modelo. Outra aeronave de guerra anti-submarino é a HAMC SH-5. Com sensores de bordo defasados, apesar do bom alcance a da boa capacidade de carga, além de estar em serviço em quantidade ínfima, a aeronave pouco representa na capacidade chinesa de guerra anti-submarino. Das poucas informações confiáveis sobre as aeronaves de guerra e inteligência eletrônica operacionais na PLAAF, é possível afirmar que estas possuem equipamentos inferiores aos disponíveis às forças aéreas européias ou americana. Há anos a Força Aérea da China vem tentando desenvolver uma aeronave dotada de Sistema de Alerta e Controle Aerotransportado (em inglês, Airborne Warning and Control System, AWACS). Tal sistema possibilita um controle muito mais eficiente tanto do espaço aéreo quanto das operações aéreas e de comando e controle, sendo imprescindível nos cenários de guerra aérea deste século. As tentativas chinesas de dotar as aeronaves Y-8 e Il-76 (de fabricação russa) com sistemas de origem israelense e sueca (especificamente para o primeiro modelo de aeronave citado neste último caso) parecem estar tendo sucesso. Porém, as aeronaves ainda não se encontram totalmente operacionais. Além disso, tanto os sistemas israelenses como suecos são consideravelmente inferiores aos utilizados nas forças armadas da França, Reino Unido, Rússia e EUA. As capacidades dos bombardeiros H-6 serão abordadas mais adiante. Como já citado anteriormente, a capacidade da aviação de transporte chinesa é extremamente limitada, sendo considerada uma das grandes lacunas nas forças armadas daquele país. É fundamental lembrar os baixos padrões de treinamento da Força Aérea da República Popular da China, quando feitas as comparações com forças dos já citados países.

A Marinha Chinesa é atualmente considerada como uma força de águas verdes, ou seja, com capacidade de projeção regional. Entretanto, a maioria da frota de superfície carece de adequada proteção anti-aérea, sendo a principal exceção os destróieres de fabricação russa classe Sovremenny, que representam mínima parcela da frota. Tal carência pode, no cenário de batalha deste século, ser crucial na definição do resultado do confronto. Parte significativa da frota submarina convencional chinesa é composta de submarinos de desenho e suíte eletrônica obsoletos. Entretanto, melhorias substanciais estão sendo feitas, principalmente com a incorporação dos submarinos Tipo 039, Tipo 039A e de unidades da classe Kilo, de fabricação russa. Em um prazo de até dez anos, a força de submarinos convencionais da China será respeitável. No entanto, a incorporação prevista de novos submarinos convencionais por parte da Índia e da Rússia pode limitar tal conquista. A frota de submarinos nucleares de ataque da PLAN é composta por apenas seis submarinos operacionais, dos quais quatro possuem projeto obsoleto e um ainda não foi totalmente operacionalizado. Comparativamente, a marinha da Federação Russa possui mais de vinte e cinco submarinos nucleares de ataque modernos. O único submarino nuclear relativamente moderno em serviço na frota, o Tipo 093 Classe Shang, mesmo com todas as melhorias obtidas, tem capacidades similares às do modelo soviético Shchuka, conhecido no Ocidente como Victor-III, projetado na década de 1970. Os chineses têm, há anos, tentado obter um porta-aviões. Após frustradas tentativas de construir um, optaram por comprar o incompleto porta-aviões soviético Varyag que, por sua vez, teve removida antes da venda toda tecnologia sensível que já havia sido instalada, o que limita as possibilidades de operação. A embarcação foi comprada para se transformar em um parque temático flutuante. É improvável, portanto, que o Varyag venha a se tornar operacional pelo menos antes de 2018. A Índia, por exemplo, ao contrário dos chineses, já opera há vários anos um porta-aviões adquirido do Reino Unido e está adquirindo outro da Rússia, que deverá estar operacional em meados da próxima década. Os chineses também não dispõem, ao contrário dos russos, de cruzadores de mísseis, embarcações que seriam capazes de fazer frente às forças-tarefa de porta-aviões da marinha dos Estados Unidos. Nas últimas décadas tem se tornado latente a incrementação realizada na capacidade de desembarque anfíbio por parte das forças chinesas. Isto se deve principalmente devido à eventualidade de uma guerra no Estreito de Formosa, o que requisitaria extensos desembarques. Consequentemente, as capacidades de projeção regional da marinha estão sendo incrementadas.

Os mísseis de cruzeiro em operação tanto na marinha, quanto na força aérea ou no exército chineses são, em sua maioria, de capacidade inferior aos operacionais no Ocidente ou na Rússia. Os mísseis de cruzeiro anti-navio, apesar de possuírem características de vôo em baixa altitude, são lentos e possuem limitado alcance. Além disto, alguns possuem ineficientes sistemas de orientação, assim como os mísseis desenvolvidos para ataque a alvos em terra. Sendo assim, tanto os mísseis anti-navio quanto os anti-superfície podem ser interceptados com maior facilidade pelos modernos sistemas de defesa existentes tanto em terra quanto a bordo de embarcações militares. Não se deve esquecer, porém, que devido ao limitado alcance de tais armamentos, a capacidade de ataque a alvos distantes de seus lançadores, possibilitando um golpe estratégico, é praticamente nula.

As forças nucleares e os mísseis balísticos da República Popular da China estão sob a responsabilidade do Segundo Corpo de Artilharia (SAC, na sigla em inglês). Tais forças compreendem a chamada "tríade nuclear estratégica", ou seja, possuem capacidade de lançar armas nucleares por terra, mar e ar. O SAC, portanto, representa a dissuasão estratégica de Pequim. Porém, o Segundo Corpo opera também os mísseis balísticos de carga convencional. Estes são, em sua maioria, os relativamente modernos DongFeng-15 (Vento do Leste-15), com alcance de seiscentos quilômetros. A maioria destes mísseis está estacionada nas proximidades do Estreito de Formosa. As variantes nucleares do míssil podem executar ataque tático com tais armas. Entretanto, a Força também é equipada com os mísseis de curto alcance DF-11, cujo projeto é baseado no do famoso míssil soviético Scud-B, e com os mísseis de médio alcance DF-21. Acredita-se que estes últimos sejam equipados com armas nucleares, porém relatos de que alguns estariam sendo equipados com carga convencional não foram confirmados. Apesar de possuir um alcance adequado para um vetor de ataque regional, além de ser relativamente preciso, os mísseis DF-21 estão em operação em pequenos números. Os mísseis DF-3A, de alcance intermediário, estão obsoletos, pois são lentos, imprecisos e complexos de se lançarem (o que aumentaria as possibilidades de serem destruídos por um primeiro ataque). Grande parte deles está armada com potentes armas nucleares para compensar a imprecisão do projétil. Como possuem alcance limitado, foi projetado para atingir bases americanas nas Filipinas. Entretanto, como tais bases já não mais existem, sua missão primária foi descaracterizada. Devido a isto, estão sendo substituídos pelos mísseis DF-21, já descritos, que possuem menor alcance, porém são mais modernos. Os mísseis DF-4A possuem, segundo algumas estimativas, alcance de sete mil quilômetros, sendo, portanto um Míssil Balístico Intercontinental (MBI) de capacidade limitada. Sendo projetado para ser capaz de atingir a base americana de Guam, no Oceano Pacífico, e a União Soviética européia, o míssil, para os padrões atuais, é impreciso, lento e de complexo lançamento. Sua carga é exclusivamente nuclear e não há previsão para sua substituição. Os mísseis intercontinentais DF-5A são os principais vetores de ataque estratégico da RPC. Seu raio de alcance o permite levar armas nucleares potentes a boa parte do globo, excluindo-se a América do Sul e pequena porção da África Ocidental. Tais vetores possuem tecnologia defasada, sendo comparados à de mísseis desenvolvidos pelas superpotências na década de 1950. Além de lento, o míssil está em serviço em pequena quantidade. As estimativas variam. Entretanto se acredita que existam, atualmente, entre dezenove e vinte e cinco mísseis operacionais. Algumas fontes citam que este inventário está sempre em estado de alerta em silos no sul da China, prontos para partir a qualquer minuto, se necessário. O segundo e último míssil intercontinental em serviço no SAC é o DF-31. Projetado para substituir o DF-5A, o míssil possui alcance menor que seu antecessor, portanto sendo incapaz de atingir a costa leste dos EUA. Apesar disto, ele, de fato, representa um grande avanço para as forças estratégicas chinesas, especialmente devido à melhor precisão, à simplicidade de operação e ao fato de que ele pode ser operado a partir de bases móveis, como caminhões especiais, dificultando sua destruição antes de ser lançado. Porém, o vetor está em operação em números insuficientes para garantir uma eficaz capacidade de ataque ou contra-ataque. Acredita-se que não mais de oito mísseis estejam operacionais atualmente. Sendo assim, a força estratégica intercontinental chinesa seria capaz de atingir apenas, segundo estimativas mais otimistas, trinta e dois alvos com armas nucleares contra o mais provável inimigo de Pequim: os Estados Unidos. Em virtude da instalação de trinta contra-mísseis GBI (Ground Based Interceptor, Interceptador Baseado em Terra, em inglês), capazes de abater mísseis intercontinentais, na Califórnia e no Alasca nos Estados Unidos, denota-se que a capacidade estratégica chinesa está quase completamente neutralizada. Restariam apenas os doze mísseis JL-1 (JuLang, ou Onda Gigante) que, com alcance limitado, precisariam que o submarino lançador se aproximasse a menos de mil e setecentos quilômetros da costa americana, expondo-o às defesas anti-submarinas daquele país. Considerando-se as características da plataforma lançadora dos mísseis JL-1, é improvável a realização de tal missão. Portanto, os chineses, na prática, representam pequena ameaça aos Estados Unidos. No caso da Rússia, além dos DF-5A e DF-31, poderiam ser utilizados ainda os mísseis DF-4. Os chineses possuem atualmente algo em torno de doze exemplares operacionais destes últimos mísseis. Portanto, se todos os mísseis DF-5A, DF-31 e DF-4 fossem lançados em um ataque contra Moscou, somar-se-iam quarenta e quatro mísseis. Ao redor da citada cidade, está operacional desde 1995 o sistema antimíssil A-135, capaz de resistir a um ataque de até cem ogivas nucleares. Se o cenário do ataque não fosse Moscou, poderiam ser empregados mísseis DF-3, DF-11, DF-15 e DF-21. Considerando-se que os russos, com seus mísseis S-300PMU2 e S-400, possuem capacidade para abater tais mísseis, conclui-se que, perante a Rússia, a ameaça chinesa também está neutralizada.

Os mísseis JL-1, em serviço na PLAN a bordo do submarino Tipo 092 Classe Xia, estão obsoletos. Além disto, apenas doze mísseis estão a bordo do único submarino da classe. O submarino Xia emite elevados níveis de ruído, o que o expõe muito mais facilmente a detecção, além não ser equipado com equipamentos de bordo modernos. Porém os fatos mais críticos com relação ao submarino Xia são que este disparou mísseis com sucesso apenas duas vezes, sendo as duas há quase de vinte anos e que, além disto, a embarcação nunca operou além das águas territoriais chinesas. Um novo submarino capaz de lançar mísseis balísticos tem capacidades de operação semelhantes à sua base de projeto, o já descrito submarino nuclear Tipo 093 Classe Shang. Porém os mísseis que os equiparão estão com o desenvolvimento atrasado há vários anos, portanto impossibilitando o cumprimento da missão para a qual foram projetados: a dissuasão estratégica.

A função de bombardeio estratégico com armas nucleares é cumprida exclusivamente pelos bombardeiros H-6, cópias do bombardeiro soviético Tupolev Tu-16, como já afirmado anteriormente. As aeronaves Tupolev Tu-16 certamente foram as melhores em sua categoria no século XX. Porém, no cenário da guerra moderna a situação é diferente. Tais aeronaves possuem alcance limitado aos teatros de operações próximos à China e insuficiente capacidade de carga, além de serem incapazes de realizar operações em ambiente com presença de defesas antiaéreas modernas. Existem relatos de que as aeronaves J-11 poderiam ser utilizadas em missões de bombardeio estratégico com armas nucleares. Entretanto, tais aparelhos possuem alcance inferior ao dos bombardeiros H-6, além de tais relatos não serem confirmados. Como os chineses não possuem mísseis de cruzeiro capazes de portar armamento atômico, os bombardeiros teriam que sobrevoar seus alvos para realizar o ataque, não apenas os expondo ainda mais às defesas antiaéreas, mas principalmente inviabilizando a missão. Pequim vem tentando, desde a década passada, superar esta dificuldade, não só tentando adquirir mísseis de cruzeiro de fontes russas e ucranianas capazes de lançar armas nucleares, mas também desenvolvendo vetores com tecnologia nacional. Não se sabe com precisão, porém, o quanto os chineses potencialmente podem incrementar suas capacidades a partir destas tentativas. Os bombardeiros também podem executar missões de interdição aérea ou de bombardeio estratégico convencional, sendo armados com bombas convencionais, ou de patrulha anti-navio, armados com mísseis desenvolvidos domesticamente. Portanto, os chineses não possuem capacidade de intervenção aérea a longa distância, o que é um grande fato limitador da influência geopolítica exercida por Pequim. Houve relatos de que os chineses tentaram adquirir da Rússia os poderosos bombardeiros Tupolev Tu-22M3. Porém, os russos, sabendo o quanto significava a posse de plataformas tão magníficas, desistiram do negócio. Devido à incapacidade chinesa de projetar uma aeronave de bombardeio estratégico moderno de longo alcance, decidiu-se por prolongar a vida útil das aeronaves H-6, não havendo, portanto, previsão para sua retirada do serviço ativo. A situação da aviação estratégica chinesa permanecerá a mesma pelo menos pelos próximos dez anos.

Os chineses não possuem nem há previsão viável de possuírem sistemas antimísseis semelhantes aos já operacionais na Rússia ou nos Estados Unidos. Sendo assim, manter-se-ão vulneráveis a ataques de outras nações detentoras de vetores estratégicos por um longo período. Apesar de, na década de 1970, os chineses haverem iniciado o desenvolvimento de sistemas antimísseis, devido a razões políticas e financeiras nenhum deles teve seu desenvolvimento continuado nos anos 80. Além disto, mesmo com o pouco que se conhece publicamente a respeito da rede de radares de alerta antecipado de ataques com mísseis balísticos da China, é possível afirmar que esta, além de obsoleta, não provê a necessária cobertura para garantir a total segurança do país. Os chineses, ao contrário de russos e americanos, também não possuem satélites capazes de detectar tais mísseis em vôo. Sendo assim, os mísseis chineses baseados em terra podem ser destruídos por um ataque inicial, ficando o comando chinês informado do ataque apenas após os registros das explosões. Denota-se, ainda, que, devido a tais deficiências, os chineses podem demorar horas para realizar um contra-ataque nuclear. A rede de Comando e Controle do arsenal nuclear chinesa também é obsoleta. Os chineses tentam mudar a situação há quase trinta anos, entretanto, tal rede não é capaz de conduzir as operações coordenadas necessárias em caso de um confronto nuclear. As armas nucleares chinesas também não são asseguradas pelo sistema que em inglês se chama PAL, ou Permissive Action Link (conexão de ação permissiva). Tal sistema garante que as armas nucleares não sejam utilizadas sem uma autorização de segurança, concedida apenas pelas autoridades competentes. Estima-se que o sistema de Comando e Controle de armas nucleares chinesas esteja pelo menos duas gerações atrasado em relação aos semelhantes em uso no Ocidente ou na Rússia.

Informações a respeito do tamanho do arsenal nuclear chinês também são bastante controversas. Especialistas, contudo, até recentemente concordavam que Pequim possuía algo em torno de quatrocentos dispositivos nucleares. Porém, recentes revisões neste número reduziram as estimativas para algo em torno de duzentos e quarenta dispositivos, dos quais pouco menos de duzentos estariam em estado permanente de alerta. Acredita-se que os chineses tenham testado, em 1988, uma versão da bomba de nêutrons. É possível ainda que, na mesma época, os chineses tenham iniciado as operações com artilharia atômica, equipada com armas nucleares táticas. O domínio da tecnologia da bomba de nêutrons representa um avanço para Pequim, assim como os esforços realizados no sentido de reduzir o tamanho e o peso das armas nucleares. Assim, está sendo dado o primeiro passo para a conquista da tecnologia de construção de mísseis portadores de múltiplas ogivas, ou Veículos Múltiplos de Reentrada Independente (MIRV, em inglês). O governo dos Estados Unidos acredita que os chineses tenham obtido, por meio de espionagem, a tecnologia das ogivas W-88, as mais modernas do arsenal norte-americano. Entretanto, aparentemente os chineses não conseguiram desenvolver armas semelhantes. As ogivas nucleares chinesas, segundo diversas fontes, possuem um peso mínimo de setecentos quilos. Comparativamente, as ogivas disponíveis às forças armadas americanas ou russas pesam menos de cem quilos. Tais números demonstram o atraso qualitativo das forças estratégicas chinesas. Com um arsenal nuclear de menos de seiscentos a setecentos dispositivos será impossível para Pequim se dotar de uma força nuclear realmente respeitável. Deve ser considerado que pelo menos 80 % destes dispositivos devem ser projetados para missões estratégicas. Quando os Estados Unidos e a Rússia assinaram o Tratado de Moscou, em 2002, uma das exigências de Washington foi a respeito da pequena janela de tempo entre a denúncia do tratado e a interrupção do cumprimento das obrigações dispostas neste. Especialistas creditam tal postura ao temor americano de que os chineses venham a incrementar suas forças nucleares quantitativamente. Se isto vier a ocorrer, os EUA, em pouco tempo, podem se desligar das obrigações do acordo, podendo reiniciar a fabricação de dispositivos nucleares e a conseqüente elevação da quantidade de armamentos disponíveis. Sendo assim, um eventual incremento no arsenal nuclear chinês poderia trazer mais desvantagens do que vantagens, lembrando sempre o fato de que as forças nucleares da Rússia, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França são qualitativamente muito superiores às chinesas.

Os chineses, em 11 de janeiro de 2007, testaram armamento anti-satélite. Porém, o armamento nada mais era que uma versão modificada de um míssil balístico DF-21. Os russos dominam a tecnologia necessária para desenvolver tais armamentos desde os anos 60, sendo, no mundo, os mais avançados nesta área, seguidos de perto pelos Estados Unidos. Devido a tal atraso, a consolidação do domínio chinês sobre a tecnologia necessária para construir tais armas, mesmo com tecnologia superada, pode servir de alerta para russos e americanos incrementarem suas contra-medidas a tais armamentos, neutralizando as conquistas chinesas. Além do mais, a experiência adquirida por americanos e russos não só em programas espaciais civis como também militares é muito superior à que os chineses puderam adquirir durante seu programa de exploração espacial independente. A rede de satélites militares chineses, sejam estes de reconhecimento fotográfico, de inteligência ou de comunicações, apesar de moderna, é inferior às similares existentes na Europa ou nos Estados Unidos. Nos últimos anos, grandes avanços estão sendo observados, entretanto a defasagem em relação aos modelos das nações citadas é evidente.

As capacidades potenciais chinesas, especialmente nos últimos dezessete anos, têm sido imensamente superestimadas. Uma análise profunda da real situação, porém, demonstra a verdadeira conjuntura estratégica do país. Sem uma força armada moderna, os chineses não poderão, efetivamente, projetar seu poder. Permanecerão, assim, vulneráveis a ameaças do século passado, incapazes não só de mudar a situação, mas também de se precaverem contra ameaças do século atual. O tão famoso e temido dragão chinês, no final, pode se revelar no que o antigo líder Mao Tse-tung chamava de "tigre de papel": temido na aparência, porém inofensivo na realidade.




Autor: Sávio Sousa


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