Políticas de Formação de Educadores(as) do campo



Arroyo, M. S. Políticas de Formação de Educadores(as) do campo. Educação do campo, cadernos do Cedes/Centro de Estudos Educação Sociedade ? Vol.27, n.72 (2007) ? São Paulo; Cortez; Campinas. CEDES, 2007.

*A educação pensada no paradigma urbano
A formulação de políticas educativas e públicas, em geral, pensa na cidade e nos cidadãos urbanos com o protótipo de sujeitos de direitos. A uma idealização da cidade que contribui negativamente para visão do campo como lugar do atraso, do tradicionalismo cultural.
Faltam políticas para o campo em todas as áreas públicas, saúde e educação. Os educadores(as) passaram a não mais se deslocar ao campo, os alunos são deslocados para as escolas urbanas passando a esquecerem sua identidade e cultura para se socializarem a cultura urbana. A falta de políticas específicas de formação de educadores (ras) e a desestruturação das escolas rurais fazem parte da desconstrução da cultura do campo.

*A tradição de políticas e normas generalistas
Não temos a tradição em políticas focadas, nem específicas, nossas práticas são de políticas que devam ser universalistas ou generalistas, válidas para todos. Assumir a educação como direito de todo cidadão e como dever do Estado significou um avanço. As políticas públicas e os ordenamentos legais passaram a ser inspirados nessa concepção de direitos, mas isso não tem significado avanços no reconhecimento das especificidades políticas.
O protótipo de humano, cidadão, universal é menos universal do que os princípios supõem. É um protótipo local, específico, que ignora as alteridade, as diferenças (Santos,2003).
O sistema único, os direitos dos coletivos nas suas diferenças continuam não garantidos; os piores índices de escolarização se dão nos coletivos do campo, indígenas, pobres trabalhadores, negros. Consequentemente a defesa da igualdade de direitos exige políticas focadas, afirmativas para coletivos específicos, neste caso, os povos do campo.

*Tempo propício à afirmação-reconstrução de direitos
Políticas de formação de educadoras e educadores do campo a partir da dinâmica social, política e cultural existente no campo e através das lutas dos movimentos sociais por seus direitos a terra, território, modo de produção camponês, à educação e à escola.

*Território, terra, cultura, educação
Os movimentos sociais e sua defesa do direito de todos os povos do campo à educação em dos é a defesa da escola pública do campo e no campo. Os movimentos sociais revelam e afirma os vínculos inseparáveis entre educação, socialização, sociabilidade, identidade, cultura, terra, território, espaço, comunidade. Entender a força que o território, a terra, o lugar tem na formação social, política, cultural identiária dos povos do campo, esta seria uma das marcas de especificidade da formação nos tornando capazes de tornar a escola um lugar de formação.

*Reinventando trajetórias de formação
Os movimentos sociais reivindicam políticas de formação de educadores (ras), vêm construindo cursos de magistério, cursos normais de nível médio, cursos de pedagogia da terra em nível de graduação e de pós-graduação criando a consciência da importância da especificidade na formação de educadoras e educadores do campo.

*A formação como responsabilidade pública
Desde a II conferência 2004, os movimentos do campo avançaram na defesa do direito a políticas públicas, a estratégia de convênios das instituições com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) fez avançar essa consciência. Os movimentos passaram a defender que essa estratégia deve continuar, não mais através de convênios ou com promessas de algumas instituições, mas como responsabilidade pública dos centros, instituições e universidades.
Visando a especificidade de ser profissional da educação do campo, os currículos são questionados e os cursos de formação e as instituições são levadas a assumir a responsabilidade de oferecerem cursos de formação e as instituições são levadas a assumir a responsabilidade de oferecem cursos específicos de formação de educadores do campo. Outros movimentos como indígena e negro vêm reivindicar a formação de professores específicos.

*Ocupar espaços nas políticas de formação
Uma das estratégias dos movimentos sociais para a formação de educadores (ras) do campo é reivindicar e ocupar espaços nas políticas e programas de formação do MEC, exigindo a especificidade da educação dos povos do campo, a disponibilidade de recursos para a formação do magistério.

*Qual a formação específica para ser educador do campo?
Nos programas de formação de educadores (ras) do campo é preciso incluir conhecimento do campo as questões relativas ao equacionamento da terra ao longo de nossa história, as tensões no campo entre o latifúndio, a monocultura, o agronegócio e a agricultura familiar; conhecer os problemas da reforma agrária, a expulsão da terra, os movimentos de luta pela terra e pela agricultura camponesa, pelos territórios dos quilombos e dos povos indígenas.
Conhecer a centralidade da terra e do território na produção da vida, da cultura, das identidades, da tradição, dos conhecimentos. Identificar as formas de exercer o magistério e a educação da infância, na educação fundamental e média e na EJA no campo.

*Escolas e educadores do campo no campo
A precariedade da educação do campo é a ausência de profissionais que vivam junto às comunidades rurais, que tenham a cultura e os saberes da diversidade de formas de vida no campo. A maioria dos educadores (ras) não tem vínculo com a cultura do campo. Os movimentos sociais defendem que os programas de formação dêem prioridade aos jovens e adultos que vivem nas comunidades do campo.

*Constituir um corpo estável de educadores (ras)
A constituição de profissionais específicos para a educação do campo deve ser acompanhada de políticas de trabalho docente. A política de formação deveria estar precedida de um diagnóstico das condições de trabalho, da estabilidade ou instabilidade dos educadores - docentes e administradores das escolas do campo.

*Formação para um projeto de campo
O Estado deve assumir como dever, como política pública, a educação dos povos do campo. A falta de políticas de formação de educadores e educadoras tem por base a ausência de uma política pública de educação ou não ? reconhecimento do direito a educação básica da infância, adolescência e juventude do campo.

*A formação assumida como política de Estado
Os movimentos sociais exigem políticas públicas de Estado, na educação e na formação de educadores do campo. A conformação e formação de um corpo profissional estável e qualificado só acontecerão com políticas públicas de Estado.

*Superar o estilo delegado de formação
O financiamento de programas e projetos são entregues a responsabilidade de bancos e agências de financiamento que não se mantêm neutros, incorporando suas concepções de campo, de educação do papel dos educadores e gestores. Consequentemente o Estado não assume seu dever de garantir, ele mesmo e sem delegações o direito desses povos a educação.

*Que políticas de formação de educadores e educadoras do campo?
Contrapondo-se a esses estilos de projetos e programas de formação os movimentos sociais enfatizam estilos mais públicos. Defendem políticas de formação, assumidos pelo Estado permanentes como:
- Políticas que afirmem uma visão positiva do campo frente à visão dominante do campo como forma de vida em extinção.
- Políticas de formação articuladas a políticas públicas de garantia de direitos.
- Políticas de formação afirmativas da especificidade do campo.
- Políticas de formação a serviço de um projeto de campo.
- Políticas de formação sintonizadas com a dinâmica social do campo.
Os movimentos sociais vêm se mostrando educadores do campo: as políticas de formação terão que aprender com os movimentos, captando os traços do perfil de educador e educadora do campo.



Autor: Gilnara Guedes Dos Santos


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