OS DISCURSOS UTILIZADOS EM MEIO A REVOLUÇÃO DE TRINTA
Notamos que a revolução é apresentada como unitária e monolítica e eis a lógica do exercício de dominação. Esta ideia torna capaz a constituição da nação sujeito, legitimando ao mesmo tempo o poder político. Porém tal ideia estava longe de alcançar a memória histórica da revolução, pois o próprio exercício de poder ocultava a dimensão histórica do conflito de classes. A memória histórica do vencedor da luta política não tinha capacidade de alcançar sua legitimação no conjunto social amplo. Os discursos pregados neste período abarcavam uma parcela da sociedade; um processo visto do alto.
Podemos notar uma contradição, pois na década de trinta ocorre uma opressão sobre a sociedade que é conduzida por uma parcela de indivíduos que possuía o controle efetivo sobre os indivíduos. Surgindo por sua vez o discurso ideológico de autodestruição provocado pelas contradições dentro do processo histórico.
Dentro do processo ocorrerá a anulação de determinados agentes, mas enfatiza o lugar da história para todos os agentes sociais.
Nesse sentido surgirá um duplo sentido no discurso que possibilita uma ampla discussão e investigação do objetivo, uma dimensão de confronto entre representação real e a adequação desta realidade que contrapõe as bases estruturais do processo que aponta as diferenças e conflitos.
Cabe então um discurso que se pretende criticar a dimensão fantasmagórica da relação social. Contudo, não se pode esquecer que a própria direção dos acontecimentos se concretiza do lugar inicial e se fixa como fato histórico, ou seja, um passado que influência na realidade histórica.
Entretanto as propostas políticas na década de trinta tinham um cunho democrático-burguesa se pautando nas lutas de classes. Edgar Decca destaca três pontos principais em relação à revolução de trinta.
O primeiro ponto sugeriu um discurso de encontro entre os problemas da direção política da luta de classes no Brasil; definindo uma democracia-burguesa um lugar privilegiado onde deveria ser reproduzida uma história voltada para o partido da classe operária. Devemos analisar o que foi proposto pela revolução democrático-burguesa enquanto produção histórica e o que ela jogou em termos de prática política dos dominados.
O segundo ponto tornou-se necessário justificar desde já a análise do processo político a partir de São Paulo; tal ideia tem por base ideológica de transfiguração; pois em 1928 existia em São Paulo uma classe operária capaz de carregar uma proposta política de revolução democrático-burguesa, sem falar que São Paulo foi jogado intensamente a questão democrática no âmbito do capital e do trabalho; um confronto entre proprietário e a burguesia industrial.
O terceiro ponto se pautava nas propostas divergentes e diferentes onde se firmava acordo tácito que se delineavam entre a luta contra o fantasma da oligarquia e a aceitação de Luis Carlos Prestes na liderança do movimento de oposição e o surgimento do BOC, bloco operário camponês que progressivamente tinha objetivo de buscar os direitos sociais provocando uma crise no setor têxtil e futuramente na luta parlamentar.
Assim fica visível o surgimento de diversos grupos políticos que tinham propostas de definir o conjunto social, um lugar diferente para a criação da história e um melhor futuro almejado.
Em meio este processo os tenentes apareceram como objeto de estudo de inúmeros trabalhos, tornando-se o elemento privilegiado das interpretações da revolução de trinta. Nesse sentido as oposições "tenentes" verso oligarquia, eram um eixo privilegiado da memória da revolução de trinta, passando a ser definido como o lugar por excelência da leitura do processo histórico em curso nos anos vintes.
Enfim, fantasma não é apenas o inimigo da revolução de trinta, ou seja, os oligárquicos; mas são fantasma também os agentes políticos qualificados por essa memória histórica e os tenentes é um deles.
As propostas de firmar uma política autoritarista, no entanto e visível que no interior da classe dominante surgia uma intensificação das demandas políticas de outras classes sociais.
Nesse sentido o PD, partido democrático não se manifestou a respeito de qualquer uma das propostas de revolução, pois isto significa a polarização em relação a algumas tendências. Seu objetivo era a definição do sujeito político, jogando na indefinição com o intuito de ganhar tempo.
Portanto na ordem do dia e no seio mesmo da classe dominante, está por ocupar os pontos chaves da sociedade e do estado. Um conjunto de peso que se posicionam frente a um conjunto variável de propostas políticas que se funde com a insatisfação de muitos setores da classe dominante com segmentos médios urbanos e inclusive o próprio proletariado.
Neste período surgi o BOC, bloco operário camponês que penetra na luta parlamentar não para assumir uma revolução que passasse ao largo dessa atividade política. Propondo uma revolução que não dissociava das formas de luta, procurando definir uma direção política para o movimento de oposição ao partido republicano.
O bloco operário elaborou a sua estratégia de luta política, contribuindo para a construção de uma ideia de revolução anti-oligárquica, solidificou também a própria memória histórica, anulando a classe operária como agente daquela revolução.
Portanto, fica visível o surgimento de uma análise da burguesia industrial em torno da década de trinta sem julgá-la a luz da memória histórica da revolução, buscando perceber a pratica política dos industriais em um processo que buscou ocultar o conflito entre o capital e o trabalho.
Autor: Dhiogo José Caetano
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