SEXUALIDADE E ADOLESCÊNCIA: IMPLICAÇÕES E CONFLITOS



SEXUALIDADE E ADOLESCÊNCIA: IMPLICAÇÕES E CONFLITOS

Bárbara Katharinne Alves Borges Lessa
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RESUMO:

Com o advento das transformações advindas da modernidade mais cedo os jovens vêm experimentando a iniciação sexual e com ela suas implicações tais como a gravidez precoce, uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas a sexualidade na adolescência com sérias conseqüências para a vida dos indivíduos, logo de seus filhos e suas famílias. Por se tratar de uma realidade presente, escolheu-se aprofundar neste assunto, o qual atropela valores e costumes. Pois, questionar sobre a gravidez na adolescência é colocar em pauta os riscos e/ou problemas que surgem com ela, bem como desafios que põem à prova o próprio jovem, a família e a sociedade. Enfim, este estudo permitiu identificar que há muito a ser feito para os adolescentes no que diz respeito ao suporte familiar, educacional, cultural e comportamental, remetendo-se à necessidade de pesquisas racionais acerca da gravidez durante a adolescência, fato que deveria mobilizar toda a sociedade.
PALAVRAS-CHAVES: Adolescência/ Sexualidade/ Gravidez prematura/ DSTs.
A adolescência chega e com ela um misto de euforia e medo; euforia porque os jovens sentem a necessidade de se auto afirmarem quer seja no seio familiar, quer seja no meio dos amigos; e medo, pois como é de se esperar de algo novo, essa etapa da vida vem cheia de vissitudes e todas as ações tomadas são repletas de dúvidas e inquietações. Qualquer passo em falso transforma-se em preocupações para o transcorrer de toda sua vida.
Dayrell, diz que "construir uma definição da categoria juventude não é fácil, principalmente porque os critérios que a constituem são históricos e culturais" (2003 p. 41). Neste sentido entender a adolescência, requer envolver-se num emaranhado de questões complexas e adversas, entre as quais vale destacar as primeiras experiências sexuais e suas nuances, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, aborto que são aqui abordadas numa compreensão sócio educativa, respaldadas em autores renomados que tratam da temática sem rodeios e falsos moralismos, afinal o que está em jogo é o desenvolvimento bio-psico-social do adolescente.
As profundas transformações da puberdade iniciam-se por volta dos dez e onze anos, quando a criança conhece a prática da masturbação, quando o jovem está voltado para si, isto é o lado auto- erótico. Normalmente, os adolescentes por volta dos quatorze anos têm um amigo íntimo e canalizam o erótico para histórias, confidências e piadas. Aos quinze anos, ocorre a abertura para a heterossexualidade e o adolescente começa a ter sua identidade sexual afirmada. A partir de agora, acentua-se o desejo de relacionamento com o outro. Dos dezessete aos vinte e três anos, essa identidade é consolidada e o jovem passa a ter um objeto amoroso único, com quem mantém uma troca afetiva e amorosa, oferece e recebe prazer.
Segundo Içami Tiba,(1993) é a partir da adolescência com as novidades que esta fase traz, que os jovens começam a pensar o que é ser adolescente e o sexo enquanto parte preponderante em suas vidas. Esse é o momento no qual o adolescente passa a pensar como se manifesta sua sexualidade e quais os dilemas apresentadas pelo tema. Assim subjaz, mostrar aos jovens, bem como aos pais, o que de fato é sexualidade e como esta se processa no decorrer da adolescência sem tabus e sem medos. A própria biologia afirma que é a adolescência, momento propício para o envolvimento sexual.
Num primeiro momento a problemática é tratada com receio. Pouco ou quase nada se diz sobre o assunto, pois para muitos pais essa é uma forma de proteger os filhos dessa etapa da vida. Contudo deixar de falar, ou escamotear a questão perde o caráter de proteção e os jovens na intenção de conhecer e compreender passa a buscar respostas em veículos de informação diversos, que como tal na maioria das vezes, não trata o tema com a importância que lhe é peculiar. Ainda há casos de jovens que compartilham as angustias com outros jovens, aliando-se imaturidade de um lado com imaturidade do outro e o resultado como é de se esperar conseqüências serias que marcarão para sempre toda sua vida.
Sob o prisma de revelar os entraves atribuídos à descoberta sexual e como o corpo reage a esta, Hália Souza,(2002) salienta que conviver com as experiências sexuais e com o que elas podem acarretar, faz-se premissa fundamental para os jovens. Tratar a sexualidade no contexto da transição da adolescência para a vida adulta, requer entender que esta traz implicações positivas ou negativas, afinal, sendo as primeiras vivências bem administradas, terão grande valia para as experiências adultas.
A gama de sensações diversas que passam a sentir são transferidas para a pornografia, o álcool, as drogas. As relações em grupo acontecem em meio a sentimentos intensos de ódio, inveja, competição e traição. Não conseguem discernir o que sentem e sem ninguém para confiar a não ser um membro do próprio grupo, que diga-se de passagem está tão perturbado quanto os demais, acabam por se perder na tentativa de se entenderem. Salienta Brandão (2000), não é que os jovens não tenham acesso a informações sobre métodos contraceptivos e preventivos, ocorre que eles estão mais preocupados e ansiosos para sanar e sentir novas expectativas com as primeiras relações sexuais, do que à continuidade dos intercursos sexuais. Ganha terreno então, os riscos do sexo, ou seja as conseqüências dos atos impensados e dos desejos incontroláveis.
Querendo saciar seus instintos passam a "ficar" com um e com outro sem ter noção de preservarem seus corpos contra os problemas advindos de uma relação sexual sem os devidos cuidados. É crescente o número de adolescentes que apresentam as chamdas doenças sexulamente transmissiveis, DSTs. Percebe-se que os jovens estão demasiadamente vulneráveis à essas doenças. Sabe-se que a presença destas na vida desses sujeitos é inevitável, em razão da vulnerabilidade com que trocam de parceiros. Daí a importância de mostrar a esses sujeitos o impacto das, DSTs em suas vidas, em razão da percepção dos seus riscos. Torna-se crucial o aconselhamento familiar, ambulatórial, e até dos meios de cominicação, pois se constituem estratégias institucionais capazes de trabalhar as variáveis de prevenção e tratamento.
Outro serio problema é a gravidez precoce. Embora a sexualidade envolva meninos e meninas, devemos considerar que nossa sociedade é patriarcal e hierarquizada. Espera-se que o menino tenha seu primeiro contato sexual independente de sentimentos e emoções, mas é obrigação da família conservar as meninas puras (virgens) até o casamento.
Mas o que acontece quando a menina de família "perde-se" e engravida? Ao engravidar ela não tem como negar para a família e para a sociedade que não é mais pura. Deixou de ser menina e tornou-se forçadamente mulher. Vale dizer que a terminologia forçadamente, não quer dizer que a gravidez foi concebida mediante ato violento e/ou resultado indesejado de uma transa, intitulado assim pelos próprios jovens. Trata-se aqui de gravidez precoce como algo não planejado, desprovido de intenção, mas que a gora é real, e como tal tende a gerar conflitos familiares, dúvidas e muitas vezes a necessidade da jovem mãe abandonar a escola para cuidar do filho, interrompendo definitivamente ou colocando em suspensão seus planos escolares e em decorrência disso seu futuro.
Para os rapazes os percalços são pormenorizados, afinal as principais implicações ficam a cargo das moças. Costa (1986) enfatiza que, a gravidez pode vir a interromper, na adolescente, o processo de desenvolvimento próprio da idade, fazendo-a assumir responsabilidades e papéis de adulta antes da hora, já que dentro em pouco se verá obrigada a dedicar-se aos cuidados maternos. O apoio familiar é de extrema relevância nesse momento difícil e delicado. É a família que dará inicialmente o apoio emocional e financeiro aos filhos.
Já não causa tanto espanto sabermos que meninas com idades entre dez e doze anos tenham vida sexual ativa, assim como aparecem em consultórios em posto de saúde, portando alguma doença sexualmente transmissível (DSTs) e ou grávida. A gravidez ocorre geralmente entre a primeira e a quinta relação sendo o parto normal a principal causa de internação de brasileiras entre dez e quatorze anos. Cerca de 10% das adolescentes, de acordo com uma pesquisa feita em alguns Estados brasileiros, têm pelo menos 2 filhos aos dezenove anos.
O que levaria as adolescentes a engravidar? Nunca foi tão divulgado os métodos para evitar a gravidez como nos dias atuais, e mesmo assim, o número de adolescentes grávidas á cada vez maior. Porém, são muitos os motivos que tornam uma adolescente mais propicia à uma gravidez, mas o principal deles, é a falta de um projeto de vida, a falta de perspectiva futura. As maiorias das gravidezes na adolescência são causadas por diferentes fatores aqui definidos por individuais e/ou sociais.
Por fatores individuais entende-se o não conhecimento biológico do seu próprio corpo, como funciona seu sistema reprodutor, a inexperiência sexual, o fato de dizer sempre sim ao parceiro pelo medo da não aceitação. Os repetidos casos que aparecem nos consultório de psicólogos e médicos, apontam que muitas dessas adolescentes possuem um desejo de serem mães, da qual elas não tem consciência.
Nos fatores sociais encontramos contexto sócio-familiar desestruturado, no qual a maior preocupação está voltada para o aspecto econômico, do que no diálogo. O tempo é devotado em pensar como vai passar o dia de amanhã, do que em preconizar o que vai ser do futuro. Poderia se colocar aqui a falta de um projeto de orientação sexual nas escolas, comunidade de bairro, igrejas. Contudo, dizer isso seria retirar a responsabilidade desses jovens quanto ao seu bem mais precioso que é a vida e que eles podem fazer com ela. A área sócio-educativa formal veicula constantemente quão necessário são os cuidados referentes á saúde, quais são e como devem ser usados os mecanismos de prevenção e aconselhamento.
A mídia é outro vilão nessa questão, exagerando na erotização do corpo. Algumas pessoas que são vistas na passarela, revista, cinema e televisão são para os adolescentes verdadeiros ídolos, ídolos esses que passam uma imagem de liberação sexual, e a tendência de um fã é sempre se espelhar em seu ídolo.
Porém, não é por isso que a gravidez não vai ser bem vinda. Quando acontecer de uma adolescente ficar grávida os cuidados a serem tomados são os cuidados normais de uma gravidez convencional. Especialistas já comprovaram que, se a adolescente grávida fizer o pré-natal corretamente, ela e o bebê terão menos chance de problemas do que uma grávida adulta, ou seja, não há mais risco com a gravidez somente por ser adolescente. Por isso, o controle pré-natal é muito importante para a adolescente grávida. Quanto mais cedo a adolescente começar o acompanhamento pré-natal, melhores serão os cuidados com a sua saúde e a saúde do bebê.
Devido à mudança de seu corpo, a adolescente pode vir a ter problemas emocionais, escondendo a gravidez, e consequentemente levar a um aborto ou dificuldades na amamentação.
As indagações levantadas pela inserção dos jovens no ciclo sexual, deve ser encarada com extrema seriedade. Deixar de ser vista sob o prisma da libertinagem, advento da troca contínua de parceiros, do eu sou de ninguém sou de todo mundo; e todo mundo é meu também, faz-se crucial. Trata-lo com banalidade, algo simples ou simplesmente não falar sobre, só trará mais dor de cabeça. Desnudar antigos temores e contrapor certas falácias que o envolvem são premissas no enfrentamento do problema. Afinal, não há dúvidas de que, se a sexualidade é algo decisivo na personalidade do ser humano, mais importante do que simplesmente teorizar é buscar compreender a problemática e suas implicação no âmbito social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, E R. Iniciação sexual e afetiva: exercício da autonomia juvenil. Rio de Janeiro:
UERJ, 2000.

CASTRO, Mary Garcia. Juventude e Sexualidade. Brasília Unesco Brasil, 2004.

COSTA, Moacir. Sexualidade na Adolescência: Dilemas e Crescimentos. 5. ed São Paulo: L & PM, 1986.

SOUZA, Hália. Convivendo com seu sexo: adolescentes e jovens. 9. ed ? São Paulo: Paulinas, 2002.

TIBA, Içami. Sexo e Adolescência. 7. ed. São Paulo: Ática, 1993.


Autor: Bárbara Katharinne Alves Borges Lessa


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