EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL DA BACIA DO CÓRREGO JOÃO DIAS, MS



EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL DA BACIA DO CÓRREGO JOÃO DIAS, MS

Raffael Gonçalves de Oliveira
Elisângela Martins de Carvalho²
Vitor Matheus Bacani³

INTRODUÇÃO
A bacia hidrografia corresponde a um sistema biofísico e sócio econômico, integrado e interdependente, contemplando atividades agrícolas, industriais, comunicações, serviços, facilidades recreacionais, formações vegetais, nascentes córregos e riachos, lagoas e represas, enfim todos os habitats e unidade da paisagem. Seus limites são estabelecidos topograficamente pela linha que une os pontos de maior altitude e que definem os divisores de água entre uma bacia e outra adjacente (ESPÍNDOLA, 2000).
A bacia hidrográfica é tida como unidade natural de análise da superfície terrestre, onde é possível reconhecer e estudar as inter-relações existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos que atuam na sua esculturação. Compreendida dessa forma, a bacia hidrográfica passa também a representar uma unidade ideal de planejamento de uso das terras (BOTELHO, 2OOO).
Segundo Almeida (1997) o uso do solo pode ser definido como "as diferentes formas de intervenção do homem no meio, com o objetivo de obter dele o atendimento de suas necessidades, quer sejam agrícolas, industriais, urbanas, etc., através de técnicas e costumes que evoluem e se intensificam com o tempo".
O conhecimento da dinâmica da evolução e ocupação dos solos é essencial para auxiliar no planejamento e gestão do território. Este tipo de estudo constitui um importante elemento de análise ambiental, auxiliando na identificação e localização dos agentes responsáveis pelas condições ambientais de uma área (SANTOS, 2004).
Para a compreensão da dinâmica ambiental de uma bacia, é indispensável à elaboração do monitoramento do uso e ocupação do solo, utilizando-se do sensoriamento remoto, que propicia além da geração de riquíssimas informações espaciais, a possibilidade de evolução histórica desse uso, responsável pelo quadro ambiental apresentado pela bacia na atualidade e uma visão de futuro caso os processos de produção atuais sejam mantidos (CARVALHO, 2006). Para Novo (1992) sensoriamento remoto é a utilização de sensores para a aquisição de informações sobre objetos ou fenômenos sem que haja contato direto entre eles.
Este trabalho teve como objetivo analisar a evolução dos diferentes tipos de uso da terra e a cobertura vegetal da bacia do córrego João Dias, ao longo dos anos de 1965 a 2000, avaliando a influência do uso antrópico no meio.
A bacia hidrográfica do córrego João Dias, sub-bacia do Rio Aquidauana, é um dos principais tributários da Bacia do Alto Paraguai (BAP). O canal principal da drenagem do córrego João Dias nasce no morro de Santa Bárbara, na serra de Maracajú, em terras pertencentes ao Aldeamento do Limão Verde, da tribo Terena, no município de Aquidauana. A área da bacia hidrográfica é de aproximadamente 113,3 km2, compreendida entre as latitudes sul de 20º18'19'' e 20º28'21'' e as longitudes oeste de 55º38'55'' e 55º48'54''(GALVAN, et al. 2006).
Os procedimentos metodológicos utilizados constaram inicialmente no levantamento bibliográfico, iconográfico e cartográfico de materiais relacionados à área em questão. Para a extração das informações referentes aos tipos de uso e cobertura vegetal presentes na bacia consistiram na analise visual de imagens proposta por Novo (2008).
Para confecção da carta de uso da terra e cobertura vegetal do ano de 1965, utilizou-se da folha Aquidauana (SF-21-X-A-III), obtida junto a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ? UFMS.A carta foi digitalizada via scanner de mesa e inserida em ambiente SPRING 5.0 onde procedeu-se a vetorização das classes mapeadas.
A da carta de uso da terra e cobertura vegetal do ano de 2000 se apoiou na imagem de satélite LANDSAT-7 ETM+, obtida gratuitamente no sitio da NASA (https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid/) , já corrigida geometricamente e em composição colorida rgb 742. A interpretação visual da imagem e a vetorização das classes mapeadas também foram realizadas no software SPRING 5.0.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O resultado da classificação apontou 4 classes para o ano de 1965 (mata, pecuária, área urbana e terra indígena) e 5 para o ano de 2000, pois alem das quatro classes mapeadas em 1965 identificou-se em 2000 a classe lagoa temporaria.
A figura 01 mostra a evolução das transformações do uso da terra e cobertura vegetal ao longo de 35 anos.
A área de mata destaca-se por apresentar a maior transformação relacionadas a pratica do desflorestamento e substituição da vegetação nativa por pastagem. Em 1965 a área de mata ocupava 9991,2 hectares, o que correonde a 88,02% da área total da bacia do córrego João Dias. Em 2000 nota-se uma redução de 54,4%, o que representa apenas 33,8%.
A classe ocupada por pecuária indicou uma evolução contraria a da mata com um aumento muito expresivo no decorrer dos 35 anos analisados. Em 1965 a pecuária era desenvolvida em apenas 3,5% da área, aumentando para 54,2%, configurando um acréscimo de 50,7% da extensão anteriormente ocupada por essa categoria de uso.
A área urbana mapeada refere-se a porção oeste do sitio urbano de Aquidauana. A transformação notada nessa classe é marcada por um aumento de 3% na direção noroeste da mesma.
A terra indígena expressou aumento pouco significativo quando comparado as demais classes. Em 1965 a área oupada era de 3,1% e em 2000 passa para 3,7%, indicando pequenas transformações no entorno da aldeia Limão Verde.


Figura 01- Evolução do uso da terra e cobertura vegetal

A figura 02 representa a espacilização das quatro classes mapeadas para o ano de 1965. É notável um domínio da cobertura vegetal em relação as outras classes, sobretudo nas áreas das nascentes de toda bacia hidrográfica, o que contribui de modo muito significativo com a manutenção da estabilidade ecológica deste ambiente. As áreas destinadas a pecuária ainda são pouco significativas e se encontram mais concentradas no entorno do sítio urbano de Aquidauana. Ao norte da bacia, nota-se aldeia Limão Verde situada nas proximidades das nascentes do córrego João Dias.
A área urbana ocorre a jusante da bacia e recobre a porção sul da mesma. Com efeito, sugere-se que as alterações ambientais resultantes da ocupação antrópica mais significativas provocadas na bacia, terão obviamente implicações locais, porém de maior magnitude no rio Aquidauana que se encontra a mais a jusante.

Figura 02 ? Cobertura vegetal e uso da terra do córrego João Dias em 1965


A figura 03 mostra que a área antes ocupada por vegetação natural perde espaço para a pecuária, o que se constitui em um desmatamento de proporções elevadas podendo chegar a um grau de destruição de 175,9 hectares por ano. O aumento das atividades desenvolvidas nas bacias hidrográficas reduz quantitativa e qualitativamente os corpos de água, sendo este fato relacionado diretamente com o desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos, devido o aumento de ações antrópicas que alteram a qualidade das águas (CALLISTO, et al., 2001). Um dos principais fatores que contribuem com o desequilíbrio ambiental desse sistema é a retirada da mata ciliar, sobretudo das nascentes. De acordo com Tricart (1977) a cobertura vegetal funciona como proteção a atuação de processos erosivos, e com o desmatamento podem se agravar. A estabilidade ambiental não está somente relacionada ao tipo de uso da terra, mas também é influenciada pelas características geológicas, geomorfológicas (com destaque a clinografia), pedológicas, climáticas e do tipo de dossel da cobertura vegetal, conforme ressaltam ROSS (1994) e CREPANI et al. (2001).
Observando as figuras 02 e 03 evidencia-se um forte rompimento da estabilidade ambiental na bacia do córrego João Dias, ligadas principalmente a transformação das áreas de mata em pastagem sem inclusive respeitar as áreas de proteção permanente (APPs) conforme regulamentadas no Código Florestal Brasileiro (Lei nº, 4771/65), (BRASIL, 1965).


Figura 03 ? Cobertura vegetal e uso da terra do córrego João Dias em 2000

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desmatamento constitui-se em um grau muito elevado, se caracterizando, portanto, como a principal transformação no sentido de rompiemnto do equilíbrio ambiental da bacia. É válido ressaltar que a continuidade do uso desordenado dessa área sem nenhuma ação voltada ao planejamento e gestão ambiental poderá acarretar em poucos anos na destruição da mata que ainda resta.

PALAVRAS-CHAVE: Sensoriamento remoto; classificação visual; córrego João Dias.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. C.; A memória dos idosos como instrumento de avaliação dos impactos de urbanização sobre os recursos hídricos. In: Felicidade, N; Martins, R. C.; Leme, A. A.; Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil. São Carlos: Rima, 239 p.

BOTELHO, R. G. M. "Planejamento Ambiental em Microbacia Hidrográfica". In: Guerra, A. J. T.; Silva, A. S.; Botelho, R. G. M; Erosão e Conservação dos Solos: Conceitos, Temas e Aplicações. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.
2000, p. 269-293.

BRASIL. Código Florestal Brasileiro. Lei 4771, de 15 de setembro de 1965. Brasília, Diário Oficial da União, 1965.

CALLISTO, M., MORENO, P., BARBOSA, F. A. R. Habitat diversity and benthic functional trophic groups at Serra do Cipó, Southeast Brazil, Revista Brasileira de Biologia ISSN 0034-7108 versão impressa.Rev. Bras. Biol. v.61 n.2 São Carlos, maio de 2001.

CARVALHO, E. M.; Pinto, A. L.; Silva, P. V. "A evolução do uso e ocupação do solo na bacia do córrego Porteira, Aquidauana, MS" Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, v. 1 n. 1 p. 438-446, novembro. 2006.

CREPANI et al. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento Aplicados ao Zoneamento Ecológico-Econômico e ao Ordenamento territorial. São José dos Campos: SAE/INPE, 2001.

ESPÍNDOLA, E.L.G. et. al. A bacia hidrográfica do córrego monjolinho. USP- Escola de Engenharia de São Carlos:
RIMA. 2000.
GALVAN, G. L.,PEREIRA, R. H. G., CAPPI, N., SILVA, M. C.Estudo limnológico no córrego João Dias: uma abordagem longitudinal e sazonalAnais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, 11-15 novembro 2006,Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.77-86.

NOVO, E. M. L. M. Sensoriamento Remoto: princípios e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 1989.

ROSS, J. L. S. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Revista do Departamento de Geografia n°8, FFLCH-USP, São Paulo, 1994.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ªed. 1ª reimpressão. São Paulo. EDUSP, 2004. 384p. In. ANDRADE, J. B. et al. Mudanças da cobertura vegetal do município de Buriti-MA nos anos de 2000 e 2007: uma abordagem com o uso de geotecnologias. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 3709-3716.

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE/SUPREN (Recursos Naturais e Meio Ambiente), 1977, 91 p.


Autor: Raffael Gonçalves De Oliveira


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