A loucura que nunca escrevi para mim.



A loucura que nunca escrevi para mim.

Meio dormindo, meio acordado, naquele limiar permeado entre o consciente e o inconsciente, as visões do infinito me vêm, como que em flashes estourados na retina. Por vezes as identifico, nem que seja por frações de segundo. Na maioria delas, fica só o sentimento do que não fiz. Serão cobranças neurológicas da minha instabilidade passada? Não sei e talvez nunca tenha essa resposta. Mas que lá, isso me importuna, sim, e muito!
Muitas dessas visões, que me seguem desde menino, sejam talvez provenientes da loucura. Aquela loucura que nos faz duvidar de nossa própria capacidade de criar o que já é nosso e apenas não tomamos posse do objeto desse ato da autocriação.
Em Descartes, "Meditação Primeira", realidade e loucura são sempre temas a serem explorados. Sugere que o homem não é louco, apenas representa para si coisas menos verossímeis, mas em sonho, enquanto aqueles o fazem durante a vigília. Surge aí um vácuo entre o real e o falso, onde o louco sonharia acordado, correspondendo então os sonhos aos falsos loucos, enquanto que o mundo sensível e momentâneo seria o verdadeiro. Logo em seguida retoma o raciocínio quando coloca sonho e vigília no mesmo patamar, pois que a representação de ambos são da mesma qualidade. É o mundo sensível e o do sonho chegando à nossa mente. As visões oníricas e as do mundo sensível, de fato, nos chegam à mente com a mesma qualidade; quando olhamos um objeto, forma-se a imagem no nosso cérebro e a imagem é a mesma do sonho. Não se acha distinção nítida do que é vigília e do que é sono. Onde a certeza de se estar acordado, quando tantas vezes nos enganamos? Se este estado de sono é semelhante ao de um louco ou demente, o que nos faz discernir que não estamos sonhando, ou seja, que não estamos loucos?
Aqui, paro para refletir: sigo no "cogito, ergo sum" (penso, logo existo) de René Descartes, entremeado com Foucault em "eu, que penso, não posso estar louco"?
Não sei, mas continuo no meu desvario de sonhos acordados e dormidos...

Autor: Maneco Diniz Fernandes


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