A Maldição da Lenda - Dr. Charles Duvida, Mas Colabora, Porém Fica Intrigado







CAPÍTULO VINTE E UM
Dr. Charles Duvida, Mas Colabora, Porém Fica Intrigado

A recepcionista informou que o Clemente estava fora de perigo. O atacante, porém, estava na sala de cirurgia. A notícia projetou uma sombra de tristeza no otimismo quase exagerado de minutos antes. Foi para a prefeitura, conversou com Agnelo e com o prefeito e convidou o Dr. Charles para uma conversa formal. Recomendou que tivesse cuidado, pois as coisas na barragem não estavam sendo exatamente como ele informara e que nas instalações devia existir alguma conexão clandestina. Todavia, só poderiam verificar sob forte esquema policial. Assim, naquela noite, a casa do engenheiro teria a cobertura de três soldados. Um ficaria de plantão e os outros dois de repouso. Advertiu que não saísse de casa convidado por telefonemas, que era a técnica usada para tirar as pessoas de casa, na madrugada. O Dr. Charles olhou-o de soslaio, mas Alberto percebeu, e disse:
_ A vida é do senhor, Dr. Charles. Ponha-a em risco se quiser, mas pra conservá-la, peço que atenda nossa orientação. Ao que me consta, o delegado de Serra Dourada sou eu e é apenas uma questão de acreditar ou duvidar. Só tenho a dizer que o seu Afonso, o meu pai e o Dr. Silvano estão sob rigorosíssimo controle policial e só falta o senhor. Mesmo assim, peço, por favor, um voto de crédito e somente o senhor sairá lucrando.
Impressionado com a firmeza do rapaz, o engenheiro disse:
_ Foi só um momento de dúvida. Não consigo acreditar que alguém tenha sabotado, com o controle que venho exercendo sobre aquelas instalações. Pode contar comigo!...
_ Durante o dia, mas à noite, muita coisa acontece enquanto a gente dorme, e não pode controlar o que está a muitas centenas de metros de distância...
_ Mas, quem teria acesso tão direto nas instalações?... Aquilo é material pesado... Não há nada que não dependa de muito esforço e de tempo pra qualquer tarefa. Mesmo sem a mínima noção de que tipo de sabotagem estão fazendo, nada me passa pela cabeça. Foi um ano de trabalho duro que estou realizando com o maior zelo. Agora, o senhor me fala de sabotagem, como se fosse tocar a sua guitarra. Vou colaborar, pra não atrapalhar a polícia e se for o caso, proteger minha vida, mas não estou acreditando numa só palavra...
_ Não tem importância! Eu quero não o voto de crédito, mas a colaboração franca pra poder investigar sem a surpresa de sair correndo, pra dar socorro. Vou deixar só uma pergunta pro senhor meditar. Por que o Euclides foi assassinado?
O Dr. Charles balbuciou alguma coisa, mas não saiu disso. Alberto fingiu não notar e atacou por outro lado.
_ O Epaminondas morreu, com a laranjada? O senhor tem alguma teoria?
_ Eu não sou médico. O senhor deve procurar o Dr. Odorico!... Ele deve ter feito a autópsia e o laudo médico revelará o que o senhor está procurando!...
_ A autópsia revelará a causa da morte mas não a do assassinato!...
Novamente confuso, o engenheiro foi salvo pelo rapaz, que atacou por outro lado, visando unicamente decepar-lhe o topete que, vendo-o quase adolescente, obstinava-se em depreciar-lhe a inteligência. Apesar do depoimento seguro e a espontaneidade ao mostrar as instalações, não estava de todo isento de suspeitas. Aproveitou a oportunidade quase única e lançou a pergunta:
_ E o Fulgêncio, Dr. Charles? O senhor tem idéia de quem poderia ter ligado pra ele no meio da noite, pra em seguida crivá-lo de balas?
_ Delegado, se eu fosse me preocupar com coisas que não me dizem respeito, não teria tempo pra cuidar do meu serviço. Portanto, se me permite, gostaria que me desse licença. Tenho de encerrar o expediente.
_ Mais uma coisa, Dr. Charles, por favor, aconselho o senhor não se isentar tanto, ou poderá ter uma surpresa muito desagradável!... Reconheço que sua prevenção contra mim é por causa da guitarra, mas faz algum tempo que contra a vontade estou afastado dela, e isto porque me entreguei de corpo e alma a esta maldita tarefa de investigar as mortes de três bons amigos. Pode ter certeza de que estou mais perto da verdade do que o senhor pensa. Quero deixar bem claro que se o senhor não dedicar uma atenção maior a este caso, vai sofrer a maior das decepções. Tenho certeza de que há sabotagem nas suas instalações!... Além disso, se o senhor tomar qualquer iniciativa por conta própria, vai ter que assumir a responsabilidade!... ? Interrompeu o discurso, pediu licença um instante, retornou com Agnelo e perguntou:
_ Papai, qualquer coisa que eu tenha dito ao Dr. Charles, o senhor confirma, mesmo sem saber o que foi?
_ Mas claro, filho! Acredite, Dr. Charles que além de o meu filho não mentir, pelo que me contou, pra mim é o suficiente. Faz algum tempo que não trocamos impressões, mas o que sei é o bastante pra aconselhá-lo a acreditar também. Nisto, penhoro minha palavra e minha integridade de homem. Afirmo sem receio que se ele cometeu algum erro nessa tarefa, estou disposto a assumir qualquer responsabilidade!... ? O homem afirmou com tal veemência que o engenheiro nada mais teve que fazer do que concordar.
Embora consciente da veracidade das palavras do pai, Alberto não deixou de sentir forte emoção com o apoio paterno. Teletransportou-se à infância não muito longínqua, olhou amorosamente o pai e disse:
_ Obrigado, papai!... Suas palavras me fazem muito bem. Eu estava precisando de uma injeção deste tipo, doutor!... ? Gracejou, para quebrar a tensão do momento, pouco se importando com a presença do engenheiro, o que achou até oportuno. Só assim ele perceberia a amizade existente entre pai e filho e pensaria duas vezes antes de querer duvidar da sua palavra. Aproveitou a oportunidade para sair e disse, à guisa de despedida:
_ Por favor, Dr. Charles, gostaria que o senhor pensasse no que perguntei e também de trocar algumas palavras com o senhor a respeito, e quem sabe não chegaremos a um denominador comum e descubramos a causa de tantos assassinatos em Itajubá?!...
_ Onde?...
_ Desculpe!... Estava divagando, e devo ter dito algo...
_ Não foi algo! Eu ouvi muito bem Itajubá que quer dizer PEDRA AMARELA, na língua TupyGuarany! Onde aprendeu isto?...
_ Ah!... Deve ter sido algum dos índios que me ensinou!... Não sei...
_ Eis algo que realmente me interessa!... Por que um índio lhe ensinaria este termo sem um significado especial? Posso conhecer esse índio? Falar com ele?
_ Vou tentar lembrar quem foi. Não entendo o que o senhor quer dizer!...
_ Posso saber ao menos se esta foi a causa da pergunta que foi feita hoje, ao se referir a jazida em Serra Dourada?
_ Minhas investigações estão como uma colcha de retalhos que pretendo costurar muito em breve. Alguns se encontram tão solidamente ligados que não há mais como desuni-los. Outros, no entanto, talvez os mais importantes, apresentam-se como pedaços de pau sobre as ondas de um mar revolto com um náufrago tentando reuni-los pra fazer uma jangada. Ele precisa ser um ótimo nadador. Qualquer descuido será causa de grave acidente, pois um dos troncos poderá lhe acertar a cabeça e, adeus, jangada. Acho que ficou claro que ainda não posso tecer comentários mais amplos. O senhor ouviu meu pai dizer que não conhece todos os detalhes. Mas assim como ele deu sua palavra, faço eco, dizendo que se notar uma colaboração espontânea, geral e irrestrita por parte do senhor, não vou ocultar nada. Antes, porem, vou necessitar da certeza de sua inocência absoluta. ? Notou o gesto de espanto, mas prosseguiu: Não se preocupe em querer provar tão cedo!... O que descobri, pra mim é suficiente. Só peço que não esqueça do que pedi, e repito: se tentar investigar por conta própria, a responsabilidade será do senhor. A não ser isso, eu assumo o que houver. Posso ficar tranqüilo?
O engenheiro sustentou fixamente o olhar do rapaz, deu um leve sorriso, fez um gesto de assentimento com a cabeça e disse:
_ Tá bom, delegado!... ? E, em tom de brincadeira: Se o senhor tem o prefeito, o ex-prefeito e o tesoureiro nas mãos, por que não o Secretário de Obras?...
Riram com o desfecho positivo da pequena reunião e dispuseram-se a encerrar o expediente. Antes de sair, Alberto pediu, ainda:
_ Seria interessante o senhor trocar mais impressões com meu pai. Invariavelmente, ele tem idéias que devem ser seguidas. Eu, por exemplo, se pudesse, só viveria pra a guitarra. Ele me falou pra estudar, eu estudo, fala pra trabalhar na roça, eu trabalho, fala pra ajudar na farmácia, eu ajudo, falou pra deixar a delegacia, eu quis deixar, ele já não deixou, pois queria ver se o filho dele era homem, e aqui estou eu. Quer mais?
Rindo, saíram pai e filho da sala e o rapaz advertiu mais uma vez ao genitor que não se arriscasse apesar da escolta, e que não confiasse em ninguém. O grande chefão da quadrilha estava e sempre estivera todo o tempo no meio deles.
_ Mas, não é o Dr. Charles, filho? ? Perguntou, entre confuso e interessado.
_ Se ele é da quadrilha, não passa de fichinha. Acredito mesmo que estão fazendo com ele o que fazem com o seu Afonso. Estão simplesmente usando-os como testas-de-ferro, e ainda por cima, inocentes.
_ Filho, mas isto é monstruoso!...
_ É, papai!... Se não fossem os assassinatos dos bons amigos e o ridículo a que estão expostos esses homens que só têm interesses comunitários, seria até cômica esta situação. ? Concluiu, afastando-se, com a alma amargurada.




Autor: Raul Santos


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