Poemas Malditos – Ii ( álvares De Azevedo )



Morreu um trovador—morreu de fome.

Acharam-no deitado no caminho:

Tão doce era o semblante! Sobre os lábios

Flutuava-lhe um riso esperançoso.

 

E o morto parecia adormecido.

Ninguém ao peito recostou-lhe a fronte

Nas horas da agonia! Nem um beijo

Em boca de mulher! nem mão amiga

Fechou ao trovador os tristes olhos!

 

Ninguém chorou por ele... No seu peito

Não havia colar nem bolsa d'oiro;

Tinha até seu punhal um férreo punho...

Pobretão! não valia a sepultura!

 

Todos o viam e passavam todos.

Contudo era bem morto desde a aurora.

Ninguém lançou-lhe junto ao corpo imóvel

Um ceitil para a cova!. . nem sudário!

 

O mundo tem razão, sisudo pensa,

E a turba tem um cérebro sublime!

De que vale um poeta—um pobre louco

Que leva os dias a sonhar—insano

Amante de utopias e virtudes

E, num tempo sem Deus, ainda crente?


Autor: Ailton Ferreira


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