Vésperas



Vésperas


Não sou uma pessoa estranha, estou dentro da normalidade da conduta de comportamento: gasto mais do que recebo, como mais do que devo, falo mais do que penso. Pago minhas contas em dia... ou pelo menos parte delas.
Gosto de um futebol na TV e torço pro Corinthians.
É... eu sou um cara normal!
Mas tem uma coisa que sempre acaba me atrapalhando e faz com que eu me dê por desperdiçar bons feriados e dias santos, além de datas de aniversários e outras comemorações tais.
Sempre vejo mais prazer na expectativa do acontecimento do que no acontecimento em si.
Talvez eu seja realmente estranho como dizem meus amigos. Mas pensem bem e analisem se tenho ou não razão: quando chega o fim do ano, na época do Natal, tudo fica mais bonito, as lojas se enfeitam, os shopping Centers se transformam em verdadeiros espetáculos de luzes e cores.
Parece que até o clima fica mais ameno e gostoso. Esquecemos que devemos demais e nos entregamos sem culpa ao doce convite dos nossos cartões de crédito.
Ficamos mais bonzinhos, ligamos até para aquela tia chata que passamos o ano inteiro a evitar. Chegamos até a perdoar antigas brigas com antigos inimigos.
Aguardamos com ansiedade a chegada dos parentes queridos, ficamos na expectativa de saber como estão todos, quais as novidades e coisas assim.
Tudo isso na doce expectativa da chegada do Natal.
Então, enfim o dia tão esperado chega.
Daí eu percebo que não passa de um dia comum; na verdade não, pois um dia comum não dá tanto trabalho!
A família chega, aqueles sobrinhos pentelhos que não sabem como serem mais chatos, o cunhado que pensa que a casa da gente pertence à ele. Um monte de tias gordas que falam como se fôssemos surdos, a sogra dizendo que não estamos nos alimentando bem, isso quando um primo distante não aparece com seu cachorrinho que suja a casa toda com sua incontinência urinária.
Enfim, o nosso sossego vai para o saco e não é o saco do papai Noel. E tem a famosa hora da troca de presentes, sempre descubro que devia ter comprado algo mais barato pois o que ganho não vale o trabalho de abrir o embrulho.
E assim, entre correria para atender as visitas passa-se todo o dia e a noite de Natal sem que sobre um minuto sequer para se refletir a respeito que realmente interessa. No dia seguinte, os sobrinhos inventam de jogar bola às sete da manhã ? ninguém merece.
Quando consigo um momento de descanso, o natal já era, não existe aquele charme que a véspera promete.
Por isso eu costumo dizer que prefiro as vésperas. São mais cheias de encanto, tem mais promessas de coisas boas.
Talvez esse meu quê com datas especiais seja uma fuga inconsciente para evitar a dura realidade: a de que depois do belo feriado, vem mais trabalho, vem mais dia-a-dia. E nem sempre a realidade é adequada aos nossos desejos.
Os que vivem mais próximos a mim dizem que eu vou ficar um velho chato pra danar e eu digo apenas que procuro sempre aproveitar o melhor de todos os momentos quando esses momentos acontecem.
Tento levar a minha vida sem ficar esperando por uma data, um feriado, as férias, a formatura, ou qualquer outro evento para ser feliz.
Gosto de fazer surpresas nos dias comuns, isso torna a vida menos previsível e torna cada dia especial, ao invés de esperar sempre um determinado dia do ano, pois assim fica como se nossa alegria pudesse ser agendada com antecedência de acordo com as datas em vermelho do nosso calendário.
Então, que sejamos felizes todos os dias, mesmo que para isso tenhamos que abrir certas exceções nos feriados e em datas especiais.


Autor: José Ronaldo Piza


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