Mestre Instrutor e o Emancipador



Um mestre emancipador, por Jacotot, diferiria radicalmente daquele socrático descrito no Menon. Pois, afirma, que neste mesmo diálogo, o dito escravo, torna-se pronto ao saber, mas de forma alguma emancipação. Para ele o escravo continuaria escravizado dentro de si mesmo; visto que o mestre, socrático, não pretendia que ele aprendesse de fato, mas só confirmasse suas idéias pré concebidas. Socrates, na verdade, apenas o guia até o saber. Mas o escravo, assim mesmo, ainda não andaria pelas próprias pernas.Incapaz.

Esta demonstração de saber socrático é, diz Rancière, uma prova concreta da escravidão permanente do aluno. O mestre, sábio socrático, tenderia a instruir seu aluno, numa "forma de emburrecimento" humano. Parece algo forte de se dizer de um mestre... Eu diria uma "pseudo emancipação". Pois o mestre socrático também não deixa de ser louvável, pelo menos em outros pontos de vista. Mesmo assim seria algo que Jacotot afirma não levar a lugar nenhum.

Já num processo de educação que busca a emancipação mais coerente, o aluno estaria plenamente consciente e capaz de provar o que realmente ele pensa. Mas provando por si mesmo! Alguém que, segundo o educador Paulo Freire, se afastaria cada vez mais de Socrates e inclusive do pensamento do próprio Jacotot. Já que este mestre não seria mais um "emancipador" e sim um grande "ignorante". Outro termo forte e polemico, mas indiscutivelmente coerente.

Se o mestre de fato interroga seu aluno, e quer a emancipação deste, ele o faz para se instruir (mestre) e não para instruí-lo (aluno). Ele, mestre, quer, deseja, aspira a autonomia do pupilo, do indivíduo único no mundo; nunca sua escravidão, dependencia ou limitação.

Parece aqui, que numa educação nem conteudista, tão pouco transmissível, e sem o tal mestre "ensinante", estaríamos mais perto de um processo de profundo e respeitoso diálogo entre iguais. Onde o mestre leva em conta as necessidades de cada indivíduo e seu pequeno grupo afim; algo que Paulo Freire muito valoriza. Atentando mais para as experiências pessoais, evitando a massificação. Que, lembramos, foi tão comum no período ditatorial brasileiro e tende, ainda hoje, ao populismo de alguns governantes e acadêmicos.

Ha de se convir que praticas sócioculturais emancipadoras, que libertam o homem da escravidão, também atingem logo logo o meio. O qué até imperioso, já que "as pessoas se educam entre si mediatizadas pelo mundo" (PF). Penso que isso incomoda e provoca a muitos. Ao mesmo tempo também move a humanidade adiante.

Autor: Giovanni Cordeiro De Souza


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