A Maldição da Lenda - Clarões Mentais:Amigos, Sim, Namorados, Talvez...








CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
Clarões Mentais:
Amigos, Sim, Namorados, Talvez...

Sandrinha tomou o depoimento de Roberto, arrumou os documentos e correu ao hospital. O sargento estava do lado de Alberto e, surpresa, ouviu claramente o moribundo pronunciar seu nome, enquanto alguém entrava no quarto, às suas costas. Virou-se e percebeu que Maristela também ouvira e tentou dizer algo, mas ela adiantou-se e disse:
_ Não se preocupe! Ontem, percebi como ele dispensava toda a atenção para você e antes de ontem, na praça, eu já tinha percebido que nossa união é mais de dois irmãos do que de namorados. Depois do que ele disse lá em casa, foi que me toquei e concluí que nossas vidas são totalmente diferentes. Eu continuo sentindo a mesma coisa, e é isto que me dá a certeza do que estou dizendo. Eu nunca poderia ser a esposa dele. Eu só estava acostumada com a rotina de vida que levávamos, e agradeço a Deus essa reviravolta. Ele não iria se acomodar comigo e um dia ia terminar se cansando. Se ele pronunciou seu nome, é porque é isto que ele quer e não ousa ou não teve tempo de confessar. Agora, as coisas ficaram bem mais fáceis. Basta a gente esperar ele acordar e contar que ele disse!...
Sandrinha ofereceu a mão à nova amiga, que a apertou carinhosamente, assistidas em silêncio pelo sargento que se mantivera à parte. Quando viu que os entendimentos estavam concluídos, entrou na conversa, tentando fazer graça:
_ Esta é a primeira vez na minha vida que vejo um camarada terminar um namoro e começar outro sem saber de nada. Isto é que é ser um felizardo!...
As moças se voltaram para ele, esquecendo momentaneamente a gravidade do enfermo e riram a bom rir. Os pais dos jovens entraram acompanhados do Dr. Odorico e desejaram saber a causa de tamanha alegria. Ainda sorridente, Maristela esclareceu:
_ É que Alberto acaba de me trocar por ela!...
_ Trocar por ela, como, se está em coma?...
_ Ora, ele disse o nome dela e eu ouvi. Daí, entendemos que, quando ele acordar, a namorada dele vai ser a Sandrinha e não eu!... Simples, não é?...
Apreensivo, o Dr. Odorico disse:
_ Cuidado que ele pode entrar em choque. Apesar da estrutura física, ele perdeu muito sangue e a cirurgia foi muito delicada. Tivemos que deslocar uma costela!...
_ Ih!... É mesmo!... Então temos de dar a notícia com cuidado!...
Enquanto o farmacêutico sorria feliz com o carisma do filho, o prefeito entrou na brincadeira com a intenção de afastar da alma as lembranças amargas:
_ Mas, filha, você já pensou em que situação vou ficar com Agnelo? Afinal, quando vocês eram crianças, nós acertamos o namoro, com a intenção de ver vocês casados!...
_ E eu?... ? Perguntou o Dr. Carlos, aderindo ao clima alegre. ? Alguém por acaso pediu o meu consentimento pra arranjar namorado por aqui?...
_ Ora, papai, foi só porque encontrei um antigo amor. O coração bateu mais forte e preciso esquecer. Ou quer que eu volte pra ele?... ? Sorriu Sandrinha, travessa.
_ Não!... Não!... Fica com este, mesmo!... Já não está mais aqui quem falou!... ? Respondeu o engenheiro, simulando estar apavorado.
_ Ah, é, não é?... Viu só?...
_ Ohhhhhh!...
_ Shhhh!... Parece que está acordando!...
Apreensivo, o Dr. Odorico aproximou-se a fim de evitar algum movimento brusco. Ele rapaz abriu os olhos e tentou mover-se, mas deixou escapar um gemido.
_ Calma, Alberto, não se mova. Você sofreu uma intervenção cirúrgica muito delicada e precisa de repouso absoluto por um bom tempo!
_ Dr. Odorico, o que aconteceu?...
_ Foi um lamentável acidente, mas está tudo bem. Graças a Deus, você reagiu!...
_ Ah! Agora me lembro! Como foi que aconteceu? Onde está ele?...
_ Está tudo bem. O sargento Argolo e o Falcão fizeram o que você mandou!...
_Como sabe que eu mandei, eles falaram?...
_ Não! Mas entendemos tudo. Agora, descanse!...
_ E, ele está preso? Alguém mais saiu ferido?...
_ Não, apenas você!... Agora, descanse!... Está tudo bem!...
_ Graças a Deus!... Há quanto tempo estou aqui? Tenho de acabar o inquérito. O Dr. Carlos precisa voltar com a família!... Ai!...
_ Não se preocupe, estão todos aqui!...
_ Oh, desculpem! Fiquei tão envolvido com o Dr. Odorico que não vi ninguém! Olá, papai!... Olá, seu Afonso!... Olá, Dr. Carlos!... Olá, sargento!... Olá, querida, chorou muito?... Olá, Sandrinha, desculpe o transtorno!...
_ Cínico!... ? Pensou Maristela, olhando para Sandrinha, com um piscar de olhos.
_ Alberto, ? voltou o médico ? se você não ficar quietinho, vou ser obrigado a chamar uma enfermeira pra lhe dar um tranqüilizante, quer?...
_ Não!... Pelo amor de Deus!... Não!... Eu fico quietinho!... Por falar nisso, há quanto tempo estou aqui sendo babaricado, como um bebezinho?...
_ Só durante o efeito da anestesia. Quer outra?...
_ Não, pode deixar que vou ficar caladinho!... ? E fechou os olhos, com mil interrogações a lhe bailarem na mente.
O médico aproveitou, fez um gesto e saíram silenciosamente. Ao se sentir sozinho, abriu os olhos, deu um sorriso e, num profundo suspiro, disse:
_ Obrigado, meu Deus, por ter saído tudo bem!... Ai!...




Autor: Raul Santos


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