Trecho Da Vez



"Afinal, o que fazem os espiões, os agentes? Eles vivem um papel, documentos falsos, identidades trocadas, personificam a figura que melhor convier ao motivo que os impele, `a agência pela qual trabalham, ao país pelo qual defendem. Porque o espião nada mais é  do que o militar sem sua farda, lutando de uma maneira, digamos, cênica. No fundo somos iguais.
– Iguais uma ova – retrucou Harry
– Ah, sim? Então por onde devo começar? Que tal Wolfang Lotz, um judeu, nascido na década de 20 em solo alemão embora tendo crescido e se criado em Israel. Sua aparência nórdica, mais os notáveis feitos realizados no exército israelense levaram o Mossad a recrutá-lo. Wolfang volta para a Alemanha, casa-se com uma autêntica ariana e, ainda sob os auspícios e sobretudo com o patrocínio do serviço secreto de Tel Aviv, ele se muda para o Cairo. Digam-me, quem os egípcios podiam ver senão um sujeito loiro de olhos azuis, proclamando situar-se `a direita da extrema-direita e vociferando um ódio latente contra os judeus? Dia a dia Wolfang foi conquistando a simpatia de alguns oficiais egípcios, já que o seu ramo de negócios no Cairo era uma escola de equitação. E quando os nobres militares apareciam em seu estabelecimento para uma cavalgada ao entardecer encontravam naquele “alemão”, de um metro e oitenta de altura, a pessoa ideal para desabafarem seu cotidiano de caserna. Ocorre que em tempos de crise, como por exemplo a “Guerra dos 6 Dias”, esses desabafos transcendiam ao naipe de informações fundamentais, sendo por seu turno transmitidas a Israel. E não pense, cap. Callaghan, que a missão de Wolfang foi um mar de rosas, porque em dado momento retiraram-lhe a carapuça e estavam mesmo dispostos a colocarem uma corda em seu pescoço. A história está repleta de exemplos como esse, e posso lhe assegurar que boa parte deles não teve a mesma felicidade do falso alemão, que saiu vivo desse episódio.
– Sr. Dawson...- principiou um aborrecido Arnold Singer, embora o orador não estivesse disposto a calar.
– São nos momentos de crise, capitão, que os peões da minha comunidade iniciam um movimento que muitas vezes custa-lhes a própria vida, a fim de transmitir as coordenadas corretas aos seus regimentos. Sim, talvez o sr. tenha razão, de fato não somos iguais, já que o nosso vôo é `as cegas e a nossa morte ausente de medalhas e honrarias. Nos momentos de crise o Departamento de Estado, a imprensa, o presidente, quem você imaginar, todos imploram por informações embora as câmeras dos satélites, somadas `a parafernália tecnológica destinada a interpretar os sons e as imagens captadas são insuficientes quando se é necessário conhecer o cérebro do inimigo. A tecnologia avançou um bocado dos tempos de Lotz para cá, mas ainda assim é incapaz de fornecer as respostas. Elint, não sei se vocês estão familiarizados com o termo, entre as comunidades de informação significa: coleta de dados através de processo eletrônico e/ou digital, e/ou o que mais venha a ser inventado, ao passo que Humint traduz-se por informações colhidas por seres humanos. É de consenso geral entre as agências que a Elint, em instante algum, poderá ser um substituto para a Humint, mas antes uma ferramenta de apoio. Assim, só me resta dizer que, apesar do pouco conhecimento que tenho do projeto, acredito estarmos diante de uma revolução nos processos de.....coleta de informação. E eu tenho aqui o melhor teste a ser realizado pela Máquina de Mesmer."

 

(Trecho do Livro "Os Detalhes da História", à disposição no Recanto das Letras)


Autor: Bernard Gontier


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