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Pequenas Histórias de família - segunda história

Minha avó era argentina.

Dona Bertolina Flores, nascida em 1900 na cidade de Corrientes, aprendeu a ler em castelhano, o que não lhe ajudou muito já que se mudou para o Brasil com 12 anos.
A família Flores passava por problemas financeiros, falta de terras e trabalho na Argentina no começo do século XX. Por influência das histórias que ouviam do Brasil naquela época: muitas terras devolutas, sem dono, era só chegar e tomar posse do seu pedaço de chão, decidiram se mudar pra cá. 
E decidiam que nenhum membro da família ficaria para trás, na Argentina. Juntaram-se todos, avós, irmãos, sobrinhos, primos, tios, cachorro, gato, galinha e periquito. Não deixariam ninguém e nada para trás. 
Vinham todos contentes e contando vantagens sobre a vida no Brasil, de como tudo seria melhor, de como teriam terra para trabalhar e como a vida lhe seria mais fácil. Vinham cantando e comemorando, todos felizes com o que poderiam ser de suas vidas.
Todos, menos um rapaz que foi obrigado a deixar a noiva. A família da moça, por saber que todos vinham para o Brasil, inclusive o rapaz, não autorizou o casamento, por medo de que a menina viesse também. 
Ele não se conformou, vivendo apenas na tristeza e no meio da viagem, achou que a dor que sentia por se separar seria maior do que se desse o um tiro no próprio peito. 
Acabou a comemoração. Terminaram a viagem todos de luto. Não tinha cantoria nem contaram mais vantagens. O que todos queriam agora era que chegassem logo ao destino, que pudessem retornar a rotina e esquecer a tragédia que aconteceu durante a viagem.
E assim, com muita tristeza, chegaram ao destino: Brasil, terra abençoada, lá no município de Amambai, na fronteira onde o Brasil foi Paraguai, em 1912.

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