O Tráfico De Informações



O Tráfico de Informações

O Fantástico Global colocou em horário nobre uma entrevista exclusiva com Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, suspeitos da morte da pequena Isabella, em nome da boa audiência e do direito de bem informar.

Outras emissoras menos globais deram espaços em hora não tão nobre a um travesti, supostamente envolvido no escândalo com Ronaldo "O Fenômeno".

Este são apenas dois exemplos entre os muitos que acontecem a todo dia,do uso questionável de espaço da mídia em concessionárias de serviço público.

Tudo bem que o grande público seja afeito a noticias escabrosas e a escândalos de toda ordem, cada qual tem o direito de meter o dedonocontrole remoto e sintonizar o canal que mais lhe agrada. O direito de escolha da informação que o cidadão quer acessar é um das maiores conquistas do sistema democrático e de estado de direito.

Cabe também às emissoras, por força do contrato de risco capitalista, a conquista, para seus respectivos patrocinadores, de fatias suculentas e promissoras do mercado de consumo.

Eu me pergunto todo santo dia se não caberia também a quem é responsável por tão nobre e lucrativa missão uma reflexão sobre o material que disponibiliza no self-service da informação a incautos e ávidos comensais em sua gulosa busca por escândalos, atrocidades, perversidades de toda e qualquer natureza?

Não que as emissoras devessem se tornar nas "senhoras em defesa da moral e vigilante dos bons costumes", a realidade é dura e está aí para ser vista e vivida por cada um de nós adultos ou criancinhas inocentes.

Mas é lógico que o argumento de bem informar não deve ser interpretado tão ao pé da letra, a ponto de se escancarar de forma tão natural e singela todas as entranhas da sordidez humana ao vivo e à cores em redes de alcance nacional.

Se isto é trabalhar a livre informação, então deixemos de hipocrisia e se abram as redes concessionárias para os vendedores de drogas, prostituição e todo o lixo que circula livremente ao sabor do seu grande público consumidor que tem (dentro desta lógica perversa) seu direito de livre informação cerceado de forma preconceituosa.

O que se questiona é: se a busca da conquista da audiência e do lucro dos patrocinadores deva abrir mão de valores balizadores mais salutares para a qualidade de vida e da saúde física e mental do grande publico telespectador e consumidor.

Será que deve ser assim tão simples? O que o público quer, o grande império da mídia deve servir em bandeja prateada e farta para gosto, desgosto e mau gosto de quem tenha ao seu alcance um mero controle remoto?

Esta deve ser a mesma lógica de que se vale o patrocinador de drogas, o comerciante de prostituição e o negociante de pedofilia.

João

Drummond


Autor: João Drummond


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