Felicidade Na Visão Aristotélica



Felicidade na visão aristotélica.

1. Conceito.

Para adentrar numa matéria de extrema relatividade e complexidade, faz-se necessário buscar o conceito do que seja felicidade e, em seguida, dizê-la na concepção de Aristóteles. Para a modernidade, felicidade seria um estado afetivo ou emocional de sentir-se bem ou sentir prazer[i]. Para Aristóteles, ter felicidade ou ser feliz é usar a razão como propriedade e fazer de tal modo que isso se torne uma virtude.

Já foi dito que a felicidade é algo bastante relativo, pois depende, incondicionalmente, da visão de necessidade de cada indivíduo, ou seja, a felicidade, para um capitalista, é acumular riquezas; já para um socialista-comunista, repartí-la; para um estudante, a felicidade seria construir conhecimento; para um analfabeto, saber ler e escrever; para um colecionador, completar a sua coleção; já para um amador iniciante, ter a primeira peça e assim por diante. Nessa linha de raciocínio, infere-se que o ser humano entendia e entende a Felicidade como a satisfação do "Eu-querer".

Compreender realmente o que seja felicidade para um indivíduo é, de certa forma, ver nas atitudes humanas, ora na sua cultura, ora em seus pensamentos, a sua necessidade, ou seja, aquilo que realmente precisa para ser feliz[ii]. Muitas são as respostas de como se chegar à felicidade. Albert Einstein, por exemplo, disse certa vez: "se quer viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não ás pessoas nem as coisas", pois sabia que as paixões destroem a liberdade do ser e o apego as coisas, desvirtualiza o homem natural. Falava-se muito em tentar compreender o que seria felicidade: uns pensavam que ela fosse riqueza, outros pobreza, embora ambos os pensamentos fossem falhos, afinal, até hoje a sociedade nunca a compreendeu por certo.

Para ilustríssimo Jusfilósofo Aristóteles, a felicidade é relatada como sendo um bem supremo tanto para os vulgos quanto para os homens de cultura superior, considerando-a como o bem viver e o bem agir. Identificam a felicidade com o bem e com o prazer e, por isso, amam a vida agradável.

2. Construção da felicidade.

Todo trabalho e todo o conhecimento adquirido, na visão aristotélica, visa à construção de um bem, um bem maior. Esse bem maior é a felicidade. Contudo, é preciso saber que esse sumo bem está colado no ato, pois poderá haver um estado de ânimo e, conseqüentemente, não ser acompanhado por um bom resultado. Para ser realmente um bem, tem de ser um bem inicialmente na consciência de quem executa um bem no meio, e um bem na conclusão da ação[iii].

Para a realização do bem supremo, a felicidade precisa de elementos que corroborem para tal, qualquer bem que não venha acompanhado da energia propulsora e dos elementos de sustentação não terá êxito e tornar-se-á algo sem valor. Na visão de Aristóteles, a felicidade é o bem mais nobre e mais desejável entre os homens, chegando a identificá-la como "uma atividade da alma em consonância com a virtude."

Muitos perguntam se a felicidade é adquirida através do aprendizado, do adestramento ou pelo hábito. Para essa pergunta, não existe resposta exata, uma vez que algo tão complexo e tão relativo não requer uma resposta simples. Entretanto, é sabido que a felicidade é a mais nobre das coisas, se ela vem do adestramento humano ou se vem pelo aprendizado não se pode afirmar com a pura certeza, mas há uma grande aproximação com as coisas divinas, por isso entendem-na como sendo uma bela e virtuosa atividade da alma.

3. Analisando a história

A partir de relatos históricos, têm-se em mãos uma frase, talvez dita por Dom Pedro I, em 9 de janeiro de 1822, conhecido popularmente como "dia do fico", onde o mesmo, pressionado pela coroa portuguesa para voltar à Lisboa, a fim de assumir o posto de príncipe e"reentregar" o Brasil para a "re-colonização", decide ficar a pedido do povo e,provavelmente, teria dito : "se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico", palavras estas, que declarou a independência de fato do Brasil.

Ao analisar essa frase e o contexto histórico, percebe-se um elemento bastante importante a ser dissecado: o fato de Dom Pedro ter ficado no País não tornaria todos felizes, mas apenas uma pequena parcela de comerciantes e fazendeiros, que lucrariam com a independência. Todavia, não se pode dizer que é uma felicidade plena, geral, e sim uma felicidade relativa e política de alguns. Aonde quero chegar com isso? Simplesmente, quero dizer que o termo "felicidade" nessa frase está equivocado, pois uma felicidade só é geral se for de todos. O dizer "para o bem de todos", não abrange todos, mas uns poucos". E na visão aristotélica, entende-se felicidade como uma virtude e não um jogo de política e interesses. A busca pela felicidade deve ser esperada na construção da virtude em basilares da justiça e do meio termo dentro de uma liberdade igual.

4. Diógenes versus Aristóteles e um pouco de Sócrates.

Diógenes foi um filósofo que desprezou a opinião pública. Ele se importava mais com aquilo que existia dentro de si, a sua consciência falava mais alto; desprezava quaisquer bens materiais, lembra-me muito da história de Falcão[iv], um dos personagens principais do livro- O Futuro da Humanidade, do brilhante Augusto Cury. Parece-me que Diógenes viveu em um pequeno barril[v]. Seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela, símbolo do seu desapego com as coisas mundanas. Era conhecido como o filósofo-cão, apelido denominado por viver em extrema miséria.

Na grande e simples visão de Diógenes, a felicidade era entendida como autodomínio e liberdade espiritual. Nesse aspecto, se parece muito com o Mahatma Gandi e com a figura de Sócrates. Diógenes era a verdadeira realização de um sonho de uma vida livre, muitos diziam até que ele vivia o seu próprio sonho. Ele combatia, pela sua filosofia de vida, os prazeres, os desejos e as luxúrias, elementos que impediam sua auto-suficiência. Diferentemente de Aristóteles, em que as virtudes em quaisquer momentos teriam de ser praticadas, indiferentemente de existir teorias ou não.

A história conta que Alexandre, "O grande", andando pela cidade, avistou Diógenes dormindo dentro do barril e, querendo ajudá-lo, perguntou se seria possível fazer algo por ele. Colocando-se de frente ao barril e, barrando os raios solares, olhou Diógenes em direção ao sol e disse: "Não me tires o que não me podes dar!". Esta sua atitude retoma Sócrates, onde aprendi que a felicidade se busca quando existe ética, moral, verdade, liberdade e quando se tem conhecimento de si mesmo e desapego com as coisas materiais.

5. conclusão.

Nas palavras de Aristóteles concluímos:

"...para nós, em vista do que se disse acima, fica claro que a felicidade é algo louvável e perfeito. Também parece ser assim porque ela é um primeiro princípio, pois fazemos todas as coisas tendo-a em vista, e o primeiro princípio e causa dos bens é, conforme afirmamos, algo louvável e Divino..." (pág.: 36).

"...uma vez que a felicidade é, então, uma atividade da alma conforme à virtude perfeita, é necessário considerar a natureza da virtude, pois isso talvez possa ajudar a compreender melhor a natureza da felicidade..."(pág.: 36).

"...sem dúvida alguma, a virtude que devemos examinar é a virtude humana, pois o bem e a felicidade que estamos buscando são o bem e a felicidade humana. Entendemos por virtude humana não a do corpo, mas a da alma; e também dizemos que a felicidade é uma atividade da alma..."

"...Louvamos um homem sábio referindo-nos a sua disposição de espírito, e às disposições de espírito louváveis chamamos virtude..." (pág.: 39)

6. Notas:




Autor: Diego Bruno de Souza Pires


Artigos Relacionados


Eu Jamais Entenderei

O Salmo 23 Explicitado

Nossa Literatura

Midas

Felicidade Na Visão Aristotélica

Tudo Qua Há De Bom Nessa Vida...

Pra Lhe Ter...