Os 200 Anos De Escolas Médicas



200 anos de escolas médicas

"A esperança enxerga o invisível, sente o intangível e alcança o impossível".

Na década de 60, um ministro de Estado inconformado com a resistência da categoria em trabalhar por preço vil, teria afirmado que "providenciaria a formação rápida e efetiva de tantos médicos do Brasil que, logo, estes viriam em massa e de joelhos procurar trabalho a qualquer preço". Essa posição política inconseqüente e de certa forma concretizada atingiu, deliberadamente, o ensino médico, com suas repercussões desastrosas no exercício da profissão.

Um pequeno histórico serve como comprovação. As duas primeiras escolas médicas do Brasil foram criadas em 1808, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro. Em 1960, eram 29 as escolas de medicina no país, passando a 73 em 1971. Mas, isso não foi o suficiente. Nesse mesmo período, nas escolas já existentes, o número de vagas ofertadas para o primeiro ano mais que dobrou. Passou de 3.800 para quase 9.000. No governo Collor, o então ministro Carlos Chiarelli "conseguiu" aumentar em 10% o número de vagas nos cursos superiores das universidades federais. Isto significou, nos de medicina, aproximadamente mais 800 médicos/ano, ou, se quiserem o equivalente a criação de dez escolas médicas com 80 vagas.

Já, em fins de 1999 nosso país esbanjava uma centena de escolas médicas. O mais assustador é que, só neste início de século foram criados 75 novos cursos de medicina colocando o Brasil, com 175 escolas médicas, em segundo lugar no ranking mundial perdendo apenas para a Índia com 272, mas deixando longe a China com 150 e os EUA com 126 escolas médicas.

Pelos favores políticos feitos a alguns é que nos estão saindo médicos "fabricados" no afogadilho de cursos em fins de semana; médicos sem o estágio em Residência devido à insuficiência de vagas e escolas sem hospitais; médicos - o que é sumamente grave - a quem se confere um diploma pela simples contribuição dada à receita das respectivas "faculdades".

Por outro lado, é impossível, hoje em dia dissociar a formação do médico da remuneração digna que deve receber. Há que se acabar, também, com a falsa idéia de que o exercício da medicina é puro sacerdócio. A maioria dos médicos trabalha sem horários regulares e sob tensões permanentes. Para ser eficiente e resolutivo, exige preparo técnico e científico constante e pressupõe uma situação financeira equilibrada. Isto custa tempo, dedicação e dinheiro.

Por isso, citando Tancredo Neves: "A dignidade dos honorários médicos não é apenas um ato de justiça, mas uma necessidade geral da sociedade, que necessita de profissionais estimulados e tranqüilos, pois lhes cabe lidar com o valor absoluto de cada um que é a vida, e não o podem fazer com as mãos trêmulas de ansiedade".

O ministro Haddad, sentindo a gravidade do problema, passou a defender o ensino médico com qualidade, e o MEC busca urgentemente editar um novo instrumento de autorização dos cursos de medicina mais rígido e que atenda esse objetivo. Não poderia ser de outra forma, pois, a continuar essa liberação desordenada, a banalização da profissão médica será inevitável.

O que não se pode permitir é o desabamento da estrutura do ensino superior brasileiro, com a criação de cursos de medicina sem mínimos recursos, sem hospital na região, sem corpo docente, sem bisturi.

Antonio Celso Nunes Nassif, Doutor em Medicina pela UFPR. Foi presidente da Associação Médica Brasileira. [email protected]
Autor: Antonio Nassif


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