DIREITO À DIFERENÇA



De acordo com Guacira (2008), "nada há de puramente natural e dado em tudo isso: ser homem e ser mulher constitui-se em processos que acontecem no âmbito da cultura. A construção do gênero e da sexualidade dá-se ao longo de toda a vida, continuamente, infindavelmente." O que antes era rotulado pela imposição da sociedade seletista, hoje vem recebendo novas nuances pelo impacto da mídia e até mesmo pela evolução que perpassa pelo conhecimento. Prega-se o viver igual: não em condições, mas em atitudes. É a homogeneidade humana. Esquecem das culturas e identidades. Há a massificação do ser. Para se viver em sociedade não devemos ser quem, de fato, somos, mas sim temos que ser o que querem que sejamos.

A globalização e o livre acesso à informação motivam as vozes à não mais aceitarem permanecer caladas. Quem disse que mulher é o sexo frágil desconhece as mães da Sé, que lutam incessantemente por justiça pela morte e desaparecimento de seus filhos. Quem rotulou o sexo masculino ao dizer que "homem não chora" provavelmente não se emocionou com o nascimento de um filho ou com a morte de alguém que verdadeiramente amasse. Ao articularmos as palavras de Guacira ao texto "Em defesa da família tentacular" de Maria Rita Kehl , percebemos que, por mais que tenhamos subsídios para sermos felizes, às vezes não o somos por não nos enquadrarmos nos rótulos sociais. A família tradicional, que antes era composta por pai, mãe e filhos, na contemporaneidade possui diversas vertentes: famílias composta por pai, pai e filhos; por mãe, mãe e filhos; por pai ou mãe e filhos; por avós e filhos... Antigamente, ser mãe solteira era visto como desonra. Hoje, é opção. Permitimo-nos dar os primeiros passos à quebra dos rótulos. Mas há muito que se fazer.

Trazendo para o ambiente escolar, a dimensão preconceituosa abrangendo gênero e sexualidade continua latente. Quantos pais, com filhos (principalmente filhas) na educação infantil deixariam seus rebentos nas mãos de um professor e não professora? Ou este seria pedófilo ou seria homossexual. E, sendo homossexual, sua competência estaria reduzida? Por mais que se diga que a sociedade está menos homofóbica, na prática percebemos que o discurso está distante da vivência. Limitar as competências se um ser humano ao gênero demonstra mais ignorância do que a falta do conhecimento. A escola, enquanto espaço socializador, não mais deverá ter espaço à marginalização de seus discentes pela pluralidade sexual.

Deve-se trabalhar a diversidade como identidades multifacetadas, sem a imposição de uma verdade absoluta ou normalizações. O que é ser normal? É está dentro da norma? Então, deveríamos tratar todos como anormais, pois somos únicos. Ninguém igual a ninguém. Por que insistimos tanto em padronizar comportamentos, sentimentos, atitudes? O que há de anormal ser humano, na essência da palavra? O educador deve ter em mente que educar para a cidadania e diversidade é dar asas à liberdade de cada um ser quem ele é verdadeiramente. É entender o ser humano como único. Para isso, é necessário olhar, primeiramente para nós mesmos e enxergarmos nossa unicidade.

Referências

KEHL, Maria Rita. Em Defesa da família tentacular. Disponível em: http://www.mariaritakehl.psc.br/PDF/emdefesadafamiliatentacular.pdf. Acesso em 18/06/2010 e 21/06/2010;

LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Prosições, Campinas, v. 19, n. 2, ago. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 73072008000200003&lng=pt&nrm=iso Acesso em 20/06/2010

Autor: Ana Carolina Machado Ferrari


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