Homem: animal condicionado



Introdução

Alexandre Koyré tem um livro que se chama "Do mundo fechado ao universo infinito" onde El mostra que os homens romperam com as estruturas de um planeta criado por Deus e que gozava de status privilegiado perante esse mesmo criador. Kepler, Galileu, Brahe, Copérnico e Newton não necessariamente nessa ordem, mostraram que havia outros mundos, infinitos mundos e éramos apenas mais um planeta, um corpúsculo flutuando numa imensa galáxia. Semelhanças a parte Arendt começa seu livro "A condição humana" registrando que um foguete girando na órbita terrestre preconizando que o universo infinito mencionado por Koyré começava efetivamente a ser conquistado pelos homens. Sintomático também é a inscrição do túmulo do cientista russo "a humanidade não permanecerá para sempre presa a terra" . E mais, o homem aos poucos se libera das amarras da "Mãe Terra" que era por excelência, o lugar dos homens, sua prisão, tal como para os filósofos antigos o corpo era prisão da alma. E se a conquista do espaço sideral não significa em última instância um distanciamento do Deus criador e protetor, mostra no mínimo que os homens já sabem se virar por contra própria.
Mas para este trabalho seguiremos duas linhas básicas do pensamento de Arendt, o primeiro é inverso do anunciado nessas primeiras linhas e consiste na idéia de que o homem grego antigo tinha seu mundo restrito a esfera privada e se realizava como homem na Ágora, mas agora houve uma inversão drástica nos valores praticados: o homem tem a vida pública e se realiza na intimidade do lar. Então temos que, Koyré entende que o mundo era restrito e expandiu para infinitas possibilidades, ao passo que com Arendt as inúmeras possibilidades do convívio público, do debate na praça se contraíram para o pequeno mundo e restrito mundo da privacidade do lar. A segunda linha de pensamento consiste em afirmar que o homem mesmo sendo conquistador do universo, um grande desbravador que cria condições para viver melhor ele acaba condicionado pelas próprias condições que ele cria, ou seja, se torna prisioneiro de si mesmo, daí a justificativa do título: Homem: animal condicionado. Não antes de falar sobre o público e o privado; o labor a ação e o trabalho que são termos típicos do universo de Arendt.
Ainda à guisa do título temos a definição de Aristóteles para quem o homem é zoon politikon, ou seja, animal político, e depois, com Tomás o homem se transforma em animal social, em ambos os casos os homens não estão destituídos de razão, mas a denominação vai mudando na medida em que os estudos sobre o comportamento humano avança.
E para deixar bem pontuado a vertente que tomaremos para levar a cabo este estudo, vale dizer que para Arendt o homem não é dotado de uma natureza, mas de uma condição. Condição essa que pode ser abalada por qualquer dos seres humanos, para Arendt toda pessoa que nasce é "fator de instabilidade" para o planeta, visto que não sabemos do que tal pessoa é capaz, sabemos apena que o potencial humano tanto pra criação como para destruição é quase ilimitado. Como diz Arendt na introdução:
"Ainda não sabemos se esta situação é definitiva; mas pode vir a suceder que nós, criaturas humanas que nos pusemos a agir como habitantes do universo, jamais cheguemos a compreender, isto é, pensar e falar sobre aquilo que, no entanto, somos capazes de fazer" .

Alguns termos típicos do universo arendtiano.
Antes de adentrarmos ao tem propriamente dito, convém explicitar alguns termos que são importantes para a compreensão daquilo que a autora se propõe a dizer e, conseqüentemente, daquilo que pretendemos dizer sobre o que ela diz. Arendt interpreta de forma diferente daquilo que temos costume de ver alguns termos que fazem parte do seu, digamos, universo reflexivo. Tomemos como exemplo a labor e trabalho, hodiernamente esses termos são tratados como se fosse um só. Basta pensar, por exemplo, no fato de que existe ginástica laboral, ou seja, um tipo de atividade que está ligada a qualidade de vida da pessoa no trabalho e que se resume basicamente em cuidar para o corpo fique saudável e como desfecho o trabalho possa ser desenvolvido com mais desenvoltura. Corpo são, mente sã, lucro certo.
Mas Arendt interpreta labor e trabalho de forma diversa, ou seja, uma coisa é o labor e outra, por sinal, bem diferente é o trabalho. Labor pode existir e existe independente do trabalho. Para a autora labor diz respeito a atividade metabólica do corpo ao processo biológico relacionado ao crescimento e as transformações pelas quais os homens passam no decorrer da vida. Vida é labor, então, é indiferente a atividade que homem venha a exercer, se ele vive, logo, labora. Buscando a definição para labor no Dicionário de Língua Portuguesa Aurélio encontramos que labor é: exercer o seu mister, entrar me função; labutar, trabalhar, lidar(..). E os exemplos citados pelo Aurélio demonstra que alguns escritores usavam o termo com a mesma conotação. Bobbio em seu Dicionário de Política traz o termo "laborismo", mas indica que é proveniente de labour e que dizer trabalho e tem mais a ver com ideologia do que com exercício de atividade rentável. Logo, a interpretação que autora da para labor, me parece que é único.
Quanto ao trabalho me parece que não há muita novidade em relação ás interpretações convencionais, a autora entende que o trabalho é uma atividade transformadora, produtor de artificialidades.
A ação que é a atividade política por excelência, me parece mais importante e abrangente para autora porque pode ser exercida sem nenhuma intermediação e tem a ver com a essência da condição humana, pensar, refletir, participar, enfim refere-se ao homem enquanto político, criador de condições para sua sobrevivência e perpetuação da espécie. Por isso ela propõe que a natalidade fosse a categoria mais importante do pensamento em contraposição a morte que é o carro chefe do pensamento metafísico.
Pro outro lado vale pena ficar atento para a distinção que a autora faz entre o público e o privado. O privado é a esfera da casa, da família e daquilo que é próprio ao homem. Mas
para o individuo viver uma inteiramente privada, significa, acima de tudo, ser destituído de coisas essenciais à vida verdadeiramente humana, ser privado da realidade que advém do fato de ser visto e ouvido por outros, privado de uma relação "objetiva" com eles decorrente do fato de ligar-se e separar-se deles mediante um mundo comum de coisas, e privado da possibilidade de realizar algo mais permanente que a própria vida.

A esfera privada baseia-se nas relações de parentesco como a phratria (irmandade) e a phyle (amizade).
Trata-se de um reino de violência em que só o chefe da família exercia o poder despótico sobre os seus subordinados (a sua mulher, filhos e escravos). Não existia qualquer discussão livre e racional. Os homens viviam juntos subordinados por necessidades e carências biológicas (por exemplo: alimentação, alojamento, segurança face aos inimigos). A necessidade motivava toda a atividade no lar: o chefe da família proporcionava os alimentos e a segurança face a ameaças internas (por exemplo: revoltas de escravos) e externas (outros senhores que quisessem destruir uma dada casa e família), a mulher era propriedade do chefe da família e competia-lhe procriar e cuidar dos filhos, os escravos ajudavam o chefe da família nas atividades domésticas. Na esfera privada, não se cogitava a possibilidade da existência da igualdade: o chefe da família comandava e os outros membros da família eram comandados. O chefe da família não era limitado por qualquer lei ou justiça, o que fizesse dentro do seu lar só dizia respeito a ele mesmo e mais ninguém. Assegurando a manutenção da ordem doméstica, exercia um poder totalitário de vida ou morte sobre os comandados, era de sua alçada deixar viver ou fazer morrer. Nesse aspecto só havia uma restrição, é que na esfera privada, o homem encontrava-se privado da mais importante das capacidades - a ação política. O homem só era inteiramente humano se ultrapassasse o domínio instintivo e natural da vida privada.
Na esfera privada é também, onde se pratica o trabalho e o labor, o homem é constantemente lembrado de sua fragilidade, de sua necessidade de sobreviver e, portanto, de sua condição de mortal na medida em que é obrigado a exercer atividades que lhe preservem a vida enquanto indivíduo e enquanto espécie. Por isso, enquanto está sujeito às necessidades, o homem, para os gregos, não possui liberdade. Arendt fundamenta esta discussão recorrendo a Aristóteles, o qual afirmava que a liberdade seria constituída de quatro elementos básicos: o status, manter sua residência era de suma importância para o home grego, quem perdesse sua casa se tornava uma espécie de escravo em potencial; a inviolabilidade pessoal, a liberdade de atividade econômica e o direito de ir e vir. Na medida em que era escravo de suas necessidades, o homem devia trabalhar e laborar, exercendo, desta forma, atividades "econômicas" que certamente lhe subtraiam a liberdade.
Em contraposição Arendt apresenta a esfera pública que é a esfera do comum na vida política da polis, pois "tudo que vem a público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possível". Baseia-se no uso da palavra e da persuasão através da arte da Política e da Retórica. Para Aristóteles, a esfera pública era o domínio da vida política, que se exercia através da ação e do discurso. Os cidadãos exerciam a sua vida política participando nos assuntos da polis. Era na polis que os homens se completavam, visto que os homens que tinham tempo para esses debates já estavam livres de ocupações que visavam a manutenção da vida, logo estava livre. Vencer as necessidades da vida privada constituía a condição para aceder à vida pública. Só o homem que tivesse resolvido todos os assuntos da casa e da família teria disponibilidade para participar num reino de liberdade e igualdade sem qualquer coação. Todos são iguais (não há desigualdade de comandar e de ser comandado) e todos são livres em expressar as suas opiniões. O poder da palavra através da persuasão (a prática da retórica) substitui a força e a violência da esfera privada. Os cidadãos livres e iguais da esfera pública da polis opõem-se, assim, às relações de dominação e de propriedade sobre os subordinados da esfera privada.
Deixar o lar e a família manifestava a mais importante virtude política - a coragem. Na vida privada, o homem defendia a sua sobrevivência biológica. Na polis, o homem tinha de ter coragem para arriscar a própria vida libertando-se do servilismo do amor à vida. A vida boa, que Aristóteles identificava com a ação política, significava a libertação do homem face às esferas do animal laborans e do homo faber efetivando-se através da virtude da coragem e da (vida boa). Ter coragem era a condição para aceder à vida política afirmando uma individualidade discursiva e contrariando a mera socialização imposta pelas limitações da vida biológica privada. Ser cidadão da polis, pertencer aos poucos que tinham liberdade e igualdade entre si, pressupunha um espírito de luta: cada cidadão procurava demonstrar perante os outros que era o melhor exibindo, através da palavra e da persuasão, os seus feitos singulares, isto é, a polis era o espaço de afirmação e reconhecimento de uma individualidade discursiva.
Na esfera pública o homem podia realizar e falar o que ninguém ainda realizara ou falara, isto é, trazer à tona o novo em ação e discurso, de sorte que ao fazê-lo, cada um podia tornar-se imortal, e, assim, estar um pouco mais próximo dos deuses, senão em sua eternidade, certamente em sua imortalidade. A História como ciência no contexto antigo, serve para imortalizar grandes palavras e atos de homens e povos, elevando-os a um nível de existência um pouco mais digno do que a mera subsistência da vida. A terra é eterna, os deuses imortais; querer se assemelhar ao deuses era muita pretensão, então os homens tinham a tinham a finalidade de eternizar-se pelos seus feitos rompendo com ciclo transitório da vida.
Contudo, a partir do que já foi comentado, pode-se indagar: o que exatamente seria a ação e o que seria o espaço público, no pensamento arendtiano? Por ação, a filósofa entende a atividade exercida entre os homens, a própria expressão do ser destes, que sem o discurso que a acompanha, ficaria totalmente desprovida de sentido. O espaço público, neste contexto, poderia ser entendido enquanto a própria realidade circundante na qual tudo o que vem ao público pode ser visto e ouvido por todos, isto é, seria a totalidade dos fenômenos apreendidos por todos e que é reconhecida enquanto realidade. Hannah Arendt acreditava que só é possível dar um significado ao mundo, na medida em que os homens tomarem consciência de que o mundo, este mundo no qual vivemos, é resultado de artefatos humanos que trazem em seu bojo individualidades, que somadas formam uma espécie de "construção coletiva". Tem-se assim, demarcada a linha que divide o espaço privado do público. Enquanto a esfera privada é o lócus da violência ? destruição do alimento no labor; destruição da matéria na confecção do que é útil ou belo; a própria condição de escravidão ?, o outro (o espaço público) é o lócus da ação, da liberdade, da imortalidade e da pluralidade daqueles que habitam em pé de igualdade um mundo comum. Porém, a ação humana possui um caráter de imprevisibilidade e produz, concomitantemente, resultados irreversíveis na teia de interações humanas na esfera pública. Daí a importância da faculdade de julgar: Hannah Arendt viu no juízo a capacidade de avaliar o teor e os impactos de nossa ação em meio à pluralidade humana e a capacidade de dar-lhe certo controle por meio das leis e, assim, ajudar a preservar a esfera pública dos efeitos nefastos que podem adquirir determinada ação ou discurso.
Em suma, pode-se concluir, a partir das reflexões tecidas por Arendt, que a vida pública, isto é, o próprio mundo, é um lugar de construção coletiva, elaborado por meio do senso comum, que também se presta para julgar, discernir e manter a ética, a moral e a lei no espaço público e, assim, assegurar sua sobrevivência às presentes e futuras gerações. Ai temos que, os antigos tinham o privado como espaço da preservação da espécie e o público como uma segunda vida, lugar de realização pessoal que possibilitava perpetuar seu nome para os pósteros.

Animal condicionado.
Como se fosse um toque de Midas, que tudo que toca vira ouro, tudo que entra para o convívio dos homens se torna condição para sua existência. Não importa o que seja, o homem torna parte de sua criação e já não pode mais viver sem ele, se torna condição para sua existência. Tosas as invenções projetadas em todos os tempos se torna com tempo, necessária a vida. Poderia, por exemplo, viver muito sem energia elétrica, hoje é um dos pressupostos básicos da vida, do desenvolvimento, do progresso. Se o fornecimento de energia for interrompido de forma permanente retornaremos a Idade Média. Quem imagina uma viagem de carruagem que para se deslocar 300 km demore meses. Uma carta que leve seis meses para chegar ao destinatário, uma informação chocante recebida meses depois do sucedido. Quem inventou a energia elétrica? O homem. Os correios, o carro, a internet, televisão? O homem, mas agora exceto aqueles que vivem nos locais mais recônditos e distantes da civilização conseguem viver sem essas "regalias".
Isso sem falarmos no progresso das ciências. Quem enfrentaria hoje uma cirurgia sem anestesia? Se o médico sugerir ao paciente a amputação de sua perna porque foi picado por animal peçonhento ele será processado por negligencia porque já faz parte da condição humana os progressos feitos pela ciência em matéria de soro antiofídico e outros procedimentos de intervenção terapêutica que visa o maior bem do paciente com o mínimo de dor. Tudo isso foi inventado e agora faz parte da existência humana e entende-se que não pode prescindir dele.
O que quer que toque a vida humana ou entre em relação duradoura com ela, assume imediatamente de condição da existência humana. É por isso que os homens, independentemente do que façam, são sempre seres condicionados. Tudo que espontaneamente adentra ao mundo humano ou para ele é trazido pelo esforço humano, torna-se parte da condição humana.
Tem-se uma certa dificuldade em demonstrar o que entra espontaneamente para o convívio humano, porque até onde se pode vislumbrar, o mundo é criação humana ?exceto quando se crê que Deus o criou- as regras morais são convencionadas, o homem dominou os elementos da natureza pela sua perspicácia, as relações políticas são construídas, guerras são negócios onde riquezas mudam de mãos e o mapa cartográfico é redesenhado e para qualquer que se vire os olhos o que vemos são criações humanas, até mesmo as angustias da vida moderna, o stress, a solidão de multidão, são condições que o homem criou e se tornou vítima dele, o que faz do homem uma figura singular, ou seja, ele é condicionante condicionado. É claro que a Terra oferece algumas condições ao homem sem o qual ele não poderia viver, o oxigênio, por exemplo.
O homem, porém, está preso as condições que a terra lhe oferece, mesmo que no perímetro terrestre ele possa inúmeras possibilidades ele só pode criar tendo em vista as condições que o planeta lhe oferece. Mas mesmo restringido pelas condições que o planeta Terra lhe proporciona, o homem não está mais preso ao planeta Terra, ele já reúne condições, se não agora em um futuro próximo ou distante, tudo encaminha para isso, para sair da esfera terrestre e viver em outro lugar. Mesmo que isso seja, por ora, simples imaginação, no pensamento de Arendt isso seria
A mudança mais radical da condição humana (...) que implicaria o homem viver sob condições inteiramente criados por ele mesmo, diferentes daqueles que a terra lhe oferece. Não obstante esses hipotéticos viajores terrenos ainda seriam humanos, mas a única afirmativa que se poderia fazer quanto à sua "natureza", é que são seres condicionados, embora sua condição seja agora, em grande parte, produzida por eles mesmos.
Não importa onde o homem vive ou viverá ele será sempre condicionado. Esta é, segundo a perspectiva de Arendt a principal característica o homem.



Da realização pública ao refugio da intimidade.
Enquanto o individuo antigo, o grego e o romano, para tinham como ideal de vida o inter homini esse, aliás estar entre os não era a conditio sine qua non da existência, mas era a conditio per quam de toda ávida política e a não existência dessa condição equivalia a morte, ou seja, "deixar de estar entre os homens" e morrer (inter homini esse desinere) era a mesma coisa.
Mas parece que houve um declínio da valorização da vida pública como espaço da ação e conseqüentemente da vida política como um todo. Seguindo a tendência dos franceses,
mestre na arte de ser feliz entre as pequenas coisas, dentro do espaço de sua quatro paredes, entre o armário e a cama, entre a mesa e cadeira, entre o cão e o gato e vaso de flores, dedicando a estas coisas um cuidado e uma ternura que, num mundo em que a rápida industrialização destrói constantemente as coisas de ontem para produzir os objetos de hoje, pode até parecer o ultimo puramente humano do mundo.
É nesse aspecto que faço a comparação do pensamento de Arendt com Koyré, pois este mostra que saltamos de um mundo fechado, que na minha analogia corresponde ao privado, para um universo infinito, que na minha analogia, mesmo que infeliz, corresponde ao público. A esfera privada era o restrito, o que dizia respeito apenas ao chefe de família, era um mundo fechado, o público era lugar de expansão, do novo, do improvável, do surpreendente como um universo infinito. A esfera pública é o espaço da grandeza e por ser incapaz de abrigar aquilo que é irrelevante, mas que os indivíduos passaram a considerar importante houve um refluxo da vivencia em público para a doce intimidade do lar.
Agostinho tem culpa nisso. Foi ele, segundo Arendt que propôs que a comunidade de irmãos em cristo tivesse sua vida baseada na caridade e vivendo em espécie de apolitia, quando anti politia. O caráter não público e apolítico foi bem cedo definido na condição de que deveria formar um corpus, cujo membros teriam entre si a relação que tem os membros de uma mesma família, (...) jamais houve entre os membros de uma mesma família algo que se assemelhasse a uma esfera pública, portanto era improvável que viesse a existir entre esta. Como para os cristãos o mundo não durará, logo não há motivo para se preocupar com ele, debater sobre ele, porque o mundo não deve ser construído pensando apenas nos que estão vivos, mas aqueles que virão. Os cristãos tinham a convicção de que não eram destes mudo, logo porque se preocupar com ele.
Na atualidade os indivíduos abandonaram as praças, os debates e se fecharam no recôndito de suas casas, é onde se sentem protegidos, longe de olhares curiosos, se sentem realizados.

Referencias
ARENDT, Hanna. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. Posfácio de Celso Lafer, 10ª Ed. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2007.
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Politica coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1ª ed, 1998.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª Ed. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro; 1986
KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. Trad. Donaldson M. Garschagen; apresentação e revisão técnica Manoel Barros da Mota. 4ª Ed. Forense Universitária: Rio de Janeiro, 2006.
REALE, G. História da Filosofia. Vol. VI Giovanni Reale. Dario Antiseri. - São Paulo: Paulus. 2005.
Autor: Irzair Ciro Correa


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