Luzes da Ribalta



Luzes, aplausos, reconhecimento, o carinho do público. Esse é o alimento do artista. É o ar que ele respira, é seu motivo para viver.
Além da minha dedicação ao fado e aos artistas de fado emigrantes, já há algum tempo venho realizando um trabalho junto com a pesquisadora Thais Matarazzo, sobre grandes nomes da chamada "Era de Ouro" do rádio brasileiro. Isso tem me trazido uma riqueza cultural imensa, e me alertado para um fato muito triste que ocorre tanto no Brasil como em Portugal - a falta de memória e respeito com nossos artistas quando envelhecem. As luzes da ribalta se apagam, tirando deles sua razão maior de viver, e do público a oportunidade de os conhecer.
É natural com a idade que as pessoas de aposentem, se retirem de suas atividades, para poder descansar e aproveitar a chamada terceira-idade. Mas para o artista isso não é um prêmio depois de anos de labuta, é antes um castigo por ter ficado velho. Ele não podia ter ficado velho, ele não tinha esse direito.
Fiz a locução de dezenas de podcasts "Cardápio Cultural", e por diversas vezes nos deparamos com a mesma tristeza em nossos artistas. "Não somos mais nada". "Não nos querem mais". Isso é muito cruel. Principalmente porque não é uma escolha do público, é uma imposição financeira e da mídia. Francamente, se o público gosta de tanta porcaria que empurram em seus ouvidos, com certeza amariam ouvir música e cantores de qualidade. Artistas que são do tempo em que era preciso ser bom para "chegar lá", em que gravadoras e programas de rádio e tv pagavam cachés para os artistas. Hoje estamos no tempo das celebridades instantâneas, onde o valor se dá a quem paga por ele. Não é preciso ser bom, não precisa saber cantar, basta pagar.
Quanto aos artistas emigrantes, de qualquer idade, podíamos chamá-los de artistas expatriados, pois parece que ao sairem de seu país, foram por ele renegados. Como se fossem traidores de sua pátria e esse fosse o preço a pagar pela sua escolha. Aqui e lá são estrangeiros. Vivem num limbo de identidade. Falo especificamente dos artistas portugueses no Brasil. Não sei o que se passa com os emigrantes portugueses em outros países, mas creio que deve acontecer o mesmo.
É preciso que valorizemos a cultura como um todo, sem discriminá-la. Cultura é atemporal, não tem idade. E nossos artistas, mais que pessoas, são suas obras.
Nós podemos mudar tudo isso. Toda grande mudança começa com pequenas ações. Eu estou fazendo a minha parte, e você?


"Porque um país sem memória, não é apenas um país sem passado, é um país sem futuro." (Rui Barbosa)
Autor: Cláudia Tulimoschi


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