ERA UM MENINO MALUQUINHO



ERA UM MENINO MALUQUINHO
Conheço o menino maluquinho da nossa literatura. É personagem do livro que tem o mesmo nome. Ele hoje é reconhecido por milhares de pessoas. Foi criado por Ziraldo, um escritor famoso nacionalmente pela sua competência e pelo seu grande poder de comunicação através de textos de linguagem simples, inteligente e humorística.
Conheço também vários meninos maluquinhos das nossas escolas... São crianças ativas e inteligentes. Gostam de desafios e desgostam da mesmice. Querem novidades e mais novidades. Não cansam de falar, de pular, de gritar, de viver...
Mas quem será o menino maluquinho inesquecível para os educadores?
Lembro muito bem de um deles. Era mesmo um menino maluquinho. Esse menino não sai da minha memória. Morava na zona periférica de Aracaju. Sua mãe preocupa-se muito com ele. Ela recebia várias reclamações dos vizinhos...
Todos diziam:
- O seu filho é muito danado... Não pára quieto...
Aos três anos começou a frequentar uma escola particular do seu bairro. Continuou na mesma escola até os quatro anos.
Desenvolveu-se muito rápido, aprendia tudo antes de todos. A escola então passou a ser chata, a professora tornou-se impaciente e ele, à espera do recreio, sempre com muita vontade de brincar, com muita vontade de sair mais cedo...
A coordenadora da escola, com muita habilidade disse para a sua mãe que ele era hiperativo e, portanto, não dava mais para a escola conviver com ele. A professora chegou ao seu limite de tolerância e de paciência.
Enfim, estava expulso da escola...
Mudou de escola. Foi para a escola publica.
Estava então com cinco anos. A sua mãe imbuída da vontade de vê-lo desenvolver-se através dos estudos, empenha-se em levá-lo e trazê-lo de ônibus para uma escola pública de renome no centro da cidade.
Mas, os problemas continuam. O menino maluquinho não gosta da escola, embora esteja mais comunicativo com os professores e com os colegas.
A mãe com muito esforço financeiro o coloca de volta em uma nova escola privada. Aos seis anos freqüenta o primeiro ano do ensino fundamental. Há um grande retrocesso no desejo de aprender.
As cobranças são bem maiores, a família deseja um processo de alfabetização mais rápido. A escola impõe normas e regras cada vez mais rígidas. Os castigos são bem mais constantes e a reprovação acontece. Reprova também aos sete e aos oito anos.
Segundo a professora este é um menino muito "alvoroçado". Novamente a coordenadora da escola, com muita habilidade disse para a sua mãe que ele era hiperativo e, portanto, não dava mais para a escola conviver com ele. E novamente, a professora chegou ao seu limite de tolerância e de paciência pedagógica.
Tomando por base alguns fundamentos científicos, podemos afirmar que ele foi discriminado pela escola que não soube como lhe ensinar e o rejeitou.
Conforme a mãe, preocupada e inconformada, ele é muito inteligente, até "desarnou", mas não aprendeu como a professora gostaria, pois já que não tem paciência para ficar na sala de aula, pára então de estudar e vai trabalhar na feira.
Aos dez anos retorna à escola publica ainda no primeiro ano do ensino fundamental e consegue, enfim, a aprovação para o segundo ano.
Aos onze anos estudou o segundo ano. A professora elogia o seu nível de inteligência. É muito rápido, possui uma boa linguagem comunica-se com facilidade e é excelente em matemática. A professora está animada com a maturidade que o aluno apresenta para assimilar os conteúdos. A única preocupação é a sua impossibilidade de acomodar-se no seu lugar. Ele continua "elétrico".
Próximo de completar doze anos, ainda sem concluir o segundo ano, abandona a escola. Vai trabalhar. Quando a professora descobre como cativá-lo, a sua família resolve que é hora de sair da escola para trabalhar.
O que deu errado na vida do aluno?
Conforme dados reais podemos analisar que: o aluno não apresentava nenhuma característica de deficiência física, intelectual, auditiva, motora. Sempre foi assíduo e pontual. Demonstrava desinteresse pela rotina da escola, mas corria, brincava, sorria, ajudava a professora a arrumar a sala e a organizar as tarefas planejadas.
Fora da escola, ajuda aos pais, nas tarefas domesticas e nas de trabalho fora do lar. Apresenta responsabilidade no que faz.
Será que este é mesmo um menino maluquinho?
Onde está o erro? Nas regras? Nas normas? Na família? Nas professoras? Nos salários? No menino?
A escola tem um papel social com alguns e esquece outros?
Neste caso a escola fracassou...





Autor: Maria José De Azevedo Araujo


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