PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: UMA PARCERIA POSSÍVEL PARA O PROCESSO DE ENSINAR E DE APRENDER



PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: UMA PARCERIA POSSÍVEL PARA O PROCESSO DE ENSINAR E DE APRENDER
ANDRÉIA FÉLIX AZARIAS

INTRODUÇÃO O trabalho apresenta uma queixa de uma escola: a evasão escolar no sistema do ensino para jovens e adultos e esse problema tem sido um dos maiores desafios enfrentados por ela.
Cabe nesse estudo a partir dessa queixa institucional, fazer um diagnóstico, levantando os motivos ou obstáculos possíveis que estão causando a evasão escolar.
Ao final propor um projeto de intervenção institucional, através de oficinas psicopedagógicas, com planejamento e objetivos, contribuindo para o processo ensino e aprendizagem diminuindo ou amenizando o índice de evasão escolar.

DESENVOLVIMENTO Estudo de caso:
Queixa institucional: "A Instituição J. P. A., no município de Rodrigues de Freitas, atende a modalidade de Educação de Jovens e Adultos / EJA e em nossa visita ao estabelecimento para desenvolver nosso estágio institucional, a Coordenadora Pedagógica nos relatou que a maior dificuldade que a escola está enfrentando no momento é a Evasão Escolar nesta modalidade, pois tem atingido um percentual de 39% ao final do primeiro semestre. A situação preocupa muito a equipe gestora, envolvendo os docentes e discentes, pois estão cientes que se este índice tão grande de evasão continuar, a modalidade de Educação de Jovens e Adultos, não será mais oferecida para a comunidade. Com isso os alunos do próprio bairro serão transferidos para outra instituição, certamente uma que tenha níveis de frequência mais significativa".
Quando falamos em diagnóstico psicopedagógico na escola, o psicopedagogo deve ter um olhar que compõe o todo, levando-se em conta a totalidade dos fatores envolvidos neste processo, tanto interno quanto externo a escola. Dentre os fatores externos relacionados à questão do fracasso escolar são apontados o trabalho, as desigualdades sociais, a criança e a família. E dentre os fatores intra-escolares são apontados a própria escola, a linguagem e o professor.
É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da "...escuta psicopedagógica...", para que "...se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção". (BOSSA, 2000, p. 24).

Os conhecimentos de uma pessoa, que procura a escola tardiamente, são inúmeros e adquiridos ao longo de sua história de vida. Sabemos que a procura de jovens e adultos pela escola não se dá de forma simples. Ao contrário, em muitos casos, trata-se de uma decisão que envolve as famílias, os patrões, as condições de acesso e as distâncias entre casa e escola, as possibilidades de custear os estudos e, muitas vezes, trata-se de um processo contínuo de idas e vindas, de ingressos e desistências. Ir à escola, para um jovem ou adulto, é antes de tudo, um desafio, um projeto de vida.
Além disso, a escola que os alunos têm em seu imaginário, aquela que conhecem porque já passaram por ela anos atrás ou porque acompanham o cotidiano de seus filhos, nem sempre é aquela com que se deparam nos primeiros dias de aula. Nesses casos, esperam encontrar o modelo tradicional de escola, ou seja, um lugar onde predominam aulas expositivas, com pontos copiados da lousa, onde o professor é o único dono do saber e transmite conteúdos que são recebidos passivamente pelo aluno. Esperam muita lição de casa porque acreditam que a quantidade de treino leva a boa aprendizagem. Especialmente, os alunos mais velhos se mostram resistentes à nova concepção de escola que os coloca como sujeitos do processo educativo, que espera deles práticas ativas de aprendizagem. Muitos ao terem aulas onde são convidados a pensar juntos, em grupo; a resolver desafios diferentes dos exercícios mais convencionais; a ler textos literários; a aprender com a música, a poesia, o jornal; a fazer matemática com jogos e cálculos diversos, construir projetos; estranham, resistem e. acreditam não ser esse o caminho para aprender o que a escola ensina. O aluno, precisa ajustar suas expectativas à realidade que encontra quando volta para a escola, um desafio que, por vezes a escola não consegue atingi-lo o que causa muitas vezes, o abandono, a desistência da escola.
Isto pode ser transformado, na medida em que a escola investir no acolhimento desse aluno, que é alguém especialmente receptivo à aprendizagem, repleto de curiosidade e que vai para a sala de aula com vontade de novas experiências.
Diante disso, a escola deve ter mais do que nunca uma atitude intencional daquele que educa. É necessário uma intervenção no processo de aprendizagem do aluno, na parte pedagógica, que envolve todo processo educativo desde a elaboração do planejamento até as práticas da sala de aula, com novas metodologias, recursos didáticos e até usar dos recursos tecnológicos. O ensinar deve ser entendido entre teoria e prática, onde as experiências anteriores e às vivencias pessoais dos alunos façam parte da vivência escolar.
" A intervenção psicopedagógica representa um recurso importante, pois permite a aprendizagem e o desenvolvimento do sujeito, prevenindo intensificações ou equacionando dificuldades. Além disso, possibilita o desenvolvimento de funções mentais superiores necessárias a aprendizagem e a retomada de conteúdos escolares de forma lúdica e significtiva." (GRASSI,2008, p.21)

Para tratar destas questões aqui expostas, o trabalho com a Oficina Psicopedagógica proposto pela autora do Livro: Oficinas Psicopedagógicas de Tania Mara Grassi, vem de encontro com o nosso objetivo.

PROJETO : OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS E HISTÓRIA
"SEXTA CULTURAL"-
CONTOS E CASOS DA CULTURA POPULAR
OBJETIVOS: garantir o processo ensino-aprendizagem, para reduzir o índice de evasão; fortalecendo a prática pedagógica dos professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos, estimulando os alunos no processo de ensino-aprendizagem.

SELEÇÃO DE MATERIAIS: massinha de modelar/ folhas sulfites/ papel Kraft/canetinhas/ lápis de cor/lápis de escrever/ algodão/ data show.
PÚBLICO: alunos do EJA
MATERIAIS: dinâmica (1 pacote de algodão colorido, data show, pendrive com a mensagem, balas, cartões coloridos com a mensagem)
Atividades:
ADAPTAÇÕES: Das histórias folclóricas que existem pedir que relatem alguns causos vivenciados ou contados.
TEMPO: 10 sessões- toda 6ª feira, das 19:30h as 21:30h
ESPAÇO: sala de aula
DINÂMICA:proposta da Grassi ? 4 momentos
PAPEL DO ADULTO: Mediador
CONTEÚDOS: Língua Portuguesa: Oralidade/ leitura/ escrita
AVALIAÇÃO: Se os alunos estão sendo envolvidos e motivados para o ensino aprendizagem freqüentando as aulas, depois das interações com as oficinas.
CONTINUIDADE: continuar com as pesquisas e relatos de histórias para a construção do Jornal.
OFICINA PSICOPEDAGÓGICA

1- SENSIBILIZAÇÃO: estabelecendo vínculos e estreitando laços
Acolhida dos participantes por meio de cumprimentos e uma mensagem num cartãozinho com uma bala.



Mensagem:
"Felizes os que sofrem por amigos,
os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona,
nem se rende.
Amigo a gente entende!"
de (Anônimo)
Os participantes farão as oficinas na sala de aula. Algumas regras sobre o funcionamento serão propostas e após iniciarão a atividade de sensilbilização. A 1ª oficina será para estabelecerem vínculos uns com os outros.
Ler para eles a mensagem colocada no data show.

FLOQUINHOS DE CARINHO

Havia uma pequena aldeia onde o dinheiro não entrava.
Tudo o que as pessoas compravam, tudo o que era cultivado e produzido por cada um, era trocado.
A coisa mais importante era o amor.
Quem nada produzia, quem não possuía coisas que pudessem ser trocadas por imentos, ou utensílios, dava seu CARINHO. O CARINHO era simbolizado por um floquinho de algodão. Muitas vezes, era normal que as pessoas trocassem floquinhos sem querer nada em troca. As pessoas davam seu CARINHO pois sabiam que receberiam outros num outro momento ou outro dia.
Um dia, uma mulher muito má, que vivia fora da aldeia, convenceu um pequeno garoto a não mais dar seus floquinhos. Desta forma, ele seria a pessoa mais rica da cidade e teria o que quisesse. Iludido pelas palavras da malvada, o menino, que era uma das pessoas mais populares e queridas da aldeia, passou a juntar CARINHOS e em pouquíssimo tempo sua casa estava repleta de floquinhos, ficando até difícil de circular dentro dela. Daí então, quando a cidade já estava praticamente sem floquinhos, as pessoas começaram a guardar o pouco CARINHO que tinham e toda a HARMONIA da cidade desapareceu. Surgiram a GANÂNCIA, a DESCONFIANÇA, o primeiro ROUBO, ÓDIO, DISCÓRDIA, as pessoas se XINGARAM pela primeira vez e passaram IGNORAR-SE pelas ruas. Como era o mais querido da cidade, o garoto foi o primeiro a sentir-se TRISTE e SOZINHO, o que o fez procurar a velha para perguntar-lhe e dizer-lhe se aquilo fazia parte da riqueza que ele acumularia. Não a encontrando mais, ele tomou uma decisão. Pegou uma grande carriola, colocou todos os seus floquinhos em cima e caminhou por toda a cidade distribuindo aleatoriamente seu CARINHO.
A todos que dava CARINHO, apenas dizia: Obrigado por receber meu carinho. Assim, sem medo de acabar com seus floquinhos, ele distribuiu até o último CARINHO sem receber um só de volta. Sem que tivesse tempo de sentir-se sozinho e triste novamente, alguém caminhou até ele e lhe deu CARINHO. Um outro fez o mesmo...Mais outro... e outro... até que definitivamente a aldeia voltou ao normal.

MORAL DA ESTÓRIA:

Nunca devemos fazer as coisas pensando em receber em troca.
Mas devemos fazer sempre. Lembrar que os outros existem é
muito importante. Muito mais importante do que cobrar dos outros que se lembrem de você, pois sentimento sincero nos é oferecido espontaneamente, e assim saberemos quem realmente nos ama. Aqueles que te quiserem bem se lembrarão de você.
Receber sem cobrar é mais verdadeiro. Receber CARINHO é muito bom. E o simples gesto de lembrar que alguém existe a forma mais simples de fazê-lo.
Estes são os meus floquinhos para: VOCÊ !!!

Após ler e discutir com eles a mensagem, propor uma dinâmica. Entregar dois floquinhos de algodão colorido para um participante e ele escolherá alguém do grupo para dar um dos floquinhos e assim sucessivamente até que todos tenham recebido um floquinho de algodão(carinho). Depois que todos estiverem com seu floquinho presenteado propor que façamos um combinado de estar sempre distribuindo os floquinhos e nunca deixá-lo guardado.

DESENVOLVIMENTO: construções psicopedagógicas

FOLCLORE BRASILEIROTrabalhar com eles sobre Folclore Brasileiro, mostrando que os contos e histórias representam as manifestações do povo e nossa identidade de brasileiros. E é contemplado diferentes gêneros textuais. E então para isso, precisamos saber o que exatamente significa a palavra "folclore"? Analisando a sua origem os especialistas chamam isso de "etimologia" -encontramos folk = povo, nação, raça; e lore =ato de ensinar, instrução. Portanto folclore significa "ensinamento do povo", ou seja, a voz do povo. E explicar que na prática folclore são as histórias que ouvimos de nossasmães, ou nas rodas de amigos, sobre o nosso povo e a nossa raça. O Saci ?pererê garoto negro com gorro vermelho e cachimbo na boca de uma perna só,que passa toda sua existência fazendo travessuras -, por exemplo, faz parte do folclore brasileiro; assim como as festas de Bumba Meu Boi, o Carnaval e as Quadrilhas; o Lobisomem (que também faz parte do folclore norte-americano, e de muitas outras culturas), a Mula-Sem-Cabeça e o Bicho Papão.
Os contos e histórias tradicionais que ouvimos deste bem pequenos fazem parte do folclore de muitos povos. Os irmãos Jakob e Wilhelm Grimn, por exemplo, escreveram histórias que já faziam parte do folclore alemão; Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira e O rei Sapo são algumas delas. Na Espanha temos
as touradas. Os norte-americanos se divertem no dia 31 de Outubro, comemorando o dia das Bruxas com cantorias, danças e brincadeiras: é o Halloween. Em todas as partes do mundo, cada povo tem formas próprias de manifestar suas crenças e costumes: este é o folclore.
Mas o folclore não é só isso. Todos os elementos que fazem parte da cultura popular, tradições das mais diversas passadas de pai para filho e que nos ensinam muito a respeito de determinado povo fazem parte do folclore.
Os gêneros folclóricos são muitos e variados, manifestando-se na música, na comida, no artesanato, nas danças regionais, nas festas e folguedos populares, nas cantigas, nos brinquedos e brincadeiras, nos provérbios, nas parlendas, nos trava-linguas, nas adivinhas, nas superstições e crendices.
Desta forma, aprendemos mais sobre o povo brasileiro, suas origens, suas crenças, sua maneira de agir e de pensar, ou seja, aprendemos mais sobre nós mesmos, conhecendo o nosso folclore.
Com isso propor a eles uma criação de um Jornal Informativo sobre todos os elementos que fazem parte da cultura popular: música, comida, artesanato, danças regionais, festas e folguedos populares, cantigas, brinquedos e brincadeiras,
provérbios, parlendas, trava-linguas, adivinhas, superstições e crendices.
Começaremos com o caderno de contos/lendas.
Montar grupos de 3 pessoas e fazerem relatarem algumas histórias e contos/ causos vivenciados ou não por eles, para os colegas da sala. Após irão registrar a história e através de modelagem com massinha de modelar, pintura ou desenho irão representar a sua história para colocarem no jornal. ( fazer os registros com máquina fotográfica).

FECHAMENTO: elaboração da experiência. Conversar sobre o resgate da história pessoal; refletir sobre a função do tempo como um dom precioso; envolve-los num cenário de memórias e emoções saudáveis.


AVALIAÇÃO- avaliando as vivências.
Fazer uma roda de conversa onde oralmente, irão analisar o trabalho feito e colocar pontos positivos e negativos, sugerindo mudanças se necessários.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Psicopedagogo pode atuar de diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.
Diante dos atuais problemas escolares apresentados pelos alunos, as principais queixas dos professores com relação a dificuldade de aprendizagem, indisciplina, timidez, agressividade, problemas emocionais, evasão escolar, entre outros. Torna-se importante a atuação do psicopedagogo no contexto educacional.
E por isso que é necessário investigar todos os aspectos que possam estar contribuindo de alguma forma para a problemática, a fim de intervir da melhor maneira possível.
E as oficinas psicopedagógicas têm se mostrado bastante eficientes no sentido de se atingir tal objetivo. Estas se constituem em encontros de caráter lúdico com um grupo de crianças, onde são realizados jogos, brincadeiras, produções artísticas, contagem de histórias e outras atividades que permitam a expressão da criança e que forneçam possibilidade de análise.
O presente trabalho apresenta um processo de diagnóstico e projeto de intervenção com oficinas psicopedagógicas ressaltando o papel do psicopedagogo com relação aos alunos e a importância dos jogos e da brincadeira, enfatizando, o professor e a escola num conjunto integrado e que deve considerar o aluno como um ser completo.
De acordo com GRASSI (2008) as oficinas psicopedagógicas podem ser utilizadas em várias áreas de atividade como um recurso de ensino, de aprendizagem e na vivência de experiências. Na área educacional especificamente, apresenta inúmeras possibilidades para os que a vivenciam, de experimentar, criar, produzir, sentir, pensar, inventar, refazer, errar, corrigir, aprender, ensinar e principalmente de compartilhar o conhecimento através de ações mediadas. Estas ações mediadas são um dos principais fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem.
REFERENCIAS
BOSSA, N. A. A. Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.
OLIVEIRA, M.A.C. Psicopedagogia: a instituição em foco. Curitiba, Ibepex,2005.

Autor: Andréia Félix Azarias


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