SEM CALÇA NO SALÃO
Manuel pensa que a vida dele não tem mais jeito. Nasceu pobre, miserável e azarado. Por isto só resta uma saída para ele: beber. Por isto Manuel vai beber muito. Já está viciado e não consegue parar mais. E o que o povo vai falar? Não importa. Eles não fazem nada mesmo. Manuel não tem ninguém por ele. Por que será que uns nascem totalmente ricos e famosos e outros na pior miséria? Não ia mais trabalhar também. Só lá uma vez. Inventava sempre uma desculpa, algum impedimento. Ia curtir a vida. Os filhos dos papaizinhos não faziam isto?
Vai para o bar do Nestor, um bar de amigos antigos. Joga sinuca com os amigos velhos. Fazia tempo que ele não vinha ali. Nestor é um velho amigo, só que muito sério. Não gosta de baderna. Não devia ter um bar, devia ter uma loja. Bar tem confusão - pensa Manuel.
Brinca o dia inteiro com os amigos. Dizem os outros bebuns que ali perto vai haver um bailão. Manuel fica todo animado. Conhecia o salão de festa. Era amplo, todo enfeitado e o melhor de tudo - muitas gatinhas lindas e gostosas. Manuel vai lá, é claro. Afinal ele é um homem, parece que é. Bebe durante o dia inteiro com os amigos. A tarde vai para casa. Come alguma coisa e dorme o resto do dia.
A noite Manuel se apronta e vai para o baile. Antes enche a cara no bar do Nestor. Entra no salão com os outros bebuns. Está animada a festa. Dançam muito lá, sempre bebendo mais. As luzes ficam acendendo e apagando num pisca-pisca geral que dá um colorido todo especial ao salão. Manuel gosta de dançar samba. Mulher nenhuma quer dançar com ele. O jeito é dançar só. Por isto dança. Dança muito, rebola pra lá e pra cá e fica muito louco. Totalmente zonzo o Manuel, os outros bebuns acompanham Manuel. Alguns dançam até com a garrafa. O conjunto é ótimo.
Uma gatinha aparece, não se sabe de onde. Manuel agarra a moça, dança com a menina. Ela aceita. Até que enfim Manuel se arranja. Que corpinho lindo tinha ela! E como dançava. Que felicidade! A vida melhorou. Até que surgiu o que tanto Manuel esperava. E a música vem e Manuel dança. Agora dança forte, pula e pula alto. Pula muito o Manuel. Se empolga muito. Agora ele até canta alto com os elementos do conjunto. Nunca fora tão feliz assim. O conjunto mais se anima e só falta sair pulando com os dançarinos. No auge da dança, arrebenta o ziper da calça de Manuel. Ela vai ao chão. Cai a calça de Manuel e ele fica nu no salão. Que sufoco! Manuel levanta a calça rapidamente e sai segurando-a . Fora do salão, num escurinho, Manuel se encosta num poste. Arrumou a calça e fica ali muito pensativo. Manuel chora. Que tristeza! Como é que foi acontecer aquilo? Vai para casa. Jurou não ir nunca mais em um baile. Concluiu que era um azarado mesmo. Dormiu muito naquela noite. Continuava muito pensativo no vexame que passara.
Autor: Henrique Araújo
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