A Expansão do Crack em Sergipe




Vania da Silva Fontes Santos ([email protected])
Maria da Piedade Santos Oliveira ([email protected])


Resumo: Esse artigo tem como objetivo informar através de pesquisas e de forma sucinta a origem, as causas e as consequências que as drogas trazem para a sociedade, uma vez que, famílias estão sendo exterminadas com o uso depravador e inconsequente dos jovens, que sem objetivo de vida o que importa é saciar o seu organismo que já não consegue evitar esse "alimento". O presente artigo tem como foco o estado de Sergipe, especificamente a cidade de Lagarto, no sentido de verificar as ações e medidas adotadas pelos governantes, que através de recursos materiais e psicológicos, tenta buscar soluções e alternativas para amenizar o sofrimento dos drogados e das famílias. O que se observou é que nem sempre eles querem ser ajudados, haja vista, o entorpecente atinge não só as camadas pobres da população, mas a todos em geral, que buscam nas drogas uma aventura ou a solução para seus problemas.

Palavras- chave: Crack. Família.Violência.

Introdução
Como justificar uma sociedade basicamente violenta? O que está afetando a população para deixá-los drogados e maldosos para com o próximo? Será que estamos vivendo em um mundo onde a corrupção, a violência, o desamor e a falta de humanismo estão falando mais alto? É nesse mundo, ou melhor, é com essa "gente" cheia de ódio, de maldade, de inveja e de ambição que vamos colocar nossos filhos para conviver? Correr o risco deles serem transformados em pessoas insensíveis? É o que está acontecendo. Os valores familiares estão sendo postos de lado, e, em seu lugar, os valores "mundanos", ou seja, o meio, o mau uso da tecnologia está ganhando para as famílias. É fácil relatar casos de pessoas que estão sofrendo por seus filhos, maridos, irmãos, vizinhos, passando por problemas de violência causados por drogas. A humanidade vem sofrendo por vários tipos de violência, mas as drogas estão encurralando as famílias contra a parede, elas estão ficando sem saída. Por que isso acontece? De quem é a culpa? Da sociedade? Do governo? Bom, todos têm uma parcela de culpa.
Mães estão desesperadas, pedindo a Deus que ajude seus filhos a deixar de usar drogas, de frequentar ambientes ruins, mas todos que estão ali deixaram em casa corações tristes, magoados, e já sem esperança, pois elas lutam sem armas adequadas, sem meios, sem argumentos. Nem conhece o que eles usam, sabem que causam efeitos terríveis. Mas que efeitos? Foi relatado um caso de uma mãe que sem aguentar a condição do filho, amarrava-o ao pé da mesa, como um ato desesperador, já não quer ver aquele menino que se esqueceu de crescer viver roubando, se destruindo, amargo, triste, incontente, aquele olhar de criança que se tornou adulto, desconhecendo a própria mãe.
É preciso conhecer o terreno em que se pisa, buscar informações, saber a história daquele determinado produto, verificar as causas, os efeitos, as consequências, para poder ajudar as pessoas que passam por esse drama. Mesmo que já sem esperança, é preciso lutar, argumentar, questionar, falar com Deus. Assim você estará preparado para enfrentar uma guerra, onde o inimigo às vezes atua de forma invisível.

O crack é uma droga que, ao contrário da maioria dos entorpecentes, não tem sua origem ligada a fins medicinais. Ele já nasceu como droga e é obtido através da planta da coca, sendo um subproduto da cocaína. Acredita-se que a cocaína surgiu nos anos 60 e o crack nos anos 70, quando se começou a misturar a cocaína com outros produtos para a obtenção de uma droga mais barata, pois a cocaína era muito cara e apelidada de "a droga dos ricos", sendo pouco acessível ao restante da população. Foi misturada a cocaína com água e bicarbonato de sódio, resultando no crack. Nos anos 80 ela se tornou bastante popular nos Estados Unidos, e passou a ser consumida pelas camadas pobres da população.
No Brasil ela está presente há cerca de 20 anos e associada ao consumo da população de rua e aos traficantes, que enxergaram no crack uma oportunidade de enriquecimento fácil. A droga se apresenta em forma de pedra e o nome "crack" vem do barulho que ela faz quando está sendo queimada para ser consumida, sendo fumada através de cachimbos feitos artesanalmente com garrafas plásticas, latas, canudos ou canetas, como também tubos de vidro, papel de alumínio, etc.
Os efeitos do crack são idênticos aos da cocaína. Pode-se destacar a euforia, bem-estar, aumento da pressão arterial, mas são mais rápidos e intensos tendo uma duração de cerca de 5 a 10 minutos, sendo seguido de uma intensa depressão. Por isso, o usuário sente vontade de consumir novamente para sair da depressão e voltar ao estado de euforia. Mas os efeitos a longo prazo são devastadores, resultando num esgotamento físico e mental provocados pelos vários dias sem dormir e sem comer, falta de apetite, desinteresse sexual, perda de peso e desnutrição. Apresentam também problemas no sistema respiratório, como congestão nasal, tosse, expectoração de muco preto e sérios danos nos pulmões. O uso mais contínuo da droga pode causar ataque cardíaco e derrame cerebral, graças a um considerável aumento da pressão arterial. Contrações no peito seguidas de convulsões e coma, também são causadas pelo consumo excessivo da droga.
Não deve deixar de serem citados os efeitos sociais e psicológicos que a droga provoca, desestruturando a identidade da pessoa, prejudicando atividades cotidianas como o estudo e o trabalho. Por apresentar um elevado grau de dependência, os usuários se tornam agressivos e o vício faz com que estes furtem objetos dentro de suas próprias casas resultando na desagregação familiar. Muitos dependentes vão morar nas ruas e, para conseguir dinheiro aderem a assaltos e à prostituição, contribuindo para o aumento da criminalidade. Furtos, roubos, distúrbios de personalidade, endividamento indevido e precoce, homicídios e condenações penitenciarias, enriquecimento ilícito são consequências muito frequentes aos usuários e traficantes do crack.
O consumo da droga está avançando cada vez mais no Brasil, primeiro nas grandes metrópoles, depois nas cidades de médio porte e agora no interior, desafiando o Estado brasileiro a buscar maneiras de prevenção, de atendimento aos dependentes e de repressão ao tráfico, já que é a droga mais comercializada, em razão de seu preço acessível e do mercado consumidor ser amplo, e, pelo fato de provocar extrema dependência, acaba levando o consumidor a gastar mais com o vício.
Pesquisas realizadas em 2009 pelo Jornal Agora do Rio Grande do Sul exibem com clareza o aumento excessivo de usuários do crack em várias cidades brasileiras, nas capitais e no interior, chegando a ser considerada uma epidemia. Os estudos concentraram-se em clínicas de internamento para recuperação de drogados, sendo detectado um aumento considerável de internações e emergências ambulatoriais, afirmando números que atingem 50% da demanda dos atendimentos.
As prisões por tráfico de crack também são comentadas, salientando-se a elevada expansão do entorpecente em relação à cocaína e à maconha, e destacando-se que as maiores apreensões deixarem de ser das drogas mencionadas para ser do crack.
Sergipe não está de fora desse relato, visto que os resultados devastadores nas famílias sergipanas provocados pelo crack já são percebidos e diagnosticados, havendo um crescimento considerável nos centros de ajuda aos usuários de droga, onde apenas 7% dos que eram atendidos eram consumidores de crack e em 2009 esse número subiu para 62%. O perfil do usuário vem mudando frequentemente, deixando de abranger somente as camadas mais baixas e jovens da população, para atingir a todos, sem distinção de sexo, classe ou idade.
O interior de Sergipe também está sendo assolado pela expansão do crack, destacando-se os municípios que são considerados mais críticos: Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora da Glória, Estância, Propriá, Itabaiana, Lagarto, Nossa Senhora das Dores. O primeiro caso deste entorpecente registrado em Sergipe pela SSP foi em janeiro de 2003, na cidade de Lagarto e daí por diante foi se espalhando pela capital e interior, devastando as famílias sergipanas.
O governo do Estado de Sergipe está se mobilizando e criando medidas para frear a expansão do crack na capital e no interior. Estratégias de ação como a criação de campanhas juntamente com toda a sua estrutura administrativa para enfrentar as drogas estão sendo realizadas. O Programa Estadual de enfrentamento ao crack e outras drogas, com o título "Sergipe contra o crack a favor da vida", foi lançado no dia 8 de junho de 2010, é um exemplo disso. O plano engloba a articulação do Governo com as Prefeituras Municipais, a partir de 4 eixos fundamentais, que são: a prevenção com medidas educativas, o cuidado com os usuários e as respectivas famílias, a reinserção social e a repressão ao tráfico. Para que tais medidas funcionem o governo tem a pretensão de criar Delegacias especializadas (Denarc) nos interiores, e a criação de um número para o Disque-Denúncia, além da realização de uma ação conjunta entre as secretarias de Estado da Segurança Pública e da Saúde, visando o atendimento integrado do Samu, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar ao usuário de drogas. Também visando oferecer informações e serviços destinados especificamente a quem sofre em decorrência das drogas, foi criado o Disque-Saúde, que oferecerá atendimento com profissionais especializados.
Essas estratégias já estão dando resultado, pois o governo vem fazendo diversas apreensões através da Denarc na capital e no interior, com destaque para a cidade de Lagarto que é alvo de diversas investigações obtendo êxito em suas operações, visto que, recentemente foram apreendidas grandes quantidades de drogas, como também traficantes, confirmando assim as ações do governo juntamente com o município supracitado.
Quanto à questão social, é interessante ressaltar que já existe uma estrutura mantida pelo governo, na capital de Sergipe e em 31 municípios em relação aos necessitados de assistência social bem como ao usuário de drogas, mas que de acordo com o plano mencionado acima, é pretensão dos governantes ampliar ainda mais. Merecem ser frisados: o CREAS (Centros de Referência especializados em Assistência Social), o CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), que além de oferecer assistência em outras áreas, dá auxílio aos dependentes químicos. Existe também o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que atende ao portador de deficiência mental e o CAPS AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Droga), que trata especificamente dos drogados e alcoolizados, dando todo aparato e tratamento ao usuário de entorpecentes. O governo também disponibiliza vagas, dando prioridade a situações mais críticas, já que as vagas são muito restritas, em locais especializados para internação ao usuário de drogas. Os governantes estão negociando o aumento cada vez mais de leitos para internação dos usuários, que juntamente com o governo federal custeará as despesas desses dependentes.
Mas o governador também alertou a população sobre a sua responsabilidade de se inserir nessa batalha, afirmando que: "Nós também temos a compreensão de que a árdua tarefa de derrotar as drogas e, em especial o crack, não é apenas de governo. Esta é uma tarefa que só terá êxito se a sociedade também se integrar".
O Município de Lagarto também está fazendo a sua parte, podendo ser citado o evento "Lagarto contra as drogas, Vença o vício! Viva a vida!", que foi realizado no dia 13 de março de 2010, no Espaço Cultural Charles Brício, onde foram apresentadas palestras, debates, depoimentos de ex-usuários, terminando com uma passeata pelas ruas da cidade, onde alunos e professores da rede Municipal de Ensino estiveram presentes. Outro projeto que tem o mesmo foco de ação também foi apresentado no dia 16 de abril de 2010, na Escola Municipal Monsenhor Daltro, na Colônia Treze, intitulado "Viva feliz sem drogas". É interessante frisar que iniciativas como estas estão sempre presentes nas escolas da cidade com a apresentação de palestras sobre o tema, tendo como objetivo conscientizar os jovens sobre o perigo das drogas para si e para a sociedade, para que estes nunca tenham coragem de experimentar. O intuito mesmo é o da prevenção para que esse mal não se alastre cada vez mais.
No sentido de oferecer auxílio aos carentes e também aos drogados, todos os Centros de Assistência Social supracitados estão inseridos na cidade de Lagarto, visto que o município é considerado crítico em relação ao crack, merecendo uma atenção especial por parte dos dirigentes. Através do CAPS AD, os dependentes químicos recebem tratamento adequado, com psicólogos e profissionais especializados, tendo uma chance de se livrar desse vício terrível e voltar para a sociedade, buscando uma nova oportunidade de vida.
Uma organização que acolhe drogados e que merece bastante destaque, e que está situada na cidade de Lagarto é a Fazenda da Esperança, uma entidade que ajuda jovens a se livrar das drogas. O interno é acolhido por mera vontade própria, e lhe é proporcionado moradia, alimentação e outras necessidades básicas, mediante o pagamento de uma quantia para o sustento do interno nos primeiros meses, sendo que mais tarde o seu sustento é tirado do seu próprio trabalho, onde este vende para sua família produtos confeccionados por ele próprio para garantir a sua estadia, já que a entidade não recebe qualquer verba financeira de instituições públicas ou particulares. É uma entidade de ordem católica que tem como meta os valores familiares, sustentando-se nas Palavras de Deus tiradas do Evangelho e na pobreza de São Francisco de Assis, a fim de provocar nos internos mudanças de valores e princípios morais. Isso faz com que estes, ao sair dali, tenham outra concepção do mundo e de todos os que o cercam, podendo se inserir no meio social e reconstruir suas vidas.
Mas todos nós sabemos que nem todos os tóxicodependentes têm bases familiares nem condições financeiras para financiar a internação de algum membro da família, já que o governo não oferece vagas suficientes. A grande parte das pessoas que passa por esse problema vem de uma família sem estrutura, sem qualquer instrução que lhes permitam perceber o tamanho do problema em que seus familiares estão inseridos.
Na maioria das vezes é o próprio ambiente familiar que leva esses menores a adentrarem no mundo das drogas, pois os pais ou até mesmo as mães, são dependentes alcoólicos e não oferecem carinho, atenção, escolaridade, permitindo que seus filhos fiquem sem um objetivo de vida e a mercê de um mundo sem oportunidades, enxergando nas drogas a sua única "saída". E para saciar seu vício, esses indivíduos estão assustando a população, praticando furtos e cometendo crimes horrendos. A população anda assustada, já que andar pelas ruas sozinho não é mais seguro, visto que, tem sempre uma pessoa que conhece alguém que foi assaltado por um consumidor do entorpecente.
Mas não se pode generalizar. O mundo das drogas, e especialmente o do crack abrange não só as famílias de classe baixa, mas também as de classe média alta, que por diversos motivos lançam-se nesse caminho, talvez por curiosidade ou para experimentar uma sensação diferente ou simplesmente para esquecer alguma frustração ou até mesmo porque vivem mergulhados no vazio, no consumismo, já que não lhe faltam nada, restando-lhe apenas o "proibido", o "emocionante". É o que está acontecendo com a sociedade em geral. Não tem mais idade, cor, raça, classe social, simplesmente a procura de novas aventuras levam essa "comunidade" a dar um mergulho quase sem volta, um tiro no escuro, quando sai, fica seqüelas, que terão pra o resto da vida.
É impossível apontar uma causa específica e uma solução para um problema tão sério, já que abrange uma quantidade imensa da população, podendo ter cada caso suas especificidades. Seria necessária uma investigação minuciosa com grande parcela da sociedade pra se chegar a um resultado mais concreto e objetivo e assim adotar medidas mais eficazes para combater tal problema.

Referências:
Disponível em: http://www.lagarto.com.br/ler.asp?id=699&titulo=Noticias. Acesso em: 10 ago. 2010
Disponível em: http://www.faxaju.com.br/viz_conteudo.asp?codigo=22320101846211110. Acesso em: 11 ago. 2010
Disponível em: http://www.faxaju.com.br/viz_conteudo.asp?codigo=86201014155833994. Acesso em 27 jul. 2010

Fonte/Autor: Jornaldacidade.net em 13.06.2010 Por: Eugênio Nascimento.

Disponível em: http://www.propria.se.gov.br/noticia.php?sa=&cod=136. Acesso em : 30 jul. 2010
Disponível em: http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/drogas/ver_ficha.php?cod=crack. Acesso em: 2 ago. 2010
Disponível em: http://www.historiadetudo.com/crack.html. Acesso em: 5 ago. 2010
Disponível em: http://www.abead.com.br/midia/exibMidia/?midia=3859. Acesso em 20 jul. 2010
Veículo: Jornal Agora - RS
Seção: Capa
Data: 23/03/2009
Estado: RS
Autor: Vania Silva Fontes Santos


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