A HISTÓRIA DO POETA LATINO OVIDIUS PUBLIUS NASO
RESUMO
Este trabalho narra a historia do poeta latino Publius Ovidius Naso e suas obras, bem como cita outros poetas que foram influenciados por este homem, que teve sensibilidade, suficiente para compreender o ser humano no mais ínfimo de seu ser. Oriundo de uma família abastada da classe dos éqüites (cavalheiros). Foi enviada muito jovem, juntamente com seu irmão mais velho a Roma, onde recebeu esmerada e completa formação retórica com os mestres Aurélio Fusco e Pórcio Latrão. O irmão se debruçava avidamente sobre a eloqüência e sobre o direito, mas Ovídio logo se deu conta que a vida no fórum não era a sua preferência, como deixa claro em sua obra, que o desprezava. Sua inspiração para desgosto de seu pai que almejava vê-lo como um novo Cícero levava-o para as musas, cada vez mais. Ovídio conscientizava-se de que nascera para a poesia, ser poeta era seu objetivo como registra em sua obra: ET quod temptabam dicere uersos erat... Aos vinte anos já era célebre pela sua abundante produção poética. Muito estimado por Augusto é súbita e surpreendentemente em 9.d.c., exilado para Tormes, no Ponto Euxino, onde morreu em 17 ou 18 d.C.
Palavras-chave: Ovídio. Sensibilidade. Exílio. Eloquência
ABSTRACT
This work tells the story of the Latin poet Publius Ovidius Naso and his works as with other poets who were influenced by this man who was sensitive enough to understand the human being in the tiniest of his being. Born into a wealthy family of the class of equitable (gentlemen). It was sent very young, along with his older brother to Rome where he received careful and thorough training in rhetoric and teachers Aurelio Fusco Porcius Lateran. His brother leaned eagerly over the eloquence and on the right, however, Ovidius as soon as realized that life on the forum was not his preference, as it is clear in his work, despised him. His inspiration to the chagrin of his father who longed to see it as a new Cicero led him to the Muses, more and more. Ovidius become aware that he was born for poetry, a poet was his goal as recorded in his work: ET temptabam dicere quod erat uers ... At twenty he was already brain for its rich poetic production. Much beloved by Augustus, is suddenly and astonishingly in 9.dc, exiled to Tormes, the Euxine, where she died in AD 17 or 18.
Key Word: Ovídius. Sensible. Exiled. Eloquence
1 INTRODUÇÃO
A história de Ovídio no âmbito latino será a temática desta pesquisa que abordará a trajetória de vida de um homem que por sua sensibilidade poética foi castigado, duramente através de um simples decreto que o conduziu ao exílio. Mas, o relato tem por objetivo levar o leitor à curiosidade a respeito do poeta latino, Publius Ovidius Naso, que nasceu em 43 a.C. em Sulmona. Assim, Vivendo sob o Império de Augusto, participou das modificações decisivas da época. Acompanhou a trajetória que culminou na Pax Romana, vivenciou a implantação das políticas dos princeps, participou da evolução social e cultural da URBS, a cidade eterna. Atuou intensamente nas conseqüências determinadas pela consolidação de uma estrutura imposta pelo Imperador. Aos vinte anos já era célebre pela sua abundante produção poético e muito estimado por Otávio Augusto, Imperador de Roma, no entanto, não o dispensou do degredo como será visto no decorrer deste trabalho, como contribuição à cientificidade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Paschoal Motta (2006) seus poemas podem ser líricos, libertinos, irônicos. Por motivos ainda não bem definidos, o Poeta de Tristia e de Metamorfose foi exilado de seu país. Freqüentava o palácio do Imperador Augusto onde como até hoje, imperam fofocas, intrigas e amores. E as censuras e comentários sobre suas criações tidas como licenciosas acabaram por levar o Imperador a decidir pelo banimento de Ovídio para o Ponto Euxino, Costa do Mar Negro, região distante de Roma. De lá de onde ele jamais voltou, escrevendo sempre a sua esposa, amigos e mesmo ao Imperador
De acordo com os mais recentes tradutores, em Língua Portuguesa, Natália Correia e David Mourão - Ferreira:
Ovídio foi um poeta de grandes qualidades. Contemporâneo de figuras importantíssimas da Literatura Latina, tais como Vergílio e Horácio não se deixaram ofuscar por eles e soube conquistar seu espaço próprio no mundo literário romano. Para isso contribuíram sua enorme cultura, seu virtuosismo no manejo do verso, a facilidade que tinha para escrever sobre diferentes assuntos, a facilidade de agradar ao público e, sobretudo, seu talento incomparável, capaz de dirigir-lhe o espírito brilhante, perspicaz e irreverente.
Desde seus princípios a psicanálise utiliza-se dos textos artísticos literários como uma atividade de análise estimulada por Sigmund Freud.
Segundo Freud (1910, p.110-111) seria impossível compreender uma obra de arte sem antes aplicar-lhe a psicanálise, sem antes interpretá-la, descobrir-lhe o significado e o conteúdo. Na psicanálise a mitologia grega serve como uma espécie de investigação da psique.
O Narciso de Ovídio ? apresentado no Livro III da Metamorfose ? foi aproveitado por Freud (1910, p.112-113) para que ele desenvolvesse a teoria do "narcisismo", que caracteriza uma etapa primitiva no desenvolvimento da criança.
O termo surgiu primeiramente em (1910, p.114) quando Freud abordou-o, focando-se na perspectiva da escolha objeta dos homossexuais, onde segundo ele "a escolha do objeto libidinal parte do narcisismo, na busca pelo semelhante". Freud publicou um estudo mais aprofundado do termo em seu Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914).
Vale registrar nesta breve anotação, crítica de A. J. da Silva Azevedo, em Humanitas, (1948):"Espírito brilhante e frívolo ? podemos chamá-lo um poeta cem por cento. Cultura completa (não foi em vão que estudou Retórica) tornou-se o poeta da moda.
É possível dizer que Roma perdeu remotamente um dos melhore poetas da época, homem dotado de plena sabedoria, sensibilidade nata, e grande eloqüência, conhecedor da essência humana. Estas são provavelmente as causas que culminaram com o seu desterro e que a maioria dos escritos nos trás a tona a verdadeira causa de seu exílio, dizendo apenas que foram as causas de seu destino. Vemos também como Freud o eu - narcísico em Ovídio. Pois os estudos de Filosofia em Atenas outorgaram-lhe uma vastíssima visão dos problemas do mundo. Os eruditos amavam-no. A sua frivolidade popularizou-o mais ainda. Sonhava realizar trabalho de fôlego, tendo deixado inacabadas duas obras (Metamorfoses e Fastos) devido à desgraça do exílio. Este crítico o chama de poeta da elegia trágica.
Na verdade, tudo faz- nos crer em tragédia, pois, excluir um homem por causas vãs de um meio social, pode-se dizer que é algo imperdoável, cometido por um homem que com o poder de seus feitos tornam-no o Imperador, dono do poder e todas as leis.
Ovídio nasceu numa importante família abastada da classe dos Éqüites (cavalheiros), em 20 de março de 43, na segunda metade do século I a.C. em Sulmona, Abruzzos, Itália, num vale nos Apeninos, a leste de Roma, mas que irá perpetuar de forma indeleavel seu nome e sua fama na URBS, na península itálica e no mundo. Foi um ano significativo, se debruçava avidamente sobre a eloqüência e sobre o direito, mas Ovídio logo se deu conta de que a vida no fórum não era a sua preferência e que como deixa claro em sua obra o desprezava. Destacou-se na oratória. Seu pai queria que ele estudasse retórica, para atuar na área jurídica; opondo-se energicamente à sua vocação poética, para entrar na política, pois, queria destiná-lo a carreira administrativa. Ovídio foi enviado, ainda muito jovem, juntamente com seu irmão mais velho a Roma, onde recebeu esmerada e completa formação retórica. Mas, uma viagem a Grécia com seu amigo Pompeu também poeta, levou a extasiar-se com as associações mitológicas entranhadas na paisagem Helenica. Após essa experiência, Ovídio decidiu deixar a breve carreira administrativa e dedicar-se à poesia. Passou a conviver com poetas como Propércio e o já maduro Horácio (Círculo ligado a Caio Mecenas), não conheceu Virgílio e o poeta Tibulo, morreu pouco antes de ser lhe apresentado (dedicou uma elegia fúnebre).
O exílio lhe causou um profundo desgosto (registrado no seu Tristia), até o final de sua vida. Foi nesta época que Ovídio escreveu a sua obra mais famosa: Metamorphoses (Metamorfoses), escrita em hexâmetro dactílico, métrica comum aos poemas Épicos de Homero e Virgílio. Ovídio influenciou com seus versos a revitalização da poesia bucólica e mitológica do Renascimento; também autores como Dante, Milton e Shakespeare.
De acordo com o Sêneca, o velho Ovídio tendia para o emocional ao invés do pólo argumentativo da retórica. Após a morte de seu irmão de 20 anos de idade, Ovídio abandonou a carreira de direito e começou a viajar para Atenas, Ásia Menor e Sicilia. Ocupou cargos públicos menores, como tresviri capitalese em decemviri stlitibus indicandis, mas renunciou para prosseguir na poesia provavelmente por volta de 29-25 a.C., quando tinha 18 anos. Ele fazia parte do circulo centrado em torno do patrono Marcus Valérius Messala Corvinus, mas parece ter sido amigo de poetas no circulo de Mecenas. Em Tristia, Ovídio mencionava amizades com Macer, Propércio, Horácio e Bassus (ele apenas mal conhecia Virgilio e Tibullus, outro membro do circulo de Mecenas cuja elegia admirava muito). Casou-se três vezes e divorciou-se duas vezes, por volta dos seus trinta, mas somente um casamento resultou-lhe em descendentes, o de uma filha que lhe deu netos. Sua última esposa foi parte da influente gens sulpicia e iria ajudá-lo durante seu exílio em Tomis. Ovídio vivia uma vida boêmia, trafegava pela noite romana, admirado como um grande poeta. Quando seu prestígio chegou ao auge, um decreto com o lacre de Otávio Augustus, Imperador de Roma, ordenava seu desterro sob acusação de imoralidade por causa de seu livro Ars Amatoria (A arte de Amar), considerada imoral. A Arte de Amar ("Ars Amatoria", em latim) é uma série de três livros do poeta romano Ovídio. Escrita em versos, tem como tema a arte da sedução. Os primeiros dois volumes da série, escritos entre 1 a.C. e 1 d.C., falam sobre conquistar os corações das mulheres e como manter a amada, respectivamente. O terceiro livro dirigido às mulheres e ensinando-as como atrair os homens, foi escrito depois. A publicação da Arte de Amar pode ter sido ao menos em parte responsável por Ovídio ter sido banido de Roma pelo imperador Augusto. A celebração do amor extraconjugal pode ter sido tomada como uma afronta intolerável a um regime que promovia os valores da família. Pois, para o leitor moderno, parte do interesse no poema está nos vívidos registros da vida cotidiana da Roma Antiga.
O exílio lhe causou um profundo desgosto (registrado no seu Tristia) até o final de sua vida. Foi nesta época que Ovídio escreveu a sua obra mais famosa: Metamorphoses (Metamorfoses), escrita em hexâmetro dactílico, métrica comum aos poemas Épicos de Homero e Virgílio. Ovídio influenciou com seus versos, a revitalização da poesia bucólica e mitológica do Renascimento e também autores como Dante, Milton e Shakespeare.
Metamorfoses é uma das obras mais famosas e consideradas como a magnum opus do poeta latino Ovídio (p.3,4,5). O poema narrativo foi tornado público por volta do ano 8 (p.6), ao lado de Fastos, trata-se talvez de um de seus poemas inconclusos (p.7) por conta do exílio que sofreu no Ponto Euxino, Costa do Mar Negro, região distante de Roma. (p.8,9). É desconhecida a causa do exílio, (p.9) mas existem duas hipóteses: ou Augusto não tenha gostado do âmbito de sua obra desde A Arte de Amar e as Metamorfoses de Ovídio, ao contrário do pensamento de ordem e estabilidade do Imperador, mostram um mundo em constante mutação, (p.10), ou o poeta romano foi indiscreto a respeito de algum aspecto íntimo do soberano ou de sua família. (p.11).
A vida política de Roma e o governo absoluto do Imperador Augusto apenas interessavam aos que aspiravam à carreira política e que os vírus da política o submetessem aos caprichos do Imperador. Estas não eram a ambição de Ovídio, grande apreciador do convívio com os poetas, que eram nesta época, numerosos em Roma.
O poeta dos FASTI o mais respeitado de Roma, após a morte de Horácio em 8 d.C, encontrava-se nesta época, na fase áurea de todo seu percurso poético.O poeta das Metamorfoses libri XV encontrava-se na ilha de Elba com o amigo Cota Máximo, filho de Messala Corvino, quando recebeu a notícia de que Augusto o mandava retornar a Roma. Vivendo na cidade que ostentava o título de cidade centro do mundo, nada lhe faltava. Desfrutava de um bom convívio familiar junto à sua terceira mulher, Fábia e da filha que lhe fizera avô duas vezes, assim como, da amizade das pessoas bem sucedidas, de riqueza e saúde. Era detentor de uma coleção poética que o destacava dentre os poetas da época. Tinha glória e fama e, sobretudo, a certeza de que seu nome figurava entre os poetas eleitos pelos romanos.
No ano de 762 de Roma e o oitavo da era cristã, Ovídio com quase cinqüenta anos, foi surpreendido por um édito proferido pelo Imperador Augusto que segundo o poeta, nos Tristia, I, 1,3, ele fora exsulis (exilado) da cidade eterna.
O exílio (do latim exilium banimento, degredo) é o estado de estar longe da própria casa (seja cidade ou nação) e pode ser definida como a expatriação, voluntária ou forçada de um indivíduo. Também se pode utilizar as palavras, banimento, desterro ou degredo. Alguns autores utilizam o termo exilado no sentido de refugiado.
Numa das noites do mês de novembro do ano 8 de nossa era, um raio fulminante caiu-lhe sobre a cabeça, mas não enviado pelos deuses. Um édito do amigo e, anteriormente, protegido, o Imperador Augusto o exilava de Roma para um dos mais longínquos limites, até então do império romano. O poeta das Heroides foi enviado para Tômis, hoje, Constantza, cidade da foz do Íster (baixo Danúbio), no Ponto Euximo, hoje Mar Negro, terra dos getas, lugar frio e inóspito. A ordem é imediata. O poeta dos versos amorosos de Amores e Arte de Amar percebem, assim, com muita DOLOR que sua trajetória de glória e fama na Urbs estava no fim.
Banido de Roma, por motivos políticos, a personalidade do poeta das Metamorfoses foi duramente abalada. O isolamento imposto ao poeta marca-lhe, com traços indeléveis, o espírito fazendo que Ovídio criasse em algumas de suas obras escritas no exílio, uma atmosfera de sonhos e mitos onde procurava alívio e esquecimento para as suas desventuras.
Os vates que pedia que seu nome fosse festejado em todo o universo (in Toto Orbe, A.A, II, 739-40) obtiveram o reconhecimento na Idade Média e no Renascimento.
Vários atores gregos: Anacronte Safo, Menandro, Homero e Latinos: Catulo, Tibulo, Propércio Homero e latinos: Catulo, Tibulo, Propércio e Vergílio dentre outros celebraram o amor com temas licenciosos e mordazes, mas, não sofreram sanção do Imperador. Desfaz-se assim, o motivo pelo qual apenas ele Ovídio foi punido (relegatus) na velhice, por sua criação poética escrita na juventude.
Em Roma a elegia se desenvolveu como gênero de poesia com característica próprias e bem definidas, diferentemente da Grécia. Na época de Augusto, muitos poetas escreveram livros de elegias, como Tibulo, Propércio e Ovídio impulsionados pela PAX ROMANA.
Os verdadeiros Carmen Et Error que conduziram Ovídio ao banimento é até hoje, uma grande incógnita na literatura latina de todos os tempos. O que sabemos nos é relatado na própria obra de Ovídio, na coletânea elegíaca Tristia, composta de cinco livros (libelli), uma das obras escritas no desterro (relegatio), em Tômis, (libelli); o poeta nos revela seus infortúnios, seus temores e sua esperança na clemência do amigo e imperador Augusto. Descreve em estilo patético suas experiências, seu sentimentalismo e a expressão de dor após a ruptura e a separação, não só da URBS, mas principalmente, de seus familiares e dos amigos.
Nos versos finais dos Tristia III: 7, 51-52, o poeta reafirma a crença inabalável na imortalidade de seu nome, alcançada através da sua obra poética. Cônscio de ter cumprido a missão de um poeta inspirado, enfatiza que enquanto durar o nome de Roma, há de perdurar o do poeta. Por volta de 20 a.C., Ovídio começou a publicar Amores, primeiro livro poético completo e publicado no ano 16 a.C. seleção de elegias amorosas em cinco volumes. Depois "A Arte de Amar" (Ars Amatoria). A obra ovidiana Ars Amatoria apresenta-se dividida em três livros, cada um com um tema definido. No primeiro, composto de 770 versos em dísticos elegíacos, o poeta o dedica aos homens transmitindo-lhes os ensinamentos mais eficazes na arte de seduzir o seu objeto do desejo. Ensina-lhes como se dirigir às mulheres, quais as palavras adequadas na hora da corte, os gestos e os artifícios mais convincentes. Revela-os também os lugares mais freqüentados pelas mulheres e, assim, propícios à caçada que poderá culminar no verdadeiro amor ou, apenas, numa diversão. Autêntico tratado sobre a sedução e o Jogo amoroso. Também são desse período Heróides (Epistulae Heroidum), coletânea de supostas carta que os grandes amorosos da lenda houvesse trocado e Remedia Amoris (O Remédio do Amor, ou A Cura do Amor) é um poema de 814 linhas em latim.
Entre os anos dois da era cristã, Ovídio escreveu: Os Fastos (Fasti), uma coleção de doze livros dos quais se conservam seis, uma espécie de calendário onde dedica a cada um deles um mês do ano, nos quais se comentam as festas romanas e suas origens lendárias. Metamorphoses (metamorfoses), Poema mitológico de Ovídio, em 14 livros, em que se sucedem 246 fábulas, díspares e artificialmente ligadas, muito embora o poeta siga certa cronologia. Vai desde o caos e o nascimento do mundo até a metamorfose de César em astro, contando as transformações lendárias de seres humanos em animais, pedras ou plantas, com espírito, subtileza, galanteria e imaginação. É uma coleção de lendas compostas em versos de seis silabas, a maioria de origem helênica, em cada uma das quais ocorre uma metamorfose. Apesar da complexidade do tema, Ovídio dotou os personagens divinos de emoções plenamente humanas. Medeia, tragédia da qual só restaram dois versos.
A estrutura de Metamorfoses constitui-se de 15 livros escritos em hexâmetro dactílico com cerca de 250 narrativas em doze mil versos compostos em latim (p.4), e que transcorrem poeticamente sobre a cosmologia e a história do mundo, confundido deliberadamente ficção e realidade, narrando a transfiguração dos homens e dos deuses mitológicos em animais, árvores, rios, pedras, representando o princípio dos tempos, chegando à apoteose de Júlio César e ao próprio tempo do poeta, ou seja, o Século de Augusto (43 a.C. - 14 d.C.), (p.12). Este ciclo histórico apresenta a mitologia como uma etapa no desenvolvimento do mundo e do homem (p.13). Ovídio segue o conceito de Hesíodo e nos mostra as quatro idades cronológicas da mitologia clássica (conhecidas como a Idade do Ouro, a Idade de Prata, a Idade do Bronze, e a Idade do Ferro) (p.14). Aproveitando tal abordagem das eras do homem, Ovídio uniu livremente os deuses aos mortais em histórias de amor, incesto, ciúme, crimes, dramaturgos, filósofos e psicólogos.
Contemporâneo de Horácio e Virgílio, Ovídio deu novo acabamento literário aos mitos gregos que haviam sido aproveitados pelo Império Romano quando esse conquistou a Grécia. Assim, poetas como Homero e Pausânias foram de fundamental importância para sua inspiração. Embora as personagens sejam mitológicas, o caráter de seus diálogos e contos é permeado por humanidade.
Em Metamorfoses, ele desenvolveu e até popularizou os mitos mais famosos e mais lembrados da mitologia grega (p.4), tais como o de Midas, Orfeu, Eros, Psique, Zeus, Afrodite, Baco, Narciso, entre outros. Outro aspecto apresentado em seu poema é o Caos, confusão de todos os elementos que se supõe ter precedido a criação do universo (p.15), e que o poeta se refere em latim como rudis indigestaque moles ("massa informe e confusa"). (p.16, 17,18).
A Metamorfose de Ovídio permanece até hoje como um dos trabalhos poéticos mais aclamados sobre mitologia, (p.19) e também um dos mais inspiradores. Poucos foram os poemas que inspiraram tantas formas artísticas quanto suas metamorfoses, que atingiu literatura, música, arquitetura (p.6). Seu caráter social e espiritual acerca dos ciclos históricos do homem influenciou também a filosofia, notavelmente o discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1989), de Jean-Jacques Rousseau. (p.20) Preservado pelo gosto da cultura ocidental através dos séculos, inspirou, entre outros, Dante, Shakespeare, Cruz e Souza, Kafka, Manoel de Barros(p.21 a 25), figurando, assim, como uma das mais importantes obras clássicas da mitologia greco-romana e da literatura latina. (p.19).
O amor em Metamorfose se alastra em todos os gêneros encontramos escapadelas amorosas, amores impossíveis, incestuosos, não-consentidos, amor de irmão, amor entre parênteses, amor homoerótico, além de sua aparência leve de contos de fadas, metamorfose apresenta uma história demasiada fragmentada e aparentemente incoerente, mas que nos mostra centenas de lendas que inspiram que são grotescas, e às vezes subversivas (p.10). A narração, dessa forma explode em uma multiplicidade de episódios mitológicos, salientado a fluidez do mundo da metamorfose constituindo um universo que apaga as fronteiras porosas entre o humano e o divino, para serem interligados (p.10).
Suas últimas obras foram às elegias Tristes (Tristia), reflexões e mágoas do exílio, Nos versos finais dos Tristia, III: 7, 51-52, o poeta reafirma a crença inabalável na imortalidade de seu nome, alcançada através da sua obra poética. Cônscio de ter cumprido a missão de um poeta inspirado, enfatiza que enquanto durar o nome de Roma, há de perdurar o do poeta, e Epístolas do Ponto (Epistolae Ex Ponto), protestos de inconsciência.
Na coletânea elegíaca TRISTIA, composta de cincos livros (libelli), uma das obras escritas no desterro (relegatio), em Tômis, Ovídio nos revela seu infortúnios, seus temores e sua esperança na clemência do amigo e Imperador Augusto. O poeta descreve em estilo patético suas experiências, seu sentimentalismo e a expressão de dor após a ruptura e a separação, não só da URBS, mas, principalmente, de seus familiares e dos amigos.
EPISTULAE Ex PONTO ? dentre outras, podemos constatar a cisão entre dois tempos na vida do poeta. Um anterior e outro posterior ao banimento para um local inóspito, cercado de bárbaros. No primeiro, está a vivacidade, a juventude, e a vida mundana de Roma; no segundo momento, estão a velhice e a morte a lhe perpassar a alma a cada dia que passa em Tômis à espera da clemência de Augusto que, durante um período, sentia ser possível. Com o passar do tempo, esquecido e relegado ao seu própr gará. io destino, cônscio de seu futuro, percebe que este perdão não chegará.
Com a morte do Imperador Augusto e a subida ao trono de Tibério, a esperança da clemência torna-se impossível. Falece o poeta Ovídio no ano 18, sem ter colocado novamente seus pés em Roma; apenas seus pés métricos retornaram a Roma junto com sua obra, designada pelo poeta como "... infelix cura, libelli" (v. 1).
A poesia de Ovídio está classificada em três grupos literários: Literatura de amor: Amor Medeia, Heroides, Ars Amatoria; literatura erudita: Metamophoses e Fastos; literatura do exílio: Tristia, Epistulae ex Ponto, Íbis e Haliêutica. Remedia Amoris (O Remédio do Amor, ou A Cura do Amor) é um poema de 814 linhas em latim.
No livro X, Ovídio apresenta o mito de Pigmaleão, rei de Chipre, um escultor que acaba se apaixonando por uma estátua que ele próprio modelou (p.121) Num festival dedicado a Vênus, o artista pede à deusa que ela dê vida à sua obra, e seu desejo se realiza: portanto, o sentimento do escultor mudou a condição da estátua. (p.122). Psicólogos explicam que, tal comportamento é denominado "Efeito Pigmaleão", o ser humano busca moldar as relações, como namoros, relações íntimas, as pessoas sempre anseiam por aquilo que esperam se tornem.
Jean-Leon-Gérome, Pigmaleão e Galatéia, 1980 p.124: a visão de determinada pessoa em relação à outra determina a verdade que a primeira passa a demonstrar.
Embora as versões já escrevessem entre um homem e uma estátua, é em Ovídio que encontramos a apologia da arte perfeita uma vez que Pigmaleão apaixona-se pela estátua porque a fez ter forma "de uma verdadeira donzela" nunca vista em outra antes. (p.127).
Pode-se observar que Ovídio tinha extrema sensibilidade artística e transportava para o mais ignóbil sua sensibilidade poética e humana.
É possível dizer que o poeta Ovídio, busca em suas obras a contextualização da mitologia grega trazendo personagens relacionados como deuses, e assim surge a mais genial contextualização de acordo com alguns críticos, pois desta forma Artistas plásticos, escultores, poetas e dramaturgos.
Jules Joseph Lefebvre, Pandora, 1882: "a mulher é o castigo descido do céu para que os homens esqueçam o espírito e sejam seduzidos pelo banal" (p.87).
O homem torna-se aquele que surge para rivalizar com os deuses em suas habilidades e meios, embora não adquira bons frutos em sua batalha (p.85). Para que preservassem o esforço e o cansaço do trabalho, os deuses reteram o fogo, "vital aos homens". Acontece que Prometeu o roubou e tal ato fez com que Zeus, irado, jogou uma praga, que foi pedir a seu filho Hefesto que modelasse Pandora, mulher ideal e semelhante às outras deusas. (p.88) A mulher criada pelos deuses é o castigo que eles usam para se vingar dos homens: Pandora simboliza os "desejos terrestres que levam o homem, esquecido do espírito, à sedução banal". (p.89) Na tradição judaico-cristã existia a crença de que a entidade feminina impulsiona o homem para a transgressão dos limites humanos, enquanto que na narrativa de Hebreus, Eva dava ao homem a tomada de consciência. (p.90) Pandora traz consigo um jarro que, segundo Diel, "é símbolo do subconsciente, pois encerra todas as formas de perversão, auxiliado pela consciência cega de Epimeteu."(Pandora e Epimeteu se casam e, nas núpcias, o jarro é aberto e saem dele todos os males que são espalhados pela humanidade (alguns enxergam uma relação análoga entre os noivos e Adão e Eva). (p.89) A conseqüência seria a "perda do paraíso" ou, segundo o psicólogo clínico Sérgio Pereira Alves, "neste clima de tensões, paradoxos e incertezas confrontamos a nós mesmos na busca pelo equilíbrio". (p.90) No fim, há uma reconciliação entre Zeus e Prometeu, o rapto do fogo acaba por ser esquecido, e o instrumento torna-se chama purificadora. De maneira simbólica, Prometeu ocupa seu lugar entre as divindades, quando se arrepende do roubo. (p.89) O mito de Prometeu e Pandora retrata a marcha história do homem e da mulher, e representa a "esperança de se elevar a um caminho mais puro: ao sublime, ao divino". (p.89) Para Diel, "Prometeu é o símbolo da humanidade, ao representar o caminho que conduz da inocência animal (inconsciente), intelectualização (consciente) e do perigo de seu desvio (subconsciente), até a eclosão da vida mais elevada (supraconsciência): o Olimpo."(p.92).
De acordo com Rousseau (1989, p.205). Em Fundamentos das Desigualdades. Propôs examinar o que seria "o primeiro embrião da espécie"
Fartando-se sob um carvalho, saciando-se no primeiro riacho, encontrando seu leito ao pé da mesma árvore que lhe forneceu o repasto, e eis satisfeito as suas necessidades. A terra abandonada à sua fertilidade natural e coberta de imensas florestas que o machado jamais mutilou oferece a cada passo provisões e abrigo aos animais de toda espécie (...). As crianças, trazendo ao mundo a excelente constituição dos pais, e fortificando-a pelos mesmos exercícios que a produziram, adquirem, assim, todo vigor de que a espécie humana é capaz.
É possível dizer que, Rousseau no momento em que descreveu seu discurso fez uma analogia à poesia de Ovídio, pois, em tal época "não havia leis nem eram necessários juízes, não existia o medo, a natureza era intacta e constituía-se no próprio lar dos homens"(p20). Fazendo uma retomada a chamada Idade do Ouro.
Aqui o autor nos faz retornar ao tempo, quando Ovídio ao escrever a obra Metamorfose, aborda as quatro idades míticas do homem, a Idade da Prata, a Idade do Ouro, a Idade do Bronze, e do Ferro. Vista como uma relação entre os elementos da sociedade humana, como; bonança, adversidade, trabalho e a luta pela sobrevivência desde o nascimento até a morte, com contradições e conflitos nas mais estreitas relações familiares e íntimas, entre divindades, dominação, poder, entre outros.
No pensamento de Ovídio "Ficamos mais seduzidos por aquilo que mais possuímos a safra sempre é mais rica no campo dos outros e o rebanho vizinho tem as tetas mais cheias" (Publius Ovídio Naso).
De acordo com Edson Floyd (2009). A Idade do Ouro, conhecida como áurea aetas, para os povos latinos. Essa idade do ouro no reinado saturno deveria sido marcado pela imortalidade humana, a liberta e total ausência de guerras, doenças e fomes. Em suma miticamente relata uma realização anterior ao processo civilizatório.
È possível dizer que a idade do Ouro, foi o momento em que o poeta viveu o ápice de sua vida com a sua grande obra Metamorfose aclamado por Roma como maior poeta da época. Em contraste ocorreu à idade do Ferro em que foi exilado com mão de ferro pelo imperador para a cidade de Tômis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história do poeta latino Ovídio Publius Naso, faz-nos refletir sobre questões obscuras na intimidade de um homem, onde seus poemas de amor ardente e autêntico foram o suposto elo de sua condução ao exílio, o que é possível dizer é que é simplesmente estranho, pois a obra que o poeta fala de amores, foi escrita durante sua juventude e este foi conduzido ao exílio com idade de cinqüenta anos, portanto, um indivíduo que escreveu poemas que influenciaram antigos e contemporâneos poetas, Shakespeare na dramaturgia, Freud na psicanálise, deixando um grande legado no âmbito da literatura, inspirando artistas plásticos, escritores, dramaturgos, filósofos e psicólogos, é óbvio que politicamente deixaria qualquer ser humano inescrupuloso, com temor de perder o grande poder que exercia sobre o povo.
É possível dizer que a obra Ars Amatória retrata minuciosamente a questão intima voltada para o ensinamento amoroso entre um homem e uma mulher, ensinando a arte da conquista, quebrando preconceitos vividos pela sociedade e com isto, percebendo-se um homem pleno de sensibilidade e muito além do seu tempo, ou seja, na era da modernidade.
Assim, podemos dizer que a sua poesia é imortal, e fonte de inspiração para qualquer outra arte que deseja contextualizá-la. Ovidius Publius, que com sua obra "Metamorfose" conseguiu arrancar os mais belos elogios devido à grandiosidade praticamente uma enciclopédia que busca o mito, o amor, a sexualidade, a tragédia, a pureza e a impureza das palavras tudo dentro uma Obra "Metamorfose". Perpetua-se com isto a tão almejada vontade do poeta que foi sua imortalidade. Como vemos Ovídio foi o homem que por sua grandeza soube elevar o mais sublime dos valores humanos que é o amor de si e do outro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Autor: Maria Das Neves Rosa
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