Trabalho psicopedagógico e interatividade na aprendizagem: uma visão preventiva



Cláudia Gomes Silveira Rodrigues(*)

Resumo :
Nosso conhecimento deve ser construído como uma teia. Preso a um ponto de apoio, mas com espaço suficiente para lançamentos distantes.
Como a aranha se lança no espaço e joga sua teia em pontos a se fixar, assim devem ser nossos desafios de aprendizagem, um constante ?devir?, lançar, buscar...;

Introdução :

Vivenciamos a era do conhecimento. Não um conhecimento cristalizado, fabricado e pronto; mas um conhecimento construído, tecido fio a fio.
Certa vez pus-me a observar uma aranha a tecer, seguindo sugestão feita em um dos escritos de Rubem Alves. Fiquei imaginando a estrutura e elaboração daquele trabalho. Os fios são interligados, laçadas e espaçamentos são feitos para dar sustentação à teia, um planejamento inato na verdade, mas há um planejamento, um projeto.
Exercitando o pensar filosófico tracei uma analogia entre a construção de nosso conhecimento e a elaboração de uma teia: preso a um ponto de apoio- um saber já construído, elaborado socialmente ? lança-se o desafio do novo, estabelecendo-se espaço suficiente para lançamentos distantes, mas firmados em projetos e estruturas que dão sustentação,até mesmo para as possíveis alterações geradas pelo novo a´prendizado.
Como a aranha se lança no espaço e joga sua teia em pontos a se fixar, assim devem ser nossos desafios de aprendizagem, um constante ?devir?, lançar, buscar...

A psicopedagogia e a construção de teias de conhecimento

Numa análise histórica das linhas do conhecimento, percebemos todo o tecer da teia que temos hoje.
O naturalismo de Rousseau lançou fios que se prendiam a importância da transmissão do conhecimento escolhido, onde adulto ensina e criança aprende. Essa criança não era mais,vista como um adulto em miniatura , mas tudo poderia ser-lhe ensinado, desde que obedecendo sua capacidade de apreensão.
O racionalismo de Descartes estica fios da necessidade de autonomia, escolha e decisão, fazendo do conhecimento uma amostra do pensamento; Francis Bacon traz mais um fio, ligado às vivências, mas essas experiências não eram pessoais, e sim traçadas pelos detentores dos ?conhecimentos?, a vivência empírica é delineada pelo mais experiente.
O fio positivista embasado nas idéias de Comte, traduz o conhecimento real através do que é de valor,organizado e que assim gera progressos. Temos uma visão utilitarista.
Os pragmatistas formaram os desenhos da ação, sem maiores preocupações com as fundamentações.
Ao crescer esta teia, chegamos ao espaço da dúvida, dos questionamentos sobre o saber construído e dicotomizado, no que se refere à sua base e suas colunas. Então nos reportamos a Saviani e sua visão histórico-crítica, também nos ancoramos em Paulo Freire e seu pensamento politizado de educação, onde o saber construído possui a visão de mundo elaborada na leitura político-social feita pelo aprendiz, em sua relação com o ensinante.
Agora , a educação entendida como construção de conhecimentos e como uma leitura de mundo, traz a necessidade de um embasamento sócio-político, respaldado por teorias psicopedagógicas que alicercem a construção de um homem empreendedor, politizado, ético e afetivo.
Citando a bíblia, no evangelho de João lemos: "O grão de trigo que não morre será só ele; quando morre tornará em cem.",assim para que a semente se faça planta é necessário que ela morra para a vida de semente e se abra para possibilitar o surgimento de uma vida nova.
Conhecer é assim, dói. É difícil o desapego de verdades dadas como únicas e ter a coragem de desafiar o pronto e propor o novo.
Hoje pode existir uma instrução que não privilegie as questões éticas da vida; que não valorize as significações do social, porém entendemos que uma educação que forme e informe, deve partir das possibilidades reais, não só do educando, como do educador; favorecendo as vocações de aprendizagem e ensinamento, canalizando energias disponíveis.
A complexidade da sociedade, a multiplicidade das influências da mídia e os vários âmbitos em que a vida se realiza, fragiliza a educação. As vantagens pessoais adquiridas via educação, nem sempre são usadas para crescimento social.
Entendemos que somente a qualidade da educação pode garantir sua eficácia preventiva, objetivo que buscamos, quando nos propomos a intervir pedagogicamente nas dificuldades da construção do conhecimento, explorando não só os aspectos cognitivos mas também os emocionais e psicológicos.

A prevenção pedagógica e social ? Como intervir?

Somente as aranhas têm uma receita de construção em seu código genético ? ainda bem. Pois a educação humana é um trabalho social, mas sabemos que se dá de forma individual, cada aluno,cada educador, é único. Então, como garantir a construção de teias bem elaboradas? Definidas? Sustentáveis?
Aí está o desafio de nosso trabalho educacional, temos um ponto de chegada, tomamos conhecimento do ponto de partida somente no ato da construção e devemos ter sólidas, mas não cristalizadas , referências teóricas para que possamos propor ?laçadas? que dêem estrutura e beleza ás ?teias? em construção.
Com o papel de assessorar o trabalho pedagógico dos educadores institucionais e quando possível ,aos educadores sociais, o psicopedagogo deve ter bem clara , a concepção de homem, mundo e sociedade, para que suas intervenções sejam , verdadeiramente, preventivas e inclusivas.
O trabalho com dinâmicas coletivas e individuais favorecem o conhecimento dos grupos de trabalho estabelecem vínculos de convivência e parceria que auxiliam o desenvolvimento do aprender,do fazer, do conviver e principalmente a constituição do ser.
A partir do momento que se estabelece um vínculo de trabalho educando/educador/família/psicopedagogo, cria-se uma rede de construções que viabiliza os ?lançamentos? para efetivação de ?teias? que se constituirão fortes, estruturadas, geometricamente desenhadas e, principalmente, belas.
O trabalho de intervenção-preventiva deve primar pela efetivação de uma educação bem constituída pedagogicamente e realizada de maneira feliz e prazerosa.
(*) Pedagoga, professora da Rede Estadual de Ensino ? MG ; psicopedagoga no Colégio Auxiliadora ? Ponte Nova MG ? Rede Salesiana, mestranda em Gestão Educacional ? UPS.

Referências bibliográficas:
CHAUI, Marilena ? Filosofando
ALVES, Rubem ? A alegria de Ensinar
Por uma Educação Romântica ? Papirus - 2006
CURY, Augusto ?
CUNHA, Eugênio- Afeto e aprendizagem ? Relação de amorosidade e saber na prática pedagógica - Wak editora ? 2008
FONSECA, Vitor da
Autor: Cláudia Gomes Silveira Rodrigues


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