Carta à Esmeraldina Portugal Monteiro



Rio de Janeiro, setembro 2010.
"Vó" Dinda,

Você e todos os meus sabem que não sou muito habilidoso com as palavras, talvez por isso eu tenha trilhado o meu caminho na música. Entretanto, nesse momento, algumas coisas precisam ser ditas com palavras ou, pelo menos nesse momento de dor, escritas. Não sei o dia nem, a hora, só entendo que já está próximo seu vôo final, no qual findará a vida terreal e a senhora verá o "País Além do Rio", aquele do hino. (Hoje ele chegou.)

Hoje já toquei essa música, mas como isso não bastou para dar alento ao meu coração, resolvi escrever para uma pessoa muito especial. A começar pelo seu nome, Esmeraldina não é para mim um termo análogo, significa: pedra preciosa esverdeada. Nome no mínimo compatível com seus belos olhos. Eu acredito na senhora, sei que era a jovem mais bonita das praias da Região dos Lagos.

Os teólogos que me desculpem, mas não foram poucas as vezes, nesses meus 33 anos de vida, que eu já pensei: - o profeta Isaias escreveu esse texto bíblico pensando na minha avó:

"Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão." (Isaías 40:31)


Como boa águia, dentre seus exuberantes vôos, construiu seu ninho num lugar bem alto, teve sete filhos, desses perdeu o terceiro ainda bebê. Ficou viúva ainda muito jovem e sem pensão, mas Deus sabia que de baixo de suas fortes asas e no seu coração cabiam sete crianças, assim entregou mais um menino para você amar, cuidar, enfim, criar. Muitas pessoas pensaram que era uma loucura, entretanto no seu coração foi mais um compromisso de Fé.

Bom, a Senhora é uma escolhida. Veja o que disse o poeta: "SETE é o número da preferência de Deus, são os dias da semana, são as cores do arco-íris, são as maravilhas do mundo antigo, [os filhos da Dona Esmeraldina] e as notas musicais."

Uma linda história que na prática, no dia-a-dia e na vida como ela realmente é, foi duríssima. Como já mencionei, seu ninho foi construído no alto e "subir como águia" a Rua Maestro Amaro Barreto foi retumbante aos seus parentes e vizinhos. O som de sua força ecoou muito longe, tudo na busca de recursos para criar os seus filhos, o que também, vamos assumir, é o seu maior orgulho.

Ah, diabete! Diabete que nada. Isso nunca foi desculpa para não fazer suas revendas de lençóis, colchas, roupas, fabricar seus deliciosos salgadinhos, construir sua vendinha, etc. Escutei muitas vezes você dizer: "tenho sete vidas, eu sou que nem gato". Em 2004 quando você ficou internada no hospital, logo que voltou para casa disse: "Eu sou que nem bambu; posso até envergar, mas quebrar é muito difícil."

Sempre a chamei de "Vó" Dinda, que além mãe, avó, bisavó, vendedora, cozinheira ainda fazia ilusionismo, segundo suas velhas "histórias". Aprendeu isso tudo porque trabalhou num circo, na época eu até acreditei. Entretanto, nunca esquecerei dos momentos em que nós, Fran, Renata e eu, ainda pequenos ficávamos encantados com a mágica do feijão. Mesmo com os nossos cabelos brancos, até hoje não nos contou como fazia. Nos seus "59 anos de sempre" quer manter seu charme de "Vó" sedutora. Com certeza sempre será em nosso imaginário infantil a melhor "mágica" do Brasil, ou melhor do mundo. Na sua frente, David Copperfield é "fichinha".

Para mim não importa de onde você saiu ou chegou, mas o que guardo no meu coração é a garra, a dignidade e a honestidade contidas em sua postura da mulher virtuosa.

"Vó"! Não sei se você pode me ouvir, para mim você é tudo isso: a mais bonita de Cabo Frio, a melhor artista do circo e a águia da qual eu tive a honra de ver o mais lindo vôo.

Vai Vozinha! Voa Dinda! Escuta o profeta Isaias: O Senhor lhe renovou as forças! Agora a senhora pode voar como águia, andar sem fadiga e correr sem se cansar.



Há um país (Danny Boy)

Há um país nas terras de além rio
Cheio de flores, de prazer e luz
É destinado às almas resgatadas
Lá não terão mais lutas nem mais cruz

Pois é onde a morte não mais entra
Nem mais pecado o brilho tirará
Jesus, o Rei destas mansões tão lindas
Os salvos todos com prazer abraçará

Lindo país, eu vejo a brisa mansa
Acariciar campinas e jardins
E a embalar as palmas prateadas
Dos vales perfumados por jasmins

E enquanto o Sol se põe no horizonte
Eu julgo ver em sonhos este lar
Vejo os amigos já ressuscitados
E todos nós ao nosso bom Jesus louvar
E todos nós ao nosso bom Jesus louvar.


Autor: Ednardo Monteiro Gonzaga Do Monti


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