Histórias da família Flores Ferreira do século 19 - primeira história




Minha mãe tem hoje oitenta e dois anos e tem o dom nato de contar histórias. Histórias de família, histórias de infância, histórias ricas  que contam como as pessoas se relacionavam e as dificuldades que enfrentavam no dia a dia no século passado. Dos avós maternos dela, que viveram ainda no século 19 ela se recorda de como se conheceram. 


Na Argentina, cidade e província de corrientes, sua avó quando criança perdeu os pais muito nova e tinha apenas um irmão mais velho, e foi criada praticamente por ele. Quando chegou a época dele se casar, sua futura cunhada parecia não aceitar dividir a casa com a irmã do marido, pretendia ficar sozinha com tudo. Com esse intuito , fez intriga entre os irmãos. Não demorou muito para a megera conseguir fazer a cabeça do esposo e tira-la da casa. A solução encontrada por ele foi casar a irmã, praticamente uma criança, com um homem, fazendeiro rico, bem mais velho que ela.
O casamento foi feito contra a vontade da noiva, que contava com apenas 14 anos, e foi levada para longe da família. Porém, a garota não aceitava a união e por vezes fugia das obrigações de esposa. Nunca se entregou para o marido. E apesar de o lugar ser muito bem vigiado, num descuido dos empregados, ela conseguiu fugir. Depois de muito andar se escondendo pela mata, chegou à casa de uma família muito humilde que a acolheu depois de saber sua história. Eles a esconderam dentro de casa por semanas, sabiam da fama do velho fazendeiro de que não descançaria até encontra-la.                                                                                                 Dias depois de tê-la abrigado, chegou um grupo de empregados da fazenda perguntando sobre a menina. A dona da casa negou que estivesse lá ou que ao menos tivesse passado por lá. Os capangas, sem desconfiar daquela gente humilde, se foram. A menina ficou ainda muito tempo escondida, até que a poeira baixasse e o povo esquecesse a história de uma garota que fugiu de um casamento arranjado.                                                                                   Quem a acolheu achou melhor que mudar seu nome e a rebatizaram de Simeone. Nunca alguém da família ficou sabendo o nome verdadeiro. Na nova família havia um rapaz muito bonito, Rito Flores, que se interessou pela moça e foi recíproco. A família achou que o melhor era os dois se casarem logo, pois assim estaria enterrado o passado dela. 

Do avô paterno, lá se Santa Maria RS, sabemos que era descendente de portugueses. Era um senhor não muito correto, pra não falar pior de quem já se foi. Tipo mafioso, era envolvido com fabricação de bebida proíbida e dinheiro falsificado. Tinha uma comércio legal, uma pequena ''pharmácia''. Com a descoberta pelos policiais dos empreendimentos ilegais foi condenado e preso pelos delitos. Num indulto concedido no Natal tudo ficou pronto para uma fuga. Os policiais o escoltaram até a casa e ficaram a espreita, cuidando da frente e fundo do terreno enquanto o prisioneiro estava na casa. Com a demora da saída e o silêncio, os políciais entraram e só então descobrira um túnel que saía no piso da casa e seguia até um barranco próximo. Já era tarde. Ele fugiu e não se teve mais notícias. Sua mulher, ficou apenas com as mercadorias da pharmácia, que foi fechada, e com os filhos. Procurou um outro jeito de conseguir sustenta-los. E enquanto ficavam sozinhos para que ela trabalhasse, eles provaram os comprimidos, pílulas e xaropes da despensa, e os que eram adocicados tiveram fim em pouco tempo. Minha mãe, por muito tempo reclamava que a família não tinha dentes bons por conta da quantidade de antibióticos que seu pai ingeriu. Mas desconfio eu, ser apenas uma desculpa. 


Autor: Márcia Ferreira Marques


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